Royal Salute Olfactory Studio – Barnabé Fillion

Você encontraria relação entre um drink feito com a rosa real, um meteorito e três incríveis whiskies da Royal Salute, todos com no mínimo 21 anos? Bem, esta foi a experiência deste Cão Engarrafado da última quinta-feira em São Paulo, no Estúdio Olfativo (olfactory Studio) de Barnabé Fillion. Barnabé é conselheiro criativo da Royal Salute e perfumista por trás de algumas das mais famosas fragrâncias da Paul Smith, Aesop e Hermès. A ideia do Estúdio Olfativo parece até desconcertante, mas é executada de uma forma belíssima. “a jornada explora uma paleta de sensações – pelo toque de objetos lendários, a visão de cores que expressam as mais sinceras sensações, o aroma de essências de flores raras destinadas à elite do mundo e a prova de whiskies que impulsionam a arte do blending” – diz Fillion. Em outras palavras, e de uma forma mais simples, a ideia é que o participante, por meio de analogias que ultrapassam o olfato e o paladar, possa identificar características nos whiskies da Royal Salute, bem como entender que há relações entre outras áreas do conhecimento e a criação de whiskies. Como, por exemplo: o toque em um tronco de árvore fossilizado cria um paralelo com […]

Bourbon Month – Woodford Reserve

Setembro é um mês cheio. É quando nos despedimos do tão querido inverno para receber a – ultimamente – tão soalheira primavera. Há também uma pletora de celebrações. Como o impopular dia da compreensão mundial, em franca decadência, e o dia do barbeiro, em meteórica expansão. Ou o intrigante dia dos símbolos nacionais, e o paradoxal dia do gordo, que prega a importância da magreza. Mas nenhuma dessas efemérides é tão importante quanto o Mês da Herança Nacional do Bourbon (National Bourbon Heritage Month), celebrada nos Estados Unidos desde 2007. E neste ano de 2019, o website Difford’s Guide se uniu à marca Woodford Reserve para trazer a comemoração ao Brasil. Durante este mês, uma série de estabelecimentos preparou coquetéis exclusivos com o bourbon. Participam da ação os bares e restaurantes Banqueta, Benzina, Burle Bar, Caju, DOT, Drosophyla, Espaço 13, Fortunato, Guarita, Lateral, Maní, Modern mamma Osteria, Mundi Bar, Olívio, Praia Bar, Picco, Tavares, Tre Biccheri, Sylvester e Vista. Este Cão conferiu algum deles – como o Praia, e morreu de vontade com outros, como o do Espaço 13, que leva spray de whisky turfado. Foi também muito divertido ouvir as histórias por trás daqueles coquetéis. Gustavo Rômulo, do Burle […]

Baltic Bourbon – Beer Drops

Que setembro é o mês do bourbon você já sabe – afinal, isso já foi ostensivamente noticiado por aqui. A efeméride existe desde 2007, quando o senador Jim Bunning popôs um projeto de lei sobre o tema, que foi aprovado por unanimidade pelo senado americano. Afinal, mais um pretexto para beber bourbon whiskey nunca é demais. Nos estados unidos, a festa mais tradicional que comemora a herança desta bebida tão americana é o Kentucky Bourbon Festival, que este ano acontece de 18 a 22 de setembro. Durante a festividade, há eventos para todos os gostos. Como, por exemplo, um café da manhã de panquecas com bourbon. E uma degustação em um hangar do aeroporto de Bardstown, durante o pôr do sol. Há também infinitas aulas de coquetelaria e harmonização com a bebida. Mas – e como acontece com tudo que é bom – as celebrações não se limitaram aos Estados Unidos. E, para falar a verdade, nem ao mundo do bourbon. É que aqui no Brasil, a cervejaria Avós, de São Paulo, acaba de lançar um rótulo comemorativo. A Baltic Bourbon, uma baltic porter envelhecida em barris previamente encharcados com o bourbon whiskey Jim Beam. A Baltic Bourbon é a […]

Resiliência – Arran 18 anos

O rapper Will-I-Am uma vez disse que o mundo não precisa de mais uma opinião. Verdade. O mundo, na verdade, não precisa de mais um de uma porção de coisas. Brigaderia, paleteria mexicana, barbearia com cerveja. Escritório de advocacia, broker de bitcoin, partido político. Gente que reclama sem apresentar solução. Gente que reclama. Gente. Apesar disso, admiro quem envereda por alguns destes caminhos. É preciso mais do que coragem para tomar a iniciativa de abrir mais uma hamburgueria artesanal, por exemplo. É preciso certa inconsequência, uma resiliência que beira a teimosia, e – talvez acima de tudo – amor próprio e autoconfiança tão grandes que quase chegam ao delírio de vaidade. O mesmo acontece com whisky na Escócia. Em um país de aproximadamente oitenta mil quilômetros quadrados e que conta com mais de cem destilarias de whisky, é difícil imaginar que alguém pudesse ter o destemor para abrir mais uma. Mas foi justamente o que aconteceu em 1995. Naquele ano, Harold Currie (cuja história oportunamente será contada por aqui), ex-diretor da Chivas Regal, fundou a Arran Distillers próxima ao vilarejo de Lochranza, na ilha de Arran. Em 1998 a Arran lançou seu primeiro single malt. De lá para cá, o portfólio […]

Whiskies para comprar no Duty Free V

Este é um post sazonal, que já teve quatro edições. Depois, leia a primeira, segunda, terceira e quarta aqui, se quiser. Janeiro é o mês de muita coisa. Da continuidade dos boletos. Das chuvas torrenciais e dos alagamentos. De passar um calor incivilizado, e tentar se refrescar lavando o rosto na pia, somente para descobrir que tá tão quente, mas tão quente que até a água que estava dentro do cano está quente. Janeiro é o mês da cerveja estupidamente gelada, da caipirinha e da praia. Janeiro não é bem um mês pra whisky. Mas Janeiro é também o mês das viagens. De sair do calor da cidade pra ficar fedido, cremoso e queimado em algum outro lugar de sol fustigante, mas, quiçá, com uma vista mais bonita ou uma brisa um pouco mais fresca. Ou de tirar o passaporte do fundo daquela pasta de documentos, pegar o avião e tentar fugir pra algum lugar com uma temperatura menos abrasadora. Mas não sem antes passar na loja do Duty Free. E é aí que eu quero chegar. Janeiro talvez não seja o melhor mês para beber whisky. Mas é um dos melhores pra comprar. A oferta do freeshop é ligeiramente diferente daquela de nossa terra […]

(um pouco mais que um) Drops – Tobermory 15

Uma vez me perguntaram como eu decido o próximo whisky que vou comprar. Fiz uma serena expressão de conteúdo, e respondi com propriedade. Disse que pesquisava extensamente sobre as últimas inovações no mundo do whisky, e procurava aquilo que me tirasse da zona de conforto e que aguçasse minha curiosidade. Porque, afinal, tinha um blog de whisky. E com ele, vinha a responsabilidade de desbravar este etílico mundo da água da vida. Mas eu menti. Eu menti de uma forma descarada. Porque, pra falar a verdade, minha decisão sobre um whisky passa por dois fatores. O primeiro é eu gostar da destilaria. E o segundo é a garrafa ser bonita. Sério, vocês não tem ideia de quantas vezes relevei um líquido ordinário simplesmente por uma bela ampola. Acontece, porém, que às vezes com estas regras, eu acerto maravilhosamente. É o caso do Tobermory 15 anos, por exemplo. Uma edição limitada da destilaria homônima, localizada na ilha de Mull, que produz duas linhas diferentes de whisky. A primeira, com o mesmo nome da destilaria, é composta de whiskies pouco turfados, com notas cítricas e de especiarias. A outra, Ledaig, é defumada, com sabor de iodo e fumaça. Antes de falar do […]

Bruichladdich Black Arts – Drops

A maioria das coisas que compramos, passam, em algum momento, por uma decisão racional. Claro que a primeira coisa que avaliamos é o preço. Mas entre produtos equivalentes, procuramos sempre qualidades que nos interessam para tomar uma decisão. Um celular por exemplo. Preferimos certa marca a outra porque a câmera é melhor, ou porque a definição de tela é mais acurada. Vamos pensar em um mercado cujo consumidor é bastante desenvolvido, e que a maioria das decisões é feita com base em fatos. O de automóveis. Imagine um mundo em que você pode comprar uma McLaren. Pensando bem, não imagine, porque talvez você possa. Imagine um mundo em que eu posso comprar uma McLaren. Aí, certo dia, a marca inglesa resolve vender um carro sem passar quase qualquer informação ao consumidor. Ou melhor, tudo que ela diz é “de forma a explorar a relação exotérica entre a gasolina e os pistões, a McLaren lançou um de seus melhores automóveis até agora“. Nada de zero a cem. Nada de torque, informações sobre a transmissão ou emissões. E aí ainda desenha o carro como se ele fosse o cruzamento entre um F-117 e um gramofone. Eu provavelmente pensaria que a marca enlouquecera. […]

Smokin’ Bob Negroni – Negroni Week

Uma noite de inverno em Oakland, em 1905.  Frank Epperson, um garoto de onze anos de idade, esquece um copo com água, refresco em pó e um palitinho de misturar do lado de fora de sua casa. Naquele momento, Frank não fazia a menor ideia do que acabara de criar. No dia seguinte, o menino encontra seu refresco congelado, com um conveniente palito espetado, perfeito para manipulação. Nascia o primeiro picolé do mundo. O próprio Epperson, alguns anos mais tarde, tratou de patentear aquela sua serendipidade. Um século depois, a criação de Epperson está no mundo todo. E apesar de algumas curvas erradas – as paletas mexicanas e aquele negócio comprido e roliço de iogurte, por exemplo – jamais saiu de moda. É como o Negroni. Quase um século de vida e em perfeita forma. Aliás, o negroni foi criado também de uma forma bem despretensiosa. Sua história é contada no livro Sulle Tracce del Conte: La Vera Storia del Cocktail Negroni, de Lucca Picchi, bartender do Caffe Rivoire, localizado em Florença, na Itália. De acordo com o livro, o coquetel foi criado em 1919 no Bar Casoni, também em Florença, quando o conde Camillo Negroni pediu ao bartender Forsco Scarselli que lhe […]

Beer Drops – Maniacs Moscow

Nunca fui muito de futebol. Mas assumo que tenho acompanhado a Copa do Mundo com algum empenho e até torcido com entusiamo em algumas partidas, mesmo que o Brasil tenha sido elimado. Além disso, tenho um certo interesse pela Rússia. Talvez seja por conta de seus grandes escritores – como Gogol, Dostoievski e Tólstoi. Ou pela música, que contava com personalidades como Borodin e Stravinski (que, aliás, era um apaixonado por whisky). Aliás, a Rússia não é apenas um país de gigantes da literatura e música. Mas é também uma nação de coisas gigantes. O maior avião do mundo, por exemplo, é deles. Seu nome é Antonov An-225, e ele mede mais de oitenta e quatro metros de comprimento. O maior helicópteros – o Mil Mi-26 – também. E um dos maiores cachorros, o pastor caucasiano, que chega a pesar noventa quilos. Nada mais justo, então, que o estilo de cerveja batizado em homenagem ao país seja também superlativo. É a Russian Imperial Stout. Com alta graduação alcoólica e malte torrado, essas cervejas  foram criadas pelos ingleses no século XVIII, e podiam facilmente sobreviver à longa viagem entre o Reino Unido e a Rússia, onde eram consumidas – especialmente pela corte […]

Drops – Innis & Gunn Original Oak Aged

  Hoje falarei de um assunto polêmico, mas frequente. Um assunto discutido em quase todas as mesas de bar do Brasil. Algo que todo mundo faz, ainda que, às vezes, a gente prefira acreditar o contrário. Vou falar de cocô. Isso mesmo. Porque toda conversa de adultos regada a álcool termina, invariavelmente, em algo escatológico. Ou sexo. Cocô é quase tudo aquilo que ingerimos, mas que não é aproveitado por nosso organismo. Não importa o quão gostoso ou sofisticado foi seu prato. Aquele frango (que nojo), o spaghetti a bolonhesa, o medalhão de kobe beef e o caviar Almas de esturjão albino, todos eles, virarão a mesma repugnante coisa. E você sabe qual é. O que não significa, é claro, que ele não possa ser aproveitado por outras criaturas. É uma extensão do conhecido provérbio “lixo de uns, luxo dos outros”. Há bactérias que se alimentam das fezes. Vegetais retiram delas algumas substâncias importantíssimas para seu crescimento. Tirando o quase inevitável preconceito nojento, é uma história linda, na verdade. Uma história de aproveitamento, de ciclo e de eternidade. Seria quase transcendental, se não envolvesse titica. Mas não é apenas no vaso que histórias de reaproveitamento de – desculpe se algo […]