Admiro pessoas determinadas a sobreviver. Esses, que atravessam quaisquer revezes, graças à sua inabalável resiliência. E nem estou falando de profissionais, como o Bear Grylls. Porque claro, tudo que você espera do Bear Grylls é mesmo que ele coma uma lesma nojenta, durma dentro de um camelo morto, beba xixi e todas essas coisas asquerosas, afinal essa é a profissão dele. Ninguém assiste o programa dele pra vê-lo tomando um vin de table ao lado da Tour Eiffel, né?
Me refiro aos amadores mesmo. Aqueles que de seus débeis e muitas vezes mutilados corpos conseguiram extrair uma força sobre-humana apenas para passar mais alguns anos nesse nosso medíocre mundo. Como, por exemplo, a Juliane Koepcke. A Juliane Koepcke foi a única sobrevivente do vôo 508 da LANSA. O avião dela foi atingido por um raio e se desintegrou no meio do ar. A Juliane, presa em sua cadeira, foi lançada de uma altura de três mil metros sobre a floresta peruana.
Incrivelmente, Juliane sobreviveu à queda, mas com uma das clavículas quebradas e gravemente ferida. Praticamente rastejando, e alimentando-se de um saquinho de balinhas – a única comida que tinha – Juliane encontrou um riacho. Seu braço estava infeccionado e era diariamente consumido por vermes na floresta. Foram nove dias de sobrevivência agonizante, até que Juliane encontrou um acampamento. Sozinha, preparou curativos e desinfeccionou o braço com gasolina. E então, finalmente foi encontrada por lenhadores que a levaram a um hospital.
Se há uma Juliane no mundo do whisky, este é a Chivas Regal. E ainda que o tema desta prova seja o Chivas Regal 12 anos, vou dispender alguns parágrafos para contar a história dessa marca. Uma história de resiliência, independente de quão implacáveis fossem as provações, e ainda que as pessoas importantes de sua história insistissem em falecer prematuramente – ao contrário da Juliane, claro.
Ela começa com sua fundação, em 1801, quando John Forrest abriu um empório e loja de bebidas em Aberdeen. Vinte anos mais tarde, Forrest falece, e a loja é vendida para William Eduard, que se junta a um distinto cavalheiro chamado James Chivas.
Em 1841, Edward também falece, e James se vê obrigado a encontrar um novo sócio. Dessa vez, Charles Stewart. A empresa então é rebatizada de Stewart and Chivas. Apenas dois anos mais tarde – em 1843 – ninguém morre. Mas a Chivas recebe um Royal Warrant da Rainha Victória. Parece que as coisas finalmente ficariam melhores para a empresa. Mas em 1857, por conta de certas divergências, Charles sai do negócio. Quem se junta a James é seu irmão, John Chivas. A empresa é então rebatizada de Chivas Brothers.
E eu não sei se é por alguma semelhança sonora com a deusa da destruição hindu, mas o que acontece com a Chivas a partir de 1862 é uma hecatombe. Em 1862 John Chivas falece, seguido por seu irmão, em 1886. A empresa passa para as mãos de Alexander, filho de James. Mas em 1893, Alexander também perece. Sem nenhum Chivas sobrando, a marca – cujo nome permanece inalterado – passa para dois empregados – Smith e Taylor. Com o tempo, Smith adquire o controle, e ao lado do master blender Charles Howard, foca em whiskies ultra-premium. O primeiro lançamento é o Chivas 25 anos, em 1909.
Mas é apenas trinta anos depois, em 1939 que a marca lança seu maior sucesso, e o tema desta prova. O Chivas Regal 12 anos. Com ele, a Chivas encontra finalmente um período de bonança. Em 1997 é lançado o 18 anos, e em 2001 ela é comprada pela gigante Pernod-Ricard. Mas até os dias de hoje, o whisky mais emblemático de sua história – independentemente de quantos rótulos de luxo forem lançados – é mesmo o Chivas 12.
O Chivas Regal 12 é um blended whisky leve e floral, com álcool muito bem integrado para sua idade. Não há qualquer aspereza, tampouco aquele característico amargor dos whiskies de grão pouco maturados. É um whisky extremamente bem feito e capaz de competir ombro a ombro com os melhores blends em sua faixa de preço, e até mesmo de superar certos single malts. Seu coração é o single malt Stathisla – ainda que este Cão aposte que, pelo olfato, há também uma parcela significativa de Longmorn.
Durante seus quase oitenta anos de vida, o Chivas Regal 12 conquistou diversos prêmios internacionais. Entre eles, medalha de ouro na categoria de blends com idade igual ou inferior a 12 anos em 2015 pela Scotch Whisky Masters, e outro ouro como Blend Deluxe em 2013, pela International Wine and Spirits Competition.
Aqui, eu poderia simplesmente dizer que se você gosta de whiskies leves e florais, deve provar o Chivas Regal 12. Mas não. Porque mesmo que você não goste deles, mesmo que prefira monstros defumados ou maltes oleosos e vínicos, ou mesmo que sua paixão seja pela marca do andarilho, ele é incontornável. Experimente o Chivas Regal 12. E contemple que aquele líquido pouco desafiador e ameno, mas tributário da mais pura e líquida resiliência.
CHIVAS REGAL 12 ANOS
Tipo: Blended Whisky com idade definida – 12 anos
Marca: Chivas Regal
Região: N/A
ABV: 40%
Notas de prova:
Aroma: aroma claramente floral, com balinha de caramelo e mel.
Sabor: suave, nada agressivo. Alcool bem integrado. Sabor floral e maltado. Final com baunilha e caramelo. Defumação imperceptível.
Com água: A agua torna o whisky menos adocicado.
Preço: R$ 150,00 (cento e cinquenta reais)
Olá Maurício, leio assiduamente seus textos, e particularmente gosto muito deles. Sua habilidade em escrever é admirável, pois são textos ricos em informações (não apenas sobre whisky) com uma pitada de extroversão. Mas nunca me atrevi a comentar, e decide faze-lo agora pois acho que eu e você nos conectamos de alguma forma. Na ultima sexta feira dia 03/08/2018 procurei algo em seu blog sobre o Chivas 12, pois estava curioso em saber as suas impressões sobre o mesmo, e agora dia 05/08 você escreve sobre ele. Parabéns meu amigo e continue com este trabalho maravilhoso que você faz. Felicidades!!!!!
Olá Renato, tudo bem? Que bacana que você lê! E fico feliz que tenha gostado do post sobre o Chivas 12! 🙂
Coincidência? Transmissão de pensamento? Seja como for, comente mais! Abs!!
Tenho 52 anos e tomo o Chivas 12 a mais de 30 anos. Trafeguei por outras estâncias, em single malts, defumados, blends variados e aromaticos, porém, sempre foi confortável encontrar o Chivas 12!!!
Parabéns pelo ótima matéria
Caro Adriano, é um dos meus porto seguros também! Abs!
Bom recomendo
Como vai, mestre?
Chivas 12y é especial para mim. Especial porque foi um dos primeiros que provei e porque era muito apreciado pelo meu avô (in memoriam). Este faz parte do meu kit básico de sobrevivência hahaha. Dificilmente não está no meu bar. Me arrume um Chivas 12y, um Ardbeg 10y e uma porção de vermes e te garanto que duro alguns anos em alguma ilha deserta.
Abraço!
Hahahahahah fantástico! Bear Grylls, mas bem servido!
O Chivas 12 está na memória de todos os brasileiros que gostam de Scotch Whisky ! Era uma meta a alcançar ! Quem teve sua vida de estudante ou universitário sabe como o dinheiro era contado e como a belíssima garrafa de Chivas 12Yo era quase inatingível ! Hoje aqui em Fortaleza Ceará essa garrafa custa R$ 125,00 qua após anos de estudo e mudanças de emprego etc, chegar aos 40 anos, poder fazer as pazes com o tempo e comprar uma ou duas garrafas de Chivas Regal 12 anos sem apertar o orçamento… é de uma quase indescritível satisfação !
Marcelo, sim! Chivas 12 foi um dos meus primeiros whiskies, e um dos que mais gostava mesmo antes de gostar tanto de whisky! É um absoluto clássico e, para nossa sorte, quase onipresente.
Chisa 12. Tem sido o meu cão engarrafado nos útimos 10 anos.
Sempre me abasteço no frre-shop.
Há um mês meu estoque acabou antes de nova viagem ao exterior, e comprei três litros, via Americanas.com .
Ao recebê-los achei o tom do líquido mais escuro que o normal.
No paladar, não senti as notas de castanha + baunilha que me marcam essa raça.
Fui ao rótulo e pude verificar que dito cão fez uma escala em Suape-PE, diferentemente de seus compatriotas que fazem escala nos FreeShop.
Pergunto: há diferença entre os produtos ? A Pernod importa engarrafado, ou existe algum tipo de procedimento efetuado em Suape, além do alfandegário ?
Vocês já provaram esse Chivas 12 ? Impressões ?
Rafael, tudo bem?
Não há nenhuma diferença entre os dois. Pode ter sido por conta das condições de armazenagem, mas, duvido. A Chivas é bem cuidadosa em relação a isso. Talvez seja apenas uma questão de variação de lote.
PS: Chisa 12 = Chivas 12
Caro Cão, estou aqui hoje com minha garrafa de Chivas de origem levemente duvidosa e senti no final uma nota de coco (?)… Estaria eu com meus sentidos meio atrapalhados ou meu elixir que pode estar adulterado? Não que tenha sido uma experiência ruim, pelo contrário, mas sei lá, não confio tanto no meu paladar pra afirmar com convicção até porque tenho pouca kilometragem hehe.. O resto bate direitinho!
Vinicius, até pode pegar coco, do carvalho americano. Mas, sinceramente, nao é uma nota que pego no Chivas 12. De onde veio a garrafa? rs
Boa tarde!
Ganhei uma garrafa de Chivas 12y e não posso beber, pois estou tomando algumas medicações, porém dia 20 estarei liberado se tudo der certo!
Corri aqui para ler seu texto e cheguei sentir o gosto do Blended , obrigado meu caro Cão Engarrafado!!!
Prezado Cão! Comecei a ser um assíduo frequentador do seu blog somente agora… Vi que perdi muito tempo neste mundo de whiskies, mas nunca é tarde!
Eu também comecei meu final de adolescência tendo a sorte de ter um pai que amava whiskies e o Chivas 12 era um dos favoritos dele. Daí a razão de tudo ter começado para mim com este ótimo whisky. Também não deixo faltar no meu “bar”, mas agora em plena pandemia e com o dolar nas alturas, terei que me virar para repor o estoque. Afinal de contas, o consumo aumentou hehehhe Você acha que o consumo tem aumentado por causa do isolamento?
Opa, obrigado por acompanhar, joão! E COM CERTEZA aumentou! rs!
Caro Cão, acabei de abrir uma garrafa do Chivas 12. Cheirei, provei e corri aqui! Kkkkkk
Está tudo ali: macio, álcool bem integrado, um “bruta” whisky! Assim como seu texto! Leve, humor bem integrado, um “bruta” texto, como sempre! Parabéns!
Valeu!
Tenho 2 whiskys que sou apaixonada…um deles é o Chivas Regal 12, sabor de nobreza!!!
Estava pensando aqui em duas coisas:
1- Gosto muito de cachorros, cheguei a ter dez ao mesmo tempo de tanto sair pegando os abandonados pela cidade. Será que vem daí meu amor pela Água Sagrada?
2- Fazendo uma batalha entre Black Label e Chicas 12, notei um pouco de aroma e sabor de côco no Chivas… procede ou este vira-lata aqui tá consumindo um Chivas estragado?
Abraços e parabéns pelo trabalho!
Caro Wilson, tudo bom? Acho que as duas coisas procedem.
1) Gente boa gosta de coisas como cachorros e whisky. Então, acho que é um combo!
2) Ele tem sim. Esse coco vem da maturação em carvalho americano de ex-bourbon. Provavelmente com o black em comparação, por ser mais defumado e seco, o sabor de coco adocicado do chivas ficou mais em evidencia!
Mas que saga a do Chivas! Contemplarei seu rótulo com outra perspectiva. Whisky suave, mas com muita “personalidade”. Clássico de respeito.
Caríssimo Maurício a elegância de seus textos, como sempre, apaixonante.
Chivas 12 foi um dos meus 1°s Whisky’s com idade declarada e sempre é um rótulo que gosto de revisitar.
Um Whisky como você mesmo disse, delicado e muito fácil de beber.
Acho que ele combina super bem acompanhado de uma boa cerveja de trigo.
Rsrsrs
Abç forte.