Drops – Ardbeg Twenty One

Uma Lamborghini. A imagem que me veio à mente imediatamente ao provar o belíssimo Ardbeg 21 (Twenty One) foi uma Lamborghini. Um automóvel com acabamento luxuoso, com materiais faustosos, todos milimetricamente encaixados, costurados, colados. Algo cuja delicadeza no feitio contrasta diametralmente com sua performance – que poderia ser definida como selvagem. Há, no Ardbeg Twenty One, uma certa sofisticação selvagem. Uma elegante exorbitância. Algo bem diferente de outros rótulos da destilaria. Ao contrário do queridíssimo Corryvreckan e Uigedail, a selvageria no Ardbeg Twenty One parece incrivelmente contida. Ela está lá, latente, você sabe que ela está lá, mas não transparece tanto. É algo subliminar. O Ardbeg Twenty One não sofre filtragem a frio. A garrafa não deixa claro se corante caramelo é utilizado. Mas, considerando os demais whiskies do portfólio da destilaria, é bem mais provável que sua belíssima cor seja absolutamente natural. O whisky é engarrafado na graduação alcoólica de 46% – perfeita para um líquido de contida selvageria. A maturação do Ardbeg Twenty One ocorre exclusivamente em barris de carvalho americano de 200 litros que antes contiveram bourbon whiskey. Apesar disso, sensorialmente, é um single malt extremamente complexo. A turfa (o defumado e medicinal) não é tão forte […]

Entrevista com Mathieu Deslandes – Diretor de Marketing da Royal Salute

“O supérfluo é uma coisa extremamente necessária“, escreveu Voltaire. Eu, autor de um blog sobre um dos mais supérfluos artigos do mundo – whisky – tenho que modestamente concordar com o aparente paradoxo de Voltaire. Whisky é uma necessidade desnecessária – como automóveis esportivos, roupas de grife e aquela torneira de cozinha de casa de rico, que tem uma molinha enrolada. Meu deus, como quero uma torneira daquelas! Há um irremediável desejo no supérfluo. Afinal, é de nossa natureza almejar o que ainda não alcançamos. Ou melhor, almejar uma variação que consideramos melhor daquilo que já temos. Uma torneira normal não é um objeto de desejo. Uma daquelas sofisticadas sim, ainda que sua função seja, essencialmente, a mesma. De Voltaire, passo para Chanel, que disse que “o luxo é a necessidade que surge quando o necessário já foi satisfeito“. No mundo dos whiskies, isso fica absolutamente claro. A grande maioria das marcas busca transmitir algum valor ligado ao luxo. Sofisticação. Elegância. Esclarecimento. Exclusividade. E poucas fazem isto com tamanha maestria quanto a Royal Salute. A começar pela idade de seu produto de entrada. Como se autodefinem, ao referenciar a idade mínima de vinte e um anos “a Royal Salute começa […]

Aberlour A’Bunadh – Drops 2019

John Wick pode te estrangular usando um telefone sem fio. Uma vez, John Wick foi para Marte – é por isso que lá não há vida. Tudo bem, essas frases na verdade são de Chuck Norris. Mas elas poderiam, muito bem, ser adaptadas para o personagem mais hiperbolicamente mortal do cinema de ação. Ainda bem que ele gosta de cães, senão, eu mesmo ficaria preocupado. Ao longo dos três filmes, o matador de aluguel despachou duzentas e noventa e nove pessoas. É bastante – quase uma por minuto de filme. Em comparação, o coitado do Rambo matou apenas duzentas e vinte pessoas. E, para isso, ele precisou de um filme a mais. O que talvez torne a franquia John Wick a mais sanguinolenta e mortalmente intensa da história do cinema. Mas o mais incrível é que, apesar dessa chacina, o filme parece até se desenrolar naturalmente. Quer dizer, não tem nada de normal em matar alguém usando um cavalo, um lápis, ou um livro. Mas, no universo vil de John Wick, essas mortes apresentam uma naturalidade quase harmoniosa. Afinal, é o John Wick, o que você espera que ele vá fazer com um livro numa biblioteca? Ler? Se fosse um […]

Entrevista com Sandy Hyslop – master blender da Royal Salute

Sábado passado fui pegar minha filha numa festinha infantil. Quando ela entrou no carro, notei que estava radiante. Mais do que de costume. Indaguei da razão de todo aquele entusiasmo. É que a festa era de Star Wars, e eu conheci a Leia. Quando crescer, quero ser igual a Leia – respondeu. Não entendi bem se ela queria ser princesa, controlar a Força, se apaixonar por um malandro ou ser sequestrada por um slime gigante com um tesão meio doentio por fêmeas de outras espécies. Mas, no fundo, compreendi a razão do arrebatamento. A Leia era um ídolo absoluto de minha pequena. Seria como se, um dia, um entusiasta automobilístico conhecesse Sir Stirling Moss. Ou um aficionado por filmes visse Jean-Luc “Cinemá” Godard. Ou certo admirador das artes plásticas conversasse com Jackson Pollock. Ou, finalmente, um entusiasta de whiskies como este Cão tivesse a oportunidade de entrevistar um grande master blender. Como, diremos, Sandy Hyslop – o diretor de blending da Chivas e responsável pela criação dos Royal Salute. E foi justamente isso que aconteceu, graças a um incrível convite da Royal Salute. Durante sua viagem para a Coréia do Sul, este Cão teve a oportunidade de entrevistar Sandy, que […]

Arran Port Cask Finish – Obsessão

Pode parecer óbvio o que vou dizer a seguir, vindo de um blog monotemático como este. Mas eu tenho umas pequenas obsessões. E não é o whisky, mesmo porque o whisky é uma obsessão bem grande tanto é que a Cã uma vez encontrou uma garrafa de whisky no armário do banheiro, do lado do antisséptico bucal, porque não tinha mais lugar pra colocar aqui em casa. Não. São obsessões pequenas, quase imperceptíveis, mas que me dominam completamente quando despertam. Uma delas é o número de cuecas que eu coloco na mala pra viajar. Tem que ser umas três por dia, no mínimo. Sei lá, eu sei que uma ou duas basta, mas alguma coisa dentro de mim sempre diz “olha, coloca mais umas. Dez cuecas para dois dias dias tá pouco“. Outra é mostarda. Eu adoro mostarda. Não consigo ir no supermercado sem comprar ao menos um vidrinho de mostarda, mesmo sem precisar. Se um dia, num supermercado angelical houvesse na gôndola a melhor mostarda do mundo ao lado da mais jubilosa vida eterna, e tivesse que escolher apenas uma delas, eu pegaria a primeira. Fácil. Morreria agarrado nela. E há uma situação ainda mais grave, quando há uma […]

Royal Salute 21 The Lost Blend – Das distinções

Em julho deste ano viajei, a convite da Royal Salute, para a Coréia do Sul, para provar o novo portfólio permanente da marca. E me surpreendi. Tanto com os whiskies quanto o país. É que a Coréia do Sul, para falar a verdade, é bem parecida com a gente. Lá tem tudo que tem aqui, mas as coisas são um pouquinho diferentes. Por exemplo, no prato, tem frango, carne, peixe. Mas o tempero é outro. E não tem muito feijão. Mas quase virtualmente em toda refeição tem alguma coisa de kimchi. Na nossa superstição, o número treze dá azar. Lá, é o quatro. As ruas não tem muitas palmeiras por lá, mas são cheias de cerejeiras. Na Coréia do Sul, quase todo mundo usa maquiagem, e tudo bem. Os semáforos falam e fazem um barulhinho engraçado quando você atravessa a rua, sei lá por que. E as pessoas usam máscaras contra poluição. E a língua, bom, a língua é totalmente e desesperadoramente diferente, a ponto de eu não saber nem como falar sim e não ou pedir pro taxista me levar pro hotel, porque, quando eu pedi, ele entendeu outra coisa e me deixou em um bar. O que até […]

Lançamento da linha Royal Salute na Coréia do Sul

Sempre fui apaixonado por livros. Gosto de ler quase tudo, ainda que tenha lá meus autores favoritos. Prefiro prosa à poesia, e tenho certa tendência pela ficção. Mas também aprecio um poema ou alguma biografia, desde que escritos com esmero. Assistir um filme ruim, de vez em quando, até tudo bem. São apenas duas horas. Mas a vida é curta demais para subliteratura. Meu interesse pela leitura despertou ainda como Cãozinho, quando ouvia contos de fadas contados pelo Cão pai. Como qualquer criança, me fascinavam as histórias fantásticas, em países distantes, eivados de mágica e populados por reis, rainhas, alquimistas e criaturas mágicas. Castelos e objetos insólitos complementavam a atmosfera cativante. E ainda que sempre me colocasse no papel de algum personagem da história, imaginava que contos de fadas pertenciam ao mundo do faz-de-conta. Na atrocidade de nossa realidade, eles não passariam de um gênero literário. Mas, aparentemente, estava enganado. Como num átimo de magia, tive um de meus mais improváveis desejos concedidos. Quer dizer, ao menos para um apaixonado por whiskies, como este Cão. É que fui convidado pela Pernod-Ricard para viajar até a Coréia do Sul – um país bem distante – para provar, antes de todo mundo, […]

Arran The Bothy – Sobriedade

Tenho uma relação complicada com uma porção de coisas. Comida, automóveis, plástico bolha (afinal, sucumbo à tentação de estourá-los ou uso para proteger garrafas?). E antibióticos. Porque eu entendo a importância dos antibióticos – afinal, eles nos permitiram escolher entre a dor de estômago ou uma morte lenta, definhante e de dor excruciante. Mas eu detesto tomá-los. E nem é porque dá gastrite, ou pela disciplina do horário. Mas porque tenho que parar de beber. Por. Dez. Dias. Toda vez que tomo antibiótico e me deparo com uma garrafa de whisky, me sinto como meus confrades quadrúpedes observando aquela televisão de cachorro na padaria. Impotentes, sofregamente observando o frango girar, mas incapazes de se desvencilhar daquela visão. Foi justamente o que aconteceu com o The Bothy, recém-importado para o Brasil pela Single Malt Brasil. Recebi minha garrafa no segundo dia de antibióticos um tratamento de dez. Passei oito languidos dias olhando de soslaio a garrafa fechada sobre minha estante. Até que, depois de doze horas do último comprimido, numa bela quarta-feira, finalmente estava livre. Desci o líquido na taça com antecipação. Era a primeira vez que provava o whisky. Seu aroma me atingiu quase instantaneamente. Tomei um minigole. Com graduação […]

Chivas Regal XV – Sofisticação despojada

Esses dias fui almoçar no shopping, e vi uma bolsa feminina de palha na vitrine de uma loja de grife. Olha, eu não presto muita atenção bolsas, mas aquela era uma bem bonita. Ela tinha um ar elegante, mas sem ser pretensioso. Pensei em comprar para a Cã, de aniversário de casamento. Fazia um bom tempo que não dava um presente para ela. Entrei na loja em passos largos, me sentindo resoluto. A Cã iria amar a surpresa. Passei uns minutos observando a bolsa, braços pra trás, simulando interesse pela peça e aguardando que alguém me atendesse. Uma vendedora, notando minha encenação, se aproximou. Gostou da bolsa? Sim, queria dar pra minha esposa. A vendedora então tirou a bolsa da vitrine e a apoiou num mostruário. Passando a mão delicadamente por sua lateral – da bolsa – disse. Olha só, a palha é tratada com um produto especial para ser durável. E o design é italiano. É um design despojado, mas elegante, perfeito pra levar pra praia. Seja pra Pipa ou pra Mikonos. Nossa, realmente, é muito bonita, muito especial – retruquei, tentando chegar logo à parte do preço. A vendedora então puxou, com o cuidado de quem desarmava uma […]

Chivas Regal 18 French Oak Finish

Minha relação com a tradicional culinária italiana é uma de amor e, bem, indiferença. Amo tudo que leva frutos do mar e sou apaixonado por risotos. Porém, não ligo muito para pizza. É eu sei, é estranho, porque pizza é tipo Nutella, que, diga-se de passagem, é outra coisa tradicionalmente italiana que eu não tenho o menor carinho. E quando o assunto são as massas, fico no meio do caminho. Sou indiferente à lasanha. Não gosto muito de molho alfredo e nem quatro queijos. Naturalmente, adoro um marinara e sou alucinado por carbonara. De verdade. E ainda que eu prefira a versão sem creme de leite, não tenho qualquer pós-conceito em relação àquela que leva o ingrediente. Carbonara, para mim, é a perfeição materializada em carboidratos e lipídios. Por muito tempo, imaginei que o carbonara fosse irretocável. Até que, certa vez, provei uma versão trufada do prato. E aí, meus conceitos de perfeição foram atualizados. Não que eu tenha deixado de gostar do prato original, ou que meu apreço tenha diminuído. Mas senti que havia me apaixonado novamente, como da primeira vez, por aquela maravilha culinária. O mesmo aconteceu comigo recentemente com o Chivas Regal 18 French Oak Finish, versão […]