Por um Mundo Sustentável – Highland Park 18 anos e Ola Dubh 18

O que você quer ser quando crescer? Durante minha infância, tive várias respostas diferentes para essa pergunta. Lá pelos três, queria ser caminhoneiro. De carreta, daquelas com doze eixos. Depois pensei melhor, e resolvi que seria piloto de carro. Mas como tenho a mesma coordenação de canhoto bêbado escrevendo com a mão direita, decidi que, para evitar o bullying, daria a resposta genérica: astronauta. Hoje, pensando bem, não sei por que eu queria ser astronauta. Ser astronauta deve ser um saco. Pior ainda se for da Estação Espacial Internacional (ISS). Primeiro porque você tem que morar num lugar apertado, desconfortável e frio. E pior, com gente que você nem sabe direito quem é. Imagina ter que passar seis meses, absolutamente confinado lá dentro, na companhia de, sei lá, o Tony Ramos? Será que hoje tem Friboi?! Mas o pior de tudo, de longe, é que você tem que beber seu xixi. É sério. Se eu soubesse disso, teria desistido na hora de ser astronauta. É que a ISS reutiliza 97% da água descartada por seus “habitantes”, por meio de um sistema de centrífuga e fervura. Na prática, isso significa que o suor secretado pelas glândulas pentelhas (sem duplo sentido aqui) […]

Sobre a Criatividade – Glenfarclas 12 Anos

Esses dias me perguntaram qual era meu livro preferido. Fiquei bastante tempo pensando. Um livro só? Não dá para fazer ao menos um top five? Gosto de quase tudo de Dostoievski. Gosto também de Camus, especialmente A Queda, e para os dias de mais testosterona, Hemingway. Vivo, Ian McEwan é excelente, principalmente Serena. Mas uma obra só? Aí acho que terei que escolher Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez. Para quem nunca leu, o livro trata da trajetória secular de uma família – os Buendía – e do vilarejo por eles fundado, Macondo. Na verdade, a história pode ser interpretada como uma alegoria, em um mundo de realismo fantástico, para a América Latina. Macondo passa, ao longo de sete gerações de Buendías, por quase tudo que passou a América Latina, desde a chegada dos espanhóis. O único problema do livro é entender quem é quem. São mais de cinquenta personagens só da família. Isso faz com que muitos leitores tracem uma arvore genealógica dos Buendía, para auxiliar na leitura. Mas nem assim é fácil. Por dois motivos. Primeiro porque os Buendía não eram lá muito ligados nesse negócio de moralismo, então não adianta você tentar entender quem é […]

O Cão Clássico – Glenlivet 12 anos

Meu trabalho traz a oportunidade de conhecer uma boa dose de loucos. O mundo corporativo está cheio deles, de todas as espécies e graus de loucura. Um dos mais interessantes foi o Sr. Roberto, sócio de um escritório em que trabalhei. O Sr. Roberto era extremamente articulado, relativamente elegante e muito educado. Trabalhava bem e era muito eficiente. Enfim, o Sr. Roberto parecia um cara absolutamente normal. Até você ir almoçar com ele. Na hora da refeição, o Sr. Roberto tinha todo tipo de mania. Uma das mais estranhas era de, durante reuniões mais longas, comer esfihas de ricota, cortadas por nossa copeira em oito pedaços milimetricamente idênticos, como uma pizza. O Sr. Roberto passava reuniões inteiras com um minipedaço de esfiha na mão, e, eventualmente, o comia, pegando outro logo em seguida. Outro cara que tinha manias alimentares tão estranhas quanto as do Sr. Roberto, foi Napoleão Bonaparte. Reza a lenda que Napoleão não comia nada antes das batalhas. Por conta disso, voltava delas com uma fome monstruosa. Seu prato preferido – criado por seu chef pessoal após a batalha de Marengo – era Frango à Marengo. Napoleão gostava tanto daquele prato que sempre o pedia após a luta, […]

Doce Emoção – Balvenie Doublewood 12 anos

Você sabe o que é Epinefrina? Epinefrina é um composto químico, proveniente da modificação um aminoácido aromático, a tirosina. As glândulas suprarrenais do corpo humano produzem epinefrina em momentos de tensão. Quando secretada, a epinefrina tem como resultado o aumento da tensão arterial, contração muscular e estímulo do músculo cardíaco. Mas você já sabe disso, porque outro nome, bem mais popular para a epinefrina, é adrenalina. A epinefrina pode ser usada para combater parada cardíaca ou disritmias do coração. Mas como aprendemos com o cinema hollywoodiano e com Jason Statham, ela é mais frequentemente encontrada em descongestionantes nasais. Se ministrada em exagero, pode produzir uma lista infinita de resultados desagradáveis, sem dizer, muitas vezes, mortais. Entre eles estão palpitação, taquicardia, arritmia cardíaca, ansiedade, ataques de pânico, dor de cabeça, tremor, hipertensão e edema pulmonar. Enfim, você fica todo tremendo, com um medo inexplicável, seu coração quase explodindo e seu pulmão entra em colapso. Não sei você. Mas acho que eu prefiro ficar com o nariz entupido. O interessante sobre a epinefrina é que ela foi produzida pela primeira vez em laboratório em 1904. Só que ninguém sabe ao certo por quem. Dois cientistas – Friedrich Stolz, alemão, e Henry Drysdale Dakin, […]

O Cão Estrela – Johnnie Walker Red Label

Este é o ultimo post da série de whiskies abaixo de cem reais. E o último não podia ser outro senão o whisky escocês mais consumido no Brasil. O Johnnie Walker Red Label. O Red Label é o whisky escocês mais consumido no mundo, da marca de whiskies escoceses mais consumida no mundo. Ele está, literalmente, em toda parte. Desde o restaurante internacional renomado até o boteco da esquina. Do decanter de cristal Baccarat na mesa de seu chefe até a mão do bêbado que fica na porta da sua casa. O Red Label é o Romero Britto do mundo dos whiskies, com a diferença que, quando vejo um Red Label, não tenho vontade de vomitar um arco-íris. Aliás, falando no Romero Britto, ontem eu vi uma mulher totalmente vestida de Romero Brittos. Eu estava no trânsito, e ela passou há uns vinte metros de distância, na faixa de pedestres. Poucas coisas que vi na minha vida eram tão coloridas quanto aquela moça. Centenas de estampas de padrões e cores diferentes sobrepostas, dividindo seu corpo. Praticamente o cruzamento entre um pavão e um diagrama de anatomia humana. E ainda que existam mulheres mais bem vestidas (muitas, aliás), artistas melhores (muitos, […]

Vira Lata Engarrafado – White Horse

Antes de dar continuidade ao projeto de três whiskies abaixo de cem reais, permita-me uma digressão: preço é uma coisa engraçada. Quando algo é caro, necessariamente a tratamos com mais respeito, e procuramos – as vezes, inutilmente – qualidades ocultas naquilo. Carros são bons exemplos disso. Mas os melhores são, provavelmente, restaurantes. Restaurantes são bons exemplos porque há uma conjunção louca de fatores que poderiam justificar um preço simplesmente extorsivo. Além disso, avaliar um restaurante é um processo quase exclusivamente subjetivo. Não há parâmetros matemáticos. No caso de carros, por exemplo, podemos dizer que um vai de zero a cem em dois segundos a menos que outro. E que há mais espaço interno. É como dizem: contra fatos não há argumentos. Mas é difícil medir objetivamente se o bacalhau de um restaurante é duas e setenta e cinco vezes melhor que de outro. Uma vez fui com a Cã a um restaurante autoproclamado conceitual. Meu prato, que custava quase o preço de todas as minhas peças de roupa combinadas, era descrito como crisps de batata sobre suculentos escalopes em uma cama de verdes. Entretanto, ele se mostrou, na verdade, como um contrafilé maltratado, com batata palha e algo que lembrava, […]

Sobre Expectativa – Chivas Regal Extra

Expectativa é tudo na vida. Mantenha suas expectativas altas, e há grandes chances de você se decepcionar. E a decepção pode vir de inúmeras formas, e nos momentos mais inoportunos. Desde a surpresa em encontrar feijão no congelador ao abrir um pote de sorvete, até assistir “De Olhos Bem Fechados” depois de ver “Nascido para Matar”. Aliás, eu nunca entendi isso. Stanley Kubrick foi um dos cineastas mais brilhantes de todos os tempos. Quase todos os filmes dirigidos por ele tornaram-se clássicos instantâneos. Esse senhor foi responsável, na sequência, por Spartacus, Lolita, Doutor Fantástico, 2001, Laranja Mecânica, Barry Lyndon, O Iluminado e o filme que está entre o top cinco filmes deste Cão, Full Metal Jacket, ou, em português, Nascido para Matar. Um combo de oito filmes geniais, em menos de trinta anos. Aí, misteriosamente, depois de 1987, Kubrick suspende sua carreira de diretor. O próximo filme sai apenas doze anos mais tarde, em 1999, e é “De Olhos Bem Fechados”. Veja bem, eu não sei o que Stanley fez durante doze anos da sua vida. Mas eu tenho certeza que não foi pensar em seu próximo filme. Não me leve a mal. “De Olhos Bem Fechados” ainda é um […]

Sobre Excessos – Ardbeg Ten

Existe uma tênue linha entre a insanidade e a genialidade. Um dos maiores exemplos disso foi Donatien Alphonese François, mais conhecido como o Marquês de Sade. Donatien nasceu no século dezesseis, quando normalmente as pessoas – especialmente os aristocratas – eram muito mais do que uma coisa só. Além de nobre, o Marques de Sade era um político revolucionário, escritor e filósofo. Enfim, um cara versátil. Tipo uma modelo-atriz-cantora-e-apresentadora dos dias de hoje. Mas Donatien também era um libertino sexual. Um homem com sérios problemas de respeito com o sexo feminino – e muitas vezes, com o masculino também – e com os limites do que seria uma prática sexual saudável. E saudável, aqui, é para ser interpretado num sentido bem amplo. O cara era tão doente, tão doente, que criaram uma palavra para ele: sadismo. A combinação de suas preferências sexuais com opiniões políticas extremas renderam ao marquês diversos encarceramentos, somando vinte e três anos de prisão. No tempo livre entre revoluções políticas, escândalos sociais e práticas sexuais bizarras, Donatien escrevia. E bem. Uma das citações que mais gosto do marquês é uma provocação a Sêneca: “tudo é bom quando é excessivo”. Mas vamos admitir aqui que nem tudo […]

O Cão Sofisticado – Royal Salute 38 anos Stone of Destiny

É engraçado que, apesar de estarmos aqui na Terra há centenas de milhares de anos, foi somente lá pelos últimos quinhentos que resolvemos descobrir e inventar quase tudo aquilo de importante que existe. Das viagens interoceânicas à estação espacial internacional. Cada século, cada década e cada ano tiveram sua importância única na humanidade. Bom, exceto pela década de oitenta. A década de oitenta foi um erro. Para você ter uma ideia de como a humanidade evoluiu, destacarei apenas os últimos trinta e oito anos. Trinta e oito anos não parece ser muito. E, na verdade, para uma pessoa, não é. Se você nasceu na década de setenta, não se considere velho. Para um indivíduo saudável e bem cuidado, trinta e oito anos não faz a menor diferença. A Kate Beckinsale está aí para comprovar isso. Mas trinta e oito anos para a humanidade é bastante tempo. Voltemos a 1977. Se você é fã de flashbacks, prepare-se para deleitar-se. Há aproximadamente quatro décadas, nascia em Porto Rico uma banda que mudou o conceito de pop latino. Os Menudos. E ao mesmo tempo que a Apple lançava o mais moderno computador compacto do mundo, o Apple II, a indústria automobilística nacional inaugurava […]

Febre de Consumo – Dalmore 15 anos

Existem várias atividades que me proporcionam sentimentos conflitantes. Um deles é fazer exercício. Por mais que eu deteste qualquer tipo de esforço, sei que, para um Cão como eu, correr é essencial para a saúde. Além disso, tenho que admitir: depois de uns vinte minutos de trote rápido, a sensação é quase boa. Quase. Porque bom mesmo é tomar whisky e fumar charuto. Pensando bem, fazer exercício está, no máximo, no nível “recompensador” da escala de prazer deste Cão. Outra dessas atividades é ir ao supermercado. Assim como correr, ir ao supermercado é uma obrigação inevitável. Inevitável principalmente quando a Sra. “Cã” Engarrafada, solicita, com a suavidade de uma voadora no rim, que eu compre mantimentos para nosso lar. Pensando objetivamente, ir ao supermercado é um saco. Não há prazer nenhum em comprar litros de água sanitária, detergente e arroz agulhinha tipo um. Ou papel higiênico. Aliás, tenho um problema com isso. Sempre que passo o papel higiênico no caixa, entrego para a senhorinha com certo ar de vergonha. Eu sei que é perfeitamente normal se limpar. E que todo mundo faz isso, ou pelo menos deveria. Mas não consigo evitar esse sentimento de culpa infantil. Mas às vezes, com […]