Drops – Glenmorangie 18 Anos Extremely Rare

O que você faria ao se deparar com uma garrafa cujo rótulo diz “extremely rare” ou “extremamente raro”? Bem, este é o caso do Glenmorangie 18 anos, produzido pela destilaria homônima localizada em Tain, na Escócia. E tudo bem que fora de nosso país ele nem seja tão raro assim. Mas continua sendo uma preciosidade. O Glenmorangie 18 anos é maturado em uma combinação de barricas de carvalho americano que antes continham bourbon whisky, e de carvalho europeu, que maturaram vinho jerez. O processo consiste em maturar por quinze anos o destilado em barricas de ex-bourbon, e depois transferir aproximadamente 30% dele para barricas de ex-jerez. As duas partes então passam mais três anos nas diferentes barricas, até serem reunidas para criar o Glenmorangie 18 anos. A destilaria Glenmorangie é conhecida por possuir os alambiques mais altos de toda a Escócia. Isso porque os primeiros alambiques da destilaria teriam sido comprados de uma fábrica de gim. Os atuais são reproduções maiores daqueles primeiros. A altura dos alambiques, aliada a seu formato, fazem com que apenas os vapores mais leves do processo de destilação cheguem ao seu topo, o que produz um whisky leve e elegante. O resultado é um whisky sofisticado, […]

Seis Whiskies Para se Tomar com Gelo (e sem culpa)

Ontem, quando cheguei do escritório, a Cã perguntou se – ao invés de jantarmos fora – eu não queria pedir comida. Eu disse que sim, claro, afinal, estava cansado. E indaguei a ela o que queria. Pizza? Não, pizza não quero, estou gorda. Japonês? Não, quero algo quente. Uma massa? Não. Árabe então? Não, árabe não também. Hambúrger foi a derradeira opção, igualmente recusada. Mas afinal, amada Cã, o que você quer pedir? Ah, não sei, o que você quiser está bom para mim. Na verdade, eu queria qualquer coisa. Só não queria pensar muito. Tenho dias assim. Esse era um deles. No trabalho, me disseram para ouvir Penderecki enquanto traduzia um contrato de M&A, porque música clássica auxiliava na concentração. Mas o máximo que queria ouvir era Rolling Stones. Durante o almoço, recomendaram que pedisse o polvo. Mas eu queria mesmo era um belo mexidão. Me disseram para ver um filme do Godard. Mas meu desejo mesmo era ver um J. J. Abrams. Por fim, falaram que eu deveria ler Dostoievski. Aí concordei, afinal, a vida é muito curta para desperdiçá-la com literatura ruim. Mas hoje não, hoje eu não leria nada. Aliás, cinema, literatura e whisky tem muita […]

Especial de Final de Ano – Whisky e Réveillon

“O passado não importa muito. O que importa são seus planos para o futuro. Anime-se com seus planos para o futuro”. Quando ouvi essa frase de um conhecido há uma dezena de réveillons passados, logo me animei. Me animei, porque tudo que havia planejado para meu futuro era terminar aquela taça de prosecco. E, ao termina-la, me encostar novamente no balcão do bar para pedir a próxima. Afinal, é ano novo. Eu posso. O ano novo é uma festa interessante. Aliás, é minha data comemorativa coletiva preferida. Não é muito difícil, já que eu odeio natal, não suporto a monomania do carnaval e não ligo muito para a páscoa. Mas a verdade é que o réveillon traz um temporário otimismo ingênuo até mesmo para as pessoas mais taciturnas. Com o tempo, aprendi que não adianta muito fazer planos para o ano vindouro. Nem ouvir conselhos. Porque não importa qual foi sua promessa ou a recomendação. Ano que vêm, você provavelmente estará pesando a mesma coisa que está agora. E continuará trabalhando com o mesmo empenho e visitando a academia com a mesma frequência. Você, inclusive, estará bebendo a mesma quantidade que bebe o ano inteiro. Quer dizer, com exceção da […]

Especial de Natal – Um Manual de Como Presentear com Whisky

Escolher presentes de natal nunca é fácil. Nem mesmo para a pessoa com que você mais tem intimidade no mundo. No meu caso, a Cã Engarrafada. Neste caso, o risco é errar. Não há espaço para errar com alguém que você conhece tão bem. Mas como já estamos casados a pouco mais de meio decênio, tendo galgado o dobro disso de namoro, recorri a uma praticidade arriscada. Perguntei a ela o que queria receber de presente. E não me condene por ter sido direto. Porque realmente é romântico captar sinais e ir sorrateiramente reunindo informações e analisando reações para tentar descobrir o que sua melhor parte deseja. Mas isso também é trabalhoso e – caso sua inteligência emocional seja equivalente a de um crustáceo, como a minha – pode dar terrivelmente errado. Após uns três segundos de uma ensaiada cara de dúvida, a Cã respondeu que queria uma bolsa, e que me daria um single malt. Uma bolsa, tudo bem, pensei. Qual a dificuldade em escolher uma bolsa? Bem menor do que a dela, ao escolher o whisky. Minha ida ao shopping revelou que a tarefa era consideravelmente mais difícil do que eu havia previsto. Principalmente quando não há o […]

Drink do Cão – Green Gimlet

Uma improvável gota de suor escorrendo pela lateral das minhas costas não deixa dúvidas. Estamos quase no verão. O verão é a estação do ano em que tudo gruda. Cadeiras, maçanetas, o metrô, o corrimão da escada e seus braços.  E também aquele seu coleguinha, cujos braços também estão pegajosos, e a uma distância preocupante dos seus. No verão, tudo adquire uma aderência meio porca. O verão é uma prova de enduro físico infinito, em que o troféu é não chegar azedo no final do dia. Ele tem, inclusive, um odor característico. É aquele aroma que está no táxi que você pegou, no vagão do metrô que você entrou e no elevador do seu escritório. É algo que lembra um refogado de alho, cebola e pimenta. Um refogado de alho, cebola e pimenta absolutamente asqueroso. Talvez eu tenha chegado prematuramente à andropausa, mas o calor do verão é quase insuportável. Quase porque eu não tenho opção. Quando está frio, eu posso simplesmente colocar uma jaqueta ou malha. No calor não. No calor, a melhor opção é ficar nu. Mas isso eu só posso fazer em casa e, mesmo assim, correndo o risco de grudar no mobiliário. Além disso, o calor deixa […]

Um Não Post / Sobre a Inércia – Glenmorangie Nectar D’Or

  Há dias que realmente não queremos fazer absolutamente nada. Ontem foi um desses. Deitado no sofá, estava eu com uma preguiça petrificante de escrever um post. Eram cinco horas da tarde e eu pensava em tudo aquilo que poderia fazer, caso somente tivesse energia para levantar daquele meu leito. Sem mover sequer um milímetro de qualquer membro de meu corpo, pensava que poderia ir à academia, afinal, não corria há uma semana, e precisava me exercitar. Poderia também cozinhar alguma coisa. Havia comprado ovos, pancetta e uma caixa de spaghettini no supermercado, e com alguma disposição e um pouco de auxílio do mundo digital, poderia improvisar um carbonara para o jantar da Cã e da Cãzinha. Mas não. Porque aquilo exigiria que eu me movesse, e aquele estado de pré-sonolência me embalava de uma forma irresistível. Ao lado do sofá, a poucos centímetros do meu alcance máximo, havia uma garrafa do single malt que deveria ser o tema do post dessa semana. O Glenmorangie Nectar D’Or. Um ótimo whisky. Aliás, um dos três whiskies que fizeram com que eu começasse a me interessar pela bebida. Mas para pegá-lo, seria necessário que eu me esticasse e saísse de minha posição […]

O Cão Didático – Single Malts para Iniciantes

Quando comecei a escrever o Cão, não sabia absolutamente nada sobre escrever um blog. Para falar a verdade, tinha um preconceito quase natural em relação a blogs. Afinal, o que de especial eu teria para falar não pudesse ser encontrado com uma rápida pesquisa no Google? Absolutamente nada. E eu sei que você espera que eu diga que com o tempo essa impressão foi se esvaindo, até se tornar apenas uma remota lembrança de alguém que não tinha a mais rasa ideia do que estava por começar a fazer. Mas não. Olha, desculpem-me pela quebra de expectativa. Na verdade, eu realmente não tenho nada de novo para falar. Mas ainda que eu seja só mais uma pessoa com um modem e um gosto quase doentio por whiskies, esses meses de vida do Cão trouxeram algo que eu jamais poderia sequer prever. Comecei – na verdade, redescobri – o prazer de escrever. E o que antes era preconceito, virou mania. Então, uns meses atrás, resolvi dar uma pausa em minhas pesquisas e estudos sobre whisky para me dedicar a aprender a escrever um blog. Um blog sobre whisky. E durante minhas explorações, descobri uma série de ferramentas incríveis. Você sabia que […]

Sobre Excessos – Ardbeg Ten

Existe uma tênue linha entre a insanidade e a genialidade. Um dos maiores exemplos disso foi Donatien Alphonese François, mais conhecido como o Marquês de Sade. Donatien nasceu no século dezesseis, quando normalmente as pessoas – especialmente os aristocratas – eram muito mais do que uma coisa só. Além de nobre, o Marques de Sade era um político revolucionário, escritor e filósofo. Enfim, um cara versátil. Tipo uma modelo-atriz-cantora-e-apresentadora dos dias de hoje. Mas Donatien também era um libertino sexual. Um homem com sérios problemas de respeito com o sexo feminino – e muitas vezes, com o masculino também – e com os limites do que seria uma prática sexual saudável. E saudável, aqui, é para ser interpretado num sentido bem amplo. O cara era tão doente, tão doente, que criaram uma palavra para ele: sadismo. A combinação de suas preferências sexuais com opiniões políticas extremas renderam ao marquês diversos encarceramentos, somando vinte e três anos de prisão. No tempo livre entre revoluções políticas, escândalos sociais e práticas sexuais bizarras, Donatien escrevia. E bem. Uma das citações que mais gosto do marquês é uma provocação a Sêneca: “tudo é bom quando é excessivo”. Mas vamos admitir aqui que nem tudo […]

Glenmorangie Quinta Ruban

Às vezes fico pensando sobre invenções e descobertas improváveis. Uma das que mais me fascina é o sabonete. Em algum lugar da história, um fenício achou que seria uma ideia razoável ferver cinzas de madeira com banha de cabra. Sério – o cara ferveu banha de um caprino e resolveu que aquilo seria um produto apropriado para limpar o chão da casa dele. Ou pior ainda, o próprio corpo. Ele era absolutamente desajustado. E genial. Tudo bem, o fogo foi uma descoberta incrível. O primeiro hominídeo que resolveu bater duas pedras, ou esfregar um graveto no outro era um cara iluminado. Ou estava terrivelmente entediado, porque não vejo nenhuma boa razão para passar horas batendo uma pedra na outra. Mas convenhamos, o fogo mal se compara à bizarra ideia do sabonete. Outro aspecto destas descobertas que me intriga, principalmente no ramo “gastronômico”, por assim dizer, é a experimentação. Como saber se determinado alimento era gostoso ou não era? Ou pior, se seria venenoso? Você já alguma vez pensou na quantidade de gente que morreu tentando, sei lá, comer uma mamona ou uma perereca?  A verdade é que essa questão da experimentação é uma das características que mais nos define como […]

Como degustar seu whisky (em 5 passos)

Como você deve saber – ou não – o nome deste humilde blog vem de uma frase atribuída ao compositor, poeta, letrista, cantor e apreciador das boas coisas da vida, Vinícius de Moraes: “o whisky é o melhor amigo do homem. É o cachorro engarrafado”. Excelente. Aliás, o mundo do whisky está cheio de frases de grandes nomes, como Bernard Shaw, Humphrey Bogart e Alexander Fleming – o descobridor da penicilina, não o criador de James Bond. Esse é o Ian Fleming. Ainda que é bem provável que este último também tenha dito algo inteligente sobre a bebida. Uma das minhas frases preferidas é de Churchill: “água não foi feita para ser bebida. Para que seja palatável, é necessário adicionar whisky. Em esforço consciente, aprendi a gostar dela” – o que nos leva finalmente ao tema deste texto de estréia: como degustar whisky. O itálico aqui é importante. Beber, você bebe como quiser – pode chuchar gelo, encher até o topo com agua de coco ou Red Bull – afinal, o whisky é seu, e você é livre. A chave aqui é a palavra “degustar”. O verbete “Degustar” é normalmente muito utilizado para tornar algo simples incrivelmente complicado. Ou para cobrar um […]