Especial Dia do Bartender – Boardwalk Empire

Hoje é dia do bartender. Uma das figuras mais importantes de toda a indústria da bebida. Bartender é muito mais do que a pessoa que prepara seu gim-tônica ou negroni. O bartender é a mão visível da inovação etílica. Os porta-vozes das tendências nos bares e – por que não – em casa. Atrás do balcão, o bartender é um ser iluminado e multidisciplinar. Ele consegue sorrir educadamente para sua grosseria enquanto prepara algum coquetel com o esmero de um apotecário. Para ele, “me vê um gim-tônica” é uma resposta mais comum do que “tudo, e você” para a pergunta “Boa noite, como vai“. É capaz de demonstrar interesse, independente da quantidade de álcool que você ingeriu, e das proporções gargantuais da abobrinha que você disser. Por dentro, o bartender é quase um dry-shake. É aquele que tem vontade de quebrar o mixing glass na sua cabeça quando você pede para ele te surpreender (bem, ninguém especificou que seria uma surpresa agradável). E que se imagina cortando sua jugular com um golpe certeiro da pá de gelo, toda vez que você pede seu coquetel menos gelado. Que assiste, em seu teatro mental, sua vida vagarosamente se esvaindo de seus olhos, quando você […]

Cocktail à La Louisiane – Da Rivalidade

  Rivalidade. Este sentimento de inquieta e prolongada animosidade. Certas rivalidades podem ser apenas destruidoras. Outras, porém, se mostram bastante benéficas, e trazem avanços que jamais existiriam, não fosse a insaciável vontade de superar o rival. Um exemplo clássico é a Guerra das Correntes – protagonizada por Nikola Tesla e Thomas Edison. Esta (literalmente) eletrificante rivalidade começou no ano de 1884, quando um jovem Nikola Tesla passa a trabalhar no renomado laboratório de Thomas Edison. Que, caso você não saiba, foi o cara que inventou a corrente elétrica contínua (DC), a lâmpada incandescente e uma porrada de ógrafos e cópios, como o fonógrafo, o vitascópio e o mimeógrafo. Um ano depois apenas, Tesla se demitiu para começar sua própria empresa elétrica. Fundeado por um banqueiro chamado George Westinghouse, o inventor propôs que o sistema padrão para trazer luz à nação norte-americana deveria ser o de corrente alternada (AC), e não contínua, que era o vigente, e cuja patente era detida por Edison. Em 1903 – temeroso de perder os proventos de sua patente – Edison lançou uma campanha publicitária para promover a corrente contínua. Em uma de suas demonstrações, o inventor eletrocutou um elefante chamado Topsy utilizando corrente alternada, para mostrar […]

Mary Bobo’s Old Fashioned – Jack Daniel’s & Bacon

Lynchburg, no Tennessee, é uma cidade interessante. Apesar de seu tamanho diminuto – Lynchburg não tem muito além de sete mil habitantes – ela é destino turístico importantíssimo. E não é para ver o único semáforo instalado na cidade. É que é lá que está a mundialmente famosa destilaria do Jack Daniel’s Tennessee Whiskey. Mas há um detalhe um pouco desconcertante. Apesar da Jack Daniel’s ser, atualmente, a maior produtora de whiskey dos Estados Unidos, quem trabalha por lá não pode beber whiskey. Acontece que Lynchburg está no condado de Moore. E há uma lei seca em vigor naquele condado, que proíbe expressamente a venda de bebida alcoólicas. Assim, beber por lá é proibido. Mas não comer. E um dos restaurantes mais famosos da cidade é o Miss Mary Bobo’s. O lugar conta com nove salas de jantar e é capaz de atender mais de duzentas pessoas por dia. A cozinha é tradicional daquele estado americano. No passado, o lugar fora frequentado por Jasper (“Jack”) Newton Daniel, fundador da Jack Daniel’s, até ele morrer de unha encravada. Um de seus pratos preferidos é servido até hoje no Miss Mary Bobo’s: quiabo frito com uma fatia de torta. E você que pensava que […]

Jack Daniel’s Tennessee Calling

Aeroportos são lugares fascinantes. Você pode fazer um monte de atividades em aeroportos. Dá para comer, dormir, fazer compras, beber. Dá até para fazer massagem naquelas cadeiras, que ficam no meio do corredor, enquanto as pessoas te olham esquisito, imaginando que você é alguém totalmente desprovido do senso de ridículo. Aliás, com certo grau de desprendimento e falta de autocrítica, dá para se fazer quase tudo num aeroporto. Porém, uma coisa que eu nunca imaginei que faria num lugar desses é acompanhar um concurso de coquetelaria. Mas foi justamente o que aconteceu na segunda-feira, dia 23 de julho, com o Jack Daniel’s Tennessee Calling. O evento foi realizado na Arena Congonhas, dentro do aeroporto homônimo. O Tennesee Calling é uma disputa realizada pela Jack Daniel’s que reúne bartenders de todo Brasil. Os três primeiros serão levados ao Tennessee – talvez a temática de aeroportos seja conveniente aqui – para conhecer a destilaria da marca. Participaram do do torneio os profissionais: Cassio Batista (Meet Me) e Tiago de Oliveira Santos (Jangal), de Belo Horizonte; Adriano Nunes (Grainne’s), de Campinas; Cris Almorin (Punch) e Lutti Andrighetto (Street 44/Gran Torino), de Curitiba; Rodrigo Coelho (Madalena) e Thelmo di Castro (Iz), de Goiânia; Mauro […]

Smokin’ Bob Negroni – Negroni Week

Uma noite de inverno em Oakland, em 1905.  Frank Epperson, um garoto de onze anos de idade, esquece um copo com água, refresco em pó e um palitinho de misturar do lado de fora de sua casa. Naquele momento, Frank não fazia a menor ideia do que acabara de criar. No dia seguinte, o menino encontra seu refresco congelado, com um conveniente palito espetado, perfeito para manipulação. Nascia o primeiro picolé do mundo. O próprio Epperson, alguns anos mais tarde, tratou de patentear aquela sua serendipidade. Um século depois, a criação de Epperson está no mundo todo. E apesar de algumas curvas erradas – as paletas mexicanas e aquele negócio comprido e roliço de iogurte, por exemplo – jamais saiu de moda. É como o Negroni. Quase um século de vida e em perfeita forma. Aliás, o negroni foi criado também de uma forma bem despretensiosa. Sua história é contada no livro Sulle Tracce del Conte: La Vera Storia del Cocktail Negroni, de Lucca Picchi, bartender do Caffe Rivoire, localizado em Florença, na Itália. De acordo com o livro, o coquetel foi criado em 1919 no Bar Casoni, também em Florença, quando o conde Camillo Negroni pediu ao bartender Forsco Scarselli que lhe […]

Commodore – O lado doce da vida

Ah, o excesso. Como diria Oscar Wilde, a moderação é algo fatal. Nada tem tanto sucesso quanto o excesso. E ainda que a frase de Wilde deva ser vista com reticências, e não como uma carta branca para cometer todo tipo de atrocidade, tenho que concordar com ele. O excesso melhora bastante tudo aquilo que já é naturalmente prazeroso. Se você não concorda, deixe-me fartamente exemplificar, com abundâncias corriqueiras. Dormir até as duas da tarde no domingo. Comer meio bolo de fubá numa sentada. Assistir oito episódios seguidos da sua série favorita na companhia de um pote de sorvete ou pipoca. O clássico quarto – ou quinto – pedaço de pizza. Só mais uma cervejinha de saideira e a gente vai embora. O oitavo cafezinho do dia, depois do jantar. Mas é claro que eu quero a batata e a coca-cola grande com o duplo quarteirão, que pergunta mais óbvia. E coloca aí um chorinho na caipirinha, fazendo favor. É engraçado como somos atraídos pelo excesso, mas o renegamos. Entendo que em muitas situações, o exagero pode ser extremamente danoso, e nada mais natural do que buscar o equilíbrio. Mas em outras, às vezes, o excesso é bom. Há uma […]

Drink do Cão – Blackthorne

Às vezes as coisas precisam apenas ser resgatadas para alcançarem o sucesso. Foi o que pensei, após assistir o filme The Disaster Artist, dirigido pelo ator James Franco. The Disaster Artist conta a história de outro filme, por muitos considerado o pior do mundo. The Room, escrito e dirigido por um curioso indivíduo chamado Tommy Wiseau. O filme de Franco – que é bem legal – me deixou genuinamente curioso para assistir àquele de Wiseau. E eu não fui o único. A internet está povoada de relatos de pessoas que viram este depois daquele. E olha, eu não poderia afirmar que The Room é o pior filme do mundo, porque eu não vi todos os filmes do mundo. Mas vou te garantir que ele é bem ruim. A pior parte é o roteiro. O roteiro não faz o menor sentido. Sabe, a próxima informação que vou passar vai parecer meio aleatória. Mas enfim. Aqui em casa a gente tem um gato, e às vezes eu noto que ele me olha meio angustiado quando estou fazendo algo que ele não entende a razão, como tomando banho ou escovando os dentes. Acho que se o gato em algum momento ficasse mais inteligente e […]

Whiskey Mule

  Quando era criança, não ligava muito para modinhas. Nunca encostei em um tazo e nunca colecionei mini-coca-colas. Mas havia uma coisa que me pegava sempre. Kinder Ovo. Pensando friamente, talvez eu nem gostasse tanto do chocolate. O que mais queria era mesmo a surpresa. Porém, o engraçado é que se eu pudesse encontrar a surpresa sem o tradicional envolvimento de seu delicioso recipiente, eu provavelmente não me interessaria por ela também. O genial do Kinder Ovo é a combinação daqueles elementos. As duas coisas juntas, aliadas à expectativa daquilo que está dentro da capsula o tornam algo irresistível para qualquer criança, tenha ela três ou sessenta anos. Ninguém consegue ficar indiferente e não esboçar, nem que seja a menor curiosidade, ao abrir um Kinder Ovo. Ele é a perfeita fusão entre a obsessão gastronômica e a sede acumuladora. Na coquetelaria, um caso muito parecido é o do Moscow Mule, a versão tradicional do coquetel tema deste post. O Whiskey Mule. O Moscow Mule é a reunião de três elementos que ninguém prestava atenção. Mas que, reunidos, resultaram em um dos coquetéis mais famosos do mundo. Sua história começa na década de 30, com um senhor chamado John Martin, presidente da G.F. Heublein & […]

Drink do Cão – Whiskey Sour

Hoje, a caminho do trabalho, meu carro me disse que precisava de revisão. O módulo do controle eletrônico de amortecimento – ou algo assim – não estava funcionando. Chegando lá, liguei para a oficina enquanto preprava um café na nova máquina. Mas me confundi. A secretária atendeu bem na hora em que eu ajustava a temperatura e escolhia se meu expresso seria longo, normal ou ristretto. Acabei fazendo um chafé escaldante. Marquei a revisão do carro às pressas, e, irritado, fui à cafeteria. Pedi um café e um brigadeiro. A caixa então perguntou qual brigadeiro eu queria. Sei lá, brigadeiro não é tudo igual, retruquei. Não, agora temos uma seleção de mais de dez diferentes, tem, por exemplo, paçoca, chocolate belga, pistache, doce de leite, café. Sabe, não sou um nostálgico da desafetação. Mas naquele dia queria apenas um pouco de simplicidade. Um café espresso, um brigadeiro de brigadeiro e um carro que não sabe falar e que não tira peças com nomes esquisitos da sua metafórica cartola eletrônica. Mas eu sei que esse é um movimento natural das coisas em nossa sociedade. Elas começam simples, mas à medida que o tempo passa, vão se sofisticando. É uma característica que não […]

Drink Drops – Boilermaker

Quando comecei a beber, meu pai me deu um conselho de ouro sobre como não ficar bêbado. Alternar um gole da bebida com um gole de água. É uma estratégia simples, mas que realmente dá resultado. O álcool desidrata o corpo, e a água é a melhor aliada na briga para reidratá-lo. Com essa dica, poderia passar horas bebendo moderadamente sem sofrer as sórdidas consequências da ressaca. Uma vez, lendo uma crônica do Luiz Fernando Verísismo – de verdade, não o Luiz Fernando Veríssimo que as pessoas compartilham no Whatsapp – vi que ele tinha a mesma estratégia que eu. E o mesmo desafio. “Tomar um copo de água entre cada copo de bebida – O difícil era manter a regularidade. A certa altura, você começava a misturar a água com a bebida, e em proporções cada vez menores. Depois, passava a pedir um copo de outra bebida entre cada copo de bebida“. Nesse estágio, não sei qual era a pedida do Veríssimo.  Mas minha sempre foi whisky e cerveja. Às vezes ao mesmo tempo. Naquela época eu nem sabia, mas esse hábito – de beber um copo de whisky junto com um de cerveja – é bem comum. E […]