Lamas The Dog’s Bollocks III

Daewoo, Mercury, Oldsmobile. Se você participar de qualquer conversa sobre carros, é bem provável que estas marcas demorem a ser mencionadas. Ou nem sejam. Foram importantes produtores no passado, mas que caíram no oblívio. Outra que, lentamente, se direcionava para este limbo era a Jaguar. Quer dizer, isso até um mês atrás, quando lançaram um vídeo de trinta segundos. Por conta desse vídeo – bizarro, convenhamos – de trinta segundos, a Jaguar passou a ser um dos assuntos mais comentados da internet. Sem mostrar produto nenhum. Não é para menos. A mini película abre com pessoas vestindo roupas multicoloridas cheias de pompons, com semblantes sisudos. Elas se comportam de formas esquisitas – pintando um vidro, quebrando uma parede, posando para uma foto num deserto rosa imaginário. E, pronto, acaba. Sem carros, sem explicações (necessárias), e sem qualquer traço do felino que dá nome à marca. Copy Nothing, aparece. Tá fácil, considerando que esses trinta segundos são tão aleatórios que desafiariam até a criatividade de uma inteligência artificial. Acontece que a Jaguar está passando por uma metamorfose comparável a de uma borboleta. Há vinte anos, possuía uma linha diversificada de carros. Com o tempo, ceifou seus modelos mais nichados, para manter […]

Lamas The Dog’s Bollocks II – Folie a Deux

Folie à Deux é um termo francês, que se originou na psiquiatria. Fazendo biquinho e fechando o último “e”, a expressão ganha todo um charme. Folie a dê.  É de uma extravagância rara para qualquer condição psicológica. O significado também tem uma certa excentricidade, mesmo sem a sedutora língua gaulesa. O “Delírio a dois”, ou mais, precisamente, transtorno delirante induzido ou perturbação delirante partilhada, é uma condição médica onde duas pessoas que se relacionam passam a partilhar da mesma insanidade. Ficam doidos juntos. Há vários casos interessantes de Folie à Deux. Muitos deles envolvem assassinatos e outras atitudes grotescas. Outros são mais prosaicos, como o caso de Margareth e Michael. O casal acreditava que a casa em que viviam era vigiada incessantemente por pessoas aleatórias, que muitas vezes faziam maldades dignas dos gnomos de contos de fadas. Tipo sumir com o controle da TV, deixar o banheiro sujo ou colocar a chave do carro na cozinha, só pra vê-los revirando a casa toda. Quem é casado, como este Cão, sabe bem quem são esses terceiros misteriosos. O que é curioso da condição é que existe um sistema de retroalimentação. Uma pessoa induz a outra àquela insanidade, e ambas começam a […]

6 perguntas para Luciana Lamas – Sócia da Lamas Destilaria

Publicado originalmente em 1969, o livro mais famoso de Mario Puzo permaneceu no topo dos Best-Sellers do New York Times por mais de um ano. Foram vendidas mais de dez milhões de cópias. A obra também deu origem a uma notável trilogia de filmes, que talvez você conheça. Eu nem preciso falar o nome, assistir é quase uma oferta que não se pode recusar. A dúvida de Michael em assumir os negócios da família é justificada. Especialmente porque envolvem traição, manipulação, chantagem e assassinato. Apesar disso, o rapaz parece ter um talento nato para o ramo, com frieza e calculismo. Tradição era a chave, mas a inovação trazida por Michael foi a que garantiu a sobrevivência de sua família num ramo bem pouco ortodoxo. No caso da Lamas Destilaria, fundada por Marcio Lamas em Minas Gerais, a transferência da batuta foi bem mais tranquila. Afinal, a natureza do negócio envolvia entusiastas de whisky, e não a máfia siciliana. Inobstante, há uma dificuldade latente. A de seguir com a tradição da destilaria, mas procurar sempre inovação. E é exatamente isso que vamos conhecer hoje. Nessa entrevista com Luciana Lamas, sócia da destilaria, vamos descobrir como a tradição familiar se mistura com […]

Lamas The Dog’s Bollocks – O Quarto Filho

Dar um nome para um ser humano é uma grande responsabilidade. É por meio do nome que a pessoa se relacionará com as demais. O nome é o cerne da identidade individual de cada um – é a marca de um ser distinto, que se identifica por aquela palavra. Diz-se até mesmo que o nome pode influenciar na vida futura profissional e amorosa da pessoa. Faz sentido. Exceto se você for herdeiro de um megaconglomerado aeroespacial, se chamar X Æ A-12 não ajudará muito a encontrar um amor. Ou um emprego. No Brasil, há uma série de nomes que são, inclusive, proibidos. Dentre eles estão Calcinha, Inexistente, Dita-cuja, Taturana, Cadáver, Suruba, Andarilho, Bizarro, Sujismundo e – maravilhosamente, se você me perguntar – my precious. Triângulo é também um nome proibido. O que é surpreendente, por que as demais formas geométricas tão liberadas. Então, você pode batizar seu bebezinho de hexágono, cilindro, toroide ou octaedro. Mas, triângulo não. Dar nome a coisas é bem mais fácil. Quando comecei este blog, não tinha certeza de nada. Mas, o nome O Cão Engarrafado parecia o único possível. E até hoje adoro. Especialmente quando alguem grita “Cão” na rua e eu olho. “Caledonia” para […]

Lamas Rarus – Musicalidade

Normalmente, levo algum tempo para criar a introdução aos posts deste blog. Outras vezes, porém, a inspiração já vêm da própria marca de whisky. “Para se criar uma música, não há uma fórmula pronta. É possível misturar sons mais suavez com melodias graves e robustas, por exemplo. Mas para que essa mistura resulte em algo gostoso e atrativo, não pode ser feita de qualquer forma. Exige cuidado, talento e muita dedicação” – dizia um post no Instagram sobre o Lamas Rarus. Aliás, essa é uma analogia interessante. Whiskies são, de certa forma, como música. Barris (ou single malts, dependendo de onde você quer chegar) são um único violoncelista, tocando um solo. Você pode ouvir com clareza todas as notas. Mas, exceto se forem as súites de Bach, talvez sinta falta de algum outro instrumento para dar bojo à composição. Blends – de whiskies ou de diferentes barris – por outro lado, são uma orquestra. Você talvez não ouça todas as notas com tamanha nitidez. Entretanto, o conjunto se torna muito mais harmônico. A dificuldade é, justamente, equilibrar os sons. Garantir que os instrumentos de sopro não se sobreponham ao violino, e que o violoncelo possa ser ouvido e contribua para a […]

Lamas Robustus – Slogan

Tem mil e uma utilidades. A primeira impressão é a que fica. Uma boa idéia. Vale por um bifinho. Quem pede um, pede bis. Seria até redundante dizer, mas, vou fazê-lo mesmo assim. Estes são os slogans de algumas marcas conhecidíssimas de produtos. Bombril, Axe, 51, Danoninho e Bis. Mais do que frases que colam ao seu cérebro mais do que super bonder – cujo slogan devia ser “cola tudo, até mesmo a tampa do tubo” – são frases que definem, com precisão, a essência de suas marcas. Bombril, por exemplo, é perfeito. Há usos bem tradicionais, como limpar fogão, talheres e pratos. Há usos mais criativos, mas, ainda assim, lícitos, como usar de booster para a antena do televisor de tubo, ou esculpir uma lagartixa de ferro e dar pra alguma criança. E há todos aqueles que desafiam a lógica e a lei. Como, por exemplo, extensor para gato na rede elétrica (cuidado, vocês não ouviram isso aqui). Outros, no entanto, são como bombril. Servem pra quase tudo – por exemplo “uma boa ideia”. Qualquer coisa pode ser uma boa ideia. Até mesmo ideias cujo resultado é bem ruim, quando concebidas, parecem ser boas ideias. Tipo beber uma garrafa […]

Lamas 1000 Dias – Experimento

No Alabama, há uma lei que proíbe amarrar uma aligator num hidrante. É expressamente proibido, também, dirigir com os olhos vendados. Já na Suíça, se precisar fazer um número dois antes de dormir, provavelmente terá que suportar sua malcheirosa companhia até o dia seguinte. Porque, por lá, você não pode dar descarga na privada depois das dez da noite. Não pode também praticar alpinismo pelado – que me parece que até faz sentido, afinal, a sensação das cordas roçando na virilha deve ser bem aflitiva. Por falar em virilha, na Itália, você não pode mexer nas partes baixas em público. Mais especificamente, é contra a lei aprumar o seu amigão na companhia de outras pessoas. Se tá esquisito lá dentro da cueca, virado de lado ou coçando, esquece – nem a boa e velha manobra do bolso da calça é permitida. Por lá, homens também eram proibidos de usar saia. O que talvez fosse um problema para os escoceses mais tradicionalistas. O mundo está cheio de leis malucas. Cada país tem as suas próprias. E ainda que seja engraçado indagar as razões de suas criações, há um ponto genial nelas. São reflexo da cultura, ambiente e das prioridades de cada […]

Lamas Caledonia III – Trilogia

Um homem, um prédio, um monte de terroristas. Parece a receita para um filme desastroso. Mas, é o início de uma das trilogias mais famosas do cinema de Hollywood – Duro de Matar (Die Hard). Se você discorda, apenas lembre-se que, antes de Duro de Matar, Bruce Willis não tinha ido muito além de Uma Gata e um Rato. O filme é uma tempestade perfeita – um vilão incrível e um anti-herói de regata, num longa que combina perfeitamente ação e suspense. O segundo não fica atrás. Parece até que a ideia é tão ruim, mas tão ruim, que dá a volta inteira e fica boa. A sequência, que acontece num aeroporto, consegue manter o sarrafo bem alto. E o terceiro e derradeiro é ainda mais megalomaníaco. O problema é ampliado para uma cidade inteira e envolve o Samuel L. Jackson. E a gente sabe que quando o Samuel L. Jackson aparece, o caso é complicado. Trilogias são difíceis. Criar o primeiro sucesso é complicado. Mas, na verdade, o terceiro é tão difícil quanto. As expectativas devem ser não apenas atendidas como superadas. E não dá pra ser mais do mesmo. E é nisso que Die Hard funciona super bem […]

Lamas Smoked Single Malt – Combinações

Vou começar o post de hoje com uma auto-paráfrase. Não por falta de criatividade, mas, porque creio que se aplica perfeitamente à harmonização de hoje ” Goiabada e queijo, hot dog e mostarda, limão e cachaça. Batata palha e estrogonofe, vermute e campari, linguiça e feijão. TPM e chocolate, Microsoft Windows e Ctrl + Alt + Del. Chuva e Netflix, hambúrguer e batata frita e bacon com absolutamente tudo. Há coisas que foram criadas para combinarem, involuntariamente, com outras. Coisas cujo resultado é maior do que a soma das partes.  “ Charutos e whiskies são assim. É raro que uma combinação entre charuto e whisky saia terrivelmente errado. Porém, isso não significa que qualquer uma funcionará. Algumas ficam desequilibradas – como um charuto delicado com um whisky enfumaçado e potente. Outras, ficam simplesmente sem graça. Mas quando eu acerto, ah, aí é absolutamente incrível. Os dois se complementam, e extraem do outro sabores e aromas que eu jamais sequer imaginaria que existissem lá. E foi pensando justamente nesta combinação – esta soma que não tem nada de matemática – que o professor Cesar Adames, em parceria com a destilaria Lamas, de Minas Gerais, lançaram o Smoked Single Malt Whisky – […]

Whiskies lançados em 2020 – Sui Generis

Sui Generis. Se pudesse escolher uma expressão – em latim, claro, para ser sofisticado – para definir dois mil e vinte, utilizaria, certamente sui generis. É o tipo de expressão que é capaz de englobar, com perfeito grau de ambiguidade, tanto algo terrível quanto algo maravilhoso. É como quando dizemos que certa pessoa é interessante, curiosa, distinta e tantas outras expressões que são não-elogios ou críticas veladas. E cabe a você, querido leitor, dependendo de seu grau de otimismo, interpretar como quiser o que quis dizer com isso. Mas posso garantir umas duas coisas sobre dois mil e vinte. A primeira, é que certamente não foi um ano de aprendizado. Eu não aprendi nada que eu precisasse em dois mil e vinte. Se dois mil e vinte não tivesse existido, e eu continuasse sendo a mesma pessoa que eu sempre fui (sem descobrir sobre a elasticidade da demanda de papel higiênico ou a fazer salada de atum e feijão enlatado, por exemplo), permaneceria igualmente feliz. A segunda, é que independente do ano que tivemos, retrospectivas são inevitáveis. Meu spotify e o show da virada estão aí para comprovar isso. Eu, entretanto, prefiro voltar meus olhos para outra recapitulação. A dos […]