Johnnie Blonde – Katsuobushi

Katsuobushi. Katsuobushi é a mais nova adição ao meu léxico de alimentos esquisitos que tanto aprecio. Num jeito bem rudimentar de explicar, katsuobushi é peixe seco ralado. Ou, mais especificamente, uma conserva seca, desidratada, às vezes defumada, de carne de peixe – geralmente atum-bonito – em finíssimas fatias, quase transparentes. E, como a descrição sugere, sozinho, tem o mesmo sabor de uma meia úmida utilizada por quatro horas para atravessar um manguezal. Mesmo que eu nunca tenha comido meia suja de manguezal.

Só que, em conjunto com outros ingredientes, katsuobushi é incrível. Em sopas orientais fica fantástico, no sanduíche de gravlax – aliás, temos isso em nosso bar – é maravilhoso. O tal ingrediente oriental faz parte daquele conjunto incrível de ingredientes que não faz o menor sentido puro, mas, quando misturado, ganha vida e profundidade. Como também coisas bem mais elementares, como farinha, sal, e tofu. Se bem que tofu continua ruim, mesmo depois de misturar com quase qualquer coisa. Mas, enfim, são ingredientes que foram concebidos para serem combinados.

Nham.

No mundo das bebidas alcoólicas, há elementos assim também – bitters, normalmente. Mas whisky, por convenção, não. Até hoje, pouquíssimos whiskies foram criados e desenvolvidos especialmente para misturas. É necessário uma boa dose de coragem para subverter o costume, embarcar na nova onda da coquetelaria, e declarar que determinado produto – que faz parte de uma classe usualmente bebida sozinha – foi criado para ser misturado. Mas é justamente isso que acontece com o novo Johnnie Blonde, lançado recentemente pela Johnnie Walker no Brasil.

O Johnnie Blonde foi concebido pelo blender George Harper para ser utilizado em coquetéis de baixa graduação alcoólica, como collins e highballs. O site oficial da marca declara que “para os apaixonados por whisky curiosos, ou os que não bebem whisky, Johnnie Blonde é uma doce surpresa que irá confundir seus sentidos. Feito para ser misturado, ele desabrocha para vida com a intensidade cítrica de uma limonada, combinada com uma fatia de laranja“.

De acordo com a Johnnie Walker, numa declaração um pouco lacônica “O Johnnie Blonde é feito usando trigo e whiskies de malte com perfil frutado. Maturado em carvalho americano doce, o resultado é um whisky cheio de sabores vívidos e vibrantes“. A declaração, ainda que interessante, explica pouca coisa sobre a real natureza do Johnnie Blonde. E nós sabemos que você, querido leitor, veio até o Cão Engarrafado para saber mais. Apenas sua sede de conhecimento supera a sua voracidade pela melhor bebida do mundo. E, aqui, quero corresponder a esta expectativa. Então, aí vai.

Ainda que não haja informação oficial, o whisky de grão usado no Johnnie Blonde é, provavelmente, Cameronbridge – uma das maiores destilarias de whisky de grão do mundo. É ela, atualmente, a grande fornecedora de grain whisky para a linha Johnnie Walker e também de outros rótulos da Diageo, como White Horse e Black & White. A destilaria também produz alcool neutro para o gim Tanqueray e a vodka Smirnoff. Ao todo, são mais de 130 milhões de litros por ano – quase oito vezes a The Macallan. A suspeita que o Johnnie Blonde leva Cameronbridge como seu grain whisky ganha força considerando que a receita clássica de mosto da destilaria é 91% trigo e 9% cevada maltada.

A maturação dos componentes do Johnnie Blonde acontece em barris de carvalho americano. É isto, somado ao whisky de grão utilizado, que traz suavidade e dulçor para o blend. Aliás, este é um ponto interessante. O Johnnie Blonde não traz o clássico perfil enfumaçado e amendoado da maioria dos whiskies da linha do andarilho. Ele está mais próximo do que é o Gold Label Reserve. É adocicado, com um fundo de mel e caramelo claros, e com pouca ou nenhuma defumação. A experiência de bebê-lo puro pode ser definida como interessante – não é um whisky complexo, mas, surpreende por não apresentar as arestas pontudas de álcool que blends em sua faixa de preço costumam ter.

Mas é na hora de misturar que o Johnnie Blonde realmente mostra a que veio. A versatilidade para coquetelaria é inegável. Além do “hero drink” acima descrito, este Cão tem mais uma sugestão – um collins com ginger ale e limão. Rodolfo Bob, consultor de nosso querido Caledonia Whisky & Co., no entanto, vai além. Ele criou o J. Bardot, um coquetel que leva  xarope de demerara, creole bitters, Angostura bitters, licor de flor de sabugueiro e espumante brut – numa incrível fusão franco-escocesa, baseado no clássico French 75′.

J, Bardot

Para os apaixonados por coquetelaria, para aqueles que nunca provaram scotch whisky na vida, ou para os bebedores experientes que gostam do perfil adocicado e caramelado, o Johnnie Blonde é uma recomendação certeira. Prove-o em um highball clássico, à moda oriental, ou teste sua mistura favorita – só não vá colocar katsuobushi. Criatividade tem limite.

JOHNNIE BLONDE

Tipo: Blended Whisky sem idade definida (NAS)

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: Doce, com mel e caramelo.

Sabor: creme de baunilha, mel, caramelo, malte. O final é adocicado, com mais baunilha.

Disponibilidade: disponível no Caledonia Whisky & Co (WhatsApp) e mercados selecionados.

2 thoughts on “Johnnie Blonde – Katsuobushi

  1. Esse drink J Bardot já nasceu clássico, parabéns, muito bom gosto nos ingredientes. Falando em bom gosto essa nova linha da Diageo do andarilho impressiona. Adorei o Wine Cask e está difícil encontrar garrafas para venda no preço inicial sugerido, whisky delicioso e a compra fiz após ler aqui no Cão Engarrafado, o unico arrependimento foi ter comprado apenas 01 garrafa, espero que volte as prateleiras em breve!!

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