Neologismo. A criatividade humana aplicada à linguagem. O berço de palavras, para suprir necessidades ou lacunas. A prova de que a língua não é pétrea ou falecida, mas fluida e viva – em constante mudança.
Se você acha que escrevi algo abobado, então dê uma googlada. Eles são onipresentes. O drone comprado no camelódromo. A foto photoshopada da blogueira. O computadorês, aliás, é campeão – deletar, resetar, escanear e (um preferido meu) boostar. Com dois “ós”, por favor, e sem me trollar, porque com um só, é outra coisa.
Mas a coquetelaria não fica muito para trás. Coquetel mesmo, a palavra, já foi um neologismo. Ela deriva do inglês cocktail, que, por sua vez, pode ter vindo da corruptela de uma palavra creole – cockley. Ou de uma história bizarra envolvendo gengibre e o derrière (esse nao é um neologismo) de mamíferos de grande porte. Ninguém sabe ao certo.
Outro neologismo na coquetelaria – mas em inglês – foi Scofflaw, que pouco tempo depois virou um drink. A palavra, que significa “zomba-lei” era usado para descrever justamente o público alvo do coquetel. Os homens que desafiavam a lei seca e bebiam. A palavra ganhou um concurso promovido por Delcevare King, para criar o termo que descrevesse este perigoso criminoso e incutir consciência nas pessoas de bem.
Mais tarde – e maravilhosamente, em minha singela opinião – o nome foi usado de uma forma irônica para batizar um drink. Que curiosamente não foi inventado nos Estados Unidos, ainda que tenha sido cunhado em 1924, durante a Lei-Seca. Ele é apenas uma homenagem àqueles valentes – e abastados – bebedores, dispostos a atravessar um oceano para satisfazer sua lascívia etílica. Seu criador foi um certo Jock, do Harry’s Bar New York, localizado em Paris. E não Nova Iorque, apesar do sugestivo nome do estabelecimento.
A receita original do Scofflaw pede 1/3 whiskey de centeio, 1/3 vermute frances, 1/6 suco de limão e 1/6 grenadine. Este Cão, porém, talvez prefira a versão adaptada de Gary Regan, que coloca o Rye Whiskey em evidência, em proporção semelhante à do Manhattan.
Assim, caros leitores, aí vai a receita de mais uma maravilhosa mistura criada durante o Nobre Experimento. Retirem seus tábletes – outro neologismo, ou talvez estrangeirismo que define estes instrumentos tão inúteis quanto fascinantes – do armário e tomem nota. O Scofflaw.
SCOFFLAW COCKTAIL
(receita de Gary Regan)
INGREDIENTES
- 60ml Bourbon ou Rye Whiskey
- 30ml Vermute seco
- 7,5ml suco de limão siciliano
- 15ml grenadine
- 2 dashes orange bitters (no Brasil, a opção mais fácil é Angostura Orange)
- parafernália para bater
- taça coupé
PREPARO
- Adicione todos os ingredientes em uma coqueteleira com gelo. Chacoalhe com força.
- Desça o conteúdo em uma taça coupé, coando com um strainer.
Obs – Se você ainda assim achar o coquetel doce, experimente reduzir o grenadine e elevar o limão siciliano. Este Cão recomenda 15ml de limão siciliano para 10ml de grenadine, mantendo-se as mesmas medidas de vermute, whiskey e bitters.
Belíssimo coquetel, mestre! Me parece que ficaria muito bom com o Crown Royal Rye.
Abraço!