A genética. Essa incrível combinação, que nos faz quem somos. Para um pai de dois filhos pequenos – na verdade, uma média e um pequeno – há poucas coisas tão encantadoras quanto a genética. Me divirto (e me preocupo) em ver traços meus e da querida Cã em nossa prole. E gosto, especialmente, de ver como a mesma combinação resultou em coisas sensivelmente diferentes. Digo, coisas não. Pessoas. Ou melhor. Cães. Enfim, você entendeu.
Fisicamente, os dois são uma cópia da Cã. O que é ótimo por um lado, mas é também uma derrota vergonhosa de meu código genético (fisiológico?), que foi completamente obliterado. Já em relação à personalidade, há pontos de tangência e de oposição. Ela é mais curiosa, ele é mais comunicativo. Em comum, ambos têm um desprezo quase total pela integridade física. Algo que devem ter puxado de mim e que não deve ser, de nenhuma forma glorificado, porque deriva mais de estupidez do que bravura.
Mas é engraçado – você sabe que eles são variações de um mesmo tema. Está, literalmente, na cara. E a graça está aí, nos detalhes. E foi justamente pensando nessas pequenas particularidades, que lançamos mais um whisky. O Lamas Nimbus Caledonia II. Com um código genético bem parecido com a primeira edição. Mas, distinto o suficiente para ter personalidade toda própria.
O Lamas Nimbus Caledonia II é nossa segunda criação, em parceria com a destilaria Lamas, de Minas Gerais. O tema aqui é o mesmo do primeiro single malt – um whisky defumado e vínico, finalizado em barris de carvalho que antes contiveram vinho licoroso, semelhante a porto. No entanto, a finalização aqui foi mais longa. Mais de um ano. Quatorze meses, para ser mais exato.
O prazo maior de descanso nos barris de vinho trouxeram ao whisky mais harmonia. A nota enfumaçada de incenso permanece lá – é o DNA da família Nimbus. No entanto, está um tanto mais discreta. Em contrapartida, a influência vínica, com frutas secas e cristalizadas, subiu. O punch alcoólico ficou mais discreto, ainda que a graduação etílica seja igual àquela do primeiro lançamento.
Aliás, devo admitir uma coisa. Criar um whisky, mesmo a quatro mãos com um produtor com conhecimento, é uma tarefa quase esotérica. Você sabe mais ou menos onde vai chegar. Você sabe que se fizer certa coisa, terá mais ou menos determinado resultado. Como, por exemplo, empregar as barricas de vinho, que trazem o tal frutado. Mas, o resultado final, com precisão, segue uma surpresa até que a primeira dose seja despejada no copo.
No primeiro whisky da série, me surpreendeu uma nota salina que – assumo – não faço a mais rasa ideia de onde veio. Ela está bem no final, e serve meio como embrulho para tornar a mistura coesa. Mas, dizer que eu esperava esse resultado seria uma falácia. A nota simplesmente apareceu, para minha surpresa e alegria. O mesmo ocorreu nesta segunda edição, com uma espécie de perfume floral – que tomou lugar do final salino da precursora.
A produção e o blend – quer dizer, a mistura de single malts – permaneceu a mesma do Caledonia Nimbus I. Vinte por cento de Verus – o single malt envelhecido em vinho licoroso e não turfado da Lamas, com oitenta por cento do Nimbus. Aquele, o queridinho da Lamas, defumado num processo bem pouco ortodoxo, usando madeira de reflorestamento. Depois de combinadas, as duas partes – defumada e não deufmada – descansaram juntas nos barris de vinho licoroso por mais quatorze meses.
O desenvolvimento também foi parecido. Conversamos com a Lamas em diversas ocasiões, que nos enviaram amostras (inclusive com outras finalizações, que são surpresa!) até que decidimos, conjuntamente, que aquele seria o whisky. Essa, na verdade, foi a tarefa mais difícil. No começo, estávamos indecisos sobre oferecer uma sequência do mesmo tema, ou nos aventurar em algo completamente novo. Mas, o whisky-geeking falou mais alto, e acabamos por escolher algo pela mais lhana curiosidade.
E é este whisky que, a partir de hoje, está à venda em nosso querido Caledonia. O Lamas Nimbus Caledonia II. Nosso segundo filho, tão querido quanto o primeiro. Parecido com ele, também. Mas, como ocorre com a prole, um tantinho distinto. Só um pouquinho, o suficiente para que tenham personalidades próprias. A brincadeira, aliás, é justamente essa. O que ficou e o que mudou, cabe a você nos dizer.
Ai que orgulho desses irmãos.
LAMAS NIMBUS CALEDONIA II
Tipo: Single Malt
Destilaria: Lamas
País: Brasil
ABV: 50%
Notas de prova:
Aroma: baunilha, caramelo, um enfumaçado de incenso, lareira.
Sabor: Frutas em calda, especialmente figo. Fumaça, incenso. Final longo e floral.
Olha, estive no seu bar ontem e quando provei o Caledonia II não acreditei, a evolução que vocês obtiveram em relação à primeira versão e principalmente em relação ao core range da destilaria é surpreendente. Parabéns! Para minha própria surpresa, saí com uma garrafa debaixo do braço, a número 004.
Opa, numeração baixíssima ainda! Que fantástico, meu caro Antonio. E muito obrigado!
Tanto o I quanto o II são obras primas. O lamas caledônia foi meu primeiro single malt, além do mais o lamas caledônia é muito superior a qualquer whisky que ja provei, incluindo o green label. Parabéns e que venha muitos e muitos filhos dessa família de whisky.
QUE BAITA ELOGIO, RAFAEL! Muito obrigado!! Teremos novidades em breve sim!!!