Sobrevivência – Chivas Regal 12 anos

Admiro pessoas determinadas a sobreviver. Esses, que atravessam quaisquer revezes, graças à sua inabalável resiliência. E nem estou falando de profissionais, como o Bear Grylls. Porque claro, tudo que você espera do Bear Grylls é mesmo que ele coma uma lesma nojenta, durma dentro de um camelo morto, beba xixi e todas essas coisas asquerosas, afinal essa é a profissão dele. Ninguém assiste o programa dele pra vê-lo tomando um vin de table ao lado da Tour Eiffel, né? Me refiro aos amadores mesmo. Aqueles que de seus débeis e muitas vezes mutilados corpos conseguiram extrair uma força sobre-humana apenas para passar mais alguns anos nesse nosso medíocre mundo. Como, por exemplo, a Juliane Koepcke. A Juliane Koepcke foi a única sobrevivente do vôo 508 da LANSA. O avião dela foi atingido por um raio e se desintegrou no meio do ar. A Juliane, presa em sua cadeira, foi lançada de uma altura de três mil metros sobre a floresta peruana. Incrivelmente, Juliane sobreviveu à queda, mas com uma das clavículas quebradas e gravemente ferida. Praticamente rastejando, e alimentando-se de um saquinho de balinhas – a única comida que tinha – Juliane encontrou um riacho. Seu braço estava infeccionado e […]

O Cão Geek – Corante Caramelo no Whisky

Semana passada fui ao dentista. Coisa de rotina. Higienização, selante, flúor. E ainda que não houvesse nada de extraordinário a ser feito na minha visita, fiz uma constatação até otimista. Que os dias que você vai ao dentista te fazem valorizar mais todos os outros que você não vai. E nem é por conta da consulta. Nao tenho medo do motorzinho, nem daquele sugador e nem daquele negócio que parece uma mini-picareta e faz um barulho agudo irritante enquanto espeta sua gengiva. E nem por causa da profissional também, porque minha dentista é um amor de pessoa. O problema é o after. Quando terminei a consulta, veio a recomendação. Nada de café, chocolate e de coisas com corante até amanhã. Não pode coca-cola, nem ketchup ou gelatina. E nem pensar naquela balinha do pessoal do Uber, a não ser que você queira um dente com um visual meio verde radioativo. Tranquilo, porque essas coisas não fazem muito parte da minha rotina mesmo. E whisky? Whisky tem corante, é? A maioria tem sim. Bom, então melhor não. Meu mundo caiu. Nunca tive trauma de dentista até hoje, mas acabei de criar um. Ainda bem que eu não bebia whisky quando era criança, […]

Novidade do Cão – Lançamentos – Dewar’s e Aberfeldy

O que você faria se fosse convidado para beber com um de seus ídolos? Nunca havia pensado na resposta para esta pergunta. Mesmo porque, até semana passada, era uma questão totalmente hipotética e etérea. Afinal, a grande maioria dos famosos que admiro já morreu, ou habita um local altíssimo, de atmosfera rarefeita e muito pouco acessível para um Cão. Assim, este era problema que imaginava que jamais fosse ter. E que, portanto, não era um problema. Ocorre, no entanto, que graças a um magnífico convite da Bacardi, me vi obrigado a sair da zona de conforto e enfrentar este excelente – porém um pouco temeroso – problema. É que nos dias 04 e 05 deste mês de setembro, Fraser Campbell, bartender e embaixador mundial do whisky Dewar’s esteve de passagem pelo Brasil. Sua missão foi a de divulgar duas linhas de whisky pertencentes à empresa, que em breve estarão em nosso mercado. E este Cão, orgulhosamente, foi convidado a encontrá-lo, para provar, em primeira mão, estas novidades. São duas expressões dos já conhecidos blended whiskies da Dewar’s – sendo um inédito – e mais um single malt, o Aberfeldy 12 anos.  Como diria um amigo deste Cão, em um momento […]

Homenagens – Cutty Sark

O que une poema, um navio e um whisky? Uma improvável série de homenagens. A história começa com Robert Burns, provavelmente o mais importante poeta escocês da história. Bobby era um cara simples, que amava beber, comer salsichão de bode e se comovia com pequenos desastres mundanos. Como certo episódio em que, distraído durante uma caminhada, esmagou uma margarida da montanha. A obra de Robert é extensa, mas um de seus mais famosos poemas é Tam O’ Shanter. Que, aliás, é também um dos maiores. Tam O’ Shanter foi escrito em 1791, e conta a história de Tam, um fazendeiro que gosta de embriagar-se com seus amigos e fugir de sua esposa controladora. Em umas dessas noites de esbórnia, Tam sai do bar notavelmente bêbado e alegre. Sobe em sua égua Meg – afinal, não havia multa para conduzir equinos sob efeito de álcool – e segue para sua casa. No caminho, Tam se depara com uma estranha visão. Bruxos e bruxas dançando ao redor de uma fogueira. Uma das feiticeiras lhe chama a atenção, especialmente pela micro-saia que usava. E como um bêbado inconveniente, Tam resolve evocar o espírito misógino em seu coração e gritar “weel done, cutty sark” […]

Monotemática – Grant’s Family Reserve

A querida Cã me disse hoje que quando estou produzindo algum texto para o blog, as vezes fico uma pessoa monotemática. Ela disse aquilo de uma forma meio neutra, quase como uma constatação científica. E aí, fiquei pensando se era um elogio ou uma crítica. Poderia ser um agrado, afinal, como escreveu Jenny Holzer uma vez em um de seus clichês-pastiches, “a monomania é um prerrequisito para o sucesso”. Não consegui decidir qual o tom daquela sua frase. No entanto, enquanto refletia, acabei tendo meus pensamentos sequestrados por uma ótima ideia para mais uma prova deste blog.  Falar do Grant’s Finest, um whisky criado por um cara que também tinha uma certa fixação por whisky – William Grant. Antes de analisar o blended whisky, vou contar um pouco a história deste distinto cavalheiro. William Grant nasceu em Dufftown, Banffshire, em 1836. Trabalhou em uma fábrica de sapatos e na famosa destilaria Mortlach, onde tornou-se rapidamente gerente. Mas William era um homem obstinado e ambicioso – ou melhor, monotemático. Seu sonho era possuir a própria destilaria. E isto tornou-se realidade quando soube que a Cardow (essa é a Cardhu de hoje em dia) venderia seus equipamentos. Com uma oferta de pouco mais […]

Por que não devemos ignorar blended whiskies

Não sei se você acompanhou essa história, mas a Univerisdade de Oxford elegeu a expressão “pós-verdade” como a mais emblemática de 2016. Segundo eles, pós verdades são “circunstancias em que fatos objetivos são menos importantes em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e crenças pessoais”. Ou seja, mentiras. Mas não quaisquer mentiras. Mentiras que apelam para a pior parte das pessoas: a emocional. É tipo quando alguém espalhou que a carne do McDonald’s é de minhoca. Ou quando Donald Trump disse que o Obama fundou o Estado Islâmico. Ou ainda quando minha filha disse que não tinha comido macarrão na hora do almoço e que me amava, só pra comer de novo na hora do jantar E ainda que alguns boatos soem mais críveis que outros, sabemos muitos são tão verdadeiros quanto o cabelo do referido presidente eleito. O problema das pós-verdades é que elas estão por toda parte, mas, principalmente, na internet. Porque, na internet, todo mundo tem opinião sobre tudo e nenhum compromisso. Inclusive eu, escrevendo este texto. É como se meu modem equivalesse a um título internacional de especialista na vida. Até assuntos que não deveriam ser nada polêmicos possuem pós-verdades. Como, claro, o […]

Doze Glorioso – Famous Grouse 12 anos

Essa semana, enquanto pesquisava um pouco mais sobre o whisky deste post, curiosamente esbarrei em uma página sobre o Glorious Twelfth. E graças à minha falta de foco e gosto pela procrastinação, resolvi perder alguns minutos lendo sobre ele. O Glorious Twelfth ocorre no dia doze de agosto, e é perfeito para todos aqueles cujo conceito de diversão inclui pagar centenas de libras, pisar em poças de lama e ser picado por insetos inconvenientes. Tudo isso pela oportunidade de matar seu próprio jantar. É que o Doze Glorioso – como poderia ser cretinamente traduzido para nossa língua lusitana – marca o início da temporada de caça ao Tetraz, um pássaro típico do Reino Unido. Apesar de polêmico, o Glorious Twelfth continua incrivelmente popular. Estima-se que a caça à tetraz movimente mais de cento e cinquenta milhões de libras por ano. Eu, que tenho preguiça até de ir até a geladeira, não consigo conceber uma ideia pior que essa. Além de caro e sujo, a atividade beira o impossível. O tetraz é uma ave bastante ágil, que consegue mudar de direção de voo quase instantaneamente. Por isso, inclusive, que é uma das mais cobiçadas para caça. Apesar de se espalhar por grande parte do Reino Unido, a maior […]

Harmonia – Buchanan’s 12 anos Deluxe

Essa semana acordei reflexivo. Após divagar por algumas horas sobre o que me fazia feliz – passando por minha família, meus amigos, cultura, whisky e um belo carbonara com pancetta – desemboquei em um pensamento de Ghandi. Ghandi uma vez disse que felicidade é quando há harmonia entre o que você pensa, fala e faz.  O que me faz concluir que Ghandi vivia em uma época cujos meios de comunicação eram pouquíssimo eficientes, ou que ele tinha poucos amigos. Porque, para mim – um cara mais ou menos mal-humorado e artificialmente sociável –  muitas vezes tudo que quero é harmonizar a total ausência de pensamentos, com o silêncio absoluto e a mais cândida agenda. Só que isso é simplesmente impossível, porque há o grande problema de harmonizar as harmonias. Como quando algum amigo me liga, perguntando se quero ir a algum bar, quando a querida Cã me convida para jantar fora, ou quando a Cãzinha pede para jogar bola comigo. E aí, por pura má vontade, invento uma desculpa. Algo pensado e dito de forma a harmonizar com minha inércia egoísta. Não posso, tenho que levar o cachorro para passear, hoje precisarei trabalhar, ou papai está com dor nas costas […]

Harmonização – Chivas Regal e Chianti Chocommelier

Se você está lendo este blog, existe uma chance razoável de ser apaixonado por whisky. Mas e chocolate? Você gosta? E chocolate com whisky, já experimentou? Esta foi a proposta da degustação promovida pela Chianti Chocommelier e Chivas Regal, organizada pela plataforma de experiências (muitas delas, gastronômicas) Sabiar: harmonizar a melhor bebida do mundo com diferentes chocolates. Algo que parece simples, mas, na verdade é uma tarefa bastante sofisticada. A degustação foi guiada por Mijung Kim, embaixadora da Chivas Regal, e por Mariana Triveloni, sócia responsável pela criação dos chocolates da Chianti. Mijung explicou alguns detalhes sobre as regiões produtoras de whisky e apresentou as três mais conhecidas expressões da marca de blended whiskies – o Chivas Regal doze anos, Chivas Extra e dezoito anos. Já Mariana ficou responsável por mostrar como chocolates produzidos com qualidade e cuidado podiam ser excelentes companheiros daqueles destilados. Foram, ao todo, seis chocolates – caramelo e pecã, laranja e mel, café, gengibre, uma trufa de cem por cento cacau e um tablete amargo – concebidos cuidadosamente para ressaltar, por semelhança, os sabores e aromas dos whiskies. As harmonizações preferidas deste Cão foram Chivas Extra com gengibre e o queridíssimo Chivas dezoito anos com a […]

Das Lacunas – Ballantine’s 17 anos

  Do que você gosta? Imagino que whisky seja uma resposta óbvia, já que está lendo este blog. Mas quais seus outros interesses? Muitas vezes por aqui já disse que cultura é sempre bom, cultura nunca é demais. Mas como todo ser humano, às vezes não sigo o que penso. Há assuntos que – talvez por preconceito, talvez por preguiça – definitivamente não me interessam. Sou incapaz de falar sobre novelas. A última que assisti foi Rei do Gado. Não tenho a menor condição de conversar sobre moda feminina, e os dois ou três nomes famosos que memorizei de música sertaneja não prestam nem para seis minutos de conversa sobre o assunto. Ah, e futebol. Eu e um bidê temos conhecimento equiparável sobre futebol. Já cinema, carros e whiskies (claro) é outra história. Aliás, whiskies não. Qualquer coisa que seja minimamente potável e que contenha alguma proporção de álcool. São assuntos que naturalmente me fascinam. Mas mesmo aí, mesmo nestes inebriantes (às vezes literalmente) assuntos, há lacunas. Lacunas que prometo a mim mesmo preencher o quanto antes, mas que, novamente por preguiça ou preconceito, não o faço. E ter um blog sobre whisky não ajuda. Não ajuda porque com ele, […]