Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish

Esses dias estava lendo sobre o AVE Mizar. Uma invenção ridícula, que entrou nos anais da história como como o famoso Pinto voador que matou seu inventor. O Mizar – assim como a rima cretina aliada ao trocadilho ridículo – era a prova de que a soma entre duas coisas ruins sempre resulta em algo muito pior. A ideia já era risível desde o começo. Um carro alado, resultado da fusão entre a estrutura de voo de um Cessna Skymaster e um Ford Pinto, um carro medíocre mesmo sem um par de asas. Seu inventor, Henry Smolinski, sonhava que quando o produto decolasse – figurativamente falando – todos pudessem ter seu automóvel voador. Tanto é que ele, ao se referir à invenção, dizia de uma forma indesculpavelmente misógina “até uma mulher vai poder combinar, ou separar, os dois sistemas sem qualquer ajuda”. Por sorte, o projeto morreu com seu inventor. Durante um voo de teste pilotado pelo próprio Smolinski, uma das asas se soltou do carro, que despencou dos céus e ainda explodiu sobre um caminhão. Mas mesmo se o voo tivesse dado certo, todo o resto estava completamente errado. O Mizar foi uma das experiências mais malsucedidas da aviação. […]

Algo Familiar – Singleton of Glen Ord 12 anos

Quando eu estava na quinta série, tive dois coleguinhas de classe que eram gêmeos idênticos. Não apenas geneticamente. Mas visualmente também. Eles tinham o mesmo corte de cabelo e mais ou menos o mesmo peso. Além disso, a mãe deles – que provavelmente se empenhava em criar um sério problema de identidade nos filhos – os vestia da mesma forma. Mas a parte mais louca eram seus nomes.  Luís Alberto e Luiz Antônio. Um dia, conversando com um deles – eu não arriscaria dizer qual Luís – soube que eles eram os primogênitos de uma família de cinco irmãos. Além dos dois, havia o Luís Carlos e o Luís Paulo. E havia também o André, que não era Luís. Eu não entendia aquilo e nem eles,  afinal, depois de quatro Luíses, por que parar agora? E eu fiquei pensando na confusão que era a casa deles. Quando alguém ligasse procurando pelo Luís, ou quando chegasse uma carta com apenas o primeiro nome e sobrenome. Devia ser um caos para todo mundo. Para todo mundo menos o André, claro, que não era Luís. Aliás, será que o André não se sentia excluído, por não ser Luís? Lembrei dessa história há algumas […]

Drops – Johnnie Walker 10 anos Rye Cask Finish

Esta é a última prova de uma série de três whiskies com finalizações pouco ortodoxas. Os dois primeiros foram o Jameson Caskmates Stout Edition e o Glenfiddich IPA Cask. E enquanto estes dois se baseiam no universo da cerveja artesanal – razão pela qual este Cão resolveu degustá-los no Empório Alto dos Pinheiros – o Johnnie Walker Rye Cask Finish se inspira no mundo da coquetelaria. O Rye Cask Finish é o primeiro de uma linha de blended whiskies que serão lançados pela Johnnie Walker com finalizações diferentes – a série Select Casks. Caso você não esteja familiarizado com o conceito de finalização – uma ideia absurdamente obvia e genial ao mesmo tempo – o Cão explica. É uma técnica que consiste em pegar um whisky que já tenha sido maturado em certa barrica (de bourbon, por exemplo) e transferi-lo para uma barrica que foi usada para uma bebida diferente (vinho do Porto, por exemplo). O uso da segunda barrica adiciona certos sabores e aromas à bebida, complementando as características emprestadas pela primeira. O Johnnie Walker Rye Cask Finish é um lançamento corajoso. Ele é, provavelmente, o primeiro Johnnie Walker que utiliza a técnica de finalização. Sua maturação ocorre em barricas de carvalho americano de ex-bourbon […]

A Catedral do Whisky – uma visita à maior coleção da América Latina

  Às vezes grandes descobertas estão mais próximas do que imaginamos. Tão próximas como, por exemplo, o jardim de casa. A internet está cheia de casos sobre objetos curiosos que teriam sido desenterrados de onde eles menos poderiam estar. Uma das minhas histórias preferidas é a de duas crianças, que em 1978 decidiram que iriam – à revelia de sua mãe – cavar alguns buracos no jardim. E aquilo poderia ter terminado em apenas uma bronca bem dada, se a dupla não tivesse encontrado uma Ferrari Dino 246 GT enterrada logo ali. O carro, que hoje vale aproximadamente trezentos mil dólares, teria sido sepultado lá por ladrões que, por algum motivo, jamais voltaram para reavê-lo. Outra história curiosa é de um homem, que talvez por tédio, talvez por ser esquisito mesmo, resolveu que percorreria seu jardim com um detector de metais. E graças a essa atividade completamente aleatória, ele acabou encontrando uma pepita de ouro de aproximadamente três quilos e meio. Aquele perdigoto de metal precioso foi mais tarde leiloado por quatrocentos e sessenta mil dólares. E eu, apesar de nunca ter encontrado nada enterrado em meu jardim – em parte porque moro em apartamento – me senti como se […]

O Cão Viajante – Whiskies para comprar no Duty Free

Sabe, eu adoro viajar. Conhecer lugares novos, cenários e culturas é uma coisa fantástica.  Cada viagem tem seus pontos fortes, seus charmes. Talvez sejam as ruas de uma bela cidade, as ruínas de uma antiga catedral ou mesmo a praia de areia fininha daquela ilha paradisíaca. Ah, e a gastronomia. Para um Cão como eu, que é absolutamente fascinado por tudo que pode ser deglutido, experimentar novos temperos é uma das melhores experiências do mundo. Tudo sobre viajar é ótimo. Exceto, claro, a parte de chegar ao seu destino. Voar é um saco. Só para esclarecer, não é que eu tenha medo de aviões. Eu não tenho. Não tenho qualquer temor que o avião entre em estol e se arrebente no chão, nem que exploda porque havia alguma rachadura microscópica na fuselagem, muito menos que algum terrorista resolva tomar conta da cabine usando aqueles talheres ridículos de plástico. O que me incomoda mesmo é o voo. Do ponto A ao ponto B, há horas de desconforto, câimbra e uma intimidade nem sempre desejada com o passageiro do lado. Isso sem falar no ar-condicionado. Todo tipo de moléstia – e odor corporal – transmissível pelo ar circula livremente. E esse mesmo ar […]

Drops – Talisker Port Ruighe

Você gosta de vinho do porto? E de whiskies defumados? Bem, se a resposta for afirmativa para as duas perguntas, provavelmente você se tornará apaixonado pelo Talisker Port Ruighe. Lançado em 2013 como uma das novas expressões do portfólio permanente da destilaria Talisker, o Port Ruighe é maturado em uma combinação de barricas que antes contiveram bourbon whisky e vinho jerez e finalizado em pipas (isso é um tipo de barril) que antes envelheceram vinho do porto. Daí o nome espertinho, que remete tanto ao vinho fortificado português quanto ao antigo porto comercial da ilha de Skye – Port Ruighe, atualmente denominado Portree – onde a Talisker se localiza. Aliás, falando nisso, Skye é um dos mais belos cenários de toda a Escócia. A ilha, considerada como a maior extensão de terra das Hébridas Internas, possui uma geografia dramática. Há grandes barrancos à beira do oceano e grandes picos rochosos, entremeados por campos verdes e montanhas. Não é a toa que Skye é considerado um dos mais desejados destinos de lua de mel para os escoceses que não querem sair de sua terra natal. Talvez por conta do cenário paradisíaco, ou talvez por ser um dos single malts mais conhecidos da Escócia, a […]

Do Zênite – Johnnie Walker Blue Label

  O desejo é uma coisa interessante. Porque, na maioria das vezes, a satisfação é nada além de efêmera. Para mim, isso vale para quase tudo na vida. Um livro concluído, um prato experimentado, uma música descoberta. Mas quando pensamos em bens materiais, a coisa fica ainda mais estranha. Porque, curiosamente, as maiorias das coisas que desejo absurdamente são, na verdade, versões diferentes daquelas que já tenho. Por exemplo, eu tenho uma coqueteleira. Mas adoraria um Cardington Shaker do Cocktail Kingdom Reseve. Tenho também uma televisão. Mas uma SmartTV 4K não seria nada mau. Eu tenho um carro, mas ficaria bem mais feliz com um Maserati Quattroporte ou um Aston Martin Vanquish. E ainda que a razão me diga que qualquer destas coisas não faria a menor diferença – porque eu continuaria chacoalhando meus coquetéis do mesmo jeito, assistindo a mesma Galinha Pintadinha com a Cãzinha, e preso no mesmo engarrafamento – esta força schopenhauriana que sempre me faz desejar mais é implacável. Isso, fatalmente, se reflete nos whiskies. E na aurora de meu interesse, o Johnnie Walker Blue Label ocupava espaço de destaque. Aquele, imaginava, era o blended whisky mais caro da mais famosa linha de blended whiskies do […]

Da Atemporalidade – Johnnie Walker Green Label

Trinta de julho de dois mil e três foi um dia triste para os amantes de automóveis. Naquela data, enquanto lágrimas deslizavam de uma forma desnecessariamente dramática sobre as maçãs do rosto de milhares de espectadores, o último Fusca a ser fabricado no mundo também deslizava, ovacionado, para fora da linha de montagem da Volkswagen, em Puebla, no México. Concebido pelo engenheiro Joseph Ganz e desenvolvido por Ferdinand Porsche, o Fusca foi detalhadamente pensado para ser a materialização da praticidade sobre rodas. Todas as suas partes eram facilmente substituíveis e pouco custosas. O motor – refrigerado a ar, para evitar que o conteúdo do radiador congelasse no inverno – era forte o suficiente para cruzar as Autobahns sem esforço. Conhecido internacionalmente como Volkswagen Type 1 ou Volkswagen Beetle, o Fusca tornou-se, em 1972, o automóvel mais vendido da história. Vinte e um milhões, quinhentos e vinte e nove mil, quatrocentos e sessenta e quatro foram fabricados. Seu sucesso era absoluto. Tão absoluto que anos antes de ser descontinuado, já havia um modelo novo em produção, na Alemanha. Era o New Beetle. Mas, ao contrário de seu predecessor, o New Beetle era um objeto de desejo preconcebido. Com desenho retrô, curvas […]

O Cão Exclusivo – Johnnie Walker Odyssey

Essa semana marquei de encontrar um velho amigo em um bar. Acontece que o trânsito e o trabalho atrapalharam, e eu atrasei bastante. Chegando lá, o encontrei jogando paciência em uma das mesas na calçada. Ao invés de me cumprimentar, entretanto, ele simplesmente apertou minha mão e disse, com olhar vidrado nas cartas “Estava aqui pensando. A vida é como um jogo de paciência”. Notando que eu havia interpretado sua frase como uma provocação por meu atraso, ele se sentiu obrigado a elaborar. Mas é. Não tem nada a ver com esperar. É que a possibilidade de você vencer ou perder uma partida depende, principalmente, da sua mão. Não é uma questão de técnica, ainda que a técnica ajude um pouco.  Mas mesmo com todo talento do mundo, às vezes é praticamente impossível vencer, por conta da ordem em que as cartas foram embaralhadas. É como a vida. Percebendo que eu ainda aparentava levemente insultado e, além disso, não inteiramente satisfeito com aquela filosofia, ele continuou. Não é como, por exemplo, damas. Se, ao invés de paciência, estivéssemos os dois jogando damas, o mais talentoso – ou o mais experiente – venceria – disse ele. E continuou – Damas não […]

O Cão Maduro – Johnnie Walker Platinum Label

Ernst Hemingway, dentro da miríade de célebres e sábias frases, em uma carta a Ivan Kashkin, escreveu “Quando se trabalha o dia todo com sua cabeça, e tem-se a certeza que se trabalhará também no dia seguinte, o que mais poderia transmutar suas ideias e fazê-las funcionar em um plano diferente, como whisky? (…) A vida moderna, também, é geralmente uma opressão mecânica, e o álcool é o único alívio mecânico” Eu arriscaria, dentro de minha humildade, complementar a peça de sabedora de Hemingway. Eu diria que o cinema, a literatura e a música são como o whisky. Alívios eficazes, ainda que não tão mecânicos. Um bom filme, um grande livro, ou até uma bela canção têm o poder de nos colocar em uma rotação diferente daquela rotineira, despindo e transformando nossas ideias. São como peças coincidentemente complementares, cunhadas a quilômetros de distância, mas que, estranhamente, se encaixam perfeitamente. Sabendo disso, tento ler e ver filmes o máximo que posso. Tenho vontade de ver uma centena deles. Mas por algum motivo que foge à minha razão, há aqueles que sempre deixo para depois. Talvez por falta de tempo, ou talvez porque sinta que aquela película específica deveria ser assistida em […]