Do Eterno Retorno – Chivas Regal 18 anos

Quinta-feira cheguei em casa mais tarde. A querida Cã já havia jantado, e estava deitada na varanda, completamente absorvida por alguma leitura. Aproximei-me e tentei introduzir algum assunto prosaico, ao que ela me respondeu apenas com grunhidos, sem descolar os olhos do livro. Aí resolvi perguntar o que estava lendo. E ela, por duas horas, discorreu sobre a teoria do Eterno Retorno de Nietzsche, combinada com a do multiuniverso. O que, basicamente, minha melhor metade me explicou, traduzido para uma linguagem de boteco, é o seguinte. Segundo a teoria do multiuniverso, não há apenas um universo. Mas infinitos universos paralelos. Haverá universos paralelos absolutamente idênticos. Outros drasticamente diferentes. E alguns, apenas um pouco divergentes daquele em que vivemos. Soma-se a isso o Eterno Retorno, que ensina que, dentro de um leque virtualmente infinito de possibilidades, mesmo o evento mais insólito e improvável se repetirá infinitamente. Neste universo. E também em outros. Difícil? Então deixe-me ilustrar. Por exemplo, em certo universo paralelo, você está vivendo este mesmo sábado, tomando café e lendo este blog. Em outro, talvez não seja café sua bebida, mas whisky. E em outro talvez você esteja ainda lendo este texto, mas flutuando sentado em uma cadeira antigravitacional, […]

Especial Jameson Bartenders Ball – Irish Pleasure

Este é o segundo post de uma série de receitas dos coquetéis provados durante o Jameson Bartenders Ball Bar Crawl, que, a convite da Jameson Irish Whiskey, tivemos o prazer de participar. O primeiro foi o Barrel Cocktail, de Vinícius Gomes. O Coquetel desta semana é o Irish Pleasure, criado pelo bartender Jean Dall Acqua, do restaurante Bossa. O Irish pleasure é um coquetel predominantemente cítrico, à moda de um whisky sour, mas com sabores secundários de nozes e especiarias. A ideia de Jean foi criar um drink com cara brasileira, mas que preservasse o toque irlandês do Jameson Irish Whiskey. Segundo Dall Acqua, “Para criar este coquetel fui pego de surpresa, somente dois dias antes de apresentar o drink, fui avisado sobre o Campeonato da Jameson. (…) basicamente todos os ingredientes eu já tinha em meu local de trabalho, exceto o mel que é temperado com pimenta, tabasco e vinagre de maçã. Acabei achando esse ingrediente em nossa cozinha. (usado no prato Medalha de Tapioca –  uma entrada em nosso restaurante)” Jean diz que, ao provar o mel temperado, notou que era perfeito para o coquetel. O ingrediente era, ao mesmo tempo, cítrico, adocicado e apimentado. Para aguçar o […]

Drops – Talisker Dark Storm

Você sabia que não é só o processo de secagem da cevada maltada utilizando turfa que contribui para o sabor defumado e turfado de alguns whiskies? Pois é. Outro fator que aumenta a impressão de fumaça dos whiskies defumados é a tosta ou torra da barrica. Barricas altamente torradas (existe uma diferença aqui entre torra e tosta) costumam empresar ao whisky que lá maturou notas de fumaça e bacon. É o caso, por exemplo, do Talisker Dark Storm. O Dark Storm é um single malt sem idade definida, produzido pela destilaria Talisker, a única da ilha de Skye. Seu destilado é levemente turfado, mesmo antes de entrar no barril. Mas o que realmente contribui para o sabor defumado, no caso deste whisky, é a maturação em barricas torradas. O sabor emprestado pelas barricas tostadas é levemente diferente daquele proveniente da secagem do malte. As barricas trazem também um sabor residual de caramelo queimado, ou calda de açúcar. A Talisker é a única destilaria localizada na belíssima ilha de Skye, ao noroeste da Escócia. A ilha é famosa por suas paisagens bucólicas e, muitas vezes, é palco de casamentos e luas-de-mel dos escoceses. Atualmente, a destilaria pertence à Diageo, o mesmo grupo […]

Drink do Cão – Wood Aged Boulevardier

Quando fiz quatorze anos resolvi que tocaria um instrumento. Minha escolha foi tão improvável quanto infeliz. Escolhi o violoncelo. Até hoje os motivos que me fizeram tomar esta decisão desafiam minha lógica. Porque é difícil demais. Tocar violoncelo foi provavelmente a coisa mais difícil que eu me propus a fazer durante minha vida inteira. Violoncelo exige disciplina, tempo e estudo. E o meu eu recém púbere não atendia nenhum destes prerrequisitos. Eu era indisciplinado, preguiçoso e preferia ocupar meu tempo com todo tipo de futilidade efêmera. Além de que minha coordenação sempre foi comparável àquela de um canhoto bêbado escrevendo com a mão direita. Por essa razão, nunca fui um bom violoncelista. Depois de muitos anos, o máximo que consegui foi, orgulhosamente, executar de uma forma porca o primeiro movimento do concerto de Elgar. Mas minha versão da peça do compositor clássico inglês mais se assemelhava a uma briga entre um serrote e um pterodátilo. Um pterodátilo com olhos de laser. Pablo Casals, no entanto, foi um dos maiores mestres do violoncelo de todos os tempos. Suas execuções, mesmo das peças mais difíceis do repertório erudito eram absolutamente irretocáveis. E apesar de já ter atingido a perfeição há muito tempo, […]

Especial Jameson Bartenders Ball – Barrel Cocktail

Este é o primeiro de uma série de três posts, com as receitas dos coquetéis que provamos durante o Jameson Bartenders Ball Pub Crawl. Porque falta de tempo – ou preguiça – não deve ser um empecilho para se beber bem. E experimentar coisas novas, claro. Se você perdeu o post introdutório sobre o Jameson Bartenders Ball, confira aqui. Durante o evento, tivemos a oportunidade de conhecer Vinicius Gomes, chefe de bar do Riviera, e criador do coquetel Barrel Cocktail, que participa da competição organizada pela Jameson. O Barrel Cocktail é um drink predominantemente seco, com amargor e cítrico pronunciado. Há um dulçor que surge somente no final. É um coquetel com complexidade e sabor forte, mas que preserva o sabor de sua base – o Jameson Irish Whiskey. Vinícius, com oito anos de experiência atrás do balcão e passagem pelo Beato e Paradiso Bar e Cucina, preparou a rodada de coquetéis que foram servidos com a mesma naturalidade que nos explicou o conceito por trás de sua criação. Aliás, fez as duas coisas ao mesmo tempo. Sem gaguejar. E – mais importante de tudo – sem derramar nada. Segundo Vinicius, o desenvolvimento do coquetel busca responder duas questões básicas […]

Drops – Kavalan Sherry Oak

O whisky dessa semana vem de um lugar improvável. Da ilha de Taiwan. É isso mesmo. Além do seu notebook, do seu celular e, muito provavelmente, o seu roteador, Taiwan também produz whisky. E bom. Este é o single malt Kavalan Sherry Oak, produzido pela King Car Distillery. O Sherry Oak é maturado exclusivamente em barricas de ex-jerez Oloroso. Além disso, não sofre qualquer processo de filtragem a frio nem adição de corante caramelo. Apesar de não ter idade definida, o Sherry Oak – assim como os demais whiskies da King Car – é maturado nos armazéns da própria destilaria. O clima subtropical de Taiwan contribui muito para o processo de maturação. Há menos evaporação, e por conta da variação térmica, a maturação ocorre mais rápido do que em climas mais frios. A destilaria foi fundada em 2005 por um destemido senhor chamado Tien-Tsai Lee. De lá pra cá, seus whiskies tem recebido inúmeros prêmios em competições internacionais importantes, como a WWA. O Cão Engarrafado já fez a prova de uma das mais famosas expressões da marca. O Kavalan Solist Vinho Barrique.

O Cão Exclusivo – Johnnie Walker Odyssey

Essa semana marquei de encontrar um velho amigo em um bar. Acontece que o trânsito e o trabalho atrapalharam, e eu atrasei bastante. Chegando lá, o encontrei jogando paciência em uma das mesas na calçada. Ao invés de me cumprimentar, entretanto, ele simplesmente apertou minha mão e disse, com olhar vidrado nas cartas “Estava aqui pensando. A vida é como um jogo de paciência”. Notando que eu havia interpretado sua frase como uma provocação por meu atraso, ele se sentiu obrigado a elaborar. Mas é. Não tem nada a ver com esperar. É que a possibilidade de você vencer ou perder uma partida depende, principalmente, da sua mão. Não é uma questão de técnica, ainda que a técnica ajude um pouco.  Mas mesmo com todo talento do mundo, às vezes é praticamente impossível vencer, por conta da ordem em que as cartas foram embaralhadas. É como a vida. Percebendo que eu ainda aparentava levemente insultado e, além disso, não inteiramente satisfeito com aquela filosofia, ele continuou. Não é como, por exemplo, damas. Se, ao invés de paciência, estivéssemos os dois jogando damas, o mais talentoso – ou o mais experiente – venceria – disse ele. E continuou – Damas não […]

Drops – Aberlour A’Bunadh

Aí vai um whisky para quem gosta de emoções fortes. Este é o Aberlour A’Bunadh. Ele é produzido em pequenos lotes anuais, não sofre qualquer diluição e não passa por filtragem a frio.A maturação ocorre exclusivamente em barricas de carvalho europeu que antes continham vinho jerez. Isso o torna um whisky extremamente oleoso, de sabor frutado e especiarias. Como ele não é diluído (Cask Strength), a graduação alcoólica varia de lote para lote. Varia, aliás, de altíssima para absurda. A garrafa deitada na foto é de lote 50, com 59,6% de álcool. Já a garrafa em pé tem uma história interessante. Seu nome é A’Bunadh Sterling Silver Label. É uma edição especial, lançada em 1999, limitada a apenas 2.000 garrafas. O nome faz alusão a seu rótulo, que é feito de prata de lei. O A’Bunadh Sterling Silver é o único da série que possui idade estampada no rótulo – 12 anos. Sua graduação alcoolica é de 58,7% A Aberlour é uma conhecida destilaria da região de Speyside. A’Bunadh é uma de suas expressões mais famosas, juntamente com seu 15 e 18 anos. Atualmente, a destilaria pertence à Pernod Ricard, o mesmo grupo que detém o controle da marca Chivas […]

Especial do Cão – Jameson Bartenders Ball Pub Crawl

Quando eu era criança, minha mãe me ensinou que eu deveria ignorar ofertas muito tentadoras. Essas que você até desconfia da veracidade, de tão incríveis que parecem. No auge da minha infância, poderia ser alguém oferecendo chocolate. Ou macarrão. Ou qualquer coisa comestível, no meu caso. Afinal, poderia ser uma pessoa tentando levar alguma vantagem. Algum mal intencionado. Ou pior, um sequestrador. Na vida adulta, são aqueles e-mails de spam. Como aquele de uma ucraniana maravilhosa oferecendo amor eterno em troca de exílio em nosso país tropical. Ou aquele bilionário da Costa do Marfim que somente poderia confiar em você para esconder sua fortuna. É como, certa feita, disse um amigo meu – queria viver em um mundo onde todo spam que recebo se torna automaticamente real. Eu seria milionário sem sair de casa, namoraria uma imigrante suíça e teria barriga tanquinho comendo sanduíche de calabresa todo dia. O único problema é que eu andaria o tempo todo curvado para frente… Assim, nada mais natural do que o estranhamento que senti ao receber um e-mail com, mais ou menos, o seguinte conteúdo: DE: JAMESON – Boa noite Cão. Gostaria de convidá-lo para participar do Jameson Pub Crawl, na próxima quinta-feira (7), a […]

O Cão Maduro – Johnnie Walker Platinum Label

Ernst Hemingway, dentro da miríade de célebres e sábias frases, em uma carta a Ivan Kashkin, escreveu “Quando se trabalha o dia todo com sua cabeça, e tem-se a certeza que se trabalhará também no dia seguinte, o que mais poderia transmutar suas ideias e fazê-las funcionar em um plano diferente, como whisky? (…) A vida moderna, também, é geralmente uma opressão mecânica, e o álcool é o único alívio mecânico” Eu arriscaria, dentro de minha humildade, complementar a peça de sabedora de Hemingway. Eu diria que o cinema, a literatura e a música são como o whisky. Alívios eficazes, ainda que não tão mecânicos. Um bom filme, um grande livro, ou até uma bela canção têm o poder de nos colocar em uma rotação diferente daquela rotineira, despindo e transformando nossas ideias. São como peças coincidentemente complementares, cunhadas a quilômetros de distância, mas que, estranhamente, se encaixam perfeitamente. Sabendo disso, tento ler e ver filmes o máximo que posso. Tenho vontade de ver uma centena deles. Mas por algum motivo que foge à minha razão, há aqueles que sempre deixo para depois. Talvez por falta de tempo, ou talvez porque sinta que aquela película específica deveria ser assistida em […]