Quando eu estava na quinta série, tive dois coleguinhas de classe que eram gêmeos idênticos. Não apenas geneticamente. Mas visualmente também. Eles tinham o mesmo corte de cabelo e mais ou menos o mesmo peso. Além disso, a mãe deles – que provavelmente se empenhava em criar um sério problema de identidade nos filhos – os vestia da mesma forma. Mas a parte mais louca eram seus nomes. Luís Alberto e Luiz Antônio.
Um dia, conversando com um deles – eu não arriscaria dizer qual Luís – soube que eles eram os primogênitos de uma família de cinco irmãos. Além dos dois, havia o Luís Carlos e o Luís Paulo. E havia também o André, que não era Luís. Eu não entendia aquilo e nem eles, afinal, depois de quatro Luíses, por que parar agora?
E eu fiquei pensando na confusão que era a casa deles. Quando alguém ligasse procurando pelo Luís, ou quando chegasse uma carta com apenas o primeiro nome e sobrenome. Devia ser um caos para todo mundo. Para todo mundo menos o André, claro, que não era Luís. Aliás, será que o André não se sentia excluído, por não ser Luís?
Lembrei dessa história há algumas semanas, ao me deparar com o single malt Singleton of Glen Ord 12 anos, nas prateleiras de uma loja perto de casa. Ele – assim como os Luíses – inconvenientemente possuem irmãos com o mesmo nome. No caso do Glen Ord, o Singleton of Dufftown e o Singleton of Glendullan.
É que a Diageo resolveu reunir, sob a alcunha de Singleton*, alguns de seus single malts menos conhecidos e mais acessíveis – Glen Ord, Dufftown e Glendullan. Acontece que, exceto pela cor do rótulo e as informações contidas na embalagem, a identidade visual dos três é quase idêntica, o que não ajuda muito no estabelecimento de uma identidade própria.
O Singleton of Glen Ord, no entanto, é o único single malt da região das highlands do trio Singleton. Sua destilaria é a única da Black Isle, uma lindíssima península ao norte da cidade de Inverness. A península foi assim batizada por conta se seu solo fértil, onde é cultivado a cevada utilizada para produzir o malte da destilaria.
Apesar do whisky ser relativamente desconhecido, em especial aqui no Brasil, a destilaria Glen Ord é gigantesca. Em volume, ela é uma das cinco maiores produtoras de single malt do país – onze mil litros anuais. Além disso, ela produz muito mais malte do que utiliza. A maior parte de sua produção é dedicada a outras destilarias sob o comando da Diageo.
A Glen Ord se orgulha de possuir fermentação longa – em torno de setenta e cinco horas – combinada com uma vagarosa destilação em seus alambiques. O destilado é apenas levemente defumado, sensação que é ainda mais atenuada pela maturação.
O Singleton of Glen Ord 12 anos é, atualmente, a expressão mais conhecida da destilaria. Sua maturação ocorre em barricas de caravalho americano e europeu que contiveram, respectivamente, Bourbon whiskey e vinho Jerez. A proporção e o tempo em cada barrica não é claramente divulgada.
O espectro de sabores do Singleton of Glen Ord também o aproxima bastante de seus irmãos quase homônimos. É um whisky de corpo médio, adocicado e com um quase imperceptível aroma defumado. É democrático e perfeito para os iniciantes do single malt.
O único Singleton à venda em nosso país é o Glen Ord. Ele foi recentemente importado pela própria Diageo, junto com outros dois single malts a ela também pertencentes: O Talisker 10 anos, já revisto por aqui, e o Glenkinchie 12 anos. Seu preço médio é de R$ 200,00 (duzentos reais). Na opinião deste Cão, acessível para um single malt, especialmente uma novidade em nossas terras, como ele.
O Singleton of Glen Ord 12 anos é um whisky perfeito para os iniciantes e uma novidade para os mais experientes. É também uma aposta segura, com aquele sabor conhecido, adocicado e acolhedor. É como aquele irmão gêmeo daquele seu amigo. Ainda desconhecido, mas incrivelmente familiar.
SINGLETON OF GLEN ORD 12 ANOS
Tipo: Single Malt Whisky com idade definida (12 anos)
Destilaria: Glen Ord
Região: Highlands
ABV: 40%
Notas de prova:
Aroma: adocicado, com mel e levemente cítrico.
Sabor: mel, amêndoas, laranja lima. Final médio e seco
Com água: A água aumenta a impressão cítrica.
Disponibilidade: disponível no Brasil
Como vai, Maurício?
Me parece um bom single malt. (Tive que reler o texto, porque os nomes me confundiram um pouco, mas tudo bem haha).
É uma novidade e possui participação de barricas de ex-jerez. Já adicionei na lista!
Um grande abraço e Feliz 2017!
Opa, obrigado mestre, para você também!
É um ótimo whisky e excelente custo-benefício. Minha garrafa está descendo rápido. Ela cruzou o reveillon por um triz, duvido que chegue até o carnaval…rs
Cão… N entendo uma coisa..
Qual o negócio do Bourbon? Pq tem tanto whisky q usa barril q fora usado em bourbon?
Pq n usam um barril puro soh de whisky??
Gui, essa aí é uma respostas meio complicada, e depende de muitos fatores. Vou tentar ser breve.
1) Bourbons usam barricas apenas virgens. Ou seja, novas. Depois, não podem mais utilizar os barris. Esses barris sobram, e então são vendidos para o uso em outras bebidas. Whisky escocês é o principal mercado deles. Essa regra (do bourbon) tem como objetivo proteger as tanoarias americanas, e também dar um caráter próprio para a bebida dos estados unidos.
2) Barris usados por bourbons trazem características de bourbons. Que são boas. E como foram usados já uma vez, não têm tanta pungência (tanta força, com muita baunilha, mel e açúcar). E isso combina com a característica mais delicada da maioria dos maltes escoceses. O whisky americano tem uma composição de mosto mais “dura”: mais doce, ou mais picante, ou cremosa, dependendo do cereal usado, que combina com os barris novos.
3) Há uma questão econômica. É ambientalmente melhor e mais barato comprar barricas usadas por outras bebidas. Além disso, você pode somar as características daquela bebida com a do whisky (veja que existem whiskies finalizados em barricas de vinho, por exemplo, e que se tornam vínicos em caráter).
Há outras razões. Talvez seja uma boa eu explorar isso em um texto. Obrigado pela sugestão…rs
Grato pela aula. Abço
Amigo muito obrigado pela resposta… Tinha visto e fiquei de responder.
Aliás esses dias vi um experimento de um cara q colocou cachaça no barril e depois um talisker 10 anos
Topei com ele num mercado dia outro (Sam’s); trocamos olhares, o manipulei, conversamos um pouco, mas ao final, por não nos conhecermos ainda (nem de nome) e pelo obscuro local do casual encontro, não voltou para casa comigo.
Já é a segunda resenha positiva desse single malt que leio.
Terei que regressar lá e trazê-lo para um papo em casa.
Obrigado!
Hahahahah gostei do storytelling. Da proxima vez que trocar olhares, convide-o para ir aos copos. Literalmente, no caso dele.
Cão! Há algumas horas adquiri um Singleton of Glen Ord (já havia provado rapidamente na casa de um amigo) para a comemoração do meu aniversário, que será no próximo sábado. Então resolvi dar uma olhada nas suas impressões sobre o whisky… Acontece, Sr. Cão, o seguinte, meu irmãos se chamam André Luis, Luis Antonio e Ana Luisa, e eu me chamo Daniel, isso mesmo, só Daniel!…
Uma boa noite!
HAHAHAHAHAH! Meu caro Daniel, esse foi um dos melhores comentários que já recebi por aqui.
Mas veja só, no seu caso, não há muita confusão. Uma é uma Luísa. O outro, um André. E o último, um Luís. Os Luízes estão estrategicamente separados por gênero ou posição no nome (primeiro e segundo nome), o que reduz bastante a possibilidade de confusão.
De qualquer forma, acho que vale o disclaimer “O cão engarrfado é uma obra ficcional, ainda que certas vezes baseado em fatos reais. Os personagens ora ilustrados tiveram seus nomes alterados para proteger sua identidade. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”. Rs.
Fala, Cão!
Seguinte, finalmente abri a minha garrafa de SIngleton of GlenOrd 12 anos ontem.
Primeiramente, gostaria de contextualizar o que segue: estou com vários single malts em casa, mas nunca havia bebido um. Isso porque fui pesquisar pelo assunto e resolvi começar a apreciar a bebida pelos blends. Fui bebendo-os para entender um pouco melhor sobre a bebida, tentando entender as notas de sabor, etc… para finalmente chegar na nata dos whiskies. Ou seja, passar de fase!
Antes, porém, degustei Chivas Regal 12 anos edição Chivas Brothers’ Blend, Grand Old Parr 12 anos, J.W. Double Black, J.W. Black Label, Dimple Golden Edition e The Famous Grouse 12 anos Gold Reserve. Confesso que, destes, o único que me dá prazer de beber é o The Famous Grouse 12 anos Gold Reserve. O Chivas também achei prazeroso, mas leve demais. O Famous Grouse entendi ser mais complexo do que o Chivas, com um gosto e final mais interessantes. Contudo, achei bem chato esse mundo dos blends (pelo menos desses que estava bebendo). Até porque a maioria queima a língua ao apreciá-lo e isso estava me incomodando demais.
Finalmente, portanto, experimentei o Singleton of GlenOrd 12 anos e tive a grata surpresa de não sentir o incômodo da queimação. Veja, ela está lá, mas não com a intensidade dos outros. Achei um whisky interessante, ainda leve, com um toque de pimenta e adocicado. Não senti a turfa, mas pode ser o fato de ter bebido logo depois de ter degustado o The Famous Grouse 12 anos Gold Reserve (não sem antes lavar a boca com água). Hoje vou degustá-lo mais uma vez para ter a segunda prova e ver se as minhas impressões se mantém ou se mudam. A verdade, é que eu não vejo a hora de começar a brincar de verdade, com os meus Glenlivet, Glenfiddich, Laphroaig, The Macallan…
Simbora (slainte mhath em Português)!
Hahahaha adorei a tradução do simbora, Leonardo.
A turfa dele é bem sutil. Vai experimentando, quando você chegar lá pela metade da garrafa (Não em um dia só!!!), você vai se acostumar e pegar a turfa.
Talvez voce goste mais dos whiskies vínicos. Recomendo, de segundo, procurar um Dalmore 12 ou Glenfiddich 15! E dos blends, Whyte and Mackay 13!
Depois me conta se suas impressões mudaram!!
Obrigado pelas sugestões. Dalmore 12 não faz parte da minha coleção ainda. Glenfiddich Solera 15 faz.
Dos blends, acredito que não investirei mais neles, mas isso não impede de eu tomar uma taça quando me deparar com as suas sugestões.
Ontem foi a vez do J. W. Island Green. Delícia de turfa! Não vejo a hora de brincar com o Laphroaig 10 anos.
Vou procurar pelo seu review do J. W. Island Green. Tem? Caso não tenha, fica a dica!
Abraços.
Oi Leonardo! Tem sim, aqui: https://ocaoengarrafado.com.br/green-label/
Maurício,
Esse comentário eu já tinha visto. Você avalia o Green Label. Não é deste whisky que estou falando no entanto. No Duty Free, vende-se um J. W. cujo nome é Island Green. Quem não prestar atenção acaba comprando achando que está levando para casa um exemplar do Green Label (mesma coisa que acontece com quem compra o Double Black crente que está levando um Black Label). Assim como este, o Island Green não possui idade declarada. Ele é bastante enfumaçado. Eu adorei! Só que gostaria de ler sobre a sua opinião. Quando tiver a oportunidade, experimente-o. Abraços!
Leonardo, de fato, não provei o Island. E adoraria. Sei que leva uma maior proporção de Caol Ila, e quiçá meu querido Lagavulin!
Vou procurar, certamente!
Quem gosta de wisky mais adocicado, vai gostar do trufado? Abraços
Oi Rita! Puxa, depende. São coisas diferentes. Quem gosta de peixe, vai gostar de frango empanado? É uma respota meio difícil!
Escrevi um monte e não sei se deu problema na hora de enviar. Uma pena.
Respondido 🙂
Gostei muito desse single mal , tanto que já tomei 4 garrafas.
Abs
É realmente muito bom!!
Bom dia a todos ,
Comprei ontem a noite uma garrafa , foi meu primeiro Single Malt que comprei na vida !
Estava vindo de uma experiencia de Chivas Regal 12 anos desde a semana passada.
Forte em tudo ! O álcool muito presente ! O Tive de colocar gelo o “nose test” ficou bastante prejudicado ( “Glencairn” genérico o copo modelo Paulista de 300lm da fabricante Nadir Figueiredo ) esperar uns 12 minutos para apreciar . Sabores intensos de tudo ! Não somente alcoílico mas muito de tudo ! Os Sabores fortes ! Valeu a experiencia de relembrar o passado ! Quando eu tinha 18 anos a estava aprendendo a conhecer whisky !
Opa, grande Marcelo. Foi o Singleton? Acho um single malt bem legal para começar. Se o alcool tiver te incomodado, procure whiskies um pouquinho mais maturados. Eu recomendaria o Glenlivet 15 anos – ABV contido e super harmônico.
Sim foi o Singleton Glen Ord . Comprei por R$ 144,90 . Com um pouco de gelo e umas espera de alguns minutos … ficou exelente ! O mais em conta Single Malt que encontrei e ainda 12 anos ! Somente encontrei a smooke no rotulo ! Nao encontrei na bebida !
Boa tarde, Singleton of Glen Ord 12 anos, perfeito. Alguém já experimentou o “Whisky Singleton Of Dufftown 12 Anos”?
Fico aguardando, Whisky Singleton Of Glen Ord 12 Anos está esgotado em várias lojas online.
Obrigado, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.
Marco, temos a prova dele também !