Drops – Royal Brackla 16 anos

  Você sabe o que é um Royal Warrant? Um Royal Warrant é uma espécie de selo de aprovação da família real. Isso, na prática, significa que certa marca – a qual o Royal Warrant é concedido – fornece um serviço ou produto de altíssimo nivel para a corte real. E que, por conta disto, merecem deferência. Ou que a marca – a destilaria, no caso – é profundamente admirada por certa celebridade de sangue azul. A maioria dos países que, em algum momento, adotaram o regime monárquico possuem Royal Warrants. Até mesmo no Brasil isto aconteceu. Ao todo, foi concedido o inacreditável numero de dois. Um para a Granado – sim, aquela que faz os sabonetes – e outra para Henry Poole & Co, alfaiataria britânica que produzia parte das vestimentas de Dom Pedro II. A família real inglesa, porém, não foi tão seletiva. Ao longo de sua história, ela já forneceu milhares de royal warrants. Atualmente, há pouco menos do que novecentos. Companhias em ramos tão diversos quanto a Aston Martin, Nestlé, Twinings e Burberry possuem estes selos. A Brackla foi a primeira destilaria a receber o Royal Warrant. O Royal Warrant da Brackla foi concedido pelo Rei William […]

Drops – The Macallan Whisky Maker’s Edition

Roger Moore faleceu. Mas você já sabe disso. E você provavelmente sabe também que o ator que tornou-se mundialmente famoso por representar o agente secreto mais conhecido do cinema: James Bond. Foi ele que participou de mais filmes da franquia – sete ao todo – concorrendo apenas com Sean Connery. Roger apresentou um James Bond menos irônico, mais sisudo e menos nonsense – ainda que isso não signifique muita coisa para James Bond. O que você talvez não saiba é que durante os sete filmes em que viveu Bond, Moore nunca pediu um Martini de Vodca batido e não mexido. E que, curiosamente, seu contrato com a franquia possuía uma cláusula que lhe dava direito a um estoque ilimitado de charutos Montecristo. E, por fim, que Roger Moore morria de medo de armas de fogo. Algo, que, convenhamos, é plenamente justificável, mas que talvez seja um pequeno empecilho quando se é encarregado de representar um agente secreto com licença para matar. Outra coisa que, incrivelmente, nunca contracenou com Moore foi whisky. A paixão de Bond pela destilaria The Macallan surgiu muito mais tarde. Apenas com o advento do novo milênio que 007 incluiu o single malt em sua lista de bebidas preferidas – […]

Macallan Fine Oak 12 anos

O tempo é implacável com certas coisas, mas generoso com outras. Uma vez abordei este assunto, ao falar sobre atemporalidade, a Katy Perry e Like a Virgin. Mas dessa vez, não regressarei nem uma década. Vamos falar de 2012. Em 2012 a música que emplacou a primeira posição da Billboard foi Somebody I used to Know (Em uma tradução literal, e ironicamente na minha opinião, Alguém que eu Costumava Conhecer), de um cara chamado Gotye, com participação ilustre de uma tal de Kimbra. Temos que reconhecer que o acaso tem seu próprio senso de humor. Porque passados cinco anos, o título da canção tornou-se quase uma piada pronta. Depois desse sucesso estrondoso, nunca mais ouvi falar deles. Nem em noticiário de desgraça. Também naquele ano a rainha Elizabeth II celebrou o Jubileu de Diamante de seu reinado. Não poderia afirmar que o tempo tratou bem dela – isso seria ir muito longe.  Mas convenhamos, apesar do intervalo de cinco anos, ela hoje não parece nem um dia mais velha. Talvez porque ela já aparentasse a idade naquela época, ou talvez porque ela seja uma versão feminina e monarca do Highlander. Outra coisa que aconteceu em 2012 foi a saída dos single malts da série Fine Oak […]

Drops – Ardbeg Corryvreckan – O Cão Engarrafado

Esta não é uma prova. Nem um drops, para ser sincero. É um relato. É que meu primeiro encontro com o Ardbeg Corryvreckan não foi meu. Pois é. Eu estava lá apenas de figurante. Um coadjuvante em uma curiosa cena que havia pouquíssimas vezes tido o prazer de presenciar. Na verdade, a protagonista foi a querida Cã, durante um jantar de nossa viagem à Escócia há alguns anos. Estávamos há algumas quadras do hotel em um restaurante que tínhamos – por muita sorte – conseguido uma mesa. Um daqueles lugares concorridos, que você precisa usar a lanterna do celular para ler o cardápio, e que serve pequenas porções de coisas com ruibarbo e espuma. Mas estávamos animados e com fome. E eu ansioso para provar algum whisky que não conhecia. Afinal, estava na Escócia. Havia uma considerável carta de single malts. Decidi que escolheria algo ao mesmo tempo familiar e estranho. Uma destilaria conhecida por mim, mas uma expressão diferente. Fui pela graduação alcoolica. O Ardbeg Corryvreckan, com 57,1%. Quando a taça chegou, mesmo antes de experimentar, notei o olhar interessado da Cã. Que cheiro bom, o que é? É um Ardbeg forte. Deixa eu provar – pausa, gole – nossa, você precisa […]

Drops – Craigellachie 13 anos

Você desvia de escadas na rua? Anda por aí como um chaveiro, com olho grego, pimenta e pé de coelho pendurados no pescoço ou na bolsa? Coloca o sal na mesa para a outra pessoa pegar, e, se porventura o saleiro cai, rapidamente joga um pouco para trás, por cima do ombro? E paraskevidekatriaphobia, você tem? Se você não entendeu essa última, eu explico. Paraskevidekatriaphobia é o medo de sexta-feira treze. A palavra foi criada por um psicoterapeuta norte-americano, o Dr. Donald Dossey, e é formada por três elementos – “paraskevi”, “dekatria” e “phobia”, que em grego significam, respectivamente “sexta-feira”, “treze” e “medo”. E como você já deve ter adivinhado pela explicação etimológica, define o medo da sexta-feira treze. Segundo ele, de uma forma bem humorada, quem conseguisse pronunciar a palavra estaria magicamente curado daquela fobia. O Cão Engarrafado, no entanto, tem outra cura. Uma que não exige qualquer habilidade léxica e que também envolve o amaldiçoado número. Tomar uma dose do Craigellachie 13 anos, à venda nos Duty Frees dos aeroportos brasileiros, no embarque e desembarque de voos internacionais. O Craigellachie 13 anos é a espinha dorsal dos single malts da destilaria Craigellachie, localizada em Speyside, e pertencente à Bacardi. Junto dos demais single malts […]

Monotemática – Grant’s Family Reserve

A querida Cã me disse hoje que quando estou produzindo algum texto para o blog, as vezes fico uma pessoa monotemática. Ela disse aquilo de uma forma meio neutra, quase como uma constatação científica. E aí, fiquei pensando se era um elogio ou uma crítica. Poderia ser um agrado, afinal, como escreveu Jenny Holzer uma vez em um de seus clichês-pastiches, “a monomania é um prerrequisito para o sucesso”. Não consegui decidir qual o tom daquela sua frase. No entanto, enquanto refletia, acabei tendo meus pensamentos sequestrados por uma ótima ideia para mais uma prova deste blog.  Falar do Grant’s Finest, um whisky criado por um cara que também tinha uma certa fixação por whisky – William Grant. Antes de analisar o blended whisky, vou contar um pouco a história deste distinto cavalheiro. William Grant nasceu em Dufftown, Banffshire, em 1836. Trabalhou em uma fábrica de sapatos e na famosa destilaria Mortlach, onde tornou-se rapidamente gerente. Mas William era um homem obstinado e ambicioso – ou melhor, monotemático. Seu sonho era possuir a própria destilaria. E isto tornou-se realidade quando soube que a Cardow (essa é a Cardhu de hoje em dia) venderia seus equipamentos. Com uma oferta de pouco mais […]

Drops – Compass Box The Lost Blend

Em 1903 o contista William Sydney Porter – mais conhecido como O. Henry e afamado por dar finais surpreendentes a suas tramas – publicou um livro de contos chamado The Trimmed Lamp. Dentre as historietas lá contidas havia uma intitulada The Lost Blend (o Blend Perdido). The Lost Blend narrava as obstinadas tentativas de uma dupla de bartenders em criar um blend – na verdade, um coquetel – que seria capaz de imprimir a mais pura coragem até no mais covarde dos homens. Este blend teria sido encontrado em um barril misterioso, mas acabara. E agora, os dois homens tentavam, incessantemente, combinar os mais diferentes elementos etílicos de forma a recriar aquele destilado encantado. Porque, realmente, somente álcool mágico nos torna  mais corajosos. O conto é quase um curta-metragem de youtube dos dias de hoje. Em suas cinco páginas, ilustra de uma forma bem humorada o cotidiano de um incomum bar em Nova Iorque, no início do século XIX. Mas apesar de O. Henry ter sido um dos maiores contistas de seu tempo – comparável a Mark Twain até – não há nada de extraordinário em The Lost Blend que o destacasse do restante da obra do escritor. Acontece, porém, que mais de um século […]

Drops – Tobermory 10 Anos

Você gosta de mergulho? E águias? E por que não rali automotivo? Se respondeu sim para as três perguntas, seu lugar no mundo existe. É que essas coisas que aparentemente têm pouca relação são as principais atrações da ilha de Mull, na Escócia. Mull é a segunda maior porção de terra das hébridas interiores – um arquipélago a oeste da parte continental da Escócia – com mais de oitocentos e oitenta quilômetros quadrados de, bem, absolutamente nada. Apesar da extensão territorial, a ilha possui apenas três mil habitantes. Mas além de automóveis off-road, aves de rapina e recifes de coral, Mull também possui uma atração para os amantes de whisky. É a destilaria Tobermory, localizada no vilarejo homônimo, o maior da ilha. A destilaria Tobermory produz duas linhas diferentes de whisky. A primeira, com o mesmo nome da destilaria, é composta de whiskies pouco turfados, com notas cítricas e de especiarias. A outra, Ledaig, é defumada, com sabor de iodo e fumaça. E a espinha dorsal da primeira – Tobermory – é justamente o whisky da foto. O Tobermory 10 anos. O Tobermory 10 é cítrico e levemente defumado. Sua defumação, no entanto, não vem da queima da turfa, mas […]

Doze Glorioso – Famous Grouse 12 anos

Essa semana, enquanto pesquisava um pouco mais sobre o whisky deste post, curiosamente esbarrei em uma página sobre o Glorious Twelfth. E graças à minha falta de foco e gosto pela procrastinação, resolvi perder alguns minutos lendo sobre ele. O Glorious Twelfth ocorre no dia doze de agosto, e é perfeito para todos aqueles cujo conceito de diversão inclui pagar centenas de libras, pisar em poças de lama e ser picado por insetos inconvenientes. Tudo isso pela oportunidade de matar seu próprio jantar. É que o Doze Glorioso – como poderia ser cretinamente traduzido para nossa língua lusitana – marca o início da temporada de caça ao Tetraz, um pássaro típico do Reino Unido. Apesar de polêmico, o Glorious Twelfth continua incrivelmente popular. Estima-se que a caça à tetraz movimente mais de cento e cinquenta milhões de libras por ano. Eu, que tenho preguiça até de ir até a geladeira, não consigo conceber uma ideia pior que essa. Além de caro e sujo, a atividade beira o impossível. O tetraz é uma ave bastante ágil, que consegue mudar de direção de voo quase instantaneamente. Por isso, inclusive, que é uma das mais cobiçadas para caça. Apesar de se espalhar por grande parte do Reino Unido, a maior […]

Drops – Glen Scotia Victoriana

A era vitoriana foi bem esquisita. As pessoas possuíam uma pletora de hábitos estranhos. Por exemplo, como não existia televisão, Netflix, internet, smartphones e toda essa parafernália que nos auxilia a evitar o desagradável contato humano diário, os vitorianos tinham que recorrer a formas alternativas de diversão. Um costume bem comum era o de se fantasiar e posar para os outros. Pode parecer tranquilo, mas você gostaria de ver seu sogro vestido de odalisca? Bom, eu não. Outros hábitos estranhos incluíam fotografar os mortos como se estivessem vivos, correr atrás dos adolescentes até que eles estivessem cansados demais para se masturbar (é sério isso!) e comer cérebro de tartaruga. Credo, que nojo. Apesar dos costumes curiosos, a era vitoriana teve uma  prolífica produção cultural – com escritores como Oscar Wilde e Charles Dickens – e uma inegável evolução econômica e científica. Foi durante aquele período que inventaram coisas como a lâmpada, o telefone, pneus de borracha e a máquina de escrever. O petróleo e seus derivados também passaram a ser mais amplamente utilizados. Mas a maior contribuição da era vitoriana foi, sem dúvida, o whisky. Não é que o whisky foi inventado naquele período, não, claro que não. Ele foi criado muito antes disto. […]