Compass Box Spice Tree – Mescla

Maverick. Se pudesse escolher uma palavra perfeita para resumir esta prova inteira, esta palavra seria Maverick. Ou Maverique, se preferir o neologismo. E não é por causa do carro, nem do míssil, tampouco do personagem de Top Gun, ou do apostador estrelado por Mel Gibson. E para os mais íntimos, também não tem a ver com meu finado cãozinho, mascote deste infame website, orgulhosamente apresentado na tela inicial. Todos estes significados, na verdade, são derivativos.

A palavra maverick surgiu nos Estados Unidos no começo do século dezenove, por conta de Samuel Augustus Maverick, um fazendeiro meio maluco que se recusava a marcar seu gado. É que naquela época, o Texas era um estado selvagem, cheio de grandes planícies, fazendeiros, caubóis armados e baixíssima densidade demográfica – assim como hoje, pra falar a verdade. Mas, enfim, os fazendeiros do Texas marcavam seu gado com ferro quente. Mas não o senhor Samuel. O senhor Samuel, espertamente, se recusava a marcar seu gado. E se indagado sobre a omissão, esclarecia que “Se todos os outros fazendeiros marcam, eu não preciso marcar. Por exclusão, todos os sem marca são meus“.

Com o tempo, o significado da palvra Maverick se expandiu. E passou a definir um rebelde. Uma pessoa que pensa de forma independente, e que se recusa a seguir costumes e regras do grupo a que pertence. Uma definição que se encaixa perfeitamente à Compass Box Whisky Co., empresa fundada por John Glaser em 2001, e cujos whiskies acabam de chegar oficialmente ao Brasil pela importação da Single Malt Brasil.

Glaser

É que a Compass Box é uma empresa de nicho, especializada em criar, especialmente, blended malts. Ela tem um posicionamento iconoclasta, e, ao longo de sua história, contestou de forma ora bem-humorada, ora combativa, diversas regras impostas pela Scotch Whisky Association. Como, por exemplo, a regra sobre declaração de idade mínima com seu Three Year Old Deluxe, e a proibição do uso das palavras “vatted malt” e “pure malt” com o lançamento de seu “The Last Vatted Malt”. E, com o Compass Box Spice Tree, tema desta prova, não foi diferente.

Para um whisky geek, a história do Spice Tree prescinde quaisquer floreios. Em 2005 a Compass Box – já conhecida por sua rebeldia frente às regras da Scotch Whisky Association – lançou um blended malt maturado em barris de carvalho americano, que possuíam ripas de carvalho europeu em seu interior. A ideia inicial seria que o líquido fosse influenciado pelas duas madeiras ao mesmo tempo, aumentando a complexidade sensorial do whisky. Além disso, era um experimento interessante, e, claro, um excelente pretexto comercial.

De acordo com John Glaser, fundador da Compass Box “O Spice Tree é considerado por muitos como nosso whisky de malte ilegal. (…). O que fizemos originalmente foi utilizar uma técnica emprestada do mundo do vinho. Ripas internas. Em nosso caso, ripas de carvalho europeu. Nós alinhamos as ripas no interior de barris de whisky usados, e colocamos um whisky já maturado lá dentro, para uma segunda maturação

e continua “A SWA, porém, não gostou. Consideraram que aquilo não era uma técnica tradicional de produção de whisky (…). Depois de um debate de meses, decidimos que não podíamos mais seguir a batalha. Então, tiramos o whisky do mercado. E nos anos subsequentes, desenvolvemos um novo tipo de barril, com carvalho francês nas tampas dos barris. Ainda que a maturação levasse mais tempo, isso permitiu que devolvessemos o Spice Tree ao mercado“. É esta versão, revista, que acaba de chegar ao Brasil.

Poker Face pra SWA

É interessante como a Compass Box – ao contrário de boa parte dos produtores de scotch whisky – é bem transparente sobre a composição de seus produtos. Basta uma pesquisa superficial para encontrar os exatos componentes do whisky. A base do Compass Box Spice Tree é Clynelish – um single malt que, sozinho, já é incrivelmente complexo – com um toque de Dailuaine e Teaninich. Este posicionamento, de certa, forma, é bem intencionado. Mas, é também multifacetado – a Compass Box é uma empresa de nicho com produção bem restrita.

De acordo com Jill Boyd, blender do time da Compass Box Whisky Co., “basicamente, o que acontece com o Spice Tree é que nós blendamos maltes e maturamos por mais dois anos em nossos barris. Depois que são maturados, eles são reunidos e adicionamos um pouco de whiskies maturados em barris de ex-bourbon, para garantir que não fiquem muito amadeirados. Para essa receita específica, a mistura é 14% Clynelish, 4% Dailuaine e 82% de nosso Highland Malt Blend (que é a mistura que maturou nos barris da Compass Box).”

Sensorialmente, o Compass Box Spice Tree é, praticamente, um resumo de seu nome. É um whisky apimentado, com notas de gengibre, cravo, canela e pimenta do reino. Há um sabor frutado que cria coesão, e equilibra o sabor de especiarias. O final é longo e também apimentado, com mais gengibre. Estas especiarias vêm, em boa parte, do uso das tampas de carvalho europeu – que trazem um resultado parecido com uma breve finalização em barris de carvalho europeu virgens de certos whiskies.

Assim, se você – como a Compass Box – se considera um Maverique, o Spice Tree é prova obrigatória. É um blended malt de alta qualidade, que apela para um público que anseia por esta qualidade. Aqueles, os esclarecidos, bastiões da verdade e do conhecimento. Os condenadores do corante caramelo, da padronização e da filtragem a frio. Os pensadores livres e conhecedores, que não são guiados pelo rebanho, mas, sim, pela luz da sabedoria.

Mas que, de vez em quando, e como todo mundo, adoram um marketing e um whisky bem feito.

COMPASS BOX SPICE TREE

Tipo: Blended Malt

Marca: Compass Box Whisky Co.

Região: N/A

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: especiarias, cravo, canela, muito gengibre.

Sabor: Seco e frutado, com frutas amarelas e especiarias. Final seco, longo e apimentado, com gengibre e pimenta do reino

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