Rivalidade. Este sentimento de inquieta e prolongada animosidade. Certas rivalidades podem ser apenas destruidoras. Outras, porém, se mostram bastante benéficas, e trazem avanços que jamais existiriam, não fosse a insaciável vontade de superar o rival. Um exemplo clássico é a Guerra das Correntes – protagonizada por Nikola Tesla e Thomas Edison.
Esta (literalmente) eletrificante rivalidade começou no ano de 1884, quando um jovem Nikola Tesla passa a trabalhar no renomado laboratório de Thomas Edison. Que, caso você não saiba, foi o cara que inventou a corrente elétrica contínua (DC), a lâmpada incandescente e uma porrada de ógrafos e cópios, como o fonógrafo, o vitascópio e o mimeógrafo.
Um ano depois apenas, Tesla se demitiu para começar sua própria empresa elétrica. Fundeado por um banqueiro chamado George Westinghouse, o inventor propôs que o sistema padrão para trazer luz à nação norte-americana deveria ser o de corrente alternada (AC), e não contínua, que era o vigente, e cuja patente era detida por Edison.
Em 1903 – temeroso de perder os proventos de sua patente – Edison lançou uma campanha publicitária para promover a corrente contínua. Em uma de suas demonstrações, o inventor eletrocutou um elefante chamado Topsy utilizando corrente alternada, para mostrar seus riscos. O que – na opinião deste cão – dá na mesma que moer a mão de alguém num moinho de café para mostrar que cafeína faz mal.
A campanha de Edison não funcionou, e, aos poucos, a corrente contínua foi substituída pela alternada. Mas a corrida para encontrar o melhor modelo para iluminar os Estados Unidos trouxe enormes benefícios. E a troca do sistema permitiu que a eletricidade pudesse chegar mais facilmente a locais mais remotos, e alavancou o avanço tecnológico daquele tempo.
Outra animosidade bem benéfica aconteceu em Nova Orleans – ou New Orleans, se preferir – na década de vinte do século XX. A cidade possuía dois belíssimos hotéis, com notáveis bares: o Monteleone e o La Louisiane. O primeiro criara o clássico Vieux Carré, coquetel que hoje figura entre os mais conhecidos de todo mundo.
O La Louisiane, porém, sentiu que – para não ficar para trás – deveria também criar um coquetel autoral. O resultado foi o Cocktail à La Louisiane. Talvez criatividade em nomear coisas não fosse o forte deles. Mas isso não importava, porque misturar bebidas certamente era.
Por algum motivo que foge à luz (viu o que eu fiz aqui?) o Cocktail à La Louisiane jamais atingiu o prestígio internacional de seu rival. Sua primeira aparição foi no Famous New Orleans Drinks and How to Mix ‘Em, de Stanley Clisby Arthur. Mais tarde, o coquetel figurou também no The PDT Cocktail Book, de Jim Meehan e Chris Gall. Ao longo de seu percurso, também ganhou uma variação em seu nome: De La Louisiane.
O Cocktail à La Louisiane pode ser considerada um híbrido entre o Vieux Carré e o Sazerac. E assim como seus conterrâneos, leva os tão famosos Peychaud’s bitters, produzidos na cidade. A receita original pedia partes iguais de rye whiskey, vermute tinto e Benedictine. Essa receita que foi reproduzida no livro de Stanley.
Porém, a versão do The PDT Cocktail Book pedia um sensível aumento na dose de whiskey, de forma a balancear o dulçor trazido pelo Benedictine. E é essa a receita que ensinarei por aqui. Porém, caros leitores, se desejarem mexer na proporção, sintam-se à vontade. Aqui não há rivalidade. Apenas a incessante busca pelo coquetel que mais agradará seu paladar.
COCKTAIL A LA LOUISIANE
INGREDIENTES
- 2 partes de rye whiskey (é, eu sei, o único que temos no Brasil é o Wild Turkey 101 Rye, e é difícil de conseguir. Recentemente recebemos um lote de Wild Turkey Rye com ABV mais baixo. Pode substituir por um desses, ou por algum bourbon com alta concentração de centeio na mashbill, como Bulleit)
- 1/2 parte de vermute tinto (este Cão utilizou o Miró Etiqueta Negra)
- 1/2 parte de Benedictine (se não tiver, substitua por Drambuie, mas tenha em mente que o coquetel ficará mais spicy e doce)
- 3 dashes de Peychaud’s (se não tiver, vá sem)
- 2 dashes de absinto
- cereja maraschino, de guarnição (vou deixar isso opcional, antes que você, prezado, coloque uma cereja de chuchu no seu drink).
PREPARO:
- Use o absinto para untar a taça. Descarte o excesso (eu sei que você vai descartar na sua boca. Vá em frente).
- Adicione, em um mixing glass, bastante gelo e os demais ingredientes líquidos. Mexa por aproximadamente cinco segundos.
- Com o auxílio de um strainer, coe a mistura e desça em uma taça coupé.
- finalize com a cereja maraschino.
Essa semana iniciei minha tentativa de fazer coquetéis, mestre. Acabei deixando de lado à ideia do Gin e fiquei com Vodka – Wyborowa. Agora pretendo começar os com Whisky.
Abraço.