Drops – Compass Box Menagerie

A humanidade já teve uns períodos bem esquisitos. E nem tô falando da década de oitenta, em que tudo era horroroso a ponto de até o Almodóvar fazer um filme inassistível. Me refiro a épocas bem mais remotas. Como, por exemplo, a idade média. Além da inexistência de padrões mínimos de higiene, o povo medieval curtia uns troços bem esquisitos. Especialmente os nobres. Por exemplo, muitos deles mantinham coleções de animais exóticos em suas cortes reais. Algo que, pra mim, e talvez aqui denuncie a idade, parece coisa do Sigfried & Ross.

Essas coleções malucas se chamavam Menageries, e eram símbolos de poder, usados com o único fim de ostentar. Ao invés de ter uma Lamborghini – mesmo porque Lambos não existiam – o cara comprava um par de, sei lá, hipopótamos. E aí, tinha que ter um cara só pra limpar a montanha de caca no meio do palácio. E evitar que o tigre de bengala, que fora presente de outro nobre sem noção, não tentasse devorá-los – ou devorar o cuidador. Mas tudo era recompensador, porque quando a corte inteira ficava fedendo a cocô, o nobre podia dizer “ah, esse aroma é porque eu ganhei um casal adorável de hipopótamos, quer ver?”

Nossa, que aroma delícia, abriu meu apetite.

A Menagerie mais famosa do mundo foi a de Torre de Londres. Ela começou lá por 1200, com o Rei John, e contava com leões e ursos. Há um registro de 1235 de um outro monarca maluco dando de presente pra ele três leopardos. No século 16, a Royal Menagerie, como era conhecida, ainda estava por lá, e virou uma espécie de zoologico aberto ao público. As pessoas podiam pagar pra entrar, ou levar um cachorro ou gato pra virar comida desses bichos que nem deveriam estar lá pra começar a conversa.

É baseado nessa história completamente maluca que a Compass Box Whisky Co., famosa empresa de blended whiskies para entusiastas, criou sua nova expressão. O Compass Box Menagerie, que, não por acaso, tem estampado no rótulo um punhado de animais curiosos. De acordo com a própria Compass Box, o nome “menagerie” vem do perfil animalesco – ou selvagem – de alguns whiskies usados em sua mistura. “Algumas destilarias são famosas por seu destilado carnudo, sob uma camada frutada ou maltada, que é só um pouquinho selvagem. Nós nos inspiramos para procurar maltes com este toque – seja da destilação ou da maturação subsequente – e juntá-los em nosso Menagerie”

Como quase todo Compass Box, a receita é divulgada quase em detalhes. Os whiskies que compõe o Menagerie são: 42,5% de Mortlach, 5,4% de Laphroaig, 5% de Glen Elgin em barris de jerez, 13,1% de Glen Elgin em barris retostados, 2,5% de Deanston em barris de jerez, 14,6% de Deanston em barris de reuso e, 16,7% de seu Highland Malt Blend, que possui, muito provavelmente, Clynelish. São, em boa parte, maltes que tem algum perfil sulfúrico ou – numa tradução horrível do inglês – carnudo.

Como você já deve supor, o Compass Box Menagerie não está à venda por aqui. Mas, é uma curiosidade fantástica para aqueles que buscam entender um pouco mais sobre o processo de “blendagem” dos scotch whiskies, e a transparência do mercado. E confie em mim, tem um aroma infinitamente melhor do que o de manter um zoológico em casa.

COMPASS BOX MENAGERIE

Tipo: Blended Malt

Marca: Compass Box Whisky Co.

Região: N/A

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: especiarias, cravo, canela, muito gengibre.

Sabor: Seco e frutado, com frutas amarelas e especiarias. Final seco, longo e apimentado, com gengibre e pimenta do reino

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