Se você mora no planeta Terra, é bem possível que já tenha assistido O Poderoso Chefão (The Godfather), de Coppolla. O filme é um absoluto clássico. Há um equilíbrio difícil de atingir. Camadas, costuradas entre si pelo fino fio invisível da trama, que alterna entre momentos cotidianos da famiglia Corleone e a aspereza cruel do crime organizado da década de vinte. Por trás de personagens de aparência sofisticada e elegante há a singeleza de homens cujos fins sempre justificam os meios. E por mais que aqueles sejam criminosos de sangue frio, é impossível não sentirmos empatia por eles.
Talvez o sucesso do filme resida aí, na identificação. Porque, como definiu Vincent Camby em sua crítica de 1972, ele trata de um assunto incomum (a Máfia), envolvendo uma porção isolada de um grupo étnico bem particular (os italianos americanos de primeira e segunda geração). Mas trata também de assuntos fáceis de nos relacionarmos. Honra, valores familiares, vingança e a exaustiva sensação de que, por mais que obstinadamente nademos, a corrente de nossa natureza – ou dos acontecimentos – nos jogará novamente nas pedras de onde partimos.
O Poderoso Chefão não apenas definiu um gênero cinematográfico. A influência do filme pode ser vista em restaurantes, vinhos e obras plásticas. Aliás, a barbearia de um grande amigo deste Cão leva, justamente, o nome do personagem central da trama – a Corleone. E, claro, a coquetelaria, com o drink The Godfather.
Gostaria de dizer que o Godafther é um coquetel complexo, que exige muita perícia para ser executado. Que há segredos e sofisticação – assim como no filme – para sua preparação. Mas a verdade, mas uma vez, é bem mais crua. O Godfather é um dos coquetéis mais simples do mundo. Ele leva apenas dois ingredientes. Amaretto e whiskey. A proporção clássica, divulgada pela International Bartender’s Association é de um para um.
A história do Godfather – o coquetel, não o filme – é incerta. Mas a mais aceita é que ele teria sido criado na década de setenta. Seu nome seria uma singela homenagem a Marlon Brando, que era apaixonado pelo amaretto Disaronno e que, como vocês já devem (ou deveriam) saber, encarnou Don Vito Corleone, o personagem central da trama de O Poderoso Chefão.
A receita clássica do Godfather leva whiskey americano. Entretanto, Dale DeGroff – um Poderoso Chefão do universo dos bartenders – nos fornece uma versão diferente em seu livro “The Craft of Cocktail”. Segundo este Don Vito Corleone do álcool, pode-se usar whisky escocês. E aí, meus sobrinhos, o roteiro começa a ficar interessante.
Porque, assim como acontece com o Blood and Sand – outro coquetel inspirado pela sétima arte – dependendo do whisky utilizado, o perfil de sabores do drink muda completamente. E, claro, as proporções devem ser adaptadas para manter o equilíbrio.
Por isso, talvez pela primeira vez na história deste blog, não ensinarei a receita clássica. Mesmo porque já a mencionei alguns parágrafos acima, e não há mistério algum em adicionar partes iguais de amaretto e whiskey. Não, hoje lhes passarei a variação preferida deste Canídeo, sempre testada à exaustão e quase à embriaguez. Adivinhou quem pressupôs que ela levaria whisky turfado.
Por fim, para evitar quaisquer polêmicas, resolvi mudar um pouco o nome do drink. Abram uma página em branco em seus cadernos mentais para esta (medíocre) invenção, coroada por um trocadilho cretino, inspirado pelo nome deste blog. Conheçam o
THE DOGFATHER (Isso é um Godfather de whisky defumado)
INGREDIENTES
- ¾ dose de Amaretto (Disaronno)
- 1 e ¼ doses de whisky defumado (Este Cão utilizou Johnnie Walker Double Black. Mas note que dependendo do whisky usado, o perfil do coquetel mudará. Leia a nota após a receita)
- Gelo
- Mixing Glass (ou algum recipiente para mexer o coquetel)
- Strainer (ou peneira)
- Colher bailarina (ou qualquer colher para misturar)
PREPARO
Adicione as duas doses no mixing glass, com bastante gelo.
- Mexa por alguns poucos segundos
- Desça a mistura em um copo baixo, com um gelo grande ou alguns menores.
- Basta se acomodar em uma poltrona de couro e, com olhar distante, contemplar seu coquetel como um Don.
Nota: A proporção aqui dependerá de seu gosto. Aumente a dose de Disaronno se você preferir um coquetel mais doce, apenas com um final defumado. Brinque com as proporções e o whisky até chegar à sua receita. Vale até misturar whiskies diferentes (que tal algo que leve Black Grouse e Ardbeg ao mesmo tempo?). Mas note que, neste caso, o equilíbrio do coquetel é alcançado quando nenhum dos ingredientes eclipsa o outro.
Simplesmente sensacional! O nome do drink é genial haha.
Grande filme e grande drink (ainda mais adaptado para seu gosto, ou melhor, nosso gosto).
Que venha a fumaça e se você vem até minha casa sem trazer café, que me traga whisky então haha.
Grande abraço!
Agora fiquei curioso. O ruim de ver receitas de coquetéis é que tenho que acabar comprando uma garrafa de alguma bebida que não tenho (no caso, o Amaretto).
Tenho uma receita que inventei uma vez (talvez já exista, mas não conheço):
1oz bourbon
3/4 oz Cointreau
1/2 oz suco de laranja
Mexa e coe em um copo de martini gelado.
Decore com casca de laranja
Olha lá, esse nunca vi assim. Existem variações, mas o seu está lá entra um whisky sour e um screwdriver. Interessante! Vou te dar uma ideia para deixar ele bonito. Você tem xarope de româ (aka Grenadine)? Se tiver, coloca um pouco numa colher e desce com cuidado na taça. Ele vai fazer uma espécie de degradê entre o vermelho do grenadine e o amarelo do drink, como se fosse um tequila sunrise.
Tenho sim, vou testar.
Valeu pela dica
Abs
Acabei de fazer um com Laphroaig Quarter Cask/Logan, ficou sensacional!
Caraca, mestre. Vou experimentar 🙂
Godfather com Amaretto e Whisky Gentleman Jack fica uma beleza.
Gentleman Jack com Disaronno, ficou fantástico
Desde o dia que provei esse DRINK GODFATHER com AMARETTO e WHISK nunca mais deixei de tê-los em CASA é FANTÁSTICO
Uma das melhores combinações que experimentei. Hoje estou viciado