Algo Familiar – Singleton of Glen Ord 12 anos

Quando eu estava na quinta série, tive dois coleguinhas de classe que eram gêmeos idênticos. Não apenas geneticamente. Mas visualmente também. Eles tinham o mesmo corte de cabelo e mais ou menos o mesmo peso. Além disso, a mãe deles – que provavelmente se empenhava em criar um sério problema de identidade nos filhos – os vestia da mesma forma. Mas a parte mais louca eram seus nomes.  Luís Alberto e Luiz Antônio. Um dia, conversando com um deles – eu não arriscaria dizer qual Luís – soube que eles eram os primogênitos de uma família de cinco irmãos. Além dos dois, havia o Luís Carlos e o Luís Paulo. E havia também o André, que não era Luís. Eu não entendia aquilo e nem eles,  afinal, depois de quatro Luíses, por que parar agora? E eu fiquei pensando na confusão que era a casa deles. Quando alguém ligasse procurando pelo Luís, ou quando chegasse uma carta com apenas o primeiro nome e sobrenome. Devia ser um caos para todo mundo. Para todo mundo menos o André, claro, que não era Luís. Aliás, será que o André não se sentia excluído, por não ser Luís? Lembrei dessa história há algumas […]

Drops – Glenmorangie Dornoch

Um whisky com senso de responsabilidade. Este é o Glenmorangie Dornoch, edição limitada da destilaria Glenmorangie, localizada nas Highlands escocesas. É que o Dornoch foi criado em homenagem à Dornoch Firth, um estuário próximo à Glenmorangie. Para levantar fundos e conscientizar o público sobre a importância daquela pitoresca paisagem, a Glenmorangie realizou uma parceria com a Marine Conservatory Society (Sociedade de Conservação Marinha). Parte da receita recebida com a venda da garrafa é revertida à instituição. O Dornoch é um single malt sem idade definida. Para atingir seu perfil de sabor, parte do destilado clássico da Glenmorangie é maturado em barricas de carvalho americano que antes contiveram bourbon whisky, enquanto parte de um destilado apenas levemente turfado descansa em barricas de carvalho europeu de ex jerez amontillado, uma variedade mais seca de jerez, o famoso vinho fortificado espanhol. Atualmente, a Glenmorangie pertence à multinacional Louis Vuitton Moet Hennessy – sim, a mesma responsável pelas bolsas de grife, champagnes e conhaque – assim como sua irmã Ardbeg. O responsável pela criação dos whiskies da destilaria é Dr. Bill Lumsden, um desajustado cavalheiro formado em bioquímica. Este ano, inclusive, Bill recebeu o prêmio de Master Distiller do ano pela International Whisky Competition. Ficou […]

De tudo que é inato – Glenmorangie The Original

Hoje vou começar com uma expressão em latim. Tabula Rasa. Tabula Rasa é um conceito epistemológico, que postula que os seres humanos nascem com o conteúdo de sua mente completamente em branco. Este conteúdo, aos poucos, vai se acumulando graças à percepção e empirismo. A tabula rasa é uma das bases da filosofia de John Locke, e se opõe à teoria do Inatismo que prega que alguns conhecimentos estão presentes desde o nascimento. Simplificando. Uma teoria diz que nascemos como um papel em branco – o que, curiosamente, é a tradução de tabula rasa. Já a outra, determina que saímos do ventre sabendo uma coisa ou duas. Como, sei lá, reconhecer situações perigosas. Ou mamar, gostar de comida gorda e fazer cocô. O que faz sentido, porque eu não me lembro de ninguém me ensinando essas coisas. E se eu lembrasse, provavelmente teria vergonha de meu professor. Como pai de uma criança de dois anos e meio, não sei bem no que acreditar. Porque ninguém ensinou minha filha o que é belo ou feio, bom ou mau, ou mesmo a preferir macarrão a salada. Por outro lado, ninguém com um mínimo de conhecimento prévio faria coisas como colocar a chupeta […]

Da Arqueologia e Evolução – Glenmorangie Lasanta

Essa semana fiz uma descoberta arqueológica em minha dispensa. Encontrei lá, escondido, num cantinho, atrás das caixas de Macallan Ruby e Glenlivet 18 anos, um panetone. Fechado, na caixa. Totalmente intocado. Uma reminiscência do de nosso último natal. Visualmente, estava intacto, ainda que aparentasse levemente ressecado. Não sei o que me levou a fazer isto. Mas, quando menos percebi, já provava um pedaço. E estava horrível. Não bastasse o leve aroma de gorgonzola que aquela peça arqueológica exalava, havia um exagero de frutas cristalizadas. Não passas. Eu até gosto de uvas passas. Mas uns perdigotos de frutas inominadas. Recobrei minha razão com a primeira mordida. Sério. Quem poderia, em sã consciência, colocar tantas frutas assim num panetone? O pior é que eu realmente, realmente gosto da massa do panetone. Há aquele sabor adocicado, leve, que às vezes remonta a especiarias e às vezes a baunilha. É quase um whisky em formato sólido. Felizmente, alguma mente fértil e com bom gosto idealizou algo que resolveria este problema. O Chocolate. Assim, nascia a versão aprimorada – ou melhor, corrigida – do panetone. O Chocotone. O Chocotone é a salvação para todos aqueles que – assim como eu – gostam muito da massa, […]

Drops – Glenmorangie Pride 1981

  Aí vai um whisky despretensioso para sua tarde de quarta-feira. Este é o Glenmorangie Pride 1981, maturado por 28 anos, uma das mais exclusivas e cobiçadas expressões da destilaria de Tain. A maturação do Glenmorangie Pride ocorreu em duas etapas. Em 1981, seu precioso líquido foi destilado e colocado em barricas de carvalho americano que antes contiveram bourbon whiskey. Segundo Bill Lumsden, master distiller da Glenmorangie, a ideia teria sido produzir uma edição especial, maturada por 18 anos. Entretanto, em 1999, a Glenmorangie adquiriu uma pequena quantidade de barricas de carvalho que antes teriam sido usadas para envelhecer um dos mais famosos e caros vinhos sauternes do mundo, o Chateau D’Yquem. Ou seja, joias em forma de barril. Na posse dessas maravilhas, Lumsden então decidiu que produziria um whisky ainda mais especial. Transferiu o conteúdo das barricas de bourbon – que lá já descansavam por 18 anos – para aquelas de Chateau D’Yquem, e lá deixou por mais dez anos. Na época, o maior tempo de finalização (ou maturação extra) já praticada pela Glenmorangie. Segundo Bill “Percebi que se deixasse o whisky nas barricas por mais tempo, sabores resinosos, picantes e de taninos do carvalho francês poderiam começar a […]

Drops – Glenmorangie 18 Anos Extremely Rare

O que você faria ao se deparar com uma garrafa cujo rótulo diz “extremely rare” ou “extremamente raro”? Bem, este é o caso do Glenmorangie 18 anos, produzido pela destilaria homônima localizada em Tain, na Escócia. E tudo bem que fora de nosso país ele nem seja tão raro assim. Mas continua sendo uma preciosidade. O Glenmorangie 18 anos é maturado em uma combinação de barricas de carvalho americano que antes continham bourbon whisky, e de carvalho europeu, que maturaram vinho jerez. O processo consiste em maturar por quinze anos o destilado em barricas de ex-bourbon, e depois transferir aproximadamente 30% dele para barricas de ex-jerez. As duas partes então passam mais três anos nas diferentes barricas, até serem reunidas para criar o Glenmorangie 18 anos. A destilaria Glenmorangie é conhecida por possuir os alambiques mais altos de toda a Escócia. Isso porque os primeiros alambiques da destilaria teriam sido comprados de uma fábrica de gim. Os atuais são reproduções maiores daqueles primeiros. A altura dos alambiques, aliada a seu formato, fazem com que apenas os vapores mais leves do processo de destilação cheguem ao seu topo, o que produz um whisky leve e elegante. O resultado é um whisky sofisticado, […]

Drops – Old Pulteney 12 anos

Você já experimentou um whisky salgado? Então conheça o Old Pulteney. Sua destilaria, conhecida como a destilaria mais ao norte na porção “continental” da Escócia, fica na cidade de Wick. Existe uma discussão séria sobre a origem do sabor salgado do Old Pulteney. Muitos afirmam que advém de sua maturação. Ele seria o resultado de anos e anos de ondas quebrando no litoral rochoso, ao lado da destilaria, e do efeito da maresia nos barris. Entretanto, os mais céticos afirmam que, para que fosse possível efetivamente sentir sabor de sal, seria necessário adicionar litros e litros de água salgada diretamente dentro de cada barril. Para estes, o gosto salgado do Old Pulteney não é sal. O old Pulteney é um whisky frutado, com sabor de nozes e castanhas. Mas não quaisquer castanhas. Castanhas salgadas. Bem salgadas. Tipo aquelas que você come de tiragosto, enquanto toma whisky. E ainda que este Cão não tenha certeza de onde vem este sabor, uma coisa ele pode afirmar: É bom demais.

Um Não Post / Sobre a Inércia – Glenmorangie Nectar D’Or

  Há dias que realmente não queremos fazer absolutamente nada. Ontem foi um desses. Deitado no sofá, estava eu com uma preguiça petrificante de escrever um post. Eram cinco horas da tarde e eu pensava em tudo aquilo que poderia fazer, caso somente tivesse energia para levantar daquele meu leito. Sem mover sequer um milímetro de qualquer membro de meu corpo, pensava que poderia ir à academia, afinal, não corria há uma semana, e precisava me exercitar. Poderia também cozinhar alguma coisa. Havia comprado ovos, pancetta e uma caixa de spaghettini no supermercado, e com alguma disposição e um pouco de auxílio do mundo digital, poderia improvisar um carbonara para o jantar da Cã e da Cãzinha. Mas não. Porque aquilo exigiria que eu me movesse, e aquele estado de pré-sonolência me embalava de uma forma irresistível. Ao lado do sofá, a poucos centímetros do meu alcance máximo, havia uma garrafa do single malt que deveria ser o tema do post dessa semana. O Glenmorangie Nectar D’Or. Um ótimo whisky. Aliás, um dos três whiskies que fizeram com que eu começasse a me interessar pela bebida. Mas para pegá-lo, seria necessário que eu me esticasse e saísse de minha posição […]

Febre de Consumo – Dalmore 15 anos

Existem várias atividades que me proporcionam sentimentos conflitantes. Um deles é fazer exercício. Por mais que eu deteste qualquer tipo de esforço, sei que, para um Cão como eu, correr é essencial para a saúde. Além disso, tenho que admitir: depois de uns vinte minutos de trote rápido, a sensação é quase boa. Quase. Porque bom mesmo é tomar whisky e fumar charuto. Pensando bem, fazer exercício está, no máximo, no nível “recompensador” da escala de prazer deste Cão. Outra dessas atividades é ir ao supermercado. Assim como correr, ir ao supermercado é uma obrigação inevitável. Inevitável principalmente quando a Sra. “Cã” Engarrafada, solicita, com a suavidade de uma voadora no rim, que eu compre mantimentos para nosso lar. Pensando objetivamente, ir ao supermercado é um saco. Não há prazer nenhum em comprar litros de água sanitária, detergente e arroz agulhinha tipo um. Ou papel higiênico. Aliás, tenho um problema com isso. Sempre que passo o papel higiênico no caixa, entrego para a senhorinha com certo ar de vergonha. Eu sei que é perfeitamente normal se limpar. E que todo mundo faz isso, ou pelo menos deveria. Mas não consigo evitar esse sentimento de culpa infantil. Mas às vezes, com […]

Serendipidade – Glenglassaugh Revival

A língua portuguesa é fascinante. Para tudo há uma palavra. Algumas, inclusive, que são absolutamente redundantes, específicas e sem utilidade. Uma delas é “defenestrar”. Defenestrar é o ato de atirar algo por uma janela. Não basta jogar longe. E não vale ser através de uma porta também. Tem que haver uma janela envolvida. Defenestrar, assim, é uma palavra inútil. Primeiro porque quase ninguém sabe o ela significa. Depois, simplesmente porque não há dificuldade nenhuma em construir uma frase dizendo que algo foi lançado por uma janela. Aliás, é pior usar a palavra “defenestrar” para depois ter que explicar seu significado, do que simplesmente dizer que jogou certa coisa pela janela. Outra palavra mais específica ainda é serendipidade. Ou serendiptismo. Ou serendipitia. Serendipidade é tão estranha que nem o corretor ortográfico do Word a reconhece. Ela é uma adaptação da palavra inglesa “serendipity”, cujo significado é algo na linha de capacidade de uma pessoa de realizar descobertas bem-afortunadas por acaso; ou a ocorrência destas descobertas. A história está cheia de serendipidade. O forno de micro-ondas. A penicilina. E talvez a maior serendipidade de todas, uma tal pílula azul, cujo objetivo original era tratar dores no peito. Essa pílula havia sido pensada para contrair […]