Lynchburg, Tennessee. Clermont, Kentucky. Quase qualquer apaixonado por whiskeys relacionará, rapidamente, estes lugares à sua bebida favorita. Afinal, lá estão as destilarias das mundialmente famosas Jack Daniel’s e Jim Beam, respectivamente.
Mas mesmo se você for um entusiasta do destilado norte-americano, é bem provável que nunca tenha ouvido falar em Evanston, Illinois. Bem, mesmo porque não havia nada de extraordinário em Evanston, Illinois, até 2011. Quer dizer, exceto uma curiosa história sobre a lei-seca norte americana.
É que a cidade foi um dos berços do movimento de temperança americano, que, mais tarde, culminou no nobre experimento. A Woman’s Christian Temperance Union – WCTU (algo como a União de Temperança Cristã) teve como sua segunda líder Frances E. Willard, nascida em Evanston. Foi sob sua tutela, a partir de 1879, que o movimento ganhou força, até conseguir, finalmente, que a lei seca fosse adotada nacionalmente. Além disso, depois de sua morte, sua casa se tornou a sede da WCTU.
Mas antes disso, Evanston já era uma cidade seca. Em 1855 a cidade inaugurou a Northwestern University. Ao recepcionar seus primeiros alunos, a instituição peticionou ao Estado que determinasse um raio de 4 milhas a partir de seu centro, onde seria proibida a venda e consumo de bebidas alcoólicas. “nenhuma bebida espirituosa, vínica ou outros fermentados alcoólicos devem ser vendidos sob licença, ou de outra forma, dentro de 4 milhas do local da referida Universidade (…) sob pena de vinte e cinco dólares por cada ofensa” – dizia a lei.
Por conta de toda essa história, é muito estranho que Evanston tenha sido escolhida para sediar uma das mais importantes destilarias artesanais dos Estados Unidos. Mas foi justamente o que aconteceu. A FEW foi fundada em 2011 por Paul Hletko, um ex advogado especializado em propriedade intelectual. Atualmente, além de bourbon, a destilaria produz um rye whiskey, um single malt e três diferentes gins.
De acordo com Hletko, em entrevista concedida ao site Popular Mechanics, “fazemos destilados de grãos porque estamos no celeiro do país “, e continua “Somos capazes de obter nosso milho, trigo e centeio regionalmente, em grande parte de cooperativas.”
E que grãos. O FEW Bourbon é composto 70% de milho, 20% de centeio e 10% de cevada maltada de duas fileiras – algo relativamente incomum no mundo do whisky, mas que faz sentido para Hletko. Aquela cevada é produzida localmente. Sensorialmente, e apesar da alta proporção de milho, o FEW é um bourbon relativamente seco e apimentado, graças ao percentual de centeio utilizado em sua mashbill.
A maturação do FEW Bourbon acontece em barris de carvalho americano virgens comprados de uma tanoaria na Minnesota. “Como a estação de cultivo livre de gelo é mais curta lá, os grãos mais firmes da madeira produzem um melhor equilíbrio de pimenta e baunilha e tornam os taninos mais intensos.“, explica Paul.
Infelizmente, o FEW Bourbon não chega ao Brasil. Mas é uma demonstração clara de um movimento crescente na indústria de whisky. A produção de destilados de excelente qualidade, em micro destilarias, com métodos inovadores e atenção especial a todos os detalhes. É uma bebida focada em um grupo de consumidores que busca não apenas um produto sensorialmente agradável – mas que tenha um diferencial, seja em sua produção ou história.
E quanto mais improvável a história – como a da FEW, aliás – melhor.
FEW BOURBON WHISKEY
Tipo – Bourbon Whiskey
ABV – 46,5%
Região: N/A – Evanston, Illinois
País: Estados Unidos
Notas de prova
Aroma: caramelo, malte, especiarias, canela.
Sabor: Caramelo, pimenta do reino. Há um sabor bem interessante de cravo e canela, que complementam o adocicado do whiskey. Final longo e floral.
Com água: A água torna o whiskey menos apimentado e mais seco.
Bourbon também não passa por filtragem gelada a partir de 46%, mestre?
Faz tempo que não pego nenhum americano e este parece excelente.
Aproveitando a oportunidade, mestre: tendo em vista os momentos em que não podemos ter um alto gasto, o senhor acredita que valeria mais a pena Jameson Original, Whyte Mackay Special ou Famous Grouse Finest?
Abraço!
Meu caro, essa é uma boa pergunta. Esse certamente não. Mas não sei se isso é uma regra geral!
Sobre os três – animais diferentes. Gosto de todos, em dias diferentes e em situações diferentes. O Jameson é mais suave e delicado, os outros dois são mais puxados para o sherry. O WM é um pouco mais doce também. Qual a ideia?
abs
Mestre, a ideia seria um no brainer para criar um contraposto aos meus Single Malts, sem gastar muito.
Atualmente, estou bebendo uma média de 2 SM para cada 1 Blended.
Já provei o Black Grouse e gostei bastante. Pensei em arriscar o Finest. Por um preço semelhante, eu posso comprar o Jameson, que acaba sendo uma boa opção para mim por ser um animal totalmente diferente dos scotches que tenho em meu bar.
W&M Special eu gostaria de provar, porque tive uma boa experiência com o 13y (sei que são níveis bem diferentes). O problema é que não o encontro em minha aldeia e comprando ele com frete, acaba saindo o mesmo valor que um Black Label 750ml, por exemplo.
Tem algumas coisas que eu gostaria/ tenho que provar e muitos outros que já não faço tanto questão.
Aceito sugestões, por gentileza hahaha.
Abraço!
Fala mestre!
Puxa, dificil, porque você já é um entusiasta que provou bastante desses whiskies. Dewar’s 12 já foi? É um perfil diferente do JW (menos defumado) e mais próximo do chivas 12. Mas um pouco mais maltado! Talvez voce goste.
Jameson é sempre uma boa pedida. Aliás, acho um dos melhores custo/beneficio do Brasil!