Esta é a terceira edição de um texto sobre personagens ficcionais que gostam de whisky. A primeira lista, elaborada por mim há mais de um ano, era um exercício mental. Queria lembrar-me dos mais conhecidos personagens que, assim como este Cão, apreciam um belo whisky. Consegui rememorar James Bond, Jessica Jones, Harvey Specter, Jack Torrance, Ron Burgundy e Desmond Hume. E, nos primeiros dias, fiquei muito feliz com o resultado. Afinal, imaginava que pudesse ter olvidado um ou dois, mas aquela era uma lista bastante completa.
Qual foi minha surpresa, porém, quando os leitores deste infame blog começaram a citar dezenas de outros personagens que havia esquecido ou, pior, nem conhecia. Eram tantos, e de tantas obras diferentes, que demorei um pouco para fazer minha lição de casa. Assisti aos filmes e às séries – quer dizer, ao menos a maioria delas – e elaborei uma segunda lista. Agora, apenas com as sugestões recebidas. Fizeram parte dela John Constantine, Charlie Harper, Don Draper, Barney Stinson, Raymond Reddington e Abe Lucas. Mais uma vez, regojizei-me com aquilo. Doze. Não devia ter muito mais do que doze amantes ficcionais de whisky.
Mas, mais uma vez, estava enganado. Não levou nem mesmo duas horas até receber a primeira sugestão. O tentente-coronel Frank Slade, de Perfume de Mulher. Uma avalanche de outros seguiram. Assim, me vi mais uma vez obrigado a voltar às telas e preparar mais uma lista. Abaixo estão seis personagens que amam whisky e – bônus – um que não temos certeza, mas que não poderia faltar. Todos, sugestões de nossos esforçados leitores. Não terei a presunção de imaginar que desta vez concluí o assunto. Não. Desta vez, aguardarei os comentários com um copo de whisky na mão e um controle-remoto na outra. Hoo-ah.
Dr. House
Mau humorado, sarcástico e politicamente incorreto, Dr. House é um dos mais famosos médicos da ficção. Utilizando métodos um tanto pitorescos, House consegue – entre um ou outro erro – realizar os mais improváveis diagnósticos. Diagnósticos de doenças que, aliás, podem ser qualquer coisa. Qualquer coisa menos lupus.
O personagem possui uma sinceridade quase extrema, que todos nós – e principalmente este Cão – adoraríamos ter. Ainda que ele se meta em bastante confusão por conta dela. Mas há um ponto que nos une a este (nem tanto) amável doutor. O amor pelo whisky. House bebe bastante e de tudo, mas seu frio coração bate mais forte pelo bourbon Maker’s Mark.
Ray Donovan
O protagonista da série homônima da Showtime possui um trabalho que tangencia um mundo cheio de glamour. Porém, a natureza de seu ganha pão não possui qualquer encanto. Ele é uma espécie de solucionador profissional de problemas dos famosos e poderosos de Los Angeles. E por problemas, eu não quero dizer consertar a pia, trocar o pneu do carro ou instalar um lustre. Mesmo porque, se fosse este o caso, a série seria muito chata.
Donovan trabalha para o escritório de direito Goldman & Drexler. Sua função é subornar, entregar propinas e chantagear autoridades, para evitar que seus clientes sejam responsabilizados por seus atos. Apesar de bastante desagradável, o ofício de Ray lhe proporciona algumas coisas boas. Como, por exemplo, apreciar um Highland Park 25 anos de vez em quando.
Archer
Sterling Archer é o personagem principal da série Archer, veiculada pela FX. Sterling começa como um espião que trabalha para a International Secret Intelligence Service (incrivelmente, ISIS). Porém – e evitando aqui um spoiler – mais tarde resolve diversificar sua linha de trabalho para campos, diremos assim, ainda menos usuais. Há grandes semelhanças entre Archer e outro espião alcoolatra que amamos. James Bond.
Autoindulgente, misógino, egoísta e sexualmente promíscuo, não há muito o que se apreciar em Archer. Porém, por alguma razão – assim como ocorre com Bond – desenvolvemos uma estranha simpatia pelo personagem. Talvez seja por causa de seu sarcasmo. Ou seu gosto refinado, que inclui whiskies. Especialmente aquele da marca ficcional Glengoolie.
Radamanthys de Wyvern
Se você viveu sua infância na década de oitenta ou noventa, é bem provável que tenha sido viciado em Cavaleiros do Zodíaco, e sabia quase tudo que se tem para saber sobre os personagens. Porém, algo que talvez tenha olvidado é que um deles possui um gosto bem parecido com o seu. O Radamanthys, nascido na curiosamente batizada ilha de Fellows, no Reino Unido.
Wyvern despreza quase tudo que se move. Porém, é um adorador da melhor bebida do mundo. Em determinada cena, o cavaleiro de Wyvern relembra sobre Pandora, enquanto vagarosamente beberica algum whisky on the rocks. Seu preferido somente pode ser assunto de divagação. Mas eu chutaria um Glenfiddich Snow Phoenix. Nossa, essa foi fraca.
Tenente Coronel Frank Slade
O personagem vivido por Al Pacino no clássico Perfume de Mulher também não é uma pessoa lá muito fácil. Mas na verdade, por baixo da aparência mal humorada, exigente e direta, Frank é um homem de bom coração e princípios. Ainda que ele mesmo seja insuportável. Seus momentos de redenção estão no tango, nos carros esportivos e – algumas vezes – em sua retórica fascinante.
Em certo ponto do filme, o tenente-coronel pede a Charlie Simms, seu acompanhante, que substitua todas as garrafas na prateleira de seu quarto de hotel por John Daniel’s. Charlie, observando o gabinete de bebidas, retruca com certa ironia “você quis dizer Jack Daniel’s?“. Mas Frank já tem a resposta pronta. “Ele pode ser Jack para você, meu filho, mas quando você o conhece por tanto tempo quanto eu…. estou brincando“.
Sugar Kane Kowalczyk
O sugestivo nome é da personagem de Marilyn Monroe, no clássico filme de Billy Wilder, Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot). Sugar Kane é integrante de uma banda de jazz formada apenas por mulheres, até que dois homens se juntam a ela disfarçados. O filme é uma espécie de As Branquelas da década de sessenta, com a diferença que Quanto mais Quente Melhor é bom. A personagem é uma apaixonada por whiskies, especialmente bourbons.
Bob Harris
Há cenas icônicas, que transcendem o filme e bastam-se sozinhas. Uma delas é Bill Murray, em Encontros e Desencontros, de Sofia Coppolla. No filme, Murray interpreta Bob Harris, um decadente ator de meia idade, contratado pela Suntory Whisky para estrelar um comercial. Harris, com seu olhar blasé, repete para a câmera algo que poderia ser porcamente traduzido como “para momentos relaxantes, tome Suntory“. A frase, em inglês no original, tornou-se tão famosa que atualmente é impossível pensar na marca de whiskies japoneses sem associá-la ao filme.
Não conseguimos saber se Murray é realmente um apaixonado pelo malte. Na cena, ele desdenha, de leve, o que está em seu copo. Mas também, o olhar de Murray a tudo desdenha.
Fechou com chave de ouro com o Radamanthys, mestre. Por mim, ele poderia só ter tirado o gelo hahaha, mas o whisky é dele, certo?
Como não conheço parte dos outros personagens, me resta sentar no sofá com um copo e assistir a td isso.
Td pela arte!
Hahaha, o Radamanthys foi sugestão de um leitor. E achei fantástica! Não lembrava que havia um Cavaleiro de bom gosto. rs
No filme “Os Imperdoáveis”, o Clint Eastwood é um apaixonado por uísque de tal forma que a bebida é um personagem da narrativa.
Também temos o cavalo animado da série, de mesmo nome, Bojack Horseman. Ele bebe um single malt de uma garrafa que imita o magistral Balvenie.
Bojack, é verdade! Este precisa entrar em um 4 (QUARTO!!!) texto! Bela sugestão! 🙂
Bem, não é um personagem, mas temos uma ilustre participação especial de um Balvenie DoubleWood 12 anos, no improvável e apocalíptico “O Dia Depois de Amanhã”.
Numa estação científica na Escócia, três personagens estão em dificuldades devido ao frio extremo. E acabou o combustível para o aquecedor. Basicamente eles vão morrer de frio, e então uma das personagens sugere utilizar o whisky para tentar fazer o aquecedor funcionar. Até que é interrompido por um indignado Ian Holm que, obviamente não permite o desperdício, pegando três copos para que possam brindar por uma última vez.
Hahaha, incrível. Preciso conferir!
Imperdível essa parte do filme !