Sui Generis. Se pudesse escolher uma expressão – em latim, claro, para ser sofisticado – para definir dois mil e vinte, utilizaria, certamente sui generis. É o tipo de expressão que é capaz de englobar, com perfeito grau de ambiguidade, tanto algo terrível quanto algo maravilhoso. É como quando dizemos que certa pessoa é interessante, curiosa, distinta e tantas outras expressões que são não-elogios ou críticas veladas. E cabe a você, querido leitor, dependendo de seu grau de otimismo, interpretar como quiser o que quis dizer com isso.
Mas posso garantir umas duas coisas sobre dois mil e vinte. A primeira, é que certamente não foi um ano de aprendizado. Eu não aprendi nada que eu precisasse em dois mil e vinte. Se dois mil e vinte não tivesse existido, e eu continuasse sendo a mesma pessoa que eu sempre fui (sem descobrir sobre a elasticidade da demanda de papel higiênico ou a fazer salada de atum e feijão enlatado, por exemplo), permaneceria igualmente feliz.
A segunda, é que independente do ano que tivemos, retrospectivas são inevitáveis. Meu spotify e o show da virada estão aí para comprovar isso. Eu, entretanto, prefiro voltar meus olhos para outra recapitulação. A dos whiskies lançados neste ano no Brasil. Aliás, se há algo que dois mil e vinte comprovou é que beber é quase essencial em em um mundo pós-apocalíptico.
Asim, separamos aqui seis lançamentos que fizeram este ano melhor. Whiskies que há muito não via por aqui – ou que nunca haviam desembarcado (ou sido feitos) em terras brasileiras. Desçam uma dose generosa em suas taças e aproveitem.
Suntory Hibiki e Yamazaki
Provavelmente este foi o lançamento mais aguardado – e concorrido – de nosso ano. A Beam-Suntory, que recentemente estabeleceu operação no Brasil, fez o milagre de trazer mais dois rótulos incríveis para fazer companhia ao The Chita. Hibiki Japanese Harmony e Yamazaki 12 anos.
O primeiro, um blended whisky sem idade declarada, e que parte de seus componentes passa por carvalho japonês – o mizunara. O segundo, um single malt premiadíssimo e raro até mesmo fora de nosso país. Para saber mais sobre eles, clique aqui para o Yamazaki, e aqui para o Hibiki (rimou!).
Chivas Regal Mizunara & Extra 13 anos
O Chivas Mizunara é, também, sui generis. Mas, dessa vez, decididamente isto é algo bom. O whisky é um blend escocês finalizado em barris de carvalho japonês – algo bem raro, mesmo no Japão. O Chivas Mizunara chegou por aqui discretamente, foi vendido no e-commerce oficial da marca, e desembarcou apenas em dose por tempo limitado em nosso bar, o Caledonia Whisky & Co. Saiba sobre ele aqui.
Já o Chivas 13 é uma revisão do antigo Extra, outrora sem idade declarada. Em comparação com seu predecessor, é um whisky mais adocicado, mas também mais bem acabado. Boa parte de seus whiskies é maturada em barricas que antes contiveram vinho jerez oloroso – numa proporção bastante, diremos sui generis, para um blend. Leia sobre ele aqui.
Johnnie Walker & Sons Celebratory Blend
Um blended scotch whisky lançado pela mais famosa marca de blends do mundo, com 51% de graduação alcoólica. Se isto não é – desculpem-me pela monotemática que permeia este texto e nosso finado ano – sui generis, não sei o que mais é. O Celebratory blend chegou por aqui no finalzinho de dois mil e vinte, também sem muito alarde. Mas, deveria ter feito um show. É um dos melhores blends que este Cão já provou da marca do andarilho, e capaz de agradar tanto os aficionados por whisky quanto os iniciantes.
Buffalo Trace Bourbon
O bourbon whiskey queridinho de muitos apaixonados, e há muito desejado pelo público brasileiro. Se aliens descessem dos céus e perguntassem a todos os bebedores o que esperam de um bourbon, para depois produzi-lo, o resultado seria muito próximo do Buffalo Trace. Incluindo seu preço. Ele agrada a todos, tem um valor razoável, e qualidade sensorial excelente. É o tipo de whiskey que atrairá tanto o novato – graças a seu perfil adocicado e pouco apimentado – quanto o bebedor mais experiente, que busca algo com bom custo-benefício. Leia tudo sobre ele aqui. – incluindo este parágrafo, tudo de novo.
Royal Salute 38 anos Stone of Destiny
O Royal Salute 48 anos Stone of Destiny é o whisky mais maturado a ser vendido oficialmente no Brasil. Só isso já o tonra bem, vocês sabem o que. É um blend magnífico, complexo e equilibrado ao mesmo tempo. Aroma, sabor, apresentação, tudo beira a perfeição.
Não é a primeira vez que o Stone of Destiny desembarca no Brasil. Porém, não havia importação já há bons anos. Em 2020, porém, a Pernod-Ricard trouxe em torno de 15 garrafas desta preciosidade para nosso país. Para saber mais sobre ele, clique aqui.
Jim Beam Rye
Para os geeks de coquetelaria, este provavelmente foi o melhor lançamento de 2020. Um whiskey de centeio – rye whiskey – com preço de combate, perfeito para ser usado em coquetéis, mas também com perfil sensorial acessível para ser tomado puro ou com gelo.
O Jim Beam Rye chegou aqui no meio de 2020, e teve até perfect serve – um coquetel oficial – criado pelo Rodolfo Bob, do nosso bar Caledonia. Um Perfect Manhattan. Para ler sobre o whiskey, clique aqui. E sobre o coquetel, aqui.
Lamas Caledonia
Um single malt para chamar de nosso. Produzido pela Lamas destilaria, localizada em Minas Gerais, o single malt foi fruto de uma parceria com nosso querido bar em São Paulo, o Caledonia. O resultado é um whisky enfumaçado, intenso, adocicado e curiosamente e (acreditem!) imprevisivelmente salino. Não fazíamos a menor ideia que este seria o resultado.
O Lamas Nimbus Caledonia passa por um processo de defumação bastante sui – ah, esquece. Leia mais sobre ele aqui, que é melhor.
Union Virgin Oak
Não vou falar que o Union Virgin oak é sui-generis, porque vocês já estão cansados da palavra. Mas, que ele é, ele é. Por alguns motivos. É um single malt brasileiro, o que já é raro. Em segundo, é maturado em barris de carvalho americano virgens, algo bem incomum mesmo para single malts escoceses – isso lhe garante notas que estão ora no campo dos bourbons, ora no campo dos single malts. Para saber mais sobre ele, clique aqui.