Royal Salute Miami Polo Edition – Jardinagem

Quando eu tinha uns treze anos, viajei com meus pais para Miami. E eu adoraria dizer que lembro-me de descer Miami Beach numa Ferrari Daytona preta, à la Miami Vice, ouvindo a música do Will Smith ou do LMFAO, enquanto apreciava a bela arquitetura Art-Decô das boates daquela praia. Mas eu não fiz nada disso. O que eu fiz foi falar portunhol com todo mundo – ainda que tentasse antes o inglês – e comer horrores. Lembro-me também de passar horas entediado, ao lado do meu pai, em alguma Wallgreens, enquanto minha mãe se regojizava entre os milhares de cremes e maquiagens. Então, não vou falar da minha fastidiosa viagem. Mas vou falar de uma coisa que todo mundo gosta em Miami – e em todo lugar, pra falar a verdade. Ficar pelado. Aliás, vi uma matéria recente no Miami Herald que a cidade foi nomeada a Capital da Jardinagem Nua da América. A honra foi concedida pelo site LawnStarter, especializado no cultivo de plantas. O prêmio decorreu de uma extensa pesquisa em mais de cem cidades, capitaneada pelo portal. E descobriu-se que os habitantes da maior capital brasileira fora do Brasil amam utilizar grandes tesouras de jardinagem ao lado […]

Old Pal – Negroni Month

Pronto, acabou. Não estamos mais no mês do Negroni – o que não poderia tornar esta matéria mais tempestiva. É engraçado que, ano passado, era uma semana só. Agora já tem um mês. Inteiro. Ano que vem teremos o semestre do Negroni, tenho certeza. Ele irá de agosto até o reveillon. E vai ser ótimo, além de super prático, porque já vai estar tudo vermelho, aí não vai precisar mudar a paleta pro Natal. Negroni é um drink interessante. Vi esses dias uma postagem que trazia algumas definições engraçadas do coquetel. Dentre elas, “a forma mais fácil de fazer pessoas normais detestarem coquetéis” ; “diabetes entrelaçada com amargor” e meu absolutamente preferido “Tipo um boulevardier, mas piorado“. A verdade é que Negroni é o pior drink mais viciante que tem. E, certamente o que mais evoca a paixão entre seus entusiastas. Nada mais natural, então, que ele tenha ramificado para diversas variações, ao longo de sua história. A mais conhecida delas é, alegadamente, o Boulevardier, que troca o gim pelo whiskey. Algo que, convenhamos, deveria ter sido feito desde o primeiro dia. Mas há incontáveis outras. Sbagliato, Negroni Bianco, Last Man Standing, Drunk Uncle, South By Southwest e Valentino, para […]

Glenmorangie 16 The Nectar – Maçãs e Laranjas

Hoje vou convidá-lo a um exercício diferente, mas interessantíssimo. Pule até a imagem dos sucos abaixo, e tente encontrar ao menos uma maçã em cada um dos rótulos. Alguns são bem fáceis. Outros, uma verdadeira obra de arte em forma de marketing. É que boa parte deles contém maçã, mesmo sendo de outra coisa completamente diferente, como uva e laranja. A maçã funciona como um agente natural de dulçor, e também reduz o custo de produção da bebida. Quando isso acontece, as produtoras devem, por lei, incluir a imagem de uma maçã. Para, discutivelmente, mostrar ao consumidor que o suco contém mais de uma fruta. A regra, entretanto, nao especifica muito como. Então, as marcas encontraram formas – as vezes maravilhosamente ardilosas – de atender à obrigação. Volte à imagem do peixinho abaixo e preste atenção às barbatanas. Nem se Van Gogh, Brueghel e Manet se juntassem, fariam uma natureza morta deste nível. Mas, às vezes, o que não está no rótulo é tão importante quanto o que está. É o caso do – mais ou menos – novo The Glenmorangie 16 The Nectar. Previamente denominado Nectar D’Or, e sem idade declarada, o whisky maturava em barricas de carvalho americano, […]

Man O’ War – Esperança

“A única coisa que devemos temer é o próprio medo” – declarou Franklin D. Roosevelt, em seu discurso de posse como presidente dos EUA, em 1933. Não era para menos. O país estava por quatro anos mergulhado na pior crise econômica de sua história até então, a famosa Grande Depressão. Quatro anos antes, em 1929, a bolsa de Nova Iorque colapsara, levando consigo o sistema bancário e o emprego de milhares de norte-americanos. E ainda que, naquela época, isso estivesse longe de ser uma prioridade, nem beber era uma opção. A Lei-Seca estava em vigor. Neste cenário devastado, surgiu um improvável bastião da esperança. Um cavalo de corrida – sim, pasmem – chamado Seabiscuit. Não por qualquer motivo prático, porque, obviamente, estava longe da capacidade do equino resolver qualquer problema sócio-econômico dos Estados Unidos. Aquilo não era um capítulo de Bojack. Mas por ser uma espécie de personificação – ou melhor, cavalização – da esperança. Seabiscuit era pequeno e subestimado, e teve um difícil início de carreira. Porém, guiado por Tom Smith e Red Pollard – seu treinador e jóquei, respectivamente – se tornou símbolo da luta para superar as adversidades e vencer. O que poucos sabem – ou não […]

Glenmorangie 18 The Infinita

Em 1726, Jonathan Swift descreveu em As Viagens de Gulliver um curioso território insular que flutuava sobre o ficcional reino de Balnibarbi. A ilha, com sua base magnética de adamântio, era habitada pela realeza e nobreza de Balnibarbi. Seres extremamente inteligentes, mas totalmente desconectados da realidade prática. Absorvidos por ideias abstratas e complexas, se viam incapazes de preparar uma refeição sem algum auxílio de humanos mais pragmáticos. Swift, que escrevera a obra em inglês, nomeou a ilha de Laputa. O nome, entretanto, teria passado despercebido pelos anais literários, não tivesse sido resgatado pela Mazda. Em 1999, a fábrica japonesa de automóveis lançou um novo carro, e, inspirada pela erudita referência, decidiu que seria uma boa ideia batizá-lo de Laputa. O que, na cabeça de seus executivos – que muito bem poderiam ser habitantes da ilha ficcional – evocava um ar de inovação e sofisticação flutuante. Assim surgiu o Mazda Laputa, que rapidamente se tornou uma piada pronta para nós, afortunados falantes de línguas latinas. Diante do constrangimento, a Mazda tomou a decisão de reintroduzir o carro com o nome de Verisa. Que foi escolhido pela sonoridade, não significa nada, e – nem de longe – é tão legal quanto Laputa. […]

Entrevista com Elizabeth McCall, Master Distiller da Woodford Reserve

Sentado no bar, lá pelas tantas, um conhecido meu surge com uma analogia sobre a vida. “Olha, imagina que sua vida é um pote enorme. E você tem na sua frente, duas porções de bolinhas de gude. Numa delas, todas são transparentes. Já a outra, têm bolinhas de várias cores” – um gole na cerveja, antes de seguir, para fins dramáticos – “No final de cada dia, você têm que colocar uma bolinha no pote. Se você fez algo legal, relevante, põe uma colorida. Mas se ficou lá, só flanando, deslizando pela sua rotina, tem que usar uma transparente.” – disse, apertando os lábios. “E aí, você vai ver que no final, vai ter muito mais bolinha transparente do que colorida“. Levantei as sobrancelhas “Tá, e tomar cerveja aqui, conta como colorido ou transparente?“. Pela revirada de olhos, notei que ele não gostou da coça. Mas a analogia, no fundo, era boa. Poderia induzir a comportamentos imprudentes, mas era, basicamente, aquele papo que a Jack Daniel’s tinha, há uns anos. “Make it Count“. E tive uma prova prática dessa filosofia ao viajar com a Brown Forman para os Estados Unidos. O objetivo era conhecer as destilarias do grupo e as […]

Suntory Hibiki 21 – Escassez

For Relaxing Times, make it a Suntory Time. Quando assisti Encontros e Desencontros da Sofia Coppolla pela primeira vez, nem conhecia whisky direito, mas achei a referência engraçada. O filme explorava justamente a sensação de estranhamento, alienação e isolamento entre as pessoas. Relações, aliás, realçadas pela sensação de distanciamento cultural do Japão. E nada melhor para potencializar este estranhamento do que whisky. Em 2003, o whisky japonês estava longe da febre que é atualmente – e eu tinha apenas dezoito anos. E um ficcional ator decadente americano estrelando um comercial para um produto que parecia tão desconectado daquele país quanto ele próprio era uma analogia genial. O que eu não sabia, no entanto, é que o whisky japonês era excepcional. Um dos exemplos mais claros é o premiadíssimo Suntory Hibiki 21 anos – aliás, o irmão mais velho do whisky que aparece no filme. O Hibiki 21 anos é um blended whisky cujo coração é o single malt Yamazaki, e que leva whiskies das destilarias Hakushu – single malt – e Chita – grain whisky. Whiskies, estes, maturados em barricas de carvalho americano, europeu e japonês – o famoso Mizunara. O blend foi lançado em 1994, cinco anos após a […]

Blinker Cocktail

“Eu não quero ser o produto de meu meio. Eu quero que meu meio seja o resultado de mim“. A frase é a abertura de um dos melhores filmes de Martin Scorcese – The Departed – e proferida numa voz arrastada por Jack Nicholson. O conceito é uma refutação de uma ideia de Émile Durkheim, filósofo francês, considerado o pai da sociologia. Para Durkheim, o homem sofre influência de seu meio, muito mais do que o meio é influenciado por ele. A ideia é de fácil comprovação. Aleatoriamente, aqui, vou falar de Jean Metzinger. Ele foi um pintor francês, nascido no final do século dezenove. Metzinger sofreu diversas influências artísticas em sua carreira. Dentre elas, do pontilhismo de Seurat e Fauvismo. Ao conhecer Picasso e Braque, abandonou as influências anteriores e adotou o cubismo. E por mais que tenha alcançado uma indiscutível notoriedade, jamais chegou ao nível de prestígio de seus influenciadores, como Picasso. Se Metzinger fosse um coquetel clássico, ele seria, certamente, o Blinker. O drink é uma amálgama da influência de diversos outros drinks. Seu Picasso é, certamente, o Whiskey Sour. Mas há também algo de Ward Eight, e por que não, de Paloma – um coquetel que […]

Entrevista com Chris Fletcher, master Distiller da Jack Daniel’s

Há um axioma, proferido a Peter Parker por seu tio Ben, que atingiu status de aforismo. “Com grande poder, há grande responsabilidade“. O conceito é de fácil absorção, a ponto de parecer até estranho que ninguém tenha o condensado antes. De fato, versões da citação são bem mais antigas do que o nosso querido herói da Marvel. O que, de nenhuma forma, tira o mérito dele ou de Stan Lee pela menção. Por exemplo, em 1817, o futuro primeiro ministro da Inglaterra, William Lamb, disse em um discurso ao parlamento que “a posse de um grande poder necessariamente implica em grande responsabilidade“. A nova versão da bíblia, de rei James, também possui uma passagem que menciona algo semelhante. “Para todos que muito é dado, muito será solicitado“. O conceito foi também abordado por Chomsky, que, aliás, é contemporâneo e conterrâneo de Lee. Mas, estou a divagar. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades. O que nos leva a imaginar que, implicam também em um enorme ego, e uma inacessibilidade quase intransponível. Isso é verdade para muita gente. Mas não Chris Fletcher, master Distiller da Jack Daniel’s. Fletcher é responsável por quase tudo que se refere a Jack. Ele cuida da padronização, criação […]

Angel’s Envy Bourbon – Fascínio

Possuir um site de whisky exige um certo foco. Ainda que seja totalflex, o mundo etílico é muito vasto, e os recursos hepáticos e financeiros, limitados. Me vejo muitas vezes obrigado a escolher frentes, e, naturalmente, minha zona de combate favorita é o whisky. Mas isso não significa que não aprecie outros campos. Como sabem, sou um apaixonado por coquetelaria, sempre gostei de cerveja, e tenho um fascínio ignorante por rum e cachaça. No campo dos vinhos, assumo que sou do time dos fortificados. Especialmente porto. E às vezes, eu nem preciso escolher. Porque há centenas de whiskies que são finalizados nas barricas de tais vinhos. E isso para mim é quase um megazord etílico.. Basta ver um whisky que passou por essa barrica, que me sinto irremediavelmente compelido a prová-lo. Imagine então, quando descobri um bourbon que passa pelo mesmo processo – O Angel’s Envy Bourbon. O maior diferencial do Angel’s Envy Bourbon – assim como seu irmão, o Angel’s Envy Finished Rye, já revisto por aqui – é justamente sua maturação um tanto incomum. O whiskey, depois de passar em torno de cinco anos em barris de carvalho americano virgens e tostados, é finalizado por um período de […]