Churchill Cocktail – Aquela Friday

Acabei de sobreviver a mais uma Black Friday incólume. Não comprei (quase) nada. Apesar da tentação de adquirir mais um whisky pela metade do dobro do preço, permaneci resiliente. Acontece que as coisas que eu mais preciso não entram na Black friday. Black Friday Condomínio, pague hoje com 70% de desconto. Ninguém faz isso. Almejo o dia que receberei um e-mail da escola dos cãozinhos, declarando que tenho 70% de desconto na mensalidade por conta da Black Friday. Para falar a verdade, não fui totalmente sincero. Comprei sim, duas garrafas. Não de whisky, mas triple sec – mais especificamente, Cointreau Noir. Eu nem precisava, porque tinha acabado de comprar outra, seis dias antes, por ter olvidado da oportunidade dada pela sexta-feira seguinte. Mas estava com desconto – não o suficiente para justificar minha decisão impulsiva – e, na hora, me pareceu uma boa ideia. Mesmo porque me sentia muito mal de não ter aproveitado qualquer outra oferta. Um pouco arrependido por ter cedido ao impulso e comprado três garrafas de um negócio que dura meia vida em casa, resolvi procurar drinks que usassem triple sec. E me deparei com uma excelente matéria no Liquor.com sobre o Churchill, um coquetel clássico […]

Royal Lochnagar – Herói Anonimo

26 de Setembro de 1983 foi uma data histórica para o iatismo. Depois de cento e trinta e dois anos de hegemonia dos Estados Unidos no America’s Cup, uma equipe Australiana finalmente gannhara a competição. Foi uma vitória gloriosa – mas, nem de longe, o acontecimento mais importante do dia. Este ocorreu algumas horas depois, do outro lado do Atlântico, no centro de comando Serpukhov-15, Rússia. Ele foi protagonizado por um tenente-coronel chamado Stanislav Petrov. Petrov trabalhava como analista de sistemas e especialista em alerta precoce. Seu – tedioso – trabalho era monitorar o lançamento de misseis balísticos intercontinentais pelos Estados Unidos que pudessem ser direcionados à USSR. Se detectasse algum míssil, deveria alertar seus superiores, que seriam responsáveis por retaliar com centenas de ogivas nucleares, desencadeando a terceira guerra mundial. Que desembocaria no fim da humanidade. E, posteriormente, numa versão realista de Fallout, sem pseudo-zumbis e axolotes gigantes. Naquele dia – ou melhor, no meio da noite – os computadores monitorados por Petrov identificaram cinco mísseis nucleares americanos, que voavam em direção a Moscou. Incrédulo, o tenente-coronel resolveu quebrar o protocolo, e não avisou ninguém. Os cinco minutos seguintes foram de agonia. Mais quatro alertas surgiram. Mesmo assim, Stan […]

5 Lançamentos de whisky no Brasil (um mal começou!)

A fortuna favorece os audazes, teria escrito Virgílio. Só quem arrisca ir longe demais descobre até onde pode chegar, completaria T.S. Eliot. Destemido foi aquele que primeiro comeu uma ostra, arremataria Jonathan Swift. Com tanta gente importante dando conselhos motivacionais, duvido que o leitor não se sinta compelido a tentar algo novo. E por algo novo, não quero dizer nada imprudente. Mantenha seus documentos bem guardados, evite dar – e receber – cadeiradas, e sempre olhe para os dois lados antes de atravessar a rua. Consuma seu espírito de aventura provando um whisky diferente, por exemplo. Para o mercado brasileiro, os últimos meses foram bastante prolíficos, em lançamentos. Tivemos o primeiro bourbon maturado em barris de vinho; um whisky japonês raríssimo; um blend inovador, dentre outros. Essa lista reúne alguns destes lançamentos, para que você, querido leitor, possa extinguir o décimo terceiro que nem recebeu. Viva perigosamente. Glenmorangie 18 Infinita Por muito tempo, a Glenmorangie apostou em sua linha básica no Brasil. 10 anos, e mais três whiskies com finalizações diversas. Atualmente, o portfólio foi expandido, com a adição do Glenmorangie 18 The Inifnita. É o mesmo líquido do antigo 18 Extremely Rare, mas com uma roupagem mais coerente com […]

Halloween Whiskies – Travessuras

Eu poderia começar este post declarando minha indiferença pelo Halloween. Argumentar que é uma festa que pouco tem a ver com nossa cultura, e evocar algum colonalismo psicológico que temos. Mas, não vou fazer isso, porque todo mundo faz. Não tem novidade, é bem chato. E tenho pouca fé no poder reformador da palavra. Ainda mais quando escrita em um site sobre whisky. Então, vou falar de uma pequena fração da festa pagã – doces ou travessuras. Ninguem sabe de onde veio essa história de doces ou travessuras – trick or treat, no original. Mas há algumas teorias. Uma delas diz que durante Samhain (o ano novo celta), as pessoas deixavam comida do lado de fora de casa, para agradar aos espíritos que perambulavam pela terra à noite. Não teria demorado muito até que alguém começasse a se vestir de espírito, pra garantir uma boca livre. Outra especulação vem da idade média. Crianças e adultos com poucos recursos recolhiam alimentos durante o Dia de Todas as Almas, em troca da terceirização da fé. Ou seja, rezar pelos mortos de quem lhes doasse os alimentos. Afinal, rezar não é atividade fim, e tá liberado ceder para a iniciativa privada. Ao longo […]

Royal Salute Miami Polo Edition – Jardinagem

Quando eu tinha uns treze anos, viajei com meus pais para Miami. E eu adoraria dizer que lembro-me de descer Miami Beach numa Ferrari Daytona preta, à la Miami Vice, ouvindo a música do Will Smith ou do LMFAO, enquanto apreciava a bela arquitetura Art-Decô das boates daquela praia. Mas eu não fiz nada disso. O que eu fiz foi falar portunhol com todo mundo – ainda que tentasse antes o inglês – e comer horrores. Lembro-me também de passar horas entediado, ao lado do meu pai, em alguma Wallgreens, enquanto minha mãe se regojizava entre os milhares de cremes e maquiagens. Então, não vou falar da minha fastidiosa viagem. Mas vou falar de uma coisa que todo mundo gosta em Miami – e em todo lugar, pra falar a verdade. Ficar pelado. Aliás, vi uma matéria recente no Miami Herald que a cidade foi nomeada a Capital da Jardinagem Nua da América. A honra foi concedida pelo site LawnStarter, especializado no cultivo de plantas. O prêmio decorreu de uma extensa pesquisa em mais de cem cidades, capitaneada pelo portal. E descobriu-se que os habitantes da maior capital brasileira fora do Brasil amam utilizar grandes tesouras de jardinagem ao lado […]

Glenmorangie 16 The Nectar – Maçãs e Laranjas

Hoje vou convidá-lo a um exercício diferente, mas interessantíssimo. Pule até a imagem dos sucos abaixo, e tente encontrar ao menos uma maçã em cada um dos rótulos. Alguns são bem fáceis. Outros, uma verdadeira obra de arte em forma de marketing. É que boa parte deles contém maçã, mesmo sendo de outra coisa completamente diferente, como uva e laranja. A maçã funciona como um agente natural de dulçor, e também reduz o custo de produção da bebida. Quando isso acontece, as produtoras devem, por lei, incluir a imagem de uma maçã. Para, discutivelmente, mostrar ao consumidor que o suco contém mais de uma fruta. A regra, entretanto, nao especifica muito como. Então, as marcas encontraram formas – as vezes maravilhosamente ardilosas – de atender à obrigação. Volte à imagem do peixinho abaixo e preste atenção às barbatanas. Nem se Van Gogh, Brueghel e Manet se juntassem, fariam uma natureza morta deste nível. Mas, às vezes, o que não está no rótulo é tão importante quanto o que está. É o caso do – mais ou menos – novo The Glenmorangie 16 The Nectar. Previamente denominado Nectar D’Or, e sem idade declarada, o whisky maturava em barricas de carvalho americano, […]

The Macallan Night On Earth – Tempestividade

Tento acessar o painel de controle do Cão Engarrafado, mas não me lembro a senha. Chuto uma, qualquer. Não foi. Tento outra, também sem sucesso. Na terceira, o navegador leva mais tempo para me dar uma negativa, e enche meu coração de esperança. Precisamos confirmar que você é humano – escolha todas as fotos que têm escadas. Entro em pânico. Sei lá se é um negócio de atenção, ou de pura tensão. Mas o desafio já me deixa desconcertado. Calma. Isso aí na foto é um navio. Tem escada dentro do navio não? Mesma coisa com aqueles semáforos com cronômetro. Prefiro a ignorância ao conhecimento. Saber quanto tempo eu tenho para cruzar a próxima rua me faz acelerar, não ser mais prudente. É por isso que os seres humanos não podem saber quando exatamente irão morrer – seriam divididos entre os que aceleram e os que permanecem inertes. Pensando aqui, semáforos inteligentes são uma ótima parábola existencialista. E tem o pior de todos, o token do banco. Quarenta e cinco segundos para escrever quatro dígitos não é o suficiente. Não sob a flagrante ameaça de ter o acesso à minha conta bloqueado. Sem pressão, faço cinquenta cliques em um minuto. Sem nem olhar para […]

Macallan Classic Cut – Elegância Violenta

Esta matéria foi originalmente publicada em 04 de Setembro de 2018. Em vista de sua chegada ao Brasil, a matéria foi atualizada em 23 de maio de 2024, com a nova edição. Fígado, favas e um bom chianti. Ou um grande amarone, se você preferir a versão literária à película. Literatura clássica, em especial a Divina Comédia de Dante. As Variações Goldberg de Johann Sebastian Bach. A belíssima cidade italiana de Florença. Parecem gostos de uma pessoa de sofisticação e cultura extraordinárias. E, na verdade, são mesmo. Incrivelmente, estes também são os interesses de um dos mais famosos vilões da ficção. O psiquiatra Hannibal Lecter, que aparece em obras como Dragão Vermelho e O Silêncio dos Inocentes. Lecter seria um cavalheiro quase perfeito, não fosse um pequeno detalhe. Ou melhor, um único gosto, que não tem nenhuma sofisticação. Hannibal gosta de comer gente. Gastronomicamente falando. Aliás, o sucesso de seu personagem, na opinião deste canídeo, está justamente aí. No equilíbrio entre a erudição e a mais gráfica e selvagem violência. Entre a polidez e a agressividade. Hannibal é Jekyll e Hyde, com o bônus do canibalismo. Em um mesmo personagem estão características aparentemente antagônicas, mas que se complementam lindamente. Se […]

Aberlour 12 anos – Memória

Chamo o Uber e corro para pegar minha carteira no quarto, antes de descer. Aperto os dentes de frustação ao ver que ela não está lá. Sempre coloco numa caixinha, perto da mesa. Pode ser que tenha deixado do lado do computador, na sala. Não, lá não está também. O Uber chegou, e eu aqui em cima ainda, procurando essa carteira. Será que ficou no carro desde ontem? Não, porque à noite comprei umas tralhas na Aliexpress, e usei o cartão. O que, aliás, indica que ela devia estar perto do notebook. Aumento minha busca em locais menos óbvios – dentro do armário, no banheiro, na cozinha. Nada. Cancelo o uber e dou um soco na própria perna, de desapontamento. Memória é uma desgraça, mesmo. Uma vez li um estudo que dizia que nossa memória é pouquíssimo confiável, porque a gente tende a criar encadeamentos coerentes para acontecimentos pontuais. Quer dizer, você se lembra de partes de algo que aconteceu, e seu cérebro completa as lacunas entre os pontos, como um preenchimento regenerativo de inteligência artificial. Ou melhor, natural. O que significa que às vezes você lembra de coisas que não aconteceram de verdade, só porque elas deveriam ter acontecido, […]

No dia do Whisky, quatro whiskies para diferentes gostos

Eu sou péssimo com datas comemorativas. No último dia das mães, por exemplo, só lembrei da efeméride na véspera. Minto. Fui alertado que o dia aconteceria com antecedência de três semanas – minha própria mãe me avisou, talvez na vã esperança de que eu programasse algo. Mas, como meu horizonte de planejamento não é nem de dez dias, deixei para depois. Aí fui surpreendido pela chegada do evento. A reação de minha progenitora, porém, foi ainda mais surpeendente. É, não esperava nada menos de você. O menos pegou. O que é menos do que nada? – pensei. Mães sabem cutucar. Dia dos namorados é assim também. No ano passado, descobri que acordara no dia 12 de Junho lá pela hora do almoço, ao me deparar com o sistema de reservas do bar lotado. Sob o olhar reprovador da Cã, comprei guanciale, e preparei um carbonara em casa – que mesmo que fosse o melhor mundo, ainda teria sabor de derrota. Talvez uma sessão de terapia revelasse algo que não sei. Mas, numa perigosa autoanálise, acho que esse meu relaxo com efemérides tem a ver com um certo ódio por elas. Eu não preciso de uma data para demonstrar meu apreço […]