Lamas Nimbus Caledonia II – Nosso segundo whisky!

A genética. Essa incrível combinação, que nos faz quem somos. Para um pai de dois filhos pequenos – na verdade, uma média e um pequeno – há poucas coisas tão encantadoras quanto a genética. Me divirto (e me preocupo) em ver traços meus e da querida Cã em nossa prole. E gosto, especialmente, de ver como a mesma combinação resultou em coisas sensivelmente diferentes. Digo, coisas não. Pessoas. Ou melhor. Cães. Enfim, você entendeu. Fisicamente, os dois são uma cópia da Cã. O que é ótimo por um lado, mas é também uma derrota vergonhosa de meu código genético (fisiológico?), que foi completamente obliterado. Já em relação à personalidade, há pontos de tangência e de oposição. Ela é mais curiosa, ele é mais comunicativo. Em comum, ambos têm um desprezo quase total pela integridade física. Algo que devem ter puxado de mim e que não deve ser, de nenhuma forma glorificado, porque deriva mais de estupidez do que bravura.  Mas é engraçado – você sabe que eles são variações de um mesmo tema. Está, literalmente, na cara. E a graça está aí, nos detalhes. E foi justamente pensando nessas pequenas particularidades, que lançamos mais um whisky. O Lamas Nimbus Caledonia II. Com […]

May Vesper – James Bond em Islay

“Um Dry Martini. Num cálice de champanhe. Tres partes de Gordon’s, uma parte de vodka, meia parte de Kina Lillet. Bata tudo até que esteja bem gelado, e depois finalize com uma fatia grande e fina de casca de limão. “. Eu nem preciso dizer que coquetel é esse. Porque você, caro leitor e entusiasta dos copos, já sabe. “Este drink é minha invenção. Eu vou patenteá-lo quando pensar em um bom nome“. E, mais para o final do livro – ou do filme, caso seja de sua preferência, ele finalmente bate o martelo “Acho que vou chamá-lo de Vesper“. Note que, no parágrafo acima, eu nem mencionei James Bond. E nem precisei. Você já sabia que era ele a partir da segunda linha deste texto. Ele é certamente o agente secreto mais célebre – e menos secreto – da ficção. Até quem não gosta da franquia sabe uma porção de coisas sobre ele. Que tem uma paixão por Aston Martins, bebe dry martinis e The Macallan – aliás, em quantidades pouco recomendáveis – e carrega a tal perigosa licença para matar. O que você não deve saber, a não ser que seja um fã muito dedicado, é que James […]

Dalmore King Alexander III – Combinação

Quinta-feira, oito da noite. Observo, com desânimo, o mais perfeito e alvo vazio do interior de minha geladeira. Nem mesmo o espaço sideral seria tão perfeitamente desocupado quanto aquele compartimento gelado. Indago à Cã se ela não gostaria de pedir algum delivery, visto que a alternativa seria lentamente morrer de inanição iluminado pela fria luz azul do freezer. A resposta é rápida – quero poke. Faço um pequeno protesto. Não sou fã de poke. Acho uma comida bem aleatória – abacaxi, shoyu, shari e salmão me parece tão dadaísta quanto um Cão Andaluz. Reclamação que resta infrutífera, claro, afinal quem decide minha vida não sou eu. Me resigno a escolher os ingredientes de minha cumbuca sob o olhar ansioso, condenatório e faminto de minha querida esposa. A indecisão toma lugar do protesto. Gente, sei lá como montar um poke. Certamente Sartre teria repetido a frase de que cada escolha é uma angústia ao olhar a lista de ingredientes possíveis de um poke. Quero atum, wakame, arroz, manga, picles. Não, pera, será que manga vai bem com picles? A Cã me observa com animosidade. Cada minuto que você perde é um minuto que eu passo fome. Gente, sei lá, eu não […]

Speyside & Triangle – WorldClass 2021

Se você, como eu, tinha outras prioridades durante suas aulas na escola, aqui está uma pequena chance de remissão. Vamos hoje conhecer Gibraltar. Gibraltar é uma península insignificante, mas que fica num lugar incrivelmente estratégico – que, caso você tenha alguma noção de geografia, já deve ter presumido qual é – O Estreito de Gibraltar. Também conhecido como aquela entradinha que liga o Oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo. Como você já deveria saber se seus hormônios tivessem permitido alguma atenção à aurora de sua vida acadêmica, Gibraltar foi matéria de disputa entre o Reino Unido e a Espanha, durante o século dezoito. O território era originalmente espanhol e foi capturado pelos ingleses numa batalha sangrenta. Depois, foi reconquistado pelos ibéricos até finalmente voltar a ser britânico, pelo tratado de Utrecht. Por conta de Gibraltar, as relações diplomáticas e políticas entre Espanha e Reino Unido não eram das melhores – algo que, com o tempo, claro, foi recuperado. Ou não. Mas ainda que os dois países tivessem relações eivadas de animosidades no campo do imperialismo internacional, na área etílica, sempre houve uma incrível sinergia. É que o whisky escocês sempre dependeu de barris vindos da Espanha. Explico. O vinho jerez espanhol […]

Macallan Reflexion – Do espólio

Esses dias estava arrumando meu guarda-roupas, e me deparei com uma camisa que adorava. Não havia nada de muito especial nela, exceto pelo valor sentimental. A comprara na primeira vez que fui a Escócia, numa lojinha de artigos locais em Inverness. Nas costas, havia a ilustração das sombras de centenas de garrafas de whisky dos mais distintos formatos. Era possível, inclusive, com algum embasamento, identificar de quais marcas eram aquelas pequenas silhuetas. Gostava tanto da tal peça que a guardava apenas para eventos especiais. Resolvi experimentá-la. O resultado foi desastroso. Se tivesse um pouco menos de senso crítico, poderia, de certa forma, dizer que ela teria ficado entre o à-la-Bruce-Willis e o mira-me-cuerpo. Mas, exibindo uma pancetta displicentemente cultivada nos últimos dez anos, percebi, com decepção, que não poderia mais usá-la. Havia guardado a peça de roupa para ocasiões tão especiais, que ela deixou de me servir. Sinto que há uma relação semelhante com whisky: a de guardar garrafas para momentos extraordinários. Faço isso, acho que quase todos fazemos. Mas não sem algum arrependimento. Como certa vez disse um grande amigo “suas garrafas fechadas serão bebidas com água de coco em uma pool party por seus filhos. Beba“. Então, num […]

Live – XP Investimentos – Royal Salute

Ao longo desta quase (ou mais?) de meia década de Cão Engarrafado, falamos de centenas de marcas e rótulos diferentes de whisky. Mas posso contar nos dedos de uma mão aquelas que nutria uma paixão enorme mesmo antes de começar o website, e cuja admiração apenas cresceu. Uma dessas marcas é a Royal Salute. Sempre gostei da marca – afinal, o que há de se não gostar sobre esta maravilha? – mas, depois de conhecer os detalhes sobre sua história e criação, a paixão se consolidou. Tive o enorme privilégio de viajar até a Coréia para experimentar em primeira mão dois de seus mais importantes lançamentos – entrevistar Sandy Hyslop e Mathieu Deslandes – e acompanhar de perto os últimos anos da marca. E é com grande satisfação que faço um convite a nossos leitores. Uma live muito especial, patrocinada pela XP Investimentos. Conversarei com a incrível Amabile Gugliemo-Brady, senior brand marketing manager (gerente global de marketing) da Royal Salute. Baseada em Londres, Amabile lidera o pipeline de ativações e eventos globais da marca egerencia a ampliação das plataformas de engajamento para o consumidor em mercados como o Brasil, Índia, Cambodia , Malásia e Emirados ÁrabesUnidos. E melhor de tudo […]

Buffalo Trace Bourbon – Gabarito

Hoje vou contar para vocês a história do mais perfeito carro do mundo. Tão perfeito que falhou miseravelmente. O Ford Edsel. Ele foi lançado em 1957, após uma exaustiva pesquisa, que questionava os consumidores sobre o que esperavam de um automóvel. Centenas de pessoas opinaram sobre sua criação. O Edsel possuía basicamente tudo que era tecnologicamente possível na indústria automobilística dos anos cinquenta. Direção hidráulica, câmbio automático, freios auto-ajustáveis e até uma grelha frontal que parecia uma tampa de privada que fora violentamente arrancada e depois perfurada. Acontece que, tentando ser bom em tudo, o Edsel era péssimo. O motor era forte, mas como ele tinha que ser espaçoso, era também pesado. A direção tinha que ser leve, mas sem sacrificar a performance, o que o deixava sua manobrabilidade no meio do caminho entre um navio de cruzeiro e um trator. E para terminar este – literalmente – fracasso rolante, o carro era tão caro quanto um Porsche. Este é o problema de tentar agradar a todos. É quase impossível. Porém, no mundo do whiskey americano, há um rótulo que talvez tenha conseguido. O Buffalo Trace. Se aliens descessem dos céus e perguntassem a todos os bebedores o que esperam […]

Murray McDavid e as Engarrafadoras Independentes

Mil e uma utilidades. Energia que dá gosto. A verdadeira maionese. Todo mundo usa ou use e abuse. Todas as frases anteriores são slogans de marcas famosas. Mas eu nem precisava contar isso para vocês, porque vocês já sabiam. É impossível não pensar no Pão de Açúcar quando alguém fala “lugar de gente feliz”, ainda que eu já tenha ido bem contrariado pro supermercado. Quase todos os slogans trazem uma mensagem comum. São positivos e alegres, e transmitem valores como autenticidade ou confiança. Quase todos, porque há uns poucos bem esquisitos por aí. Como, por exemplo, o da engarrafadora independente Murray McDavid. O slogan deles, em gaélico, é clachan a choin. Antes de contar o que clachan a choin significa, deixe-me falar um pouco sobre a Murray McDavid. Sua sede atualmente é a destilaria de Coleburn, na região escocesa de Speyside. Ela é uma das mais prolíficas engarrafadoras independentes da Escócia. Caso você não saiba, engarrafadoras independentes são empresas que visitam e escolhem barris de diversas destilarias – que não pertencem a ela – e produzem sua própria linha de whiskies. Às vezes, edições bastante limitadas. Outras, nem tanto. O sucesso de uma engarrafadora independente reside, em boa parte, na […]

Royal Salute Malts Blend – Diversificação

Certa fez, Henry Ford, ao falar de seu Ford Model T disse “O cliente pode ter seu carro pintado de qualquer cor, desde que essa cor seja preta“. Ainda que sarcástica, a declaração tinha todo sentido. Não havia espaço para o supérfluo. O Model T fora criado para ser acessível – e nisso, foi incrivelmente bem-sucedido. O primeiro Ford Model T saiu da fábrica em setembro de 1908. No ano seguinte, mais de dez mil automóveis foram produzidos. O último – tão preto quanto o primeiro – deslizou da linha de produção em 1927. Foram dezoito anos. Nesse período, perto de quinze milhões de Model T foram produzidos. Todos, quase idênticos – exceto por alguns pequenos detalhes internos. Na época do iPhone X e Xs, manter inalterado um bem de consumo por dezoito anos pode parecer um enorme contrassenso. Por outro lado, a inércia da Ford não pareceu afetar as vendas do Model T – que entrou na história como um dos mais bem sucedidos automóveis de todos os tempos. Uma marca cuja trajetória foi muito semelhante àquela do Ford Model T é a Royal Salute. Desde sua criação, em 1953, o único whisky em sua linha permanente foi o […]

De onde vem o sabor defumado do whisky

Tenho umas memórias engraçadas de quando era criança. Como certa vez, que disse pro meu pai que queria andar de trem, e ele me levou num vagão da antiga FEPASA lotado no horário do rush. Nunca mais pedi pra andar de trem na vida. Mas hoje, estranhamente, adoro. Teve outra vez que disse que queria comer peixe. Aí ele aproveitou a oportunidade, e me levou num restaurante bem chique, daqueles que demoram duas horas. E aquilo poderia ter sido outra experiência traumática – ou talvez simplesmente fadada ao oblívio – não fosse o prato que, sem querer, escolhi. Um gratinado de hadoque defumado. Tenho que confessar aqui que não foi pelo hadoque. Foi pelo gratinado. Na lógica do meu eu de dez anos, comida boa era comida gorda. E seria difícil ganhar de um gratinado com creme de leite e três queijos. Mas, no final do dia, não fora o queijo que me encantara. Mas o peixe. Havia lá um sabor que eu jamais sentira – ou atentara – e que me apaixonei. Meu pai me perguntou se havia gostado, o que, obviamente, era uma pergunta retórica quase, porque quando ele me perguntou, já estava quase lambendo o fundo do […]