Um paralelepípedo de polaca do alasca empanado, um queijinho safado e molho tártaro, que nem é tão tártaro assim. Tudo isso, emoldurado por duas metades de um brioche fofinho. Não parece grande coisa, mas causou um enorme rebuliço. É o McFish, lanche que saiu do cardápio do McDonald’s em 2019 – justamente porque vendia pouco. Em 2024 a rede anunciou sua volta, por tempo limitadíssimo. Anúncio recebido com gritos de glória pelos fãs da (discutivel) refeição. Eu incluso.
Entendo, perfeitamente, o alvoroço. É que o McFish realmente não é nada demais. Exceto pelo que representa. Ele é visto como o útlimo bastião de algo gastronomicamente aceitável para os foodies, na rede de lanchonetes. Quando saiu, ninguém ligou. Mas depois de um tempo, bateu saudades. E e o que quase não vendia, passou até a ter campanha pra sua volta. Que, aliás, durou pouquíssimo.
O mundo do whisky já passou por umas dessa, também. Exemplo é a Port Ellen. A destilaria foi fechada em 1985, numa época que o mercado de whisky passava por maus bocados. A Diageo possuía três destilarias em Islay – Lagavulin, Caol Ila e Port Ellen – e buscava reduzir custos. A escolha foi justamente fechar aquela que fosse menor e menos conhecida. O que eles não imaginavam é que, em quarenta anos, uma garrafa que custava pouco menos de cinquenta libras, passaria a ser vendida por quatro mil. Tudo por conta do fechamento e escassez dos estoques.
O frenesi foi tamanho que a Diageo anunciou, décadas mais tarde, planos para reabrir a Port Ellen. E não apenas ela. Brora também, irmã da Clynelish, fechada pelo mesmo motivo, pouco tempo depois. Os anúncios, entretanto, são tempestivos. Atualmente a indústria do whisky vive uma época maravilhosa, especialmente para single malts. Há um interesse crescente por produtos exclusivos, e o acesso à informação aumentou muito a curiosidade do consumidor sobre a categoria. Assim, separei aqui cinco destilarias para ficar de olho em 2024. De clássicas rejuvenescidas até bebês etílicos.
PORT ELLEN
Como narrado acima, a Port Ellen foi fechada em 1983 pela DLC – mais tarde, Diageo – por repercussões do whisky loch. Na época, era um malte pouco conhecido, e de produção bem limitada. A maioria de seus whiskies era destinada a produção de blends. Porém, por conta de seu perfil sensorial, ela podia ser facilmente substituída por Caol Ila ou Lagavulin no caso da DLC.
A Port Ellen somente não foi completamente demolida porque as demais destilarias de Islay entraram em uma espécie de acordo informal, pela qual se comprometiam a comprar cevada maltada lá produzida. A destilaria funcionou por mais de trinta e cinco anos, então, como um “malting floor” – uma espécie de fábrica de cevada maltada. Em 2017, percebendo o crescente interesse do mercado por “ghost distilleries“, a Diageo anunciou que a reabriria – projeto que foi concluído em 2024.
ROSEISLE
A Roseisle nasceu da Diageo em meados de 2010, como uma super-destilaria projetada para produzir maltes para blends. Assim como numa destilaria japonesa, a palavra de ordem é variedade. Assim, doze de seus quatorze alambiques podem ter o material de seus condensadores “shell and tube” trocados – entre cobre e inox. A troca permite produzir whiskies mais sulfúricos e pesados, ou adocicados. O tempo de fermentação também pode ser ajustado, para obter um malte mais ou menos herbal.
Ainda que tenha sido projetada para fornecer maltes para blends, e que não tenha exatamente uma identidade como single malt, a Roseisle lançou, em 2023, seu primeiro single malt. Parte dos Special Releases da Diageo, era um whisky de corpo médio, herbal e adocicado.
DALMUNACH
A Dalmunach foi construída em 2014 pela Pernod-Ricard, onde antes ficava a finada Imperial – demolida um ano antes. Projetada como uma das mais modernas e tecnológicas destilarias de toda Escócia, a Dalmunach, ainda assim, preservou algumas características arquitetonicas de sua predecessora.
Assim como a Roseisle, a Dalmunach é capaz de produzir maltes com diferentes perfis sensoriais, e seu principal objetivo é abastecer o mercado de blends da Pernod-Ricard. Especialmente Chivas e Ballantine’s. Há, entretanto, alguns engarrafamentos oficiais de Dalmunach, que podem ser comprados ao visitar as destilarias do grupo Pernod-Ricard.
HOLYROOD
2023 teve uma boa quota de novos whiskies. Em setembro, a Holyrood Distillery, localizada no coração de Edimburgo, anunciou também seu primeiro whisky. Inaugurada em 2019, a fábrica produzia especialmente gim – aguardando pacientemente os três anos necessários para que seu new-make envelhecido pudesse ser considerado whisky aos olhos da SWA.
Foram produzidas 8.188 garrafas, que acabaram em poucos dias pela The Whisky Shop. De acordo com a Holyrood, os próximos lançamentos terão foco em diferentes leveduras – algumas, pouco utilizadas na produção de whisky.
RAASAY
Ela é a primeira destilaria legalizada da ilha de Raasay. Foi aberta em 2017 pela R&B Distillers. Dedicada a produzir single casks, a destilaria lançou em 2021 seu primeiro malte de linha. Era composto de whiskies turfados e tradicionais, maturados em barris de ex-rye, carvalho virgem e carvalhou europeu de ex-vinho tinto da região de Bordeaux.