Três whiskies para beber no Carnaval

Observo, com um desânimo letárgico, o aplicativo de temperatura em meu celular. Trinta e seis graus celsius, às quatro da tarde. Mas, pela escuridão lá fora, bem que poderia ser oito da noite. Um raio corta o céu, sucedido por uma tremenda trovoada que chega a tremer a mesa. Tenho mais meia hora antes de sair de casa, para uma reunião presencial. Dessas, que poderiam ser um e-mail.

Dou uma risadinha irônica. O legal dessa época do ano em São Paulo é que a oferta de formas de morrer tragicamente aumenta vertiginosamente. Dá pra morrer afogado no dilúvio, assado no calor, eletrocutado por algum fio elétrico que se partiu durante o vendaval – que precede a inundação – ou empalado por um galho gigante de alguma árvore que foi displicentemente conservada. Ainda bem que minha paranóia não é criativa.

E depois de tudo isso, ainda tem o Carnaval. Admiro a disposição de quem encara a folia mesmo debaixo de chuva e num calor comparável ao do deserto de Lut. Ano passado me chamaram para um bloquinho. Até acho legal. Nunca fui, porque precisa estar muito animado, e, na última hora, sempre venço minha força de vontade e fico em casa, no ar-condicionado, bebendo whisky.

Me arrependo, bem de leve, mas, por outro lado, fico feliz. Afinal, anos de ausência me renderam uma certa experiência em recomendar os melhores whiskies para temperaturas abrasadoras. Escolhi três deles para compor uma lista que agora compartilho com vocês, queridos leitores: os whiskies do bloquinho dos ausentes.

Jack Daniel’s Gentleman Jack

É, eu sei, parece uma dica óbvia. Mas O Gentleman Jack é o tennessee whiskey perfeito para o calor. Ele tem corpo baixo, graças à dupla filtragem em carvão de bordo – o conhecido Lincoln County Process. A receita do mosto é igual à do Jack Daniel’s Tradicional, mas o duplo charcoal mellowing o torna ainda mais leve, com álcool menos aparente.

Para beber bastante, mas com responsabilidade, e fazer aquele whiskey sour para aliviar o calor, ele é perfeito. No Caledonia, inclusive, fazíamos um Gentleman’s Coke. Um drink que prescinde explicações, mas com dois aditivos: uma rodelinha de limão desidratada e alguns dashes de Peychaud’s.

Suntory The Chita

O japonês The Chita é um single grain – o único do tipo no Brasil. Seu cereal base é o milho. A destilação acontece em destiladores contínuos, que podem ser combinados de diferentes formas para atingir oleosidades diferentes de seu new-make. Para aumentar a complexidade, uma combinação de barricas – dentre elas, jerez, vinho tinto e bourbon – é empregada.

O The Chita é um whisky leve, delicado, com notas de coco, baunilha, caramelo e mel. Perfeito para se tomar despreocupadamente num calor infernal, esperando para ser arrebatado pela eletricidade ou pelo dilúvio iminente.

Royal Salute 21 The Blended Grain

O Royal Salute 21 The Blended Grain é o perfeito exemplar da categoria. Sua maturação ocorre exclusivamente em barricas de carvalho americano que antes contiveram bourbon whiskey – a maioria delas, de segundo ou terceiro uso. A ideia é trazer delicadeza, sem que a influência da madeira eclipse o sabor delicado do destilado. O whisky mais jovem da mistura possui 21 anos, sem prejuízo de alguns whiskies de grão mais envelhecidos na composição – que é feita exclusivamente de Strathclyde, e da “lost distillery” Dumbarton.

A palavra de ordem é leveza. O whisky tem corpo baixo, e uma nota floral que o torna extremamente bebível, mesmo quando está bem calor. A marca, inclusive, recomenda misturá-lo em coquetéis refrescantes, como Highballs. Seja como for o consumo, é a tempestade (ops) perfeita para a ocasião.

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