Lagavulin 11 Offerman Edition Guiness Cask Finish – Drops

Drops são nossos posts menores, de análise ou curiosidades do mundo do whisky, e que contam com rótulos indisponíveis no Brasil – mas com alguma particularidade interessante. Para ler outros drops, clique aqui “Eu viajei pelo mundo e experimentei muitas tentativas de criar néctares agradáveis, mas é apenas esta destilação de Islay; uma pequena e carismática ilha escocesa que conquistou meu paladar. Sim, e meu coração junto.” A frase é de Nick Offerman, o ator que vive – ou melhor, que é – Ron Swanson na vida real. Offerman é um fã incondicional da Lagavulin. Tão apaixonado que criou e produziu uma série de curtas sobre sua paixão – o que, pra falar a verdade, não é tão estranho assim, eu faria o mesmo. Ocorre que Offerman é uma celebridade. E, como uma celebridade, há a possibilidade de exercer sua paixão de uma forma pouco acessível para pessoas normais. Como, por exemplo, lançar sua própria série de whiskies em parceria com a Lagavulin. E é daí que surgiu o Lagavulin Offerman Edition: Guiness Cask Finish, tema desta prova. Na verdade, o Lagavulin 11 Offerman Edition: Guiness Cask Finish não é a primeira colaboração entre Offerman e a destilaria de Islay, mas […]

Bowmore 12 anos – Renúncias

O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre escreveu que somos livres porque podemos escolher. Mas que cada escolha é uma renúncia. Já o dinamarquês Søren Kierkegaard – aliás, não faço a menor ideia de como se pronuncia um ó cortado – delineou que é o ato de fazer escolhas que traz significado à vida. O que é bem curioso vindo de um cara cujo sobrenome é uma variação de Kirkegård, que significa cemitério em sua lingua, e que morreu aos quarenta e dois anos de idade. Mas deixemos o senso deturpado de ironia de lado. Pela doutrina da dupla sertaneja do existencialismo Søren e Sartre, somos a soma de nossas escolhas. Não das pequenas, claro, porque você pode escolher comer um dogão um dia, miojo na outra e depois uma pizza, e isso não fará muita diferença na sua existência, exceto se continuar se alimentando estupidamente por um longo prazo. Mas, das maiores. Escolher um ofício significa renunciar a todos os outros, por exemplo. Deixar de escolher algo também, porque não tomar qualquer decisão é, na verdade, decidir pela passividade. Entretanto, as escolhas são limitadas por nossas possibilidades. A liberdade, para eles, na verdade não está em poder ser YOLO e sair […]

Union Pure Malt Extra Turfado Wine Cask Finish Autograph Series

Uma vez me disseram que, quando explico meu amor por whiskies para uma pessoa normal, pareço um pouco um entusiasta de metais de banho justificando as maravilhosas inovações de um chuveiro recém-lançado. Realmente, me parece um tanto sonífero ouvir sobre os grandes avanços tecnológicos da nova Lorenzetti. E eu devo ser muito chato, porque whiskies não são minha única paixão impopular e inexplicável. Tenho outras também. Como, por exemplo, dirigir. Eu amo dirigir. É inexplicável, mas eu vou tentar. Ainda que uma extensão de asfalto livre seja essencial, não é nem dirigir rápido que eu gosto. São as pequenas coisas. Trocar a marcha na rotação exata para que o automóvel deslize sem qualquer balanço perceptível. Frear e acelerar precisamente no traçado de determinada curva. E ouvir música. Não há momento melhor para ouvir a discografia inteira da sua banda preferida do que ao fazer uma longa viagem dirigindo. É quase catártico. Aliás, recentemente me vi voluntariamente obrigado a fazer um percurso relativamente longo. Quase nove horas num bate-volta para uma cidade do interior de São Paulo – totalmente sozinho, sem cã e cãezinhos. Como trilha sonora, escolhi uma banda a altura da peregrinação – Rolling Stones. É óbvio, eu sei, […]

Glen Scotia 15 anos – Darwinismo

Você provavelmente já ouviu falar de Charles Darwin. Charles Darwin foi um naturalista britânico, que fez uma longa expedição a bordo de um navio chamado HMS Beagle, comendo tudo de exótico que encontrava pela frente. Aliás, um de seus traços era justamente a curiosidade para saber o gosto de tudo vivo que encontrava. Durante sua viagem no Beagle, Darwin se esbaldou em bichos como iguanas, tatus (sem piadinhas com os Mamonas, por favor) e tartarugas gigantes. Darwin foi o primeiro hipster gastronômico. Mas não foi por conta de seu gosto excêntrico que Darwin ficou famoso. Foi porque ele que cunhou a teoria da evolução. De acordo com sua teoria – que, convenhamos, é uma certeza – todas as espécies de organismos se desenvolvem por meio da seleção natural. Essa seleção faz com que apenas os organismos mais capazes de sobreviver conseguissem se reproduzir. O que garante mais chances de manutenção daquela espécie, em um meio ambiente selvagem e desafiador. O exemplo clássico é a girafa. A girafa parece um bicho desajeitado e pescoçudo, mas é, na verdade genial. Por conta de sua altura e pescoço, ela é capaz de alcançar os frutos mais altos das árvores, impossíveis para espécies – […]

Johnnie Blonde – Katsuobushi

Katsuobushi. Katsuobushi é a mais nova adição ao meu léxico de alimentos esquisitos que tanto aprecio. Num jeito bem rudimentar de explicar, katsuobushi é peixe seco ralado. Ou, mais especificamente, uma conserva seca, desidratada, às vezes defumada, de carne de peixe – geralmente atum-bonito – em finíssimas fatias, quase transparentes. E, como a descrição sugere, sozinho, tem o mesmo sabor de uma meia úmida utilizada por quatro horas para atravessar um manguezal. Mesmo que eu nunca tenha comido meia suja de manguezal. Só que, em conjunto com outros ingredientes, katsuobushi é incrível. Em sopas orientais fica fantástico, no sanduíche de gravlax – aliás, temos isso em nosso bar – é maravilhoso. O tal ingrediente oriental faz parte daquele conjunto incrível de ingredientes que não faz o menor sentido puro, mas, quando misturado, ganha vida e profundidade. Como também coisas bem mais elementares, como farinha, sal, e tofu. Se bem que tofu continua ruim, mesmo depois de misturar com quase qualquer coisa. Mas, enfim, são ingredientes que foram concebidos para serem combinados. No mundo das bebidas alcoólicas, há elementos assim também – bitters, normalmente. Mas whisky, por convenção, não. Até hoje, pouquíssimos whiskies foram criados e desenvolvidos especialmente para misturas. É […]

Lamas Smoked Single Malt – Combinações

Vou começar o post de hoje com uma auto-paráfrase. Não por falta de criatividade, mas, porque creio que se aplica perfeitamente à harmonização de hoje ” Goiabada e queijo, hot dog e mostarda, limão e cachaça. Batata palha e estrogonofe, vermute e campari, linguiça e feijão. TPM e chocolate, Microsoft Windows e Ctrl + Alt + Del. Chuva e Netflix, hambúrguer e batata frita e bacon com absolutamente tudo. Há coisas que foram criadas para combinarem, involuntariamente, com outras. Coisas cujo resultado é maior do que a soma das partes.  “ Charutos e whiskies são assim. É raro que uma combinação entre charuto e whisky saia terrivelmente errado. Porém, isso não significa que qualquer uma funcionará. Algumas ficam desequilibradas – como um charuto delicado com um whisky enfumaçado e potente. Outras, ficam simplesmente sem graça. Mas quando eu acerto, ah, aí é absolutamente incrível. Os dois se complementam, e extraem do outro sabores e aromas que eu jamais sequer imaginaria que existissem lá. E foi pensando justamente nesta combinação – esta soma que não tem nada de matemática – que o professor Cesar Adames, em parceria com a destilaria Lamas, de Minas Gerais, lançaram o Smoked Single Malt Whisky – […]

Drops – Alberta Premium

Drops são nossos posts menores, de análise ou curiosidades do mundo do whisky, e que contam com rótulos indisponíveis no Brasil – mas com alguma particularidade interessante. Para ler outros drops, clique aqui Há muitos fatos interessantes sobre o Canadá. Aí vão alguns exemplos. A bandeira do Canadá somente foi criada 100 anos depois de ter se tornado um país. Setenta e sete por cento de todo xarope de bordo do mundo é produzido no Canadá. E agora, uma curiosidade realmente aleatória. A região de Manitoba, no Canadá, é o lar da maior orgia a céu aberto de cobras-liga do mundo, com mais de sete mil répteis. E no Canadá, a maioria dos whiskies de centeio (rye whisky) levam muito pouco centeio. É isso aí. No Canadá, para que um whisky seja chamado de “rye whisky” (whisky de centeio), ele não precisa necessariamente ter predominância de centeio. Parece estranho e é mesmo. Acontece que no século dezenove, os canadenses começaram a produzir whisky com o excedente de sua produção de trigo. Como você sabe, ou deveria saber porque segue o Cão Engarrafado, trigo traz suavidade ao whisky. Naturalmente, em algum ponto da história, algum gênio resolveu adicionar um tantinho de […]

Logan Heritage Blend – Herança

Ah, por causa do Vinícius. Toda vez que menciono o nome deste blog a um interlocutor incauto, há sessenta e cinco por cento de chance dele mencionar o poetinha. Eu já contei. Durante uma época, até tomava nota. Este daí perguntou. Esse não. Eu costumava proferir o nome do blog e já engatilhar um sorrisinho de soslaio de antecipação à pergunta. Isso mesmo, a inspiração é o Vinícius de Moraes, sabe, eu adoro aquela frase, que o whisky é o melhor amigo do homem, é o cachorro engarrafado, que legal que você notou. Depois, ao abrir o Caledonia, outras indagações e afirmações se juntaram ao caderninho de recorrências. Você tem whisky japonês? Você tem aquele canadense do Mad Men? E aquela marca de Taiwan? Este daí é o do James Bond – e aponta pra uma garrafa de The Macallan. E eu sorrio, e respondo, já meio ensaiado, porque o negócio é tipo escovar os dentes ou dirigir até o trabalho. Você já engata o piloto automático e depois até fica assustado quando recobra a consciência voluntária. Mas, dessas perguntas e observações, há uma que eu sempre presto atenção. Meu pai bebia – ou bebe – esse daí. Meu pai […]

Macallan Triple Cask 18 – Memórias

“O painel de recuperação de documentos contém alguns arquivos não salvos. Você deseja ver estes arquivos da próxima vez que iniciar o Word?“. Sem nem um átimo de reflexão, clico em “sim”. Sempre clico em “sim”. Não faço a menor ideia de quais documentos não foram salvos. Minha lista de documentos em recuperação no Word são, de certa forma, como a vida. Tudo aquilo que não terminei ou errei se acumula. Vitórias e conclusões simplesmente desaparecem ou se perdem. Na verdade, é um pouco pior. Ver os arquivos perdidos da próxima vez que iniciar o Word é mais como guardar memórias que jamais serão resgatadas. Pequenas e grandes frações de coisas, acumuladas e nunca revisitadas. Nunca revisitadas por estarem em dois extremos: ou são muito triviais, ou demasiado especiais. Dentro do primeiro grupo está o canhoto da passagem aérea daquela viagem que você fez há dez anos, o crachá daquela feira incrível e o mapa daquele museu. Coisinhas miúdas que você jura que um dia sentará com tudo no colo para ser tomado por uma alegre nostalgia. Na segunda categoria está tudo aquilo que você conhece, gosta demais, e não consegue imaginar a impossibilidade de ver ou provar novamente, ainda […]

Port Charlotte 10 anos – Da Origem

Faça uma pinça com seu polegar e indicador e tampe o nariz. Engrosse um pouco a voz e repita comigo. Pamonha, pamonha, pamonha. Pamonhas de Piracicaba. O puro creme do milho. Agora, deixe de ser ridículo, tire o dedo do nariz e reflita comigo. Se você é de São Paulo, provavelmente já ouviu a frase antes, a ser repetida num efeito meio doppler, insistentemente no auto falante de alguma picape ou perua passando na rua. Além de ser extremamente irritante por invadir o espaço auditivo pessoal, a frase tem algo curioso. Piracicaba. Já me indaguei uma dezena de vezes por que as pamonhas de Piracicaba seriam melhores que as outras. E, nesta esteira, os morangos de Atibaia. O que Piracicaba e Atibaia tem para milho e morango, respectivamente, que os outros lugares não? Bem, um pouco de google-fu respondeu minha pergunta. As duas cidades são – ou foram – grandes polos de produção destes alimentos e ganharam fama. Atibaia tem até a festa do morango que, considerando meu profundo ódio por essa frutinha desprezível, seria algo que me dá tanta vontade quanto ver um filme do Nicholas Cage. De certa forma, a descoberta é é meio decepcionante. Não há nada […]