Drops – The Macallan Rare Cask Black

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Se você acompanha o Cão Engarrafado, deve ter notado que tenho um certo fraco por whiskies defumados. Aliás, não apenas whiskies. Tudo. Adoro bacon, sou fanático por salmão e hadoque defumado, e um contumaz consumidor de quantidades copiosas de molho barbecue. Nada é tão bom que não possa ficar melhor com um pouco de fumaça.

Dentro do infinito rol de coisas que hipoteticamente poderiam ficar melhores com fumaça, estava The Macallan. Eu imaginava, em silêncio, como seria um whisky defumado produzido pela destilaria conhecida como o Rolls-Royce, o Stenway & Sons do single malt. Um dos mais renomados whiskies da Escócia em sua clássica versão puxada para o jerez, mas com um toque de fumaça.

Assim, imaginem minha ansiedade quando soube que ela havia finalmente lançado uma versão defumada de seu single malt. O Macallan Rare Cask Black. Aquele desejo jamais proferido por mim havia se tornado real. Por sorte – ou talvez destino – a expressão aterrissou nas lojas de Duty Free no embarque e desembarque de voos internacionais, em nossos aeroportos. Assim, não demorou muito para que eu tivesse a chance de prová-lo, e pudesse novamente dormir sossegado e recobrar a paz de espírito.

Segundo a The Macallan, o Rare Cask Black é um “Macallan com uma atitude surpreendentemente distinta. O Rare cask Black é um whisky como nenhum outro The MAcallan de hoje em dia. Menos de cem barricas que maturavam The Macallan contribuíram para a criação deste whisky de personalidade. Estas barricas misteriosas se mantiveram intocadas nos escuros armazéns da Macallan, sob a vigilância atenta de nosso Master Whisky Maker (esse é o Bob Dalgarno), até que ele sentiu que seria a hora de utilizá-las.”

Bob. Vigilância atenta.
Bob. Vigilância atenta.

Segundo Bob Dalgarno, “este whisky conta uma história diferente do destilado da The Macallan e de suas barricas, mas, mais do que isso, ele conta uma história de raridade. Macallan defumado é raro, existe muito pouco dele, e, quando estas barricas forem totalmente utilizadas, não haverá mais nada. (…)

Tanto no aroma quanto no sabor, o Rare Cask Black remonta muito a um Macallan Ruby. Isso indica que foi usada uma boa proporção de whiskies maturados em barricas de primeiro uso de carvalho europeu que antes continha vinho jerez. No entanto, há um certo aroma subliminar defumado, que o separa definitivamente de seu irmão. A impressão é que há uma improvável aproximação desta edição com os whiskies produzidos pela Highland Park – que, aliás, pertence ao mesmo grupo da The Macallan.

Curiosamente também, o Rare Cask Black faz parte da Série 1824, a mesma disponível no Brasil. Dela fazem parte também as expressões Gold, Amber, Sienna, Ruby e Rare Cask. Apesar disto, ele é uma expressão à venda exclusivamente em freeshops.

Mas há um porém. Um pequeno problema, que talvez não seja muito fácil de contornar. O seu preço. O Macallan Rare Cask Black custa, nos duty frees de aeroportos brasileiros, a bagatela de US$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta dólares). É o equivalente a quase uma quota inteira.

Investir este valor em uma garrafa é sempre uma decisão difícil. Porque o preço transcende o valor relativo, e começa a ser considerado como valor absoluto. Porém, se para você, o preço parecer uma barreira transponível, e se for tão apaixonado por whiskies defumados que já começou até a hiperventilar ao ler este texto, então experimente o Rare Cask Black. Afinal, não é todo dia que vemos um desejo materializado sem nem mesmo pedirmos.

MACALLAN RARE CASK BLACK

Tipo: Single Malt sem idade definida

Destilaria: Macallan

Região: Speyside

ABV: 48%

Notas de prova:

Aroma: Aroma adocicado, com mel, frutas vermelhas, canela e vinho fortificado. Apenas discretamente defumado.

Sabor: Mel, frutas em calda, uvas passas, pimenta do reino. Final longo, progressivamente mais seco, apimentado e defumado.

Com água: a água reduz a impressão de pimenta, e deixa o defumado mais claro.

Preço: US$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta dolares) no Duty Free

 

Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish

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Esses dias estava lendo sobre o AVE Mizar. Uma invenção ridícula, que entrou nos anais da história como como o famoso Pinto voador que matou seu inventor. O Mizar – assim como a rima cretina aliada ao trocadilho ridículo – era a prova de que a soma entre duas coisas ruins sempre resulta em algo muito pior.

A ideia já era risível desde o começo. Um carro alado, resultado da fusão entre a estrutura de voo de um Cessna Skymaster e um Ford Pinto, um carro medíocre mesmo sem um par de asas.

Seu inventor, Henry Smolinski, sonhava que quando o produto decolasse – figurativamente falando – todos pudessem ter seu automóvel voador. Tanto é que ele, ao se referir à invenção, dizia de uma forma indesculpavelmente misógina “até uma mulher vai poder combinar, ou separar, os dois sistemas sem qualquer ajuda”.

Por sorte, o projeto morreu com seu inventor. Durante um voo de teste pilotado pelo próprio Smolinski, uma das asas se soltou do carro, que despencou dos céus e ainda explodiu sobre um caminhão.

Mas mesmo se o voo tivesse dado certo, todo o resto estava completamente errado. O Mizar foi uma das experiências mais malsucedidas da aviação. Por conta do tamanho, o automóvel tornou-se ainda menos manobrável. E devido ao peso, ele também não conseguia voar direito.

Sério, que coisa mais ridícula.
Sério, que coisa mais ridícula.

E este é o risco que se corre ao tentar criar algo que alegadamente serve para tudo, mas, na verdade, não é excelente em nada. Um risco que Jim Beveridge, master blender da Johnnie Walker, e sua equipe correram ao tentar elaborar o recém-chegado ao Brasil Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish. Um blended scotch whisky que promete funcionar tão bem na coquetelaria quanto um Rye Whiskey, mas que não faz feio ao ser consumido da forma tradicional.

O (doravante denominado) Red Rye é composto de apenas quatro whiskies, entre single malts e whisky de grão, maturado em barricas de primeiro uso que antes continham Bourbon whiskey e – como você pode ter deduzido pelo nome gigante – finalizado em barricas de whiskey de centeio. Sua base é o single malt Cardhu, e entre os ingredientes está o grain whisky da destilaria Port Dundas, demolida em 2011.

O Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish é o resultado de mais de cinquenta experimentos, explorando duzentas e três amostras de whisky. Ele é o primeiro da série Blender’s Batch, que no futuro contará também com o Bourbon Cask and Rye Finish e o Triple Grain American Oak.

A vocação para coquetelaria do Red Rye fica clara em uma peça publicitária lançada pela Johnnie Walker, chamada Blenders’ Batch – Emma’s Red Rye In New York (assista aqui). Nela, Emma Walker – cujo sobrenome parece até mesmo uma prova da existência do determinismo – master blender da marca escocesa, viaja a Nova Iorque para comparar o Red Rye aos whiskeys americanos. Nela, os bartenders e mixologistas da metrópole, como Dave Arnold, comparam coquetéis criados com Rye Whiskey e o Red Rye.

O veredito é unanime. O Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish está longe da inépcia do AVE Mizar. O whisky funciona muito bem puro, mas substitui o rye whiskey na coquetelaria com uma improvável e admirável eficiência. E a humilde opinião deste canídeo não diverge muito. Ainda que o Red Rye careça um pouco daquele sabor de especiarias característico dos whiskeys norte-americanos de centeio, o resultado final em um drink se aproxima muito deles.

Manhattan ou Rob Roy?
Manhattan ou Rob Roy?

Em comparação ao – também experimental – Johnnie Walker 10 anos Rye Finish, já revisto nestas páginas, o Red Rye é muito mais adocicado e suave. Há um certo aroma floral, e o característico defumado da Johnnie Walker, se estiver lá, é praticamente imperceptível.

De acordo com seu criador, Jim Beveridge, o “Red Rye é inspirado em minha fascinação pelos sabores vigorosos dos whiskeys americanos que me foram apresentados quando trabalhava com bourbons e ryes em Louisville, Kentucky, há mais de vinte e cinco anos (…) ao produzir um blended scotch whisky, gostamos de pensar na perspectiva do bar, garantido que os bartenders tenham líquidos perfeitos na mão, que possam ser servidos puros, on the rocks, ou como base de algum coquetel irrepreensível – como é o caso do Manhattan de Red Rye da Emma.

Se você ficou interessado, pode comemorar. O Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish já está disponível no Brasil, e seu preço médio é de R$ 170,00 (cento e setenta reais) para a clássica garrafa retangular de setecentos mililitros.

Para os amantes da coquetelaria e os admiradores da marca do andarilho, o Red Rye é um whisky que vale a pena ser provado. E por ser versátil e não muito custoso, é também o artigo ideal para seu bar de casa. É quase como um carro voador. Mas, ao contrário deste, o Red Rye realmente tem tudo para decolar.

JOHNNIE WALKER BLENDER’S BATCH RED RYE FINISH

Tipo: Blended Whisky sem idade definida (NAS)

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: Mel, açúcar mascavo, floral. Pouquissimo agressivo no aroma.

Sabor: Mel, frutas vermelhas, açúcar mascavo. Finalização média, progressivamente mais adocicada, com canela e mel.

Disponibilidade: disponível no Brasil

Algo Familiar – Singleton of Glen Ord 12 anos

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Quando eu estava na quinta série, tive dois coleguinhas de classe que eram gêmeos idênticos. Não apenas geneticamente. Mas visualmente também. Eles tinham o mesmo corte de cabelo e mais ou menos o mesmo peso. Além disso, a mãe deles – que provavelmente se empenhava em criar um sério problema de identidade nos filhos – os vestia da mesma forma. Mas a parte mais louca eram seus nomes.  Luís Alberto e Luiz Antônio.

Um dia, conversando com um deles – eu não arriscaria dizer qual Luís – soube que eles eram os primogênitos de uma família de cinco irmãos. Além dos dois, havia o Luís Carlos e o Luís Paulo. E havia também o André, que não era Luís. Eu não entendia aquilo e nem eles,  afinal, depois de quatro Luíses, por que parar agora?

E eu fiquei pensando na confusão que era a casa deles. Quando alguém ligasse procurando pelo Luís, ou quando chegasse uma carta com apenas o primeiro nome e sobrenome. Devia ser um caos para todo mundo. Para todo mundo menos o André, claro, que não era Luís. Aliás, será que o André não se sentia excluído, por não ser Luís?

E quando alguém gritava só o primeiro nome e acenava?
E quando alguém gritava só o primeiro nome e acenava?

Lembrei dessa história há algumas semanas, ao me deparar com o single malt Singleton of Glen Ord 12 anos, nas prateleiras de uma loja perto de casa. Ele – assim como os Luíses – inconvenientemente possuem irmãos com o mesmo nome. No caso do Glen Ord, o Singleton of Dufftown e o Singleton of Glendullan.

É que a Diageo resolveu reunir, sob a alcunha de Singleton*, alguns de seus single malts menos conhecidos e mais acessíveis – Glen Ord, Dufftown e Glendullan. Acontece que, exceto pela cor do rótulo e as informações contidas na embalagem, a identidade visual dos três é quase idêntica, o que não ajuda muito no estabelecimento de uma identidade própria.

O Singleton of Glen Ord, no entanto, é o único single malt da região das highlands do trio Singleton. Sua destilaria é a única da Black Isle, uma lindíssima península ao norte da cidade de Inverness. A península foi assim batizada por conta se seu solo fértil, onde é cultivado a cevada utilizada para produzir o malte da destilaria.

Apesar do whisky ser relativamente desconhecido, em especial aqui no Brasil, a destilaria Glen Ord é gigantesca. Em volume, ela é uma das cinco maiores produtoras de single malt do país – onze mil litros anuais. Além disso, ela produz muito mais malte do que utiliza. A maior parte de sua produção é dedicada a outras destilarias sob o comando da Diageo.

A Glen Ord se orgulha de possuir fermentação longa – em torno de setenta e cinco horas – combinada com uma vagarosa destilação em seus alambiques. O destilado é apenas levemente defumado, sensação que é ainda mais atenuada pela maturação.

A Glen Ord
A Glen Ord

O Singleton of Glen Ord 12 anos é, atualmente, a expressão mais conhecida da destilaria. Sua maturação ocorre em barricas de caravalho americano e europeu que contiveram, respectivamente, Bourbon whiskey e vinho Jerez. A proporção e o tempo em cada barrica não é claramente divulgada.

O espectro de sabores do Singleton of Glen Ord também o aproxima bastante de seus irmãos quase homônimos. É um whisky de corpo médio, adocicado e com um quase imperceptível aroma defumado. É democrático e perfeito para os iniciantes do single malt.

O único Singleton à venda em nosso país é o Glen Ord. Ele foi recentemente importado pela própria Diageo, junto com outros dois single malts a ela também pertencentes: O Talisker 10 anos, já revisto por aqui, e o Glenkinchie 12 anos. Seu preço médio é de R$ 200,00 (duzentos reais). Na opinião deste Cão, acessível para um single malt, especialmente uma novidade em nossas terras, como ele.

O Singleton of Glen Ord 12 anos é um whisky perfeito para os iniciantes e uma novidade para os mais experientes. É também uma aposta segura, com aquele sabor conhecido, adocicado e acolhedor. É como aquele irmão gêmeo daquele seu amigo. Ainda desconhecido, mas incrivelmente familiar.

SINGLETON OF GLEN ORD 12 ANOS

Tipo: Single Malt Whisky com idade definida (12 anos)

Destilaria: Glen Ord

Região: Highlands

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: adocicado, com mel e levemente cítrico.

Sabor: mel, amêndoas, laranja lima. Final médio e seco

Com água: A água aumenta a impressão cítrica.

Disponibilidade: disponível no Brasil

Especial de Reveillon – French 95

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Eu não gosto muito do natal e definitivamente não ligo para a páscoa. Também não tenho muito apreço pelo dia dos pais – afinal eu acabo sempre me presenteando mesmo – e assumo que a monotemática da época carnavalesca me irrita um pouco.

Mas tem uma festa que eu gosto. O Ano Novo. A festa de ano novo é a materialização daquela famosa frase de Bogart “a humanidade está duas doses de whisky atrasada”. Todo mundo fica mais otimista, bem-humorado e levemente inconsequente. É como se o peso de existir repentinamente desaparecesse, e o amanhã fosse uma oportunidade genuína de recomeçar do zero.

Os problemas diminuem até tornarem-se meras esperanças. Fazemos promessas que jamais serão cumpridas. E tudo bem, porque, naquele momento, todos estão felizes. Tudo isso, em grande parte, por conta da ação de um ingrediente indispensável nesta data. O prosecco, ou espumante. O prosecco é uma espécie de combustível do contentamento momentâneo. Uma panaceia, que anestesia o desalento e potencializa o júbilo.

E é muita alegria!
E é muita alegria!

O problema, no entanto, é que o espumante, assim como a alegria do réveillon, dura pouco. Depois de aberto, o melhor é liquidar a garrafa em algumas horas. Mas talvez você não consiga, ou talvez não seja muito fã da bebida pura. Ou só queira mesmo evitar o desperdício. Seja qual for o caso, este Cão tem a solução. Um coquetel para um verdadeiro amante de whisky e admirador do perlage. O French 95.

O French 95 é uma variação de um clássico, o French 75 – que leva conhaque ou gim, champanhe e limão – e tem uma das histórias mais legais que este Cão já leu.

O French 75 foi batizado em homenagem à M1897 75mm, uma peça de artilharia que se tornou um dos ícones bélicos da 1ª Guerra Mundial. Isso porque os soldados franceses, após as batalhas, comemoravam as vitórias bebendo champagne com conhaque, e frequentemente adicionavam sumo de limão.

Os primeiros registros escritos do French 75 são de 1922. Quase concomitantemente, o coquetel figurou no Savoy Cocktail Book, de Harry MacElhone e  no livro Cocktails: How to Mix Them, de Robert Vermeire’s. Cinco anos mais tarde, no auge da Lei Seca norte-americana, o drink fez uma aparição no Here’s How, um bem-humorado manual de coquetelaria, escrito por Judge Jr.

Aliás, voltando a Humphrey Bogart, o drink recebeu fama internacional em 1942, ao aparecer em nada mais do que um dos mais clássicos filmes da história. Casablanca – numa cena em que seu personagem vê um antigo caso, Yvonne, entrar no bar acompanhada de um soldado nazista. Além dessa notória aparição, o coquetel teve participação coadjuvante em dois filmes de John Wayne: A Man Betrayed (O Traído) e Jet Pilot (Estradas do Inferno).

Rick, Yvonne e o personagem principal do filme: uma garrafa de birita.
Yvonne, Sascha e o personagem principal do filme: a garrafa de birita.

O French 95 é exatamente seu irmão de menor calibre, com a óbvia substituição do gim (ou o brandy) por whiskey americano. Enquanto na versão clássica o espumante predomina, na reinvenção, a vedete é Bourbon.

Eu poderia explicar aqui a versão clássica do coquetel – que figura na International Bartender’s Association – e simplesmente substituir o gim pelo pelo whiskey. Mas isso seria simplesmente preguiçoso. E quase tão inconsequente quanto o espírito do ano novo. Então, ensinarei a minha versão preferida, a que figura no livro The Craft of Cocktail, do mestre Dale DeGroff.

FRENCH 95

INGREDIENTES

  • ¾ dose de Bourbon ou Tennessee Whiskey
  • ¾ dose de calda de açúcar (aprenda aqui)
  • ½ dose de sumo de limão siciliano
  • 1 dose de sumo de laranja
  • Prosecco (ou champagne)
  • Gelo
  • Copo higball ou taça flute
  • coqueteleira

PREPARO

  1. Em uma coqueteleira com bastante gelo, bata o bourbon whiskey, a calda de açucar, e os sumos de limão e laranja.
  2. Desça o conteúdo da coqueteleira no copo ou taça. Se você tiver escolhido o highball, adicione gelo ao copo. Caso prefira o drink na taça flute, basta gelá-la.
  3. Complete com o espumante.

Final Triunfal – Buffalo Trace Stagg Jr.

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Esta semana tivemos a última aula do Curso Avançado de Whisky da Whisky Academy. A aula sobre american whiskey foi ministrada pelo mestre Alexandre Campos, e contou com uma ilustríssima participação. Uma garrafa de Stagg Jr, que pôde ser degustado pelos participantes do curso.

E antes que alguém pergunte ou tenha a ideia de fazer uma piada cretina – não, a garrafa não está fantasiada para o natal. Mesmo porque estes não são os chifres de uma rena. A galhada ilustrada no rótulo é de cervo, e é o símbolo de um dos mais respeitados bourbons dos Estados Unidos – o George T. Stagg. Assim, qualquer semelhança entre esta garrafa e o Rudolph, talvez induzida pela época do ano em que estamos, não passa de uma mera coincidência.

O Stagg Jr. é um bourbon whiskey, produzido em quantidades anuais limitadas pela gigante Buffalo Trace – uma das destilarias mais conhecidas dos Estados Unidos, sobrevivente dos anos de Lei Seca e hoje, produtora de uma enorme gama de whiskeys. O primeiro lote do Stagg Jr. saiu em 2013, e foi quase instantaneamente extinto das lojas.

O sobrenome “Junior” se deve ao seu tempo de maturação. É que existe uma expressão da destilaria chamada George T. Stagg, que passa de 15 a 17 anos em barricas virgens de carvalho americano. É um whiskey raríssimo, caro e muito concorrido. O Stagg Jr., no entanto, matura por 8 a 9 anos, e é um pouco mais acessível – ainda que bem difícil de encontrar.

George T. Stagg
George T. Stagg

Há uma curiosidade interessantíssima sobre o Stagg. Jr., especialmente se você for um whisky geek, como este Cão. É que a graduação alcoólica de entrada nos barris (antes da maturação) é menor do que a graduação de saída. É isto mesmo. O whiskey, durante a quase uma década de barril, ganha graduação alcoólica, passando de 62,5%  para, em média, 66,5%. A graduação de saída, entretanto, varia de lote para lote. O degustado possuía incríveis 67,2%.

Se você está se perguntando como é possível o whisky ganhar álcool, este Cão explica. É que os barris que mais tarde serão transformados em Stagg Jr. ficam nos últimos andares de armazéns muito altos. Lá – no topo – a variação de temperatura é mais alta. Além disso, por estar longe do solo, é mais seco. A temperatura e a baixa umidade são essenciais. Por conta delas,  um curioso processo semelhante a osmose acontece. O barril perde água ao invés de álcool, elevando a graduação alcoólica desta delícia.

O Stagg Jr. não sofre qualquer diluição após sair do barril, e sua cor é absolutamente natural – nenhum corante é utilizado. Como todos os bourbons, o cereal predominante em sua receita – a mashbill – é o milho. No caso do Stagg Jr., há pouquissimo centeio na fórmula.

Como você já deve ter presumido, o Stagg Jr. não está a venda no Brasil. E nem poderia, afinal, sua graduação alcoólica é mais alta do que a máxima permitida por lei em nosso país! Porém, os participantes do Curso Avançado de Whisky tiveram a oportunidade de prová-lo. A derradeira garrafa do curso. Praticamente uma dose de natal. Em uma garrafa convenientemente vestida a caráter.

BUFFALO TRACE STAGG JR.

Tipo – BourbonWhiskey

ABV – 67,2% (variável de lote para lote)

Região: N/A

País: Estados Unidos

Notas de prova

Aroma: adocicado, picante. Açúcar, cravo, caramelo queimado.

Sabor: doce, com açúcar mascavo, caramelo, couro. Muito picante, com o calor do álcool em evidência.

Com água: a água reduz a sensação de queimação pelo alcool, e revela com mais clareza os sabores de açucar mascavo, mel e especiarias.

 

Presentes para um amante de whisky (e que não são whisky)

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Estamos quase no natal. E eu, neste ano, pela primeira vez encarei uma situação delicada que imaginei que levaria muito mais tempo para acontecer. É que a Cãzinha, no alto de seus quase três anos de idade, fez aquela trágica indagação. Papai, o que você vai me dar de natal? Tentei agir naturalmente. Bom, não sei, que você quer que papai te dê? Papai, quero um pato.

Um pato, sorri com um olhar meio surpreso, em parte por ver que a Cãzinha já não acreditava em Papai Noel, em parte pelo pedido. Um pato, um pato, papai – gritava ela enquanto pulava de excitação. Tudo bem filhota, pode deixar, papai vai te dar um pato sim, que cor você quer? Ele é branco, papai.

Estranhando o pronome pessoal, liguei para a Cã e reportei o que havia se passado. E ela me explicou que o tal pato era personagem de um desenho infantil, mas que não havia bonequinhos. E em seu econômico brilhantismo costumeiro, concluiu – dá qualquer pato de borracha, ué. E foi justamente o que fiz. Fui a uma loja de brinquedos e encontrei lá, jogado em um canto, um pequeno pato de banheira. Branco.

Pato.
Pato.

Resolvi que, para não gerar muita expectativa, logo daria o presente. Mesmo antes da data. Assim, ao cabo de uma semana da conversa – para ver se ela tinha mudado de ideia – perguntei novamente. Filhota, o que você quer de natal mesmo? Papai, o pato. E eu, então, simplesmente lhe entreguei o pacote com um sorriso no rosto.

O que se seguiu foi tragicômico. A Cãzinha, enquanto abria o presente, derretia. Seu pequeno olhar jocoso tornava-se cada vez mais rarefeito, até que, ao contemplar o bichinho de borracha, esvaiu-se de esperança. Aquele não era o pato.

E aí, aí eu percebi que, em muitos dos casos, não basta dar apenas um pato qualquer. Temos que acertar o pato. Sem desculpas, sem atalhos. Principalmente para aqueles que nos são mais queridos. E o mesmo se aplica a whiskies. O problema, no entanto, é acertar. Porque gosto é pessoal, e por mais que conheçamos uma pessoa, corremos o risco de errar. Aliás, aí é bem pior, porque a intimidade cria essa obrigação meio inconveniente de acertar.

Então, aí vai uma lista de presentes para aqueles que amam whisky, mas não são whisky. São presentes que independentemente do gosto pessoal do presenteado, farão um belo sucesso, e trarão aquele tão aguardado sorriso sincero nos lábios de seus caros.

GLENCAIRN GLASS

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O Glencairn é o copo oficial para degustação de whiskies, criado pela empresa Glencairn Crystal, do Reino Unido. Ele foi criado especialmente para potencializar as características da bebida. A borda estreita reúne os aromas, e o corpo bojudo auxilia na evaporação e contato com o ar – o que pode ser muito benéfico para alguns whiskies.

Para um amante sério da melhor bebida do mundo, o Glencairn Glass é o presente perfeito. Pode ser comprado em sua importadora oficial, a Single Malt Brasil.

LIVRO – O ATLAS MUNDIAL DO WHISKY – DAVE BROOM

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Este é provavelmente o melhor livro em português sobre a melhor bebida do mundo. Dave Broom é um dos mais famosos – e confiáveis, note que isso é importante aqui – autores especializados em whisky. Ele possui mais de vinte e cinco anos de experiência com destilados, e trabalha como escritor e jornalista freelancer.

Seu atlas mundial do whisky conta com detalhes sobre mais de cento e cinquenta destilarias e trezentas e cinquenta notas de degustação de whiskies distintos. O livro também indica whiskies a serem experimentados caso você já conheça algum e suas páginas. É uma leitura leve e agradável, e um convite para um novo gole. Como um bom whisky. Pode ser comprado aqui.

TAÇA ISO

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O Glencairn tem um problema. Ele é difícil de encontrar. Apesar de ser importado para cá, é concorridíssimo. Um substituto (quase) tão bom é a taça ISO. A taça ISO segue o mesmo princípio do Glencairn, e funciona também para degustação de outros destilados, como gim, conhaque, vodka, licores e também para vinho.

ISO significa “International Standards Organization”. As taças ISO são reconhecidas internacionalmente como padrão para degustação de bebidas alcoólicas. As ISO variam muito de preço e acabamento. Você facilmente poderá encontrar uma que caberá no orçamento.

LIVRO THE MALT WHISKY YEARBOOK

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Se você sabe ler inglês e quer apenas um livro sobre whisky mas não sabe qual comprar, aqui está a resposta para o seu dilema. Dos presentes literários, este é um dos melhores. O Malt Whisky Yearbook é uma espécie de compêndio de todas as destilarias escocesas. Ele conta a história, apresenta curiosidades e faz a prova de algumas das expressões mais importantes de cada destilaria. Além disso, há matérias sobre os assuntos mais atuais do mundo do whisky, produzidas por alguns dos mais importantes especialistas no assunto.

O Malt Whisky Yearbook é uma publicação anual, e somente está disponível em inglês. Se isso não for um problema, pode ter certeza que ele será a literatura preferida de seu presenteado por um bom tempo.

CERVEJA HARVIESTOUN OLA DUBH

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Se seu presenteado for como este Cão, que além de whisky, é apaixonado por uma boa cerveja, esta é a lembrança perfeita. A Ola Dubh, da cervejaria escocesa Harvieston, é uma cerveja escura, de alta graduação alcoólica e que é finalizada em barricas que antes continham o single malt Highland Park.

A Ola Dubh é importada pela BeerManiacs – responsáveis também pelo portfólio da Brooklyn Brewery à venda em nosso país – e pode ser encontrada em empórios especializados de cerveja ou online. O preço é um pouco salgado, e ela não é lá a coisa mais fácil de se encontrar. Mas vale cada centavo e minuto. Saiba mais sobre as Ola Dubh aqui.

JEREZ TIO PEPE

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Talvez seu presenteado goste de vinhos também. Neste caso, um Jerez fino Tio Pepe, da vinícola espanhola Gonzalez Byass é um presente bem interessante. Por dois motivos.

Primeiro porque a indústria do whisky depende imensamente da indústria do vinho Jerez. É que estes fornecem barricas previamente utilizadas, para aqueles. Então, há muitos pontos de tangencia entre estes vinhos e certos whiskies.

Em segundo, porque é um vinho interessante de se tomar puro, mas ótimo também para coquetelaria, como mostrado por aqui.

 WHISKY STONES

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Aqui está uma invenção polêmica. Porque a ideia das whisky stones não é realmente gelar o whisky sem causar diluição. É apenas deixa-lo em uma temperatura mais amena, diremos, como a temperatura ambiente da Escócia.

O princípio é simples. São pequenas pedras sabão, cortadas em cubo, que devem ser resfriadas no freezer de casa antes de cada uso. Seu tamanho foi pensado para que, quando quase totalmente submersas, a quantidade de whisky no copo equivalha a, mais ou menos, uma dose – claro, isso varia de copo para copo.

O problema é que as whisky stones ficam no meio do caminho entre algo muito legal e algo inútil. É que elas não gelam o whisky tanto assim, e não contribuem também para uma degustação analítica da bebida.

Mas talvez a ideia seja justamente esta. Usá-las quando queremos beber despreocupadamente algum whisky, mas ficamos com dó de colocar gelo. Para isso, são um ótimo presente!

As whisky stones não estão à venda no Brasil, mas podem ser encontradas facilmente em sites como a Amazon.com.

 

O Cão Blender – Johnnie Walker Art of Blending

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Na última sexta feira, dia 16 de Dezembro, este Cão foi convidado pela Johnnie Walker para tornar-se um master blender por uma hora. Isso mesmo. A ideia seria criar meu próprio blended malt. É a proposta do Art of Blending, a experiência oferecida pela marca em sua nova Pop-up Store no Shopping Cidade Jardim.

O evento contou com uma aula por Paulo Freitas, o Diageo Reserve Brand Embassador, onde foi explicado o conceito de blending e as diferentes regiões da Escócia para produção de whisky. Regiões estas, representadas por quatro single malts da Diageo disponíveis no Brasil. Um deles já é bem conhecido do público: o clássico Cardhu, de Speyside. Os outros três foram recém lançados – ou melhor, dois deles foram relançados – em nosso mercado. Voltaram ao Brasil, Talisker, das ilhas, e Glenkinchie, das Lowlands. E a novidade fica por conta do Singleton of Glen Ord, produzido nas Highlands em uma das maiores destilarias da Escócia.

Munido de uma pipeta e a coragem característica dos ignorantes, este Cão começou a criar seu blended malt. Afinal, quão difícil poderia ser produzir um whisky com apenas quatro ingredientes? E ainda mais single malts desta envergadura e com características tão distintas? Na minha juvenil imaginação, meu blended malt teria o defumado rico do Talisker, o dulçor do Glenkinchie, as especiarias e o final seco do Cardhu, e seria encorpado e frutado como o Glen Ord. Jim Beveridge – este é o master blender da Johnnie Walker – ficaria mesmerizado com minha criação.

Ferramentas de trabalho
Ferramentas de trabalho

Após uns quinze minutos, notei que na verdade a experiência era bem mais difícil do que aparentava. Percebi algo óbvio. Que alguns aromas dominam os outros, e atingir o ponto de equilíbrio entre os ingredientes é algo que exige experiência, técnica e olfato. Por exemplo, o turfado acaba se sobrepondo aos outros aromas com facilidade e deve ser usado com bastante parcimônia – bem menos do que usei, para ser franco.

No final da aula, pude engarrafar e levar minha criação para casa, de recordação, e ainda batizá-la. Mas o que mais lembrarei, sem dúvida, é a dificuldade da tarefa de um master blender. Se com apenas quatro ingredientes já tive dúvidas e dilemas, imagine com milhares de single malts e grain whiskies diferentes, que podem ser combinados em qualquer proporção.

A Art of Blending não é uma atividade apenas para convidados. Ela pode ser feita por quaisquer clientes que gastarem acima de R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) na Pop-Up Store da Johnnie Walker, no Cidade Jardim. Não é uma tarefa muito difícil, já que a loja conta com inúmeras expressões especiais da marca, como o Johnnie Walker King George, Odyssey e The John Walker, além da edição especial do Blue Label, Bossa in Blue. Lá é possível também imprimir sua foto numa garrafa de Gold Label Reserve, ou gravar o o nome de alguém ou uma mensagem na garrafa do Blue.

A experiência deve ser agendada com antecedência, e é realizada em grupos de cinco pessoas.  Mas tome cuidado, porque esta é a última semana. Ela fica disponível apenas até o dia 25 de dezembro. Assim, se quiser assumir por uma hora uma das profissões mais legais do mundo, é melhor correr.

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Os rótulos

JOHNNIE WALKER ART OF BLENDING

Onde: Pop Up Store Johnnie Walker – Shopping Cidade Jardim

Quando: Até o dia 25 de dezembro de 2016

Endereço: Avenida Magalhães de Castro, 12.000 – Andar Térreo

Drops – Johnnie Walker 10 anos Rye Cask Finish

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Esta é a última prova de uma série de três whiskies com finalizações pouco ortodoxas. Os dois primeiros foram o Jameson Caskmates Stout Edition e o Glenfiddich IPA Cask. E enquanto estes dois se baseiam no universo da cerveja artesanal – razão pela qual este Cão resolveu degustá-los no Empório Alto dos Pinheiros – o Johnnie Walker Rye Cask Finish se inspira no mundo da coquetelaria.

O Rye Cask Finish é o primeiro de uma linha de blended whiskies que serão lançados pela Johnnie Walker com finalizações diferentes – a série Select Casks. Caso você não esteja familiarizado com o conceito de finalização – uma ideia absurdamente obvia e genial ao mesmo tempo – o Cão explica. É uma técnica que consiste em pegar um whisky que já tenha sido maturado em certa barrica (de bourbon, por exemplo) e transferi-lo para uma barrica que foi usada para uma bebida diferente (vinho do Porto, por exemplo). O uso da segunda barrica adiciona certos sabores e aromas à bebida, complementando as características emprestadas pela primeira.

O Johnnie Walker Rye Cask Finish é um lançamento corajoso. Ele é, provavelmente, o primeiro Johnnie Walker que utiliza a técnica de finalização. Sua maturação ocorre em barricas de carvalho americano de ex-bourbon de primeiro uso por, no mínimo, dez anos. Depois, ele é finalizado em barris que antes foram utilizados para Rye Whiskey americano – provavelmente Bulleit Rye. Sua base é o single malt Cardhu, e é engarrafado com graduação alcoolica tem 46% – propositalmente acima da maioria das expressões da marca, justamente para que possa ser utilizado para coquetelaria. A graduação alcoólica mais alta faz com que o whisky se destaque, mesmo se houver diluição ou mistura.

Bulleit Rye
Bulleit Rye

Quando provamos, o Johnnie Walker Rye Cask Finish nos surpreendeu muito positivamente. Aliás, mesmo antes de experimentá-lo, já ficamos muito bem impressionados. Afinal, ele é um whisky recentemente lançado, mas possui idade estampada no rótulo – dez anos – algo cada vez mais incomum nos dias de hoje. Além disso, é engarrafado a 46%, algo bastante raro. E mais raro ainda, é uma finalização experimental em um blended scotch whisky.

O aroma predominante do Rye Cask Finish é de coco queimado. Há um certo dulçor com especiarias que lembra os whiskeys americanos de centeio, como o Bulleit Rye e o Wild Turkey 101 Rye, mas muito mais discreto. O sabor é mais amargo do que o aroma, e a finalização é seca e com pimenta do reino e canela. O defumado característico da marca do andarilho está lá, mas apenas no final.

O Johnnie Walker Rye Cask Finish está disponível em certos mercados internacionais, como nos Estados Unidos e no Reino Unido, mas não virá para o Brasil. Ao menos, não neste primeiro momento. Assim, se você é um apaixonado por coquetelaria e encontrar um destes, tente experimentar. E se puder, até arrisque um Manhattan com ele. Sua coragem poderá ser recompensada.

JOHNNIE WALKER RYE CASK FINISH

Tipo: Blended Whisky com idade definida (10 anos)

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 46%

Notas de prova:

Aroma: Mel, açúcar mascavo, um leve aroma de canela

Sabor: Mel, coco queimado, açúcar mascavo. Finalização média, progressivamente mais amarga e com especiarias: canela e pimenta do reino.

Disponibilidade: apenas lojas internacionais.

Das Flores – Suntory Hibiki 12 anos

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Se você é um fã de Gordon Gekko, o inescrupuloso investidor fictício de Wall Street, talvez saiba o que foi a Febre das Tulipas. Ou talvez não, porque, enfim, existem coisas melhores para se fazer do que decorar cada trecho de um filme. Então, por via das dúvidas, aí vai uma breve explicação.

A Febre das Tulipas foi um período durante o século dezessete em que a elite holandesa tornou-se absolutamente obcecada por uma simples flor. A história toda começou quando um tal Suleiman, o Magnífico, encontrou tulipas em uma de suas viagens à Ásia. Embasbacado – não sei bem por o que – resolveu que enviaria um exemplar a um botânico, em Leiden.

O resto da história é pura insanidade. Ou talvez haja alguma reação neurológica desconhecida pela ciência entre a mente dos holandeses e flores sem graça. Porque os abastados da Holanda ficaram tão mesmerizados com aquela espécie que, em pouquíssimo tempo, seu preço disparou.

O pico da obsessão ocorreu entre dezembro e fevereiro de 1636. O preço de uma libra de tulipas passou de 125 florins para 1.500 – isso mesmo, mil e quinhentos, não tem um zero a mais aí. Uma inflação de mil e cem por cento. Para você ter uma ideia, isso seria suficiente para comprar um lar flutuante no melhor lugar de Amsterdã.

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Troco por três tulipas

Por fim, em abril daquele ano os preços despencaram. E ninguém sabe bem a razão. Talvez os preços tivessem atingido um patamar tão alto que até mesmo os mais ricos estivessem em dúvida. Ou quiçá porque o mundo tenha acordado de sua histeria botânica, colocado a mão na consciência e reconhecido o óbvio. Que aquilo era apenas uma flor.

Um fenômeno muito parecido – mas em menor grau – ocorreu como o Hibiki 12 anos, aqui mesmo, no Brasil. Em 2015, quando a Tradbras, responsável pela importação do blended whisky japonês deixou de trazê-lo para nosso país, seu preço explodiu. Um whisky que custava em torno de trezentos e cinquenta reais foi quase instantaneamente extinto das lojas, e os poucos exemplares que restaram, passaram a ser vendidos a mais de mil reais.

Aquilo foi um acontecimento curioso. Porque seu preço atingiu patamares insanos apenas no Brasil, e, exceto pelo progressivo rareamento das garrafas nas prateleiras das lojas, não haveria nada que pudesse justificar aquela inflação. Ou, talvez sim.

Acontece que em 2013 seu irmão mais velho, o Hibiki 21 anos, recebeu prêmio de melhor blended whisky do mundo pela World Whisky Awards. E, em 2015, o Suntory Yamazaki Sherry Cask foi eleito por Jim Murray como o melhor whisky do mundo, em sua famosíssima Whisky Bible de 2015. A notícia da escolha de um whisky japonês por Jim Murray reverberou pelo mundo cibernético, e acabou por gerar ruído também aqui, no Brasil.

Já nós, brasileiros, como não tínhamos nem uma nem outra expressão à venda em nossas terras, naturalmente focamos naquelas disponíveis. Os ótimos Yamazaki 12 anos e os Hibiki 17 e 12 anos. Dentre elas, a mais acessível era justamente esta última. E a repentina fama coincidiu, justamente, com a interrupção da importação destas expressões para nossas terras. Coincidência que culminou num tsunami inflacionário de whiskies japoneses.

Independentemente deste cataclismo, o Hibiki 12 anos é um ótimo blend. Ele contém mais de trinta single malts e grain whiskies em sua mistura. Mas seu coração é bem conhecido. Yamazaki, proporcionando aroma doce e frutado, e Hakushu, contribuindo com defumado e cítrico. Há também whisky de grão da destilaria Chita. Todos seus componentes pertencem à Suntory que – não por coincidência – é também proprietária da Hibiki.

A maturação do Hibiki 12 anos ocorre em um conjunto de barricas de diversas características. Barris que antes contiveram Bourbon whisky e vinho Jerez espanhol são combinadas com aqueles de carvalho japonês – conhecido como mizunara – que antes envelheceu Umeshu, um tradicional licor de ameixa japonês. Isso o torna bastante atrativo para aqueles que apreciam os whiskies mais adocicados e florais, como o Ballantine’s 17 anos e Chivas Regal 18 anos.

Umeshu
Umeshu

O Hibiki 12 anos recebeu uma série de prêmios internacionais, entre eles, medalha de outro em 2016 pela International Spirits Challenge, duplo ouro na San Francisco World Spirits Competition rm 2014. Feitos bem impressionantes para um blended whisky produzido fora da Escócia e relativamente jovem.

Ele poderia ser o blended whisky perfeito. Adocicado, equilibrado, visualmente atraente e muito elegante. Um whisky pouco óbvio, mas, ao mesmo tempo, bastante atual. O único problema é encontra-lo por aqui.

Encontrá-lo e, claro, seu preço. Porque, no final do dia, não importa muito quão excepcional, raro ou atual ele seja. Mil reais por um blended whisky que não ultrapassava metade disso quando podia ser facilmente encontrado nas lojas não me parece algo racional. Mas, enfim, existe sempre a febre, a especulação e o inexorável declínio.

E talvez o Hibiki 12 anos seja simplesmente isso. A tulipa dos whiskies. E por mais belo e mais raro que seja um botão, ele sempre poderá ser substituído sem muito sofrimento por uma rosa ou uma orquídea. Afinal, meus caros, são todas apenas flores.

SUNTORY HIBIKI 12 ANOS

Tipo: Blended Whisky com idade definida – 12 anos

Marca: Suntory

Região: N/A

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: Aroma frutado, adocicado, com certo final floral muito agradável.

Sabor: Mel, frutas em calda, floral, baunilha. Final adocicado, persistente e frutado.

Com água: A agua ressalta o sabor da baunilha e o floral.

Disponibilidade: disponível no Brasil (esgotado)

Drink do Cão – Frontera – Especial Sherry Week

Frontera

Nenhum homem é uma ilha,
Completo em si mesmo
Cada é uma parte do continente
Uma parte do principal

Muito provavelmente você já viu parte do trecho acima em algum texto no Facebook.  Mas o que pode ser que você não saiba é que, virar filosofia de rede social, estre trecho pertencia a uma prosa de John Donne, chamada “Devotions upon Emergent Occasions” (ou Devoção em Momentos de Emergência). Mas talvez você conheça a obra por sua frase final, que diz “jamais perguntes para quem os sinos dobram, eles dobram para ti”.

O legal é que Devotions – escrita em 1624 – inspirou uma infinidade de obras literárias e musicais. Hoje em dia, a mais conhecida delas é, muito provavelmente, a música “For Whom the Bell Tolls”, do Metallica.

Acontece que a música não é diretamente inspirada em Donne. Ela é baseada em outra obra literária. Um livro de Ernst Hemingway, chamado “Para quem os Sinos Dobram” – este sim baseada na prosa. Nele, Hemingway descreve os horrores ocorridos durante a guerra civil espanhola de 1930 pelos olhos de um americano, Robert Jordan.

Ao longo da trama, Jordan se apaixona por Maria, uma jovem espanhola que fora resgatada pelo grupo que ele mais tarde faria parte. E Maria, quase instantaneamente e magicamente sente uma atração meio esquisita e irresistível por aquele homem muito mais velho, sujo e atormentado, de uma forma que somente seria plausível em um livro de Hemingway. Tanto que ela mesma, na primeira noite que conhece o americano lhe diz, de cara “Você e eu somos o mesmo (…) Agora eu sei porque me senti daquele jeito”.

Jordan, um americano, foi concebido anos antes, do outro lado do Atlântico, para completar Maria.

E ela ainda é a cara da Ingrid Bergman!
E ela ainda é a cara da Ingrid Bergman!

Mas não é apenas nos livros de Hemingway que americanos e espanhóis se completam de uma forma quase inacreditável. Na coquetelaria, incrivelmente, há uma sinergia entre os países quase tão forte quanto aquela entre Maria e Robert. Prova disso foi o coquetel Frontera, criado pelo mestre Laércio Zulu, durante a Sherry Week. O drink, que leva Bourbon whiskey e vinho Jerez fino Tio Pepe, é o perfeito casamento entre as vocações etílicas das duas nações.

Conforme nos explicou Zulu, cada ingrediente no Frontera tem uma função. O Bourbon empresta seu aroma e sabor amadeirado e de baunilha. O abacaxi, o cítrico tropical. O vinho Jerez traz harmonia e a angostura, aroma. Cada um deles complementa as características do outro. É quase como um grupo de guerrilha em um livro de Hemingway.

De acordo com Zulu, “pra balancear esta mistura eu apostei num estilo muito usado e que dá muito certo – sours. Tendo como referência os “New Orleans Sour”, sub grupo defendido pelo inglês especialista no assunto, Mr. Gery Regan. A partir daqui só veio a parte mais gostosa, equilibrar Jerez e Boubon no mesmo copo, pensar em “o quê” de cada que gostaria de ressaltar sem obstruir ao outro… foi um desafio prazeroso, o cítrico, frutado do Jerez amarrado com amadeirado e notas de frutas secas, baunilha do Bourbon foi o ponto de partida. Pra fazer ligação direta, o “sweet and sour” fecha o ciclo, o tempero final (bitters) veio para experiência ficar perfeita… terroso, e especiarias.”

Assim, cada ingrediente – assim como um grupo de guerrilha em um romance de Hemingway – tem uma função. E o resultado é um coquetel equilibrado, onde – com um pouco de atenção e lucidez – pode-se notar tanto o vinho quanto o whiskey, sendo que nenhum ingrediente se sobrepõe aos demais.

FRONTERA

INGREDIENTES

  • 40ml de Bourbon Whiskey
  • 30ml de jerez fino Tio pepe
  • 3 cubos de abacaxi
  • 15ml de suco de limão
  • De 3 a 5 gotas de Angostura

PREPARO

  1. Em uma coqueteleira, amasse os cubos de abacaxi.
  2. Adicione um pouco de gelo, o bourbon, o Tio Pepe e o suco de limão. Bata por uns bons quatro segundos, e desça o conteúdo em um copo baixo.
  3. Se você tiver feito certo – e sem preguiça na hora de bater – haverá uma discreta espuma na superfície do coquetel. Adicione a angostura com cuidado sobre essa espuma, para que fique semelhante à foto que ilustra este post.