Harmonia – Buchanan’s 12 anos Deluxe

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Essa semana acordei reflexivo. Após divagar por algumas horas sobre o que me fazia feliz – passando por minha família, meus amigos, cultura, whisky e um belo carbonara com pancetta – desemboquei em um pensamento de Ghandi. Ghandi uma vez disse que felicidade é quando há harmonia entre o que você pensa, fala e faz. 

O que me faz concluir que Ghandi vivia em uma época cujos meios de comunicação eram pouquíssimo eficientes, ou que ele tinha poucos amigos. Porque, para mim – um cara mais ou menos mal-humorado e artificialmente sociável –  muitas vezes tudo que quero é harmonizar a total ausência de pensamentos, com o silêncio absoluto e a mais cândida agenda.

Só que isso é simplesmente impossível, porque há o grande problema de harmonizar as harmonias. Como quando algum amigo me liga, perguntando se quero ir a algum bar, quando a querida Cã me convida para jantar fora, ou quando a Cãzinha pede para jogar bola comigo.

E aí, por pura má vontade, invento uma desculpa. Algo pensado e dito de forma a harmonizar com minha inércia egoísta. Não posso, tenho que levar o cachorro para passear, hoje precisarei trabalhar, ou papai está com dor nas costas (aliás, pega ali o controle remoto pro papai). O problema é que é fácil inventar pretextos, e – com a prática e insistência – acabamos desviando do essencial. Essas pessoas.

Quase não teve texto porque o cachorro comeu meu computador.
Quase não teve texto porque o cachorro comeu meu computador.

E toda essa filosofia de boteco (afinal, este é um blog sobre whisky) acabou me levando ao Buchanan’s 12 anos Deluxe. É que desde que criei o Cão Engarrafado – ou melhor, desde que alguém passou a ler o Cão Engarrafado – recebo quase semanalmente pedidos para falar deste Buchanan’s. E sempre invento um pretexto, porque, enfim, não quero, e o blog é meu, deixe-me com minha harmonia. Mas hoje não. Hoje não inventarei mais desculpas e prometo que não escreverei mais um parágrafo de introdução tentando em vão procrastinar antes de chegar ao tema.

O Buchanan’s 12 anos Deluxe é um blended whisky, produzido pela Buchanan’s, hoje parte da gigante Diageo, também detentora de marcas como Johnnie Walker, Old Parr e de destilarias importantíssimas, como Lagavulin, Mortlach, Dalwhinnie, Cardhu, Talisker e Caol Ila.

Sua fórmula original foi criada em 1884 pelo fundador da marca, o canadense James Buchanan, com a ajuda financeira de W.P. Lowrie, de Glasgow. James, um homem que quase exclusivamente pensava, falava e fazia whisky, também foi responsável pela criação do Black & White, e pela fundação da destilaria Glentauchers. Graças a seu empreendedorismo e talento, conseguiu também tornar-se fornecedor da bebida para o parlamento inglês.

É muito provável que, com o tempo, a composição do Buchanan’s 12 anos tenha sido alterada. Sucessivas mudanças de controle da marca e de destilarias que o compunham contribuíram para isto. Atualmente, diz-se que ele contém uma proporção generosa de single malts. Em torno de cinquenta por cento. Em seu coração está o “classic malt” Dalwhinnie, também pertencente à Diageo – ainda que este canídeo tenha alguma dificuldade em perceber as notas deste single malt naquele blend.

Aliás, aqui está uma curiosidade sobre a Buchanan’s. Ela é uma das únicas marcas de blended whisky que emprega dois master blenders diferentes. Keith Law e Maureen Robinson, formada em química farmacêutica, e uma das únicas mulheres no ramo. Ambos, com mais de trinta anos de experiência na indústria do whisky.

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Maureen, buscando felicidade.

O Buchanan’s 12 anos Deluxe recebeu importantíssimas premiações em competições internacionais. Dentre elas, três medalhas de ouro e uma de prata, em anos consecutivos (de 2010 a 2013) pela San Francisco World Spirits Competition.

No Brasil, uma garrafa de um litro do Deluxe custa algo em torno de R$ 160,00 (cento e sessenta reais). Proporcionalmente, o Buchanan’s 12 é um pouco mais barato que outros blended whiskies muito apreciados por aqui, como o Chivas 12 anos e o Johnnie Walker Black Label. Escolher entre um ou outro é apenas uma questão de gosto pessoal.

Enquanto o Chivas Regal é adocicado e floral, o Johnnie Walker Black Label é inegavelmente defumado. E o Buchanan’s, como um meio termo, é suave e muito democrático. Por isso, é uma excelente opção para beber com os amigos, em situações informais, de completa harmonia. Porque, para falar a verdade, como disse Christopher McCandless, a felicidade (é mesmo) somente verdadeira quando compartilhada

BUCHANAN’S 12 ANOS DELUXE

Tipo: Blended Whisky com idade definida (12 anos)

Marca: Buchanan’s

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: suavemente defumado, cítrico, caramelo, baunilha.

Sabor: Adocicado, açúcar demerara, baunilha, frutas, calda de caramelo, final progressivamente seco e esfumaçado.

Com água: A agua ressalta o sabor frutado e a fumaça.

32 thoughts on “Harmonia – Buchanan’s 12 anos Deluxe

  1. Caro Maurício,

    Numa seleção dos 10 melhores textos arriscaria que este seria incluído por conta do conteúdo existencial, além da fantástica autodefinição “artificialmente sociável”.

    Há também a mais desastrada promessa: “e prometo que não escreverei mais um parágrafo de introdução tentando em vão procrastinar antes de chegar ao tema.”

    O bônus foi a parte técnica. Você foi de extrema elegância quando afirmou ter dificuldade em detectar o Dalwhinnie no Buchanan’s. Eu não consigo observar remota referência.

    Forte Abraço,

    Sócrates

    1. Meu caro Sócrates, é como os adolescentes dizem por aí sem entender bem “the struggle is real” (Aplicável a todas as frases. Ou não – depois de uns whiskies tudo fica mais natural).

      1. Caro Maurício,

        Não sou nenhum adolescente e isso em nada refresca a chance de apreender o significado de ‘the struggle is real’. Em nenhum momento entendi que a promessa era pra valer, pelo contrário, tratava-se de um elemento do texto, e bem encaixado. Gostei tanto que contestei como forma de elogiar. Não sei como cheguei a essa forma desajeitada de elogio, mas acredite, the struggle is hard.

        Vida longa,

        Sócrates

      2. Tenho uma antiga garrafa de Buchanans lacrada e na caixa porém não sei como identificar a data.
        Existe uma gravação em alto relevo no fundo da garrafa (SD907)

        Alguém sabe identificar?
        Obrigado.

  2. Para mim, fica difícil trocar o Chivas 12y e o Black Label por um whisky mais democrático, mas por uma questão meramente científica, talvez seja conveniente prová-lo haha. E te digo que muita gente ao saber que gosto de whisky me dá boas referências do Buchanan’s 12y.
    O preço também acaba sendo um certo impecilho, pq de vez em quando encontro por aqui o Chivas Regal Extra por R$ 149,00 temers.
    Bom, como vc frisou é uma questão de gosto.

    Abraço!

  3. Gosto muito dele. Entre os blends de 12 anos, pra mim, só perde para o Grand Old Parr.
    Mas acho melhor que Black Label e Chivas.

    Mas, como vc disse, é mesmo algo bem pessoal, acredito que em termos de qualidade sejam todos parecidos.

  4. Caro “Cão” amigo…

    Já tive o Buchanan’s e tenho boas recordações dele. Realmente, ele fica um meio termo entre Chivas e Black Label. Ainda prefiro o Chivas, considerando-o mais dócil.

    Entretanto, venho pedir-lhe para falar do Ballantines 12 anos, afinal, também é um dos com alta rotatividade nas nossas terras.

    Forte abraço.

    1. Fala Julio! Então, eu sei, estou devendo uma nota do Balla faz tempo. Fiz do 17, mas do irmão mais novo, não. Em breve, está nos planos!

      1. Eu experimentei recente o Buchanan’s e notei que o barril usado deve ter sido usado varias vezes antes, pois não notei o aroma característico. E eu senti uma doçura muito parecida com destilado de cana( pode ter sido Impressao, pois até agora não li a composição pra saber o que procurar na degustação do mesmo). Enfim, gostei muito mais dele do que do Chivas com certeza e eu não sou fã de Jhonny Walker( a não ser double black pra frente).

  5. Caro,
    Alguns dizem que foi Bogart, outros que foi Vinícius que disse: “A humanidade está sempre duas doses abaixo do normal”. Concordo em gênero número e grau. Eu sou mais apreciadora de vinhos do que de whiskies, e não é porque uma boa dose não me faça muito feliz, os motivos são outros. Fazendo uma pesquisa de preços de whisky me deparei com seu blog e esse texto, amei! Obrigada, vou tentar abandonar minha inércia egoísta para não desviar do essencial. Abraços!

    1. Haha, cara Inês, conhecia essa frase, e achava que o autor era Grouxo Marx. Veja lá, talvez seja um desses aforismos criados por um célebre anonimo, mas que precisava de uma cara conhecida para ser legitimado. rs.

      Não desvie do essencial, mas lembre-se de tomar sempre bons vinhos e whiskies durante o percurso.

  6. Perfeito. Estou tomando um agora! Percebi bem o esfumaçado. Uma certa “solidez” na degustação.

  7. Caro, concordo com todas as suas palavras, todas.
    Quanto ao Whisky o que posso acrescentar é que o trato de forma diferenciada, amigos tem o termo “Whisky Casual” , para Jack Daniels, Jameson, Chivas e Buchanan’s, por questão pessoal, tenho o Jack Daniels como o casual e guardo o Buchanan’s para momentos bons, mais que relaxantes.
    Parabéns pelo site.

  8. Muito bom o blog, ainda mais o tom de descontração, eu estava pensando em comprar o Buchanan’s, agora estou decidido a comprar e depois deixo aqui o feed back

    1. Sou fã dos seus textos Mauricio. Resolvi comentar, pois hoje finalmente experimentei o buchanan’s…..Confesso que não gostei por não conseguir identificar nada marcante….Isso me incomodou. Achei sem personalidade. Da linha dos 12 anos prefiro o black label e em seguida o chivas. Obrigado por contribuir com seu conhecimento!!! Abraços

      1. Opa, imagine. Olha, meu caro, isso vai de gosto. Mas eu, pessoalmente, adoro Chivas 12, Black Label e (pasme) o Dewar’s 12. Experimente e me conte.

  9. Em quase toda minha vida etílica bebi o Buchanan’s 12. Achava-o muito próximo do black label. Havia um elo de ligação entre eles, mas, desinteressado e ignorante, não definia. Resolvi há poucos anos estudar o mundo do uísque. Comprei o puro malte mais turfado e barato que havia: o grande Laprhoag quarter cask. A experiência foi um pouco perturbadoramente maniqueísta. No entanto, de cara me veio à memória o Buchanan’s e o Black. Soube, enfin, identificar o significado da fumaça para o grão.

    1. Muito interessante, Luciano. Às vezes a gente precisa mesmo provar algo mais extremo para identificar o mais suave. Sem isso, talvez a influência fique meio embaralhada no meio de outras. Aconteceu isso comigo com o medicinal, que também faz parte do turfado.

  10. De longe não sou o maior conhecedor de Whiskies que conheço. Mas minha preferência sempre foi Chivas e dando uma descaída por OldPar, que considero mais suave e é bem aplicável principalmente quando vou introduzir o assunto a alguém apreciador de outras bebidas. Mas confesso que, tão quanto outro amigo também comentou aí em cima, estou degustando um agora e me surpreendi tanto que resolvi buscar um pouco mais sobre a história. Foi quando esbarrei aqui no seu blog.

    Ainda vou evoluir (acredito) para conseguir distinguir o aroma frutado ou esfumaçado, quanto nesses como em outros blends.

    TFA.

    1. Valter, é isso aí. Muito bom que você resolveu pesquisar para criar seu gosto e entender mais! Vá bebendo atentamente (e desatentamente pra se divertir também), você vai pegar as notas rapidinho!

  11. Boa noite. Estou me aventurando agora pelo mundo do whisky e resolvi comprar às cegas uma garrafa para enfrentar os duros tempos da quarentena decorrente da Covid-19. Calhou de ser uma de Buchanan´s Deluxe. Antes de abri-la, resolvi pesquisar algumas referências na internet e os algoritmos do Google me trouxeram aqui. Achei excelente (o blog e o Buchanan´s). Não entendo nada do assunto, mas realmente parece que ele tem um sabor”esfumaçado”, Ou talvez seja eu que já esteja vendo o “fog” londrino após “três dedinhos” do Buch (já me permito até tais intimidades, hehehe!).

    1. Fala Fernando, muito obrigado!

      Haha, gostei da definiçao de fog londrino. É isso aí – essa fumaça vem de parte da secagem da cevada com turfa 🙂

  12. E tem como pesquisar o selo ipi do buchanas pra saber se e original ou código de barras que vem.na caixa etc…

    1. Oi THiago. Não dá. Mas voce comprou onde? Se comprou mto barato de um lugar pouco confiável, as chances de ser falso são grandes. Às vezes o barato sai caro.

  13. Hoje provei esse whisky, achei bom, realmente um whisky que para mim é mais picante que ia seus pares, porém, fica mais agradável com água.

  14. Caro amigo, saberia me dizer por qual motivo há duas garrafas diferentes de Buchanans De Luxe no mercado? Já vi uma mais alta verde escura e uma mais baixa verde mais clara, uma com 43% e a outra 40%, sabe me dizer a diferença?

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