Ballantine’s Finest – Procrastinação

Se você é um novo leitor do Cão Engarrafado, ou chegou aqui pela primeira vez por meio de alguma ferramenta de busca, talvez não saiba. Então, vou contar novamente. Sou advogado. Trabalhei por uma boa década no mundo corporativo. Minha especialidade era mercado de capitais. Uma área que proporciona oportunidades incríveis para seus profissionais. Como, por exemplo, assistir o  crepúsculo e aurora pela janela de sua sala, enquanto revê duzentas páginas de um prospecto de uma emissão primária de ações de alguma companhia de maçãs.

Quase tudo em mercado de capitais demorava bastante, mas deveria ser feito muito rapidamente. O que levava a intermináveis jornadas de trabalho, noites em claro e todo tipo de delivery. Mas duas das atividades mais infernais e intermináveis eram conhecidas como Back-up e Circle-up. Para evitar que você, querido leitor, morra de tédio, explicarei apenas brevemente. Back-up e Circle-up eram normalmente realizados simultaneamente, por um único advogado, e consistiam em circular, manualmente, todas as informações que deveriam mais tarde ser confirmadas, e numerá-las. De um a mil novecentos e alguma coisa, num documento de quase trezentas páginas. Duas vezes, uma pra cada.

Quando abandonei o mercado de capitais, voltei a contemplar o prazer de uma noite de sono. Mas não sem danos colaterais. No começo, sonhava com um prospecto infinito de folhas tremulando ao vento, e na tinta de minha débil caneta que se esvaía no ar, tão logo concluía a numeração de certa página. Uma risada macabra vindo da pilha de copinhos descartáveis de café completava a angustiante atmosfera de minha ficção noturna.

Expectativa e…

Por conta da natureza e do volume de trabalho, e de minha – assumo – imaturidade profissional, havia apenas uma atividade que me consumia mais tempo do que o back-up e circle-up. A procrastinação. Tudo era motivo. Um e-mail promocional de alguma loja de bebidas, um clipe de musica no youtube ou até mesmo alguma frivolidade nas redes sociais. Aquilo era uma auto-sabotagem, mas, ao mesmo tempo, uma válvula de escape. Tudo que eu não queria fazer, fazia nos intervalos entre procrastinações.

Lembrei dessa minha característica ao resolver que faria a prova de um whisky bastante pedido pelos leitores do Cão Engarrafado. O Ballantine’s Finest. Assumo que levei bons dias para escrevê-la, e entremeei  o tempo dedicado a ela de todo tipo de atividade inútil, dezenas de cafés e centenas de visitas à geladeira. Durante esse tempo, pensava o que poderia escrever sobre ele, porque, para falar a verdade, aquele era como muitos whiskies para mim. Agradável, simples, equilibrado e bem pouco interessante. Talvez por isso tenha produzido cinco parágrafos de introdução.

Pois bem, sem mais procrastinações. O Ballantine’s Finest é o blended scotch whisky de entrada da marca, que atualmente pertence à Pernod Ricard. No Brasil, além dele, há mais quatro expressões, todas com idade declarada: 12, 17, 21 e 30 anos. E ainda que a composição – e obviamente o envelhecimento – de cada rótulo seja diferente, todos giram em torno de um mesmo tema. Um certo adocicado, bastante suave, com mel e caramelo. Mas há diferenças. A expressão de dezessete anos é mais enfumaçada, enquanto o de três décadas, mais profunda e amarga.

Os single malts que compõe o coração do Ballantine’s Finest são Miltonduff, Glentauchers e Glenburgie – essa última, seu lar espiritual. Recentemente, a Pernod-Ricard lançou uma linha de single malts, também denominada Ballantine’s, contendo estes whiskies. A ideia da marca é ressaltar e levar os componentes mais proeminantes de seu blend ao conhecimento do público. Algo semelhante àquilo que a Diageo fez com sua linha de Singletons.

Durante toda sua existência, a Ballantine’s teve apenas cinco diferentes master blenders, responsáveis por elaborar seus whiskies, bem como zelar por sua qualidade e consistência. O atual é Sandy Hyslop, um homem com mais de trinta anos de experiência no ramo. Boa parte do sucesso da Ballantine’s, especialmente em mercados emergenetes, é de Sandy. São dele criações como o Ballantine’s Brasil, Ballantine’s Hard Fired e o exclusivo Ballantine’s 40 anos.

…Realidade.

O Ballantine’s Finest é a expressão mais vendida da família Ballantines. Que, atualmente, é uma das marcas de blended scoth whisky mais vendidas no mundo. Seus maiores mercados estão na Ásia e América Latina, ainda que o whisky possua uma boa popularidade também na Europa.

Se você procura um blended whisky despretensioso, agradável, versátil e com preço de combate, o Ballantine’s Finest talvez seja sua escolha natural.  É um whisky versátil, relativamente barato, pouco agressivo e adocicado. Comparado a outras expressões em sua faixa de preço, ele entrega até mais do que promete. Além disso, funciona bem em coquetéis simples, e é bastante agradável com gelo. É praticamente perfeito em todas as situações em que se é socialmente aceitável beber.

E antes que você me pergunte, não, procrastinar enquanto trabalha não é uma delas.

BALLANTINE’S FINEST

Tipo: Blended Whisky sem idade declarada (NAS)

Marca: Ballantine’s

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: adocicado, mel, caramelo.

Sabor: Adocicado no início e maltado. Cereais, mel, um pouco de baunilha. Final médio e doce.

 Preço: em torno de R$ 90,00 (noventa reais)

 

42 thoughts on “Ballantine’s Finest – Procrastinação

  1. Sei que aqui não é um fórum de perguntas aleatórias, mas, como não existe um e seu site é de ótima qualidade (todas postagens que vi, gostei) vou perguntar. Já faz alguns meses que estudo a respeito da Destilação caseira e tal, e aí vem uma dúvida: Pelo menos Pará nós, Brasileiros, o centeio não maltado é mais caro que determinadas cevadas maltadas? Consegui achar uma fonte de cevada maltada na Internet de $7,50 o KG, enquanto de determinados centeios (*não maltados) saem basicamente esse valor algumas pequenas gramas.

    1. Lucas, tudo bem? Adorei a introdução à pergunta!

      E vou te dizer, com sinceridade, que não sei. Minha impressão é que a cevada seria mais cara, mas nunca atentei para o preço das matérias primas no Brasil!

    2. Tenho um Balla Finest guardado aqui a uns 30 anos, haverá alguna alteração na expressao?

      1. OLá Jairo, tudo bem? Nenhuma alteração, segue o mesmo whisky – ao menos em teoria. Abra e compare, vai ser legal!

  2. Excelente .

    Todos tem uma História para contar com o “Balla 8” ! No detalhe todos sabemos que o Ballantine’s Finest não é outo anos, mas todos os que apreciam o malte com gelo, e conversam com amigos emeio ao chocalho das pedras de gelo no Scotch Whisky ! O “Balla 8” boas lembranças e boas conversas ! Parabéns ao ilustre Cão Engarrafado por este magnifico blog. !

  3. Excelente o artigo do Ballantine’s Finest ou como conhecemos o “Balla 8” ! Sabemos que o Ballantine’s Finest não é oito anos , mas todos temos na memória e no coração histórias com o Ballantine’s ! História de um whisky é uma mistura de duas grande e significativas histórias … A História do whisky e a história pessoal com esta experiencia ! Momento que dividimos o whisky Ballantine´s com o Pai, o Tio ou até os Avô ! Todos temos no coração uma história com o “Balla oito” .

  4. Caro Maurício,

    Qual single maltratado, na faixa de 250 reais, vc recomendaria pra conhecer single malts? Por favor, não se exima de responder. Obrigado.

    1. Francisco, tudo bem? Olha, depende da sua intimidade com a bebida. Se for um dos seus primeiros – Glenfiddich 12 anos, Singleton of Glen Ord 12 ou o Glenlivet Founder’s Reserve. Aliás, nessa ordem. Depois, arrisque um Talisker – um pouco mais defumado. Ou vá direto pro Talisker mas, se não gostar, não desanime. Procure um dos outros três, que tem perfil sensorial bem distinto.

  5. Caro Cão, gostou muito de seu blog e sempre apreciei muito a sua maneira de escrever, prosaica e objetiva, com ótimas ligações entre a bebida e temas cotidianos.
    Assim como você, sou advogado, mas não deixei a profissão pelo whisky (embora, talvez, devesse hahaha). Confesso que uma das minhas fontes de procrastinação favorita é o seu Blog, lendo sobre os mais diversos rótulos, muitos dos quais nunca tive qualquer contato.

    1. Caro Juliano, que bom que um companheiro causidico gosta e acompanha o blog!

      E meu deus, isso é tipo uma procastination inception – você procrastina lendo um texto sobre procrastinação no qual eu procrastinei para finalizar.

  6. Tomando ele nesse momento que escrevo, achei melhor que o green label e bem agradável para o paladar, aprovado, paguei 99 aqui em BSB.

  7. Caro amigo, na sua opinião qual é mais interessante: Ballantines finest ou o Grants de entrada? Ambos costumam ser o mesmo preço aqui na minha cidade.

    1. Gustavo, o Ballantine’s é mais doce e mais delicado, enquanto que o Grant’s é um pouco mais seco e agressivo. São paladares diferentes. Talvez eu prefira – por uma margem pequena – o Ballantine’s. Mas é uma questão de gosto.

  8. Como vai, mestre?
    Não sei se já comentei com o senhor, mas quase iniciei minha jornada com este whisky. Acabei ficando com o Red Label (argh), mesmo com o dono do depósito (vulgo sr. Pimenta) tendo me sugerido levar o Ballantines hahaha.
    Confesso que está bem longe de ser um dos meus alvos, mas alguns whiskys parecem que precisam constar em nosso “curriculum”, não?
    Na verdade, gostaria de provar o 17y, ou seria um exagero do sr. Murray? hahaha

    Grande abraço!

    1. Mestre, ossos do ofício. É necessário ter litragem mesmo, rs.

      É exagero, mas não é. O Ballantine’s 17 é excelente. Talvez um dos meus blends preferidos no nosso mercado em sua faixa de preço (talvez o único que goste mais seja o Chivas 18, e ele esteja lá empatado com o Dewar’s 18). É um whisky puxado para o floral e bem adocicado e delicado. Eu provaria, sem duvida.

  9. Gostei mais da introdução, entrei nesse blog para saber um pouco mais sobre o dito whisky, mas a vida dos outros é sempre o assunto mais interessante.

  10. Acabei de comprar um “Balla 8”. Estou empolgado! Esse é o melhor site sobre uísque. O cara é fera!!! Parabéns. Sempre estou por aqui.

  11. Cheguei aqui por acaso, procurando mais informações sobre whisky. Adoro o jeito como escreve e as suas opiniões! Não sou conhecedora. Provei umas doses de Jack Daniels e Johnie Walker Black Label, com energético (não me censure, pfvr) e gostei. Não senti nenhum mal estar depois. RS. E agora estou querendo me aprofundar mais neste universo. Comprei um Passport e um Ballantines. Confesso que fiquei muito na dúvida entre este último e o Black Horse. Talvez o nome do cavalo não me agrade na bebida. RS E meu paladar prefere realmente bebidas mais adocicadas. O Teacher’s não vi nos supermercados e o Black and White também estava na disputa. Até a próxima.

    1. Oi Dani! Muito obrigado!! 🙂

      E é isso aí, vá trilhando seu caminho de descobertas no mundo do whisky com calma, para entender seu paladar.

      Se você gosta dos adocicados, e dentre estes rotulos mais acessíveis, meu chute é que você vai gostar bastante do Black & White. E mais ainda do Famous Grouse Finest.

  12. Olá, entrei pela primeira vez no seu blog, através do Oráculo Maior, o Google, rsrsrs. Por alguns anos bebo o Jack e sempre me agradou muito e sou “perito” em alguns drinks com ele, q minha esposa adora. Mas hj, visitando a loja, o atendente, meu camarada, me indicou o Ballantines, por dois motivos: um, pra experimentar outro sabor e o segundo, por estar em promoção. Então, entrei aqui no intuito de pesquisar sobre os feedbacks de conhecedores e acabei gostando bastante. Após o almoço experimentarei. E ganhou um leitor. Abraço

  13. Oi, sempre leio esse blog antes de ter novas experiências com whisky e o Ballantine Finest eu realmente já experimentei bastante, dentre os whiskys “de entrada” é um dos meus favoritos mas eu sinto uma grande diferença grande quando passo para o Ballantines 12 anos e acredite ele passou a ser um whisky bem acessivel, tenho sempre encontrado o Balla 12 proximo de 100-110 reais enquanto o finest tem ficado na casa dos 80 reais, entre os whiskys de entrada eu prefiro ele do que o red label porém com apenas alguns reais a mais, normalmente a R$99,00 em sites como a amazon eu sempre encontro o Jameson e eu realmente adoro o sabor dele, são whiskys totalmente diferentes porém o crescimento monstruoso das vendas do Jameson não são por acaso ele realmente nessa faixa de preço é um whisky bem interessante, outro whisky totalmente diferente que as vezes me vem a mente quando é whisky nessa faixa de preço está o Bourbon Jim Beam que hoje está em promoção a R$90 no extra e no pão de açucar mas sempre tenho encontrado ofertas a 99 reais, nessa briga de diferentes paladares acabo sempre dando preferencia para o Jameson em seguida para o Jim Beam para você ver como meu paladar é eclético, claro que esses eu pego não para degustar mas para mamar a garrafa e talvez seja esse o motivo, quando eu estou procurando algo para degustar ou beber casualmente eu gosto muito do Chivas (um tom acima do balla 12) Double Black (se é pra esfumaçar que seja com estilo) ou mesmo um Old Parr esse nunca estando abaixo dos R$160 assim como o Buchanan’s e para mim ficam entre a “leveza” do Chivas e o coice do Double Black, agora estou começando a degustar single malts e single barrels e peguei bastante dicas aqui, resolvi fazer esse post principalmente para o pessoal novato que acaba sempre passando e ainda tem duvida de quais whiskys comprar, pessoas igual a eu que a pouco tempo queria apenas descobrir entre os 12 anos mais vendidos quais eram os mais adocicados, esfumaçados, aveludados, frutados eu estou começando a ver uma diferença muito grande entre eles o unico que ainda me confunde um pouco ainda é o Old Parr eu não consigo encaixar esse nesse meu metodo simplista de definir qual seria o sabor do whisky ele é um pouco diferente e creio que precisarei de mais algumas garrafas para entende-lo melhor e aproveitando, obrigado pela dica do Dewars 12 hoje é um dos meus blended 12 anos preferidos, dos whiskys que cabem no meu bolso o melhor Blended que experimentei foi o antigo Gold Label 18 anos, pra mim melhor que o Platinum que o substituiu e me agrada muito também o green label esse puro malte com preço atrativo quase me fez ir as lagrimas quando saiu do mercado mas voltou dessa vez em garrafas de 750ml, então, sabendo que eu sou eclético, gosto desde um Jack Daniels até um Double Black teria algum outro Blended para me indicar? Obrigado pelo Blog e pelas Dicas.

      1. Cheguei aqui ao acaso, procurando um Review deste Ballantines. Acabei lendo várias resenhas suas, e voltarei mais vezes. Parabéns pelo conteúdo.
        Gostaria de uma opinião: comecei com whisky a pouco, iniciando com um Teachers Highland Cream.
        Agora, gostaria de adquirir a segunda garrafa, e estou em dúvida entre o Ballantines Finest e o Teachers 12 anos.
        Qual sua indicação?

        1. Bom dia Guilherme!!

          Bem, voce gostou do defumado do Teacher’s? Se sim, vá no 12. Mas, se quiser se aventurar pelo mundo dos whiskies mais leves e adocicados, vá de Ballantine’s.

  14. Acabo de encontrar o seu blog, e ele é ótimo! Durante muitos anos, o Whisky foi minha bebida favorita. Na verdade ainda é, mas hoje bebo muito pouco, especialmente por causa da saúde. No entanto, mantenho meu amor por esta bebida, e seu blog é uma grande maneira de me manter informado, bem como de refinar o amor pelo whisky. Grato!

  15. Se há algo que não faço com esse whisky é procrastinar. Creio ser o melhor custo-benefício do mercado. Naqueles dias sem nada especial, é minha escolha imediata para relaxar, sem titubear. Leve, delicioso e ótimo com pedras de gelo. É companhia frequente para curtir Chet Baker e outras lendas do jazz. O Ballantine’s Bourbon Finish é uma ótima alternativa a ele, também bastante acessível. Ou, talvez, um Ballantine’s 12 Anos, que também é barato.

  16. Fala Maurício boa tarde.
    Tudo bem ?!
    Estou agora em uma dose de Bala Finest mas tenho quase certeza d éter adquirido um vasilhame falsificado, pois a tampa e bico dosador são diferentes do padrão.
    Assim como o aroma com gelo me remete a algo bem adocicado e muito suave no palato.
    Como mel, caramelo e talvez gengibre.
    Gostaria de entrar em contato com você pelo Facebook pra ver se você pode me ajudar a sanar essa curiosidade quanto a procedência do vasilhame.
    Foi adquirido com nota fiscal aqui no RJ, no mercado Pão de Açúcar.
    Abc forte.

    1. Fala mestre. Do PDA, acho dificil que seja falsificado. Eles compram direto da Pernod Ricard por ser uma “Key-account”. Foi por site ou loja fisica?

      1. Boa noite ao Cão Engarrafado.
        Cheguei aqui em pesquisa sobre a qualidade de um Ballantines Finest, que ganhei por volta de 1982 e por não ser contumaz, ficou guardado até por volta de 2005, quando eventualmente “bicava” uma dose.
        Hoje com menos da metade, fiquei curioso ao lembrar que um amigo falou certa vez que já teria perdido qualidade.
        Como ainda guarda o perfume madeirado, devo estar guardando uma relíquia, não?

  17. Saudações Supremo Cão, já experimentou o Ballantine’s Finest antigo (o que tinha 43% de ABV)? Se sim, existe uma grande diferença na entrega dos 2? Cheers!

    1. Opa! Fala Felipe!

      Nossa, mas faz um tempo que o Ballantine’s finest não é 43, né? Não me lembro exatamente do sabor do antigo.

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