Blue Label Elusive Umami – The Prestige

Você está procurando o segredo. Mas você não vai encontrar porque, é claro, você não está realmente procurando. Você realmente não quer resolver isso” . Essas são as derradeiras linhas de “The Prestige” – e também, uma valiosa lição de marketing. Aliás, as duas coisas – marketing e mágica – tem muita coisa em comum.

Mágicos utilizam diferentes técnicas para distrair sua platéia. Eles empregam prestidigitação, distração, ilusões ópticas e auditivas, adereços especialmente construídos, bem como técnicas psicológicas verbais e não verbais, como sugestão, hipnose e preparação. É uma dança elaborada entre o que é mostrado e o que é escondido, entre o que parece ser e o que realmente é. É parecido, de certa forma, com o marketing. Um bom storytelling pode nos induzir a sentir algo, ainda que aquilo não seja a realidade.

De certa forma, é isso que ocorre com o Johnnie Walker Blue Label Elusive Umami, blended whisky de luxo que acaba de desembarcar no Brasil por, aproximadamente, 2,5 mil reais. O Johnnie Walker Blue Label Elusive Umami, é uma criação do chef Kobayashi, do restaurante Kei, de tripla estrela Michelin, em Paris, e da master blender Emma Walker. Que curiosamente não é da mesma família de John Walker, mas que parecia predestinada a trabalhar para a marca. Aliás, se me permitem uma digressão, a Johnnie Walker deve contratar seus master blenders pelo sobrenome, porque é muita coincidência um Beveridge logo antes de uma Walker.

A walker beverage with Walker and Beveridge

Enfim, de acordo com a marca, Walker e Kobayashi criaram “um blended whisky equilibrado, unindo sabores salgados e adocicados, com notas de laranja sanguínea, frutas vermelhas, especiarias doces de madeira (?), carne defumada, sal e pimenta, culminando em um final doce de frutas.” Kobayashi, inclusive, humildemente recomenda que se consuma o Johnnie Walker Elusive Umami puro, acompanhado de caviar – justamente para intensificar o sabor umami. Sorte minha que dá pra comprar esturjão oscietra grávido na feira.

Aliás, vamos falar dessa palavra misteriosa. O Umami. Ele foi identificado pelo químico japonês Kikunae Ikeda em 1909. Ikeda, ao comer uma tigela de dashi, notou que estava sentindo algo delicioso que não poderia ser descrito por um dos quatro sabores básicos. Com tempo e conhecimento de sobra, ele foi ao laboratório até descobrir exatamente o que sentira. Como um mágico desvendando o truque do rival.

E ele conseguiu. Tecnicamente, umami se refere a glutamato – um tipo de aminoácido, que ocorre naturalmente em muitos alimentos, como carne, peixe, vegetais e vários produtos lácteos. Quando o glutamato se decompõe – o que acontece ao cozinhar um pedaço de carne, ou maturar um queijo, por exemplo – ele se transforma em L-glutamato. E é aí que as coisas ficam gostosas. Umami. Yummi. Compreendem?

E talvez o leitor sagaz já tenha entendido para onde vou enredando. É que o whisky não se chama Blue Label Umami, mas, sim, Blue Label Elusive Umami. E o sobrenome do meio traz uma pista preciosa. Elusive é, em inglês, “indescritível”. O Umami Indescritível. Mas é também “esquivo”, “ardiloso”, “ilusório”. Essa abrangência semântica revela o que realmente é o whisky. Ele não é umami, e a Johnnie Walker obviamente sabe disso. Não mais que qualquer whisky com notas costeiras, como Old Pulteney, Talisker ou Clynelish – que, aliás, é provavelmente sua base.

A bela Clynelish, que produz whiskies sulfúricos e com perfil costeiro

Das três vezes que provei, tive a mesma impressão. Ele tem um equilíbrio incrível sweet-salty, que nos induz a pensar no umami. Em boa parte, por causa da palavra estampada no rótulo. E isso, por um lado, é bem interessante. Porque ele é um blended whisky delicioso, com notas frutadas, adocicadas e salgadas. Que mostra, aliás, a razão pela qual blended whiskies existem. Justamente para unir whiskies de perfis completamente distintos, e construir algo muito mais complexo, mas ainda delicado e agradável. Mas, por outro lado, tira um pouco da singularidade do lançamento.

E eu sei que você chegou até este inconclusivo desfecho, apenas para saber se deve ou não comprar o Johnnie Walker Blue Label Elusive Umami. E a resposta é depende. Se você procura um blended whisky de luxo, extremamente elegante, com perfil marítimo e frutado, o Johnnie Walker Blue Label Elusive Umami é perfeito. E deve ser ainda mais perfeito com caviar. Entretanto, se sua curiosidade foi aguçada pela misteriosa palavra que sugere o quinto sabor, talvez este seja um para pular. A ilusão não está, enfim, na mão do mágico. Mas sim, nos olhos do espectador.

JOHNNIE WALKER BLUE LABEL ELUSIVE UMAMI

Tipo: Blended Whisky

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: frutas vermelhas, amendoas, levemente sulfúrico

Sabor: frutado e vínico. Final progressivamente enfumaçado e iodado. Alcool muito bem integrado, com especiarias, cravo, canela. Levemente sulfúrico

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