Sabe, eu sou uma pessoa mais ou menos hiperativa. Para mim, ficar preso em algum lugar sem possibilidade nenhuma de inventar alguma coisa para fazer é quase uma sentença de prisão perpétua. Meu dia ideal é aquele com a agenda limpa e uma miríade de possibilidades. E, para isso, viver em uma cidade grande é excelente.
Afinal – resguardado o limite do bom senso e da moralidade – posso fazer praticamente o que tiver vontade. Há infinitos restaurantes, milhares de bares, centenas de cinemas, dezenas de museus e parques. Talvez tenha acordado com a estranha vontade de praticar pelota basca pela primeira vez. Sem problemas, conheço um clube que possui uma quadra.
Em oposição, um lugar que não oferece tantas possibilidades me assusta. A proverbial ilha deserta, no meu caso, seria um castigo maior do que a morte. Ainda que eu pudesse levar aquele meu livro e a tal única garrafa de whisky. Porque, afinal, o que eu faria com meu dia após terminar a leitura e secar a garrafa?

Bem, se eu fosse Archibald Campbell, e vivesse no século dezenove, eu saberia exatamente o que fazer. Eu fundaria uma destilaria de whisky. Afinal, na lógica de Campbell, nada melhor para isto do que uma ilha praticamente desabitada, infértil e montanhosa. Foi exatamente o que ele fez. Assim nasceu a “Small Isles Distillery”, que, mais tarde, tornou-se a Isle of Jura.
Na verdade, a história teve um pequeno percalço. A destilaria teria sido fundada em 1810, num esconderijo de um contrabandista. No final daquele século, porém, ela foi desativada – com a progressiva retirada de seu equipamento, estoque, e por fim, o teto – e assim permaneceu por mais de sessenta anos. Em 1960, a população da Ilha resolveu reconstruí-la sobre as ruínas da antiga, e sua primeira destilação ocorreu em 1963. O estilo do whisky também mudara. Antes, tradicionalmente turfado – à moda de Islay – o single malt produzido nas novas instalações era apenas levemente defumado.
E foi assim, que em 1960, nasceu a nova destilaria de Jura. A mesma que conhecemos até hoje, apesar de uma – discreta – expansão.
Tavez você esteja se perguntando o que aconteceu com a ilha de Jura, após a reconstrução da destilaria. Teria sua economia prosperado e a população crescido? Bem, então saiba que apesar de ser a oitava maior ilha das hébridas escocesas em extensão, ela é apenas a trigésima primeira em população. São aproximadamente duzentas pessoas. Por outro lado, a ilha é povoada de cervos. Há mais de cinco mil cervos. O que dá mais ou menos vinte e cinco destes saltitantes seres por pessoa.
Atualmente, a Jura produz uma incrível variedade de whiskies. Há single malts bastante defumados e ricos (como o Prophecy e Turas Mara), defumados e secos (como o Superstition), pouco defumados e ricos (como o Duriach’s Own) e infinitas edições limitadas, como Brookyln e Tastival. Mas sua expressão mais clássica é o Jura dez anos. Não por acaso, batizado de Jura Origins.
De acordo com o testemunho da própria destilaria, o Origins “é o whisky que simboliza a reconstrução de nossa comunidade e o renascimento da destilaria Jura. No rótulo há o símbolo celta do nascimento, começo e das forças da natureza. É algo que adicionamos à garrafa porque achamos que simbolizava nossa história particular, e o whisky que está no coração de tudo aquilo que fazemos”.
Ainda que não seja claramente divulgado, este Cão suspeita que a maturação do Jura Origins ocorra somente em barricas de carvalho americano que antes continham Bourbon whiskey. Isso proporciona sabor leve, adocicado, com final de baunilha e mel. A sensação de leveza é potencializada pelo destilado, pouco oleoso, fruto dos alambiques altos – alguns dos mais altos de todas as destilarias escocesas, apenas atrás de Glenmorangie e Bunnahabhain.

O Jura Origins recebeu medalhas de prata na International Wine and Spirits Competition de 2014 e 2013 na categoria de single malt das ilhas, e na International Spirits Challenge de 2015 como Single malt abaixo de doze anos. Nada mau para a versão de entrada de uma destilaria.
O Jura Origin é o tipo de single malt que agradará aos paladares mais treinados e surpreenderá os iniciantes. Ele é perfeito para se tomar em qualquer situação. No mais frio inverno do campo ou mesmo no calor infernal de uma praia. No bar ou no conforto do lar. É o tipo de whisky que transformaria o mais absoluto tédio de qualquer ilha deserta no entusiasmo da mais cosmopolita das cidades.
JURA ORIGINS 10 ANOS
Tipo: Single Malt com idade definida – 10 anos
Destilaria: Jura
País/Região: Islands – Hebrides
ABV: 40%
Notas de prova:
Aroma: frutado, adocicado, baunilha.
Sabor: mel, frutas em calda. Final médio, progressivamente mais seco. Levemente (quase imperceptivelmente) defumado. Baunilha.
Com água: A água o torna ainda mais adocicado. Baunilha fica ainda mais clara.
Preço: em torno de R$ 270,00
Excelente texto (como sempre…)
Primeiramente, parabéns pelo excelente texto!
Jura Origins é um whisky especial para mim. Embora eu nunca o tenha provado, ele é o primeiro Single Malt com o qual eu tive real contato e passou bem perto de ser minha primeira aquisição deste tipo.
Na candy shop de minha aldeira ele era encontrado a R$ 171,00. Agora só é possível encontrar o Diurachs’ Own.
Grande abraço!
Parabéns a vocês pelas excelentes Histórias e análises, muito agradável de ler e receber conhecimento.
Todo Whisky que penso em comprar, antes venho aqui no cão engarrafado, conferir o review de vcs.
Parabéns mais uma vez
Baita elogio! Obrigado Jorge!!
Boa tarde!
Poderia me explicar se existem diferenças significativas entre o Jura 10 Origin e o Jura 10 novo?
Wilson, foi apenas uma mudança de embalagem, a principio. Mas, nunca coloquei os dois lado a lado! Voce provou? Se sim, seria legal se compartilhasse a impressão. Interessou