Dupla Nacionalidade – Nomad Outland Whisky

Se você acessou o Cão Engarrafado, é muitíssimo provável que tenha notado o cachorro ali de cima. É engraçado que, mesmo que isto seja um blog sobre whisky, muita gente me pergunte sobre ele. O cão do Cão. Então resolvi que hoje vou falar um pouquinho sobre nosso garoto propaganda e revelar sua identidade. Seu nome é Maverick. Ele é um mini collie – também conhecido como Sheltie – ainda que a gente ache que a parte do “mini” foi esquecida durante sua concepção. Ele tem seis anos, e pesa em torno de dezesseis quilos. Um pouco grande, mas tudo normal até aqui. Acontece que o Maverick é, na verdade, um gato por dentro. Ou melhor, um gatorro. Porque por mais estranho que pareça, ele raramente quer algum contato. Ele passa o dia andando pela casa e olhando com desdém para as pessoas e não é muito chegado em gente nova. Além disso, ele despreza biscoito de cachorro, mas é apaixonado por atum em lata. O Maverick pode ter nascido cão, mas, por dentro, bate um coração cheio daquele ódio passivo tão característico dos gatos. Se eu pudesse comparar o Maverick com algum whisky, este certamente seria o Nomad: Outland […]

Monotemática – Grant’s Family Reserve

A querida Cã me disse hoje que quando estou produzindo algum texto para o blog, as vezes fico uma pessoa monotemática. Ela disse aquilo de uma forma meio neutra, quase como uma constatação científica. E aí, fiquei pensando se era um elogio ou uma crítica. Poderia ser um agrado, afinal, como escreveu Jenny Holzer uma vez em um de seus clichês-pastiches, “a monomania é um prerrequisito para o sucesso”. Não consegui decidir qual o tom daquela sua frase. No entanto, enquanto refletia, acabei tendo meus pensamentos sequestrados por uma ótima ideia para mais uma prova deste blog.  Falar do Grant’s Finest, um whisky criado por um cara que também tinha uma certa fixação por whisky – William Grant. Antes de analisar o blended whisky, vou contar um pouco a história deste distinto cavalheiro. William Grant nasceu em Dufftown, Banffshire, em 1836. Trabalhou em uma fábrica de sapatos e na famosa destilaria Mortlach, onde tornou-se rapidamente gerente. Mas William era um homem obstinado e ambicioso – ou melhor, monotemático. Seu sonho era possuir a própria destilaria. E isto tornou-se realidade quando soube que a Cardow (essa é a Cardhu de hoje em dia) venderia seus equipamentos. Com uma oferta de pouco mais […]

Drops – Compass Box The Lost Blend

Em 1903 o contista William Sydney Porter – mais conhecido como O. Henry e afamado por dar finais surpreendentes a suas tramas – publicou um livro de contos chamado The Trimmed Lamp. Dentre as historietas lá contidas havia uma intitulada The Lost Blend (o Blend Perdido). The Lost Blend narrava as obstinadas tentativas de uma dupla de bartenders em criar um blend – na verdade, um coquetel – que seria capaz de imprimir a mais pura coragem até no mais covarde dos homens. Este blend teria sido encontrado em um barril misterioso, mas acabara. E agora, os dois homens tentavam, incessantemente, combinar os mais diferentes elementos etílicos de forma a recriar aquele destilado encantado. Porque, realmente, somente álcool mágico nos torna  mais corajosos. O conto é quase um curta-metragem de youtube dos dias de hoje. Em suas cinco páginas, ilustra de uma forma bem humorada o cotidiano de um incomum bar em Nova Iorque, no início do século XIX. Mas apesar de O. Henry ter sido um dos maiores contistas de seu tempo – comparável a Mark Twain até – não há nada de extraordinário em The Lost Blend que o destacasse do restante da obra do escritor. Acontece, porém, que mais de um século […]

Por que não devemos ignorar blended whiskies

Não sei se você acompanhou essa história, mas a Univerisdade de Oxford elegeu a expressão “pós-verdade” como a mais emblemática de 2016. Segundo eles, pós verdades são “circunstancias em que fatos objetivos são menos importantes em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e crenças pessoais”. Ou seja, mentiras. Mas não quaisquer mentiras. Mentiras que apelam para a pior parte das pessoas: a emocional. É tipo quando alguém espalhou que a carne do McDonald’s é de minhoca. Ou quando Donald Trump disse que o Obama fundou o Estado Islâmico. Ou ainda quando minha filha disse que não tinha comido macarrão na hora do almoço e que me amava, só pra comer de novo na hora do jantar E ainda que alguns boatos soem mais críveis que outros, sabemos muitos são tão verdadeiros quanto o cabelo do referido presidente eleito. O problema das pós-verdades é que elas estão por toda parte, mas, principalmente, na internet. Porque, na internet, todo mundo tem opinião sobre tudo e nenhum compromisso. Inclusive eu, escrevendo este texto. É como se meu modem equivalesse a um título internacional de especialista na vida. Até assuntos que não deveriam ser nada polêmicos possuem pós-verdades. Como, claro, o […]

Doze Glorioso – Famous Grouse 12 anos

Essa semana, enquanto pesquisava um pouco mais sobre o whisky deste post, curiosamente esbarrei em uma página sobre o Glorious Twelfth. E graças à minha falta de foco e gosto pela procrastinação, resolvi perder alguns minutos lendo sobre ele. O Glorious Twelfth ocorre no dia doze de agosto, e é perfeito para todos aqueles cujo conceito de diversão inclui pagar centenas de libras, pisar em poças de lama e ser picado por insetos inconvenientes. Tudo isso pela oportunidade de matar seu próprio jantar. É que o Doze Glorioso – como poderia ser cretinamente traduzido para nossa língua lusitana – marca o início da temporada de caça ao Tetraz, um pássaro típico do Reino Unido. Apesar de polêmico, o Glorious Twelfth continua incrivelmente popular. Estima-se que a caça à tetraz movimente mais de cento e cinquenta milhões de libras por ano. Eu, que tenho preguiça até de ir até a geladeira, não consigo conceber uma ideia pior que essa. Além de caro e sujo, a atividade beira o impossível. O tetraz é uma ave bastante ágil, que consegue mudar de direção de voo quase instantaneamente. Por isso, inclusive, que é uma das mais cobiçadas para caça. Apesar de se espalhar por grande parte do Reino Unido, a maior […]

Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish

Esses dias estava lendo sobre o AVE Mizar. Uma invenção ridícula, que entrou nos anais da história como como o famoso Pinto voador que matou seu inventor. O Mizar – assim como a rima cretina aliada ao trocadilho ridículo – era a prova de que a soma entre duas coisas ruins sempre resulta em algo muito pior. A ideia já era risível desde o começo. Um carro alado, resultado da fusão entre a estrutura de voo de um Cessna Skymaster e um Ford Pinto, um carro medíocre mesmo sem um par de asas. Seu inventor, Henry Smolinski, sonhava que quando o produto decolasse – figurativamente falando – todos pudessem ter seu automóvel voador. Tanto é que ele, ao se referir à invenção, dizia de uma forma indesculpavelmente misógina “até uma mulher vai poder combinar, ou separar, os dois sistemas sem qualquer ajuda”. Por sorte, o projeto morreu com seu inventor. Durante um voo de teste pilotado pelo próprio Smolinski, uma das asas se soltou do carro, que despencou dos céus e ainda explodiu sobre um caminhão. Mas mesmo se o voo tivesse dado certo, todo o resto estava completamente errado. O Mizar foi uma das experiências mais malsucedidas da aviação. […]

Drops – Johnnie Walker 10 anos Rye Cask Finish

Esta é a última prova de uma série de três whiskies com finalizações pouco ortodoxas. Os dois primeiros foram o Jameson Caskmates Stout Edition e o Glenfiddich IPA Cask. E enquanto estes dois se baseiam no universo da cerveja artesanal – razão pela qual este Cão resolveu degustá-los no Empório Alto dos Pinheiros – o Johnnie Walker Rye Cask Finish se inspira no mundo da coquetelaria. O Rye Cask Finish é o primeiro de uma linha de blended whiskies que serão lançados pela Johnnie Walker com finalizações diferentes – a série Select Casks. Caso você não esteja familiarizado com o conceito de finalização – uma ideia absurdamente obvia e genial ao mesmo tempo – o Cão explica. É uma técnica que consiste em pegar um whisky que já tenha sido maturado em certa barrica (de bourbon, por exemplo) e transferi-lo para uma barrica que foi usada para uma bebida diferente (vinho do Porto, por exemplo). O uso da segunda barrica adiciona certos sabores e aromas à bebida, complementando as características emprestadas pela primeira. O Johnnie Walker Rye Cask Finish é um lançamento corajoso. Ele é, provavelmente, o primeiro Johnnie Walker que utiliza a técnica de finalização. Sua maturação ocorre em barricas de carvalho americano de ex-bourbon […]

Das Flores – Suntory Hibiki 12 anos

Se você é um fã de Gordon Gekko, o inescrupuloso investidor fictício de Wall Street, talvez saiba o que foi a Febre das Tulipas. Ou talvez não, porque, enfim, existem coisas melhores para se fazer do que decorar cada trecho de um filme. Então, por via das dúvidas, aí vai uma breve explicação. A Febre das Tulipas foi um período durante o século dezessete em que a elite holandesa tornou-se absolutamente obcecada por uma simples flor. A história toda começou quando um tal Suleiman, o Magnífico, encontrou tulipas em uma de suas viagens à Ásia. Embasbacado – não sei bem por o que – resolveu que enviaria um exemplar a um botânico, em Leiden. O resto da história é pura insanidade. Ou talvez haja alguma reação neurológica desconhecida pela ciência entre a mente dos holandeses e flores sem graça. Porque os abastados da Holanda ficaram tão mesmerizados com aquela espécie que, em pouquíssimo tempo, seu preço disparou. O pico da obsessão ocorreu entre dezembro e fevereiro de 1636. O preço de uma libra de tulipas passou de 125 florins para 1.500 – isso mesmo, mil e quinhentos, não tem um zero a mais aí. Uma inflação de mil e cem […]

Harmonia – Buchanan’s 12 anos Deluxe

Essa semana acordei reflexivo. Após divagar por algumas horas sobre o que me fazia feliz – passando por minha família, meus amigos, cultura, whisky e um belo carbonara com pancetta – desemboquei em um pensamento de Ghandi. Ghandi uma vez disse que felicidade é quando há harmonia entre o que você pensa, fala e faz.  O que me faz concluir que Ghandi vivia em uma época cujos meios de comunicação eram pouquíssimo eficientes, ou que ele tinha poucos amigos. Porque, para mim – um cara mais ou menos mal-humorado e artificialmente sociável –  muitas vezes tudo que quero é harmonizar a total ausência de pensamentos, com o silêncio absoluto e a mais cândida agenda. Só que isso é simplesmente impossível, porque há o grande problema de harmonizar as harmonias. Como quando algum amigo me liga, perguntando se quero ir a algum bar, quando a querida Cã me convida para jantar fora, ou quando a Cãzinha pede para jogar bola comigo. E aí, por pura má vontade, invento uma desculpa. Algo pensado e dito de forma a harmonizar com minha inércia egoísta. Não posso, tenho que levar o cachorro para passear, hoje precisarei trabalhar, ou papai está com dor nas costas […]

(mais que um) Drops – Jameson Caskmates

Goiabada e queijo, hot dog e mostarda, limão e cachaça. Batata palha e estrogonofe, vermute e campari, linguiça e feijão. TPM e chocolate, Microsoft Windows e Ctrl + Alt + Del. Chuva e Netflix, hambúrguer e batata frita e bacon com absolutamente tudo. Há coisas que foram criadas para combinarem, involuntariamente, com outras. Coisas cujo resultado é maior do que a soma das partes. O melhor exemplo no mundo do whisky é o Jameson Caskmates e a cerveja Franciscan Well. O desenvolvimento do Jameson Caskmates foi muito semelhante àquele do Glenfiddich IPA Experiment. Ele teria surgido de uma conversa entre dois amigos de longa data, Shane Long, mestre cervejeiro da Franciscan Well Brewery, e Dave Quinn, o mestre de ciência de whisky da Jameson. Shane queria produzir uma cerveja escura que fosse maturada em barricas de whiskey. Assim, teria pedido a seu amigo, Dave, que lhe emprestasse alguns barris para a experiência. Quinn concordou e cedeu a Shane algumas barricas de carvalho americano de primeiro uso, que teriam sido usadas para maturar Jameson. O mestre cervejeiro, então, após produzir sua cerveja e maturá-la nas barricas cedidas, as devolveu para a Jameson. Ao recebê-las, Quinn não sabia bem o que fazer. Porque apesar de serem […]