Recentemente fui ver o filme Joker no cinema. Não vou entrar aqui no mérito do filme e dizer tudo aquilo que você já sabe, que o roteiro não está aos pés da atuação de Phoenix; e que essa mania de americano de explicar as coisas demais acaba tirando todo o mistério sobre um personagem que encapsula tudo que é caótico. Não vou porque você já deve ter visto o filme ou lido isso, então não vou me repetir.
Mas vou contar a história de um senhor que eu conheço, que foi no cinema sem saber que o filme era sobre o Joker do Batman. E aí, ele ficou lá na cadeira, por duas horas, assistindo a película sobre um palhaço que só se ferra. E longe de mim dar qualquer spoiler, mas essa é uma enorme ironia, ainda mais por se tratar de Joker. Porque o filme meio que subverte a lógica do cinema – ele só faz sentido porque você sabe o final. Você sabe que o Arthur Fleck vai virar o Joker, e tem uma curiosidade meio mórbida em saber como.
O filme me fez lembrar também de um aforismo, geralmente atribuído a Winston Churchill. “A história é normalmente escrita pelos vencedores“. Porque até hoje, só sabíamos da versão do Batman. Mas o Coringa é um perdedor tão distinto que sua história – seja ela qual for – merece ser contada.
E isso acontece no mundo real também. Como, por exemplo, com um homem chamado Joseph Kyle Rickey – ou simplesmente Joe Rickey, um coronel do exército confederado dos Estados Unidos, no final do século XIX. Um cara que certamente não teve muitas vitórias na vida – e nem na morte. Aliás, só teve uma, que ele nem queria – o Bourbon Rickey. Vou contar tudo pra vocês.
Antes, algumas palavras sobre o coquetel. O Bourbon Rickey. O Bourbon Rickey é um coquetel bem simples, que remonta a um higball. É, aliás, um predecessor deste drink tão em voga ultimamente. Ele leva apenas três ingredientes – club soda ou água com gás, whiskey e limão. A proporção muda de receita para receita. A receita abaixo é do bartender e consultor Marco De La Roche, e figurou em uma matéria especial escrita por ele, aqui no Cão Engarrafado. Mas, se você preferir mais diluído, é obviamente mais fácil adicionar mais água até acertar do que preparar todo um novo coquetel para reduzir o whiskey. Mas vamos ao que interessa. Joseph Rickey.
A primeira vez que Joseph Rickey foi heroicamente salvo das garras da vitória aconteceu durante a guerra civil norte americana. Ele estava do lado errado do confronto – os confederados – e perdeu. Mas Joseph era um homem resiliente e inflexível. Assim, depois do conflito, resolveu que mudaria de vida para se dedicar à política. Primeiro no Missouri, depois em Washington. A meteórica carreira de derrotas de Rickey seguiu durante essa intentada, tendo acumulado fracassos tanto estaduais quanto federais. Num deles, inclusive, perdeu um considerável valor em dinheiro, apostando num presidente que jamais fora eleito.
Para buscar conforto depois de sua dose diária de desgraça, Joe Rickey costumava frequentar um bar em Washington, chamado Shoomaker’s. E numa dessas idas, inventou – com o auxílio do bartender George Williamson – o coquetel que o imortalizaria, e que levava seu nome. Com o tempo, o Joe Rickey – o drink, não a pessoa – passou a se chamar Bourbon Rickey, e inspirou toda uma classe de coquetéis. O que seria uma vitória para qualquer pessoa, menos para Joseph – o homem preferia ser lembrado por seu legado político do que o etílico.
O sucesso do coquetel fica claro em um artigo de Ted Haig, da Imbibe, ao citar uma matéria de um jornal da época de Joseph: “A convenção (democrática) seguiu até quase duas e meia da manhã, e daquele horário em diante, até muito depois do nascer do sol, havia felicidade em todo canto. Os maiores responsáveis por essa felicidade eram Rickey’s de todo tipo e força. Havia gin Rickeys, whisky Rickeys e Brandy Rickeys, e todo e qualquer tipo de Rickey conhecido pelo homem mortal“.
Com o tempo, porém, o Bourbon Rickey perdeu popularidade, e foi lentamente substituído pelo gin rickey: basicamente, o mesmo drink, só que com gim. E é engraçado, porque mesmo depois de falecido, Rickey perdeu mais duas vezes. Na primeira, por não ter conseguido que seu coquetel fosse esquecido. E, na segunda, porque mesmo substituindo bourbon por gim, algo que Rickey certamente detestaria, a mistura continuou com seu sobrenome. O que, de certa forma, é uma ironia que mesmo o Coringa do Batman – e alguém que não sabe quem ele é – apreciaria.
BOURBON RICKEY
INGREDIENTES
- 60 ml de bourbon whiskey
- 25 ml de suco de limão tahiti
- 75 ml de água com gás / club soda
- Parafernália para mexer
- copo alto
PREPARO
- Em um copo longo com cubos de gelo, coloque o bourbon e o limão e mexa rapidamente para homogenizar.
- Finalize com água com gás, mexa novamente e sirva com uma rodela fina de limão tahiti.
Fala nobre Guru.
Gostei. Fácil de preparar e me parece ser bem refrescante. rsrs
Gostei bastante, mestre.
Gosto.de coquetéis simples, do tipo faça você mesmo hahaha.
Abraço!