Recententemente lancei uma prova sobre um whisky italiano. Enquanto escrevia, pensava no que seria um correspondente nacional para isto. Porque a Itália tem tradição em um punhado de coisas. De música erudita a alta costura, passando por literatura clássica, automóveis superesportivos, gravatas fininhas e gondoleiros. Mas whisky, realmente, era um território ainda a ser desbravado pelo povo italiano.
Aí pensei em Minas Gerais. Na cultura, nos artistas. Alejadinho, Amílcar de Castro, Farnese de Andrade, Guignard – um carioca com alma mineira – e Lygia Clark. Segui por Milton Nascimento e Skank, e após uma sensível descida, cheguei no Eike Batista e na Isis Valverde. Daí descrevi uma curva e cheguei à comida típica. Doce de leite. Pão de queijo. Aliás, centenas de tipos diferentes de queijos. Dezenas de alambiques de cachaças. Realmente, os mineiros têm uma tradição gastronômica incrível.
Porém, mesmo lá, há o improvável. O diferente, que desafia a tradição. Neste caso, o Jungle Gin. O Jungle Gin é um gin seco, produzido na cidade de Camanducaia, no alambique da cachaça Quinta das Castanheiras, em Minas Gerais. Uma selva de alambiques de cachaça, mas uma planície absolutamente intocada para a bebida holando-britânica.
Ele foi concebido em 2017 por Augusto Simões Lopes, que, após quase três décadas no exterior, retornou ao Brasil para realizar seu sonho. Criar um gim com qualidade internacional. E, aparentemente, a ideia deu certo. o Jungle Gin recebeu medalha de prata da Spirit Selection no Concours Mondial de Bruxelas. Segundo Augusto “Ganhar o reconhecimento da Spirit Selection não é só um grande passo para o Jungle Gin, más para todos os pequenos produtores do Brasil” e continua “este prêmio desmistifica a história de que apenas o produto importado tem valor. O exterior reconheceu a capacidade brasileira”
Augusto, após muita pesquisa, encontrou o alambique Quinta das Castanheiras. Segundo ele, aquele fora um achado. O equipamento era perfeito para implementar sua ideia pouxo ortodoxa. Porém, não é a primeira vez que a Quinta das Castanheiras desbrava selvas desconhecidas. O alambique foi fundado pela mestre cachacier Dinah Ribeiro de Paula, que recentemente assinou também uma cerveja. A Dádiva Odonata #6, uma Russian Imperial Stout com graduação alcoolica de 12%, e maturada em barricas de carvalho europeu que antes contiveram, justamente, sua cachaça.
O destilado base do Jungle Gin é um álcool de cana neutro. Como todo gim, o sabor advém dos botânicos escolhidos em sua produção. No caso do Jungle Gin, são sete. Zimbro, cardamomo, kummel, anis estrelado, canela, pimenta rosa e manjericão. Não ha qualquer cítrico. É um gim absolutamente floral, com um final levemente picante.
Talvez você ache estranho a prova de um gim em um blog sobre whisky. Ainda mais um gim mineiro. Pode ser que esteja ai, esperando uma boa ligação entre ele e o destilado escocês. Desculpem-me pelo desapontamento, mas dessa vez não farei este nó. Porque, afinal de contas, se o importante fosse seguir a tradição, nem mesmo o Jungle Gin existiria. E isso seria uma pena.
JUNGLE GIN
Tipo: Dry Gin
ABV: 45%
Alambique: Quinta das Castanheiras
Notas de prova:
Aroma: aroma floral. Além do zimbro, o cardamomo e o anis estrelado se sobressaem.
Sabor: vegetal, adocicado e floral. Há uma picância residual basante adocicada e muito interessante.
Como vai mestre?
Ainda que minha preferência seja o whisky, os destilados de um modo geral sempre me interessaram muito.
Grande abraço!
Onde encontro para comprar? Muito oportuna a postagem. Só tomo Whisky mas valeu
Camilo, vale a pena arriscar…rs. Aqui está: http://junglegin.minestore.com.br/
Moro em Belo Horizonte,onde encontro o gin Jungle Gin para comprar?
Camilo, o Gin acabou de ser lançado. Veja se consegue comprar aqui: http://junglegin.minestore.com.br/