Sobre Expectativa – Chivas Regal Extra

Expectativa é tudo na vida. Mantenha suas expectativas altas, e há grandes chances de você se decepcionar. E a decepção pode vir de inúmeras formas, e nos momentos mais inoportunos. Desde a surpresa em encontrar feijão no congelador ao abrir um pote de sorvete, até assistir “De Olhos Bem Fechados” depois de ver “Nascido para Matar”.

Aliás, eu nunca entendi isso. Stanley Kubrick foi um dos cineastas mais brilhantes de todos os tempos. Quase todos os filmes dirigidos por ele tornaram-se clássicos instantâneos. Esse senhor foi responsável, na sequência, por Spartacus, Lolita, Doutor Fantástico, 2001, Laranja Mecânica, Barry Lyndon, O Iluminado e o filme que está entre o top cinco filmes deste Cão, Full Metal Jacket, ou, em português, Nascido para Matar. Um combo de oito filmes geniais, em menos de trinta anos.

Aí, misteriosamente, depois de 1987, Kubrick suspende sua carreira de diretor. O próximo filme sai apenas doze anos mais tarde, em 1999, e é “De Olhos Bem Fechados”.

Veja bem, eu não sei o que Stanley fez durante doze anos da sua vida. Mas eu tenho certeza que não foi pensar em seu próximo filme. Não me leve a mal. “De Olhos Bem Fechados” ainda é um ótimo filme, mas precisa comer muito feijão – de preferência, não congelado – para chegar perto de algo como O Iluminado.

E nem me venha com esse papo de profundidade. Eu entendo que o filme possui inúmeras camadas, e que, por trás do que parece ser uma simples história de ciúmes entre duas pessoas, recheada de lascívia, há, na verdade, o retrato cruel de uma civilização cujo alicerce está fundado no excesso, na eterna insatisfação e na maneira, quase mecânica e estéril de tentar aplacar tal insatisfação. Mas pelo amor de Deus: isso mal se compara à genialidade do sargento Hartmann, ao chamar o soldado Leonard Lawrence de “pilha de cocô”.

Mas a decepção se deve, acima de tudo isso, ao fato de que, depois de doze anos de hiato, o público esperava o melhor filme de Kubrick. E acabou por receber um de seus piores.

Sabias palavras, caro Cão. Sabias palavras.
Sabias palavras, caro Cão. Sabias palavras.

Sabendo disso, quando fui convidado pela Chivas Regal Brasil e pela Single Malt Brasil para participar de um jantar harmonizado com o novo Chivas Extra no excelente José Bar & Restaurante, em São Paulo, tentei, o tanto quanto possível, reduzir minhas expectativas. É que o Extra é o primeiro lançamento da Chivas Regal em um período de mais de sete anos – o último foi o Chivas Regal 25 anos, em 2008. E convenhamos, sete anos é tempo suficiente para gerar uma expectativa enorme.

No entanto, ao contrário de minha experiência com Stanley Kubrick ou com potes de sorvete no freezer, o Chivas Extra me surpreendeu muito positivamente.

Desenvolvido pelo master blender Colin Scott, o Chivas Extra é um blended whisky sem idade definida, composto por single malts e grain whiskies. Sua base é o Strathisla, importante destilaria pertencente ao grupo Chivas, e considerada o lar espiritual da marca. Além dele, o Extra leva uma boa quantidade de single malt (não divulgado) maturado em barricas que antes continham vinho xerez espanhol.  De acordo com Colin, o Extra é “uma inacreditavelmente rica e distinta interpretação do estilo próprio da Chivas”.

Aliás, esta é uma diferença importante entre o Extra e seus irmãos. A maioria dos blended whiskies é composta por single malts maturados em barricas de ex-bourbon e ex-xerez, além de whisky de grão. Entretanto, geralmente, a proporção tende mais para o bourbon do que para o xerez. O caso do Chivas Extra é o oposto. A maior parte de seus maltes é maturada em barricas que antes continham xerez oloroso. O uso deste tipo de barrica confere ao Extra sabores de frutas cristalizadas e ameixa, além de gengibre e chocolate ao leite, incomum nos demais whiskies da linha, e que certamente agradará os paladares que apreciam blends mais encorpados.

Experimente logo, Pilha de Cocô!
Você bebeu a garrafa inteira, Pilha?!

O Chivas Regal Extra chegará às lojas e bares brasileiros a partir de junho deste ano. Seu preço proposto é de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais), portanto, R$ 30,00 a mais do que o Chivas 12 anos. Na opinião deste Cão, essa é uma diferença que vale a pena. Enquanto que o 12 anos é um whisky leve e floral, com final curto e adocicado, o Chivas Extra é mais encorpado, com final bem mais longo e apimentado que seu irmão.

Assim, fique de olho quando o Chivas Extra chegar às prateleiras em Junho. Poucas vezes você terá experimentado um blended whisky nessa faixa de preço e com essa qualidade. Eu garanto: não será com ele que você encontrará feijão no pote de sorvete.

CHIVAS REGAL EXTRA

Tipo: Blended Whisky sem idade definida

Marca: Chivas Regal

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: aroma floral, de marzipã e frutas secas.

Sabor: de frutas cristalizadas e ameixa, com marzipã, gengibre e chocolate ao leite. Final longo e bastante picante, que evidencia o gengibre e o chocolate.

Com água: Com agua, o sabor picante fica bem menos evidente, e o aroma floral se ressalta.

Preço: R$ 150,00 (cento e cinquenta reais)

37 thoughts on “Sobre Expectativa – Chivas Regal Extra

  1. Tenho observado uma tendência na indústria de se produzir cada vez mais uísques sem idade definida, assim como este Chivas Extra e o Johnny Walker Gold Label Reserve. O que está acontecendo? Devido ao aumento da demanda, não se consegue esperar muitos anos para a bebida maturar nos barris, nas quantidades necessárias? Ou será uma forma que encontraram de vender mais caro uísques mais baratos?
    Forte abraço e parabéns pelo blog.

    1. Oi Antônio!

      É isso aí. Existem algumas razões para isso. A primeira, e mais importante, é uma questão de escala. A Escócia não consegue mais atender à demanda de whiskies, que cresceu muito nos últimos anos. Assim, de forma a aumentar a produção, tem-se criado expressões NAS (no-age-statement), que, em grande parte das vezes, são uma mistura de whiskies mais maturados com outros mais jovens. Em single malts isso acontece também – pense que os Macallan da série 1824 não tem idade determinada.

      A segunda razão é o perfil de sabores. Dependendo do tipo de barrica (ex-jerez, ex-bourbon, ex-porto etc.), de seu volume e da utilização da barrica (first fill, second fill etc.), não é preciso deixar o whisky tanto tempo para que ele atinja o sabor pretendido pelo master distiller. Assim, concentrando-se em sabores e técnicas de maturação, as destilarias conseguem produzir whiskies muito bons, com uma “média” de idade menor. Exemplo disso é o Laphroaig Quarter Cask (que usa barricas pequenas para aumentar a área de contato e acelerar o processo de maturação) e o Glenlivet Nadurra Oloroso (que usa barricas de xerez de primeiro uso, e por isso fica pouco tempo na barrica para atingir o sabor desejado).

    1. Claudionor, o Extra vai bem com gelo. Dá uma olhada na foto principal do post – durante a degustação também tomamos com umas pedrinhas de gelo. Com água de coco acho que vai ficar esquisito, porque o sabor dele é muito marcante. Aí você poder ir de Professor, Cavalo Branco, Oito Velho, Preto & Branco… se você estiver se sentindo sofisticado, compra um Kakubin (dá uma olhada no post dele depois), que é bem doce e manda bala… o pior que pode acontecer é ficar gostoso.

      1. hehehehehe! oito velho! hehehehe! meu falecido pai amava o old eight! obrigado por me fazer lembrar dele! esse site é magnifico! e vc tb! abraço!

  2. Parabéns pelo site e pela maneira como estruturou a resposta. Zerou minhas dúvidas sobre os “sem idade” definida.
    Obrigado.

  3. Fiquei curioso quando li sobre esse lançamento, e procurando pela internet cheguei nesse seu post… depois de lê-lo resolvi comprar (ainda mais que arrumei um cupom de 20% de desconto de um supermercado famoso…!). Muito bem, concordo com você, realmente foi surpreendente. Apesar de ser fã dos single malt, esse novo blended da Chivas foi uma grata surpresa, muito saboroso, fácil de beber. E minha esposa que está começando a curtir whisky está apaixonada pelo Chivas Extra. Valeu pelo post e pelo site!

    1. Opa, que legal Marcelo! A Cã gosta também bastante do Extra. Na verdade, dos Chivas em geral. E single malts? Qual a preferência sua e da esposa?

      1. Eu tenho um carinho pelo Cardhu, porque fui apresentado ao mundo dos single malts por ele… Gosto muito do Glenlivet 18 e do Glenfiddich 15 anos… nesse momento estou curioso para experimentar as linhas Dalmore e Glenmorangie… alguma recomendação?

        1. Marcelo, não tem erro com Glenmorangie. Vai em qualquer um que será bom. Minha ordem pessoal – baseada no meu gosto – é Quinta Rubán, Nectar D’Or, 10 Anos e Lasanta. Pelo que você está me falando, talvez você vá gostar também mais do Quinta. Tenta experimentar uma dose antes.

          Dos Dalmore vendidos por aqui, prefiro o 12 anos ao 15. Mas, mais uma vez, é gosto pessoal.

          1. Maurício,
            Estou com a sensação de conversar com amigos na minha varanda, então não deve ser indelicado me intrometer. Fica difícil Glenmoragie entrar na roda e permanecer calado. Sou fã, mas registro que senti dificuldade para ajustar o ponto da água de diluição para o Necta D’òr e o Lasanta. Há momentos que acho que o Necta D’òr pede água, em outros acho que não. Nada disso é para desanimar, pelo contrário, faz parte da brincadeira.

            Marcelo,
            Caso se torne um apreciador dos sugeridos, proponho que experimente o Glenmorangie Extremely Rare. Conheço o Dalmore 12Y e 15Y, e não estão incluídos nos preferidos, mas o Dalmore Cigar eu recomendo como experiência. Repetindo Maurício, se não gostar, manda pra mim…
            Maurício sugeriu a linha Glenmorangie e imaginou que o Quinta Ruban seria o que mais lhe agradaria. Minha modesta contribuição é sugerir o Cragannmore, e se Mauricio acertou no palpite, não dispense o Cragannmore Double Matured (Port Wood Finish).

            Abraços

  4. Gostei do post. Comprei o chuvas extra sem ter certeza do estava levando. Vejo também nas prateleiras o Old Par Silver, que parece ser um outro sem idade determinada. Recomenda?

    1. Diego, o Extra é realmente um dos melhores custo-benefícios de blended whiskies premium no Brasil.

      Entre o Old Parr 12 e o Silver, fico com o 12. Acho o Silver muito suave para ser tomado puro. Entretanto, isso é gosto pessoal. Para misturar, tomar com gelo e preparar coquetéis, o Old Parr Silver é perfeito!

  5. Após ler seu texto sobre o Woodford Reserve li outros. Gostaria de destacar o referente ao Chivas Extra. Estou velho, irascível e intolerante. Implico com facilidade. Ando cheio com jogadinhas comerciais. Descontinuaram o JW Gold 18Y e lançaram o JW Gold Reserve. Eliminaram o Logan e passaram a produzir o Logan Heritage. Deveriam ter mostrado o compromisso da Old Parr com a tradição. Não há problema algum em produzir algo de padrão inferior e preço mais accessível, mas que seja mantido o tradicional e seja claro na redução do padrão. A última palhaçada foi a Glenlivet substituir o fabuloso 12 Y, um single imbatível na relação preço-qualidade, por um tal de Founder’s Reserve. Tudo isso me levou a uma resistência ao Chivas Extra. Eu sei que é mais caro, mas impliquei…o que é que eu posso fazer? Eu nada, mas depois de ler seu texto comprarei uma garrafa. Se não for o que você escreveu, vai me pagar…

    1. Ahahahah, Sócrates, achei fantástico seu comentário! Sabe, essa discussão sobre o whisky NAS (sem idade definida) é longa. Existem NAS excelentes, como o Glenmorangie Signet, o Aberlour A’Bunadh, Dalmore King Alexander III e por aí vai. Mas NAS é também uma chancela para se produzir algo mais jovem e – talvez – não tão bom. A vantagem de whiskies NAS é a escala. Pode-se produzir mais whisky sem se preocupar com a maturação mínima estampada na garrafa.

      Agora, confie em mim quanto ao Extra. Ele não tem sabor de whisky jovem. Aliás, ele tem um sabor bem mais forte do que os demais Chivas que você conhece. Se não gostar, pode dar pra mim 🙂

    2. Realmente o Chivas Extra me surpreendeu. Ele entrega muito mais em aromas e sabor ,comparado a outros blend’s . Os indícios do Jerez oloroso são marcantes em aromas e sabor. É macio ,fácil de beber . Apesar de ser um NAS , não apresenta o álcool agressivo no olfato. Achei um bom custo benefício.

  6. Caro Maurício,

    Conforme combinado, experimentei o Chivas Extra. Um whisky potente, marcante e saboroso. Em uma única aventura, provei puro, com um pouco de água e com gelo. Fiquei mais impressionado com água. Irei repetir o conjunto da experiência, mas é possível escrever algo já.

    Esse blend da Chivas está carregado de singles maturados em Jerez. É tão pronunciado que não descarto um período maturação, em barricas de Jerez, do próprio blend. A explosão do consumo e a consequente criação do whisky NAS abriu espaço para qualquer coisa.

    Os aficionados pelas características conferidas pelo delicioso vinho espanhol certamente se tornará um adepto do Chivas Extra.

    A questão que coloco é se refere ao afastamento da delicadeza e sutileza que marcam e encantam no Chivas 12Y. A outra preciosidade, que é Chivas 18Y, também não é tão explícito em nada tão especificamente. Então fiquei sem entender a acréscimo do “extra”. O master blender poderia inovar em relação ao estilo Chivas sem surpreender ninguém simplesmente nomeando esse excelente blend como Chivas Sherry.

    Minha última observação se refere ao preço. Em Recife, encontrei o litro de Chivas 12Y entre R$ 109 e R$ 129, e a garrafa de 750 ml do Extra entre R$ 145 e R$ 165. Consequentemente, a diferença no litro entre um e outro fica em torno de R$ 90.

    A notícia ruim é que você não ganhará uma garrafa de Chivas Extra, que era seu pleito.

    Grato pela dica.

    Abraços,

    Sócrates

    1. É que aí, meu caro Sócrates, entra o Marketing. É como chamar vinhos de “reserva”. Reserva, na verdade, não significa nada, mas dá uma certa impressão de exclusividade. Assim como “extra” que traria a ideia de mais sabor. Você tem razão, há uma troca de delicadeza por potência, mais frutas e especiarias. Mas o fruto proverbial nunca cai tão longe da árvore. Ainda é possível notar aquele caráter floral do Chivas 12YO.

      O 18 anos é outra liga. É um dos meus blended whiskies preferidos. Há um pouquinho de tudo, num equilíbrio incrível. Mas essa sofisticação tem um preço. Note que o gap de valor entre o extra e o 18 é muito maior do que entre aquele e o 12 anos.

      Uma pena que eu não vá ganhar o Extra…rs… Por outro lado, fico mais feliz porque o senhor gostou! rs!

  7. Caro Mauricio,
    Comprei o Chivas Extra depois de ler o seu post e fiquei curioso para saber como seria um wisky que passou por barricas ex-Jerez e fiquei impressionado com o sabor deste. Comecei tomando ele puro para sentir os aromas e sabores distintos desse wisky e do meio para o final adicionei uma pedra de gelo e o que já estava bom, ficou ainda melhor.
    Foi uma excelente companhia para a tarde de sábado e umas baforadas de um charuto.
    Seguindo nessa linha de wiskies que passam por barricas ex-Jerez, como seria uma comparação entre o Chivas Extra e o Glenfiddich Reserve Cask?
    Um abraço e parabéns pelo Blog.
    Marco

    1. Fala Marco! Muito obrigado!! 🙂

      Bom, sobre a comparação, ambos são excelentes. Achei o Reserve Cask um pouco mais profundo, com mais amargor e caramelo (açúcar queimado ou mascavo), enquanto que o Chivas Extra puxa um pouco mais para o floral. Os dois têm aquele sabor de vinho característico do jerez, mas um puxa mais para o amargo, o outro, para o adocicado. De qualquer forma, se você gostou do Extra, acho que poderá gostar bastante do Reserve Cask. É um ótimo custo-benefício para aqueles que apreciam este tipo de maturação.

  8. Boa tarde, Cão!
    Sou novo nesse mundo do malte, mas desde criança apreciador da beleza hipnótica da bebida. Agora, já pra meia idade virei estudante desse “amigo engarrafado”. Porém, meu caro (e novo) amigo ouvi dizer que a não foi somente a embalagem que mudou no Chivas Extra, mas também sua mistura e sabor (o produto enviado para o Brasil). Fiquei frustrado e temeroso, pois estava com o dedo no botão de “Comprar”. Infelizmente. Estou agora sem saber o que fazer. Ajude esse outro canídeo calouro.
    Grato,
    Pablo Atanes

    1. Olá Pablo. Então, ainda nao comparei uma garrafa antiga com uma mais “nova” lado a lado. Mas recentemente abri uma garrafa que comprei há menos de 2 meses e ela estava uma delícia.

  9. Estou neste momento tomando um Extra e curtindo muito a opinião do Cão! Acertada demais!
    Chivas com um fundo pronunciado de xerez é uma fórmula sublime de blend. Parabéns ao Cão e à Chivas!!

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