Glenfiddich Grand Cru 23 – Ano Novo

Ah, chegou o ano novo. E com ele, aquelas tradicionais simpatias. Pular sete ondinhas, comer lentilha, assoprar canela, comer romã e guardar as sementinhas junto com a folha de louro na carteira. Colocar dinheiro no sapato e usar branco. Por mais inofensivo que possa parecer, devo, porém, declarar que não vou fazer nada disso.

Do jeito que sou azarado, provavelmente espirraria com a canela, tropeçaria e cairia no mar. Arrotaria lentilha de susto, sujaria a roupa e o sapato. O dinheiro na sola ficaria ensopado, assim como minha carteira. Que depois de um tempo começaria a mofar, devido à folha de louro e sementes de romã úmidas, guardadas lá dentro. E meu ano seria péssimo.

Por isso, decidi que não vou fazer simpatia nenhuma. Aliás, para não correr riscos, resolvi passar o ano novo bem longe do mar. Num hotel da cidade, vendo algum filme. E sem champagne também, porque a chance de eu acertar meu olho com a rolha é razoável. Ao invés disso, escolhi um single malt maturado em barricas que antes contiveram champagne. Ou quase isso. O Glenfiddich Grand Cru 23 anos.

O Glenfiddich Grand Cru 23 chegou ao Brasil sem grandes explosões de rolhas, no final de 2023 pela Natique-Osborne, representante da marca no país. Ele faz parte da “Grand Series” da Glenfiddich, que conta com mais quatro expressões: Grande Couronne, Gran Cortes, Gran Reserva e Grand Yozakura, finalizados em barris de cognac, jerez, rum e awamori, respectivamente. Nenguma das outras expressões vêm oficialmente para o Brasil.

Neste ponto do texto, devo dizer que menti – como nas resoluções de ano novo. Na verdade, o Glenfiddich Grand Cru não é finalizado em barricas de champagne. Não exatamente. A finalização ocorre em barricas de vinho francês “cuvee”, que é um dos estágios da produção da champagne. Para se tornar propriamente champagne, o cuvee deve passar por uma refermentação na garrafa – é o conhecido método Champenoise.

A maturação do Glenfiddich Grand Cru ocorre, inicialmente, em barricas de carvalho americano de ex-bourbon, e carvalho europeu. O componente mais jovem na mistura passa 23 anos nas barricas. Depois, os maltes são combinados, e passam mais seis meses em barricas de vinho francês “cuvee”. Assim, ainda que o Grand Cru tenha vinte e três anos estampados em seu rótulo, provavelmente, parte de seus ingredientes são mais maturados.

Outros whiskies da Grand Series

Sensorialmente, o Glenfiddich Grand Cru é traz notas de caramelo, açúcar de confeiteiro, maçã, e um certo brioche – ou pão doce – que fica mais evidente na finalização. É até curioso, dizer que um whisky que passa por barricas de vinho francês desenvolva um aroma de brioche. Não fosse verdade, diria que é um delírio causado pela champagne do ano novo, combinada com a propensão de buscar uma referência cultural da França no líquido. De toda forma, é um dos melhores Glenfiddich que este Cão já bebeu.

Além do líquido delicioso, a embalagem do Glenfiddich Grand Cru é impressionante. Uma caixa cuja tampa gira nela mesma, revelando a garrafa – toda preta e dourada – escondida em seu interior. O visual beira o brega, mas consegue se manter elegante e demonstrar as credenciais do single malt premium da destilaria de Speyside.

Neste ano novo, eu não vou fazer nenhuma simpatia. Estarei trajando uma cueca usada, no escuro, sem lentilhas, romãs ou louros. Sem pular ondinhas ou estourar champagne. Mas, da melhor forma possível. Com um belíssimo single malt no conforto do lar. Se isso não é o melhor jeito de se começar um ano, eu realmente não sei qual é.

GLENFIDDICH 23 GRAND CRU

Tipo: Single Malt Whisky com idade definida

Destilaria: Glenfiddich

Região: Speyside

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: Caramelo, açúcar de confeiteiro, frutas em calda.

Sabor: Frutado, com baunilha e açucar de confeiteiro. Final longo, frutado e puxado para o mel e brioche

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