Luxo discreto. O conceito está bem na moda, especialmente pro causa de Succession – mais uma série que eu não vi, porque esperei acabar. E quando acabou, fiquei com preguiça, por ser muito grande. Mas, existindo no planeta Terra, pude apreciar as tendências por ela lançadas. Ou melhor, evidenciadas.
É que o tal luxo discreto sempre existiu. É o conceito de muitas marcas, como Hermés, Zegna e Tom Ford. Ele diz respeito a uma espécie de luxo que não é imediatamente óbvio. Pode ser materializado em peças que parecem triviais, mas que devido a alguma característica qualitativa – material ou mão de obra – as torna especiais e caras. Não há ostentação ou extravagância. E, na maioria das vezes, exige um consumidor maduro, ou aspirante a maduro, para sua apreciação.
E não se engane. O conceito não está limitado a moda. Ele pode ser um fone de ouvido para audiófilos, de visual discreto, mas altíssima performance. Ou um relógio exclusivíssimo e super preciso, mas visualmente quase trivial. E a whisky. Algumas marcas transpiram luxo. The Macallan, Dalmore. Outros se esgueiram no território dos entusiastas. É mais ou menos este o caso do Basil Hayden, bourbon whiskey de luxo que chegou, sem muito alarde, pelas mãos da Beam-Suntory no mês passado.
O Basil Hayden Bourbon é um dos quatro bourbons que fazem parte da coleção de whiskies “Small Batch” da Jim Beam – produzidos por eles em sua destilaria de Clermont, no Kentucky. O que, em tese, singifica que são produzidos em menores quantidades e de forma mais artesanal que Jim Beam. Os outros “small batch” são Knob Creek, Baker’s e Booker’s. São whiskies mais sofisticados, voltados para o publico que já teve acesso a marcas de entrada, e quer dar um passo a mais em direção a rótulos mais sofisticados.
Dos quatro, Basil Hayden é o único que pode ser chamado de High-Rye Bourbon, uma classificação não-oficial que define bourbons que utilizam mais centeio em sua mashbill do que o usual. A receita do mosto do Basil Hayden Bourbon é de 63% milho, 27% centeio e 10% cevada maltada. O único bourbon que se aproxima desta receita em nosso mercado é o Bulleit, com 68-28-4, respectivamente. Há uma diferença sensível. O Basil Hayden usa menos milho e mais cevada. Isso o torna sensivelmente mais seco do que supramencionado frontier whiskey.
O primeiro Basil Hayden foi criado em 1992 por Booker Noe, justamente para a Small Batch Collection. O nome e o estilo high-rye têm inspiração em um pioneiro na produção de whiskey nos Estados Unidos: Meredith Basil Hayden Senior. Meredith era um fazendeiro de centeio de Maryland, Pensilvânia, que se mudou para o Kentucky em 1785, e em 1792 começou a destilar.
A história aqui é bem curiosa. Foi Meredith que liderou um grupo de vinte e cinco famílias católicas de Maryland até Bardstown, no Kentucky, durante a revolução americana. Por conta da migração, a região tornou-se rapidamente o berço de diversas marcas mundialmente famosas, como Heaven Hill e Willett. A receita de Hayden, inclusive, provavelmente foi uma das primeiras de high-rye bourbon dos Estados Unidos. Na época, a bebida mais comum era whiskey de centeio (e não bourbon) como você sabe porque já leu nossa matéria sobre a História do Rye Whiskey e Coquetelaria.
Em 1885, o neto de Meredith, Raymond B. Hayden, fundou uma destilaria comercial no condado de Nelson, e batizou seu whiskey de “Old Grand-Dad”, em homenagem a seu avô. Por conta de uma série de fusões e aquisições, a destilaria chegou às mãos da Beam-Suntory, que, em 1992, lançou o rótulo tema desta prova. O Old Grand-Dad, entretanto, permaneceu no mercado, como uma versão ainda mais premium da mesma mashbill.
Para aqueles que buscam um bourbon whiskey premium, versátil, sofisticado, e ao mesmo tempo com excelente drinkability, o Basil Hayden é perfeito. Ele é também a satisfação de uma necessidade – ou melhor, uma vontade – antiga. O acesso a whiskies americanos mais sofisticados no nosso mercado. Um verdadeiro luxo discreto.
BASIL HAYDEN BOURBON
Tipo – Kentucky Straight Bourbon
ABV – 40%
Região: N/A
País: Estados Unidos
Notas de prova
Aroma: adocicado, herbal – com hortelã e especiarias.
Sabor: adocicado e levemente apimentado. Final longo, encorpado, com álcool pouco perceptível, e notas de hortelã, cravo e canela.