Seis Whiskies Para se Tomar com Gelo (e sem culpa)

Ontem, quando cheguei do escritório, a Cã perguntou se – ao invés de jantarmos fora – eu não queria pedir comida. Eu disse que sim, claro, afinal, estava cansado. E indaguei a ela o que queria. Pizza? Não, pizza não quero, estou gorda. Japonês? Não, quero algo quente. Uma massa? Não. Árabe então? Não, árabe não também. Hambúrger foi a derradeira opção, igualmente recusada. Mas afinal, amada Cã, o que você quer pedir? Ah, não sei, o que você quiser está bom para mim. Na verdade, eu queria qualquer coisa. Só não queria pensar muito. Tenho dias assim. Esse era um deles. No trabalho, me disseram para ouvir Penderecki enquanto traduzia um contrato de M&A, porque música clássica auxiliava na concentração. Mas o máximo que queria ouvir era Rolling Stones. Durante o almoço, recomendaram que pedisse o polvo. Mas eu queria mesmo era um belo mexidão. Me disseram para ver um filme do Godard. Mas meu desejo mesmo era ver um J. J. Abrams. Por fim, falaram que eu deveria ler Dostoievski. Aí concordei, afinal, a vida é muito curta para desperdiçá-la com literatura ruim. Mas hoje não, hoje eu não leria nada. Aliás, cinema, literatura e whisky tem muita […]

Da Longevidade – Grand Old Parr 12 anos

Algumas pessoas são simplesmente extraordinárias. Einstein, Da Vinci, Bach e a Monica Bellucci são bons exemplos disso. Outras, entretanto, não são nada além de ordinárias. Um excelente exemplo de uma pessoa que se enquadra nesta segunda categoria foi o Sr. Thomas Parr. Tomas Parr foi um inglês que teria nascido em meados do século quinze e levado sua vida de uma forma absolutamente normal, dividindo seus dias entre tomar leite talhado e comer queijo estragado. E ninguém aqui estaria falando sobre Thomas Parr hoje se não fosse um simples detalhe. Um detalhe que torna sua vida ordinária absolutamente extraordinária. Extraordinariamente longa. O homem viveu por cento e cinquenta e dois anos e nove meses. Cento e cinquenta e dois anos e nove meses. Para você ter uma ideia, Thomas Parr teve um caso extraconjugal aos cem anos de idade, e quando sua esposa morreu, casou-se com sua amante, aos cento e vinte e dois. E permaneceu casado por mais trinta anos. É uma vida muito longa. Mesmo para os padrões de Ozzy Osbourne e Keith Richards. A improvável morte deste Gandalf da vida real aos cento e cinquenta e dois despertou a curiosidade de médicos importantes da época, como William […]

Starman – Johnnie Walker Black Label

Talvez eu tenha más notícias. Quer dizer, más notícias caso você seja um extraterrestre, um ermitão, ou tenha se isolado em um local sem internet, televisão, rádio ou telefone pelas últimas três semanas. Mas, olha, eu duvido que você já não saiba o que vou dizer. Afinal, você está lendo este post, o que indica que há uma conexão ativa entre vossa senhoria e o mundo exterior. De qualquer forma, aí vai. David Bowie faleceu. E nem me venha falar que isso não faz diferença, e que você nem gostava tanto de David Bowie assim. Porque até pode ser que você não seja um apreciador de suas músicas, mas sua influência em nossa sociedade é absolutamente incontestável. O homem por trás de Ziggy Stardust antecipou e criou tendências na música, na moda e na cultura de nosso tempo. Aliás, Bowie era um camaleão de tendências, adaptando-se com maestria e potencializando-as como ninguém. Bowie vendeu mais de cento e quarenta milhões de gravações ao longo de sua vida. Ganhou nove álbuns de platina, onze de ouro e oito de prata. Atuou em grandes sucessos, como O Grande Truque e Labirinto e compôs canções antológicas, como The Man Who Sold the World, […]

Especial de Final de Ano – Whisky e Réveillon

“O passado não importa muito. O que importa são seus planos para o futuro. Anime-se com seus planos para o futuro”. Quando ouvi essa frase de um conhecido há uma dezena de réveillons passados, logo me animei. Me animei, porque tudo que havia planejado para meu futuro era terminar aquela taça de prosecco. E, ao termina-la, me encostar novamente no balcão do bar para pedir a próxima. Afinal, é ano novo. Eu posso. O ano novo é uma festa interessante. Aliás, é minha data comemorativa coletiva preferida. Não é muito difícil, já que eu odeio natal, não suporto a monomania do carnaval e não ligo muito para a páscoa. Mas a verdade é que o réveillon traz um temporário otimismo ingênuo até mesmo para as pessoas mais taciturnas. Com o tempo, aprendi que não adianta muito fazer planos para o ano vindouro. Nem ouvir conselhos. Porque não importa qual foi sua promessa ou a recomendação. Ano que vêm, você provavelmente estará pesando a mesma coisa que está agora. E continuará trabalhando com o mesmo empenho e visitando a academia com a mesma frequência. Você, inclusive, estará bebendo a mesma quantidade que bebe o ano inteiro. Quer dizer, com exceção da […]

Seis Famosos que Adoravam Whisky

Este post começará com uma declaração óbvia. Whisky é bom. Muito bom. E todo mundo gosta de coisas boas. Se não fosse assim, todo mundo beberia apenas água e comeria semente de linhaça. E tudo bem para todo mundo, porque semente de linhaça é um alimento funcional, que contém uma porção de ômegas diferentes, além de proteínas e fibras. Além disso, como você deve – ou não – ter visto na televisão, você pode substituir qualquer coisa por semente de linhaça, por exemplo. Mas a verdade é que nós gostamos de coisas boas. E, em estado líquido, é difícil que alguma coisa seja melhor do que whisky. Assim, é compreensível que grandes nomes da história e celebridades – que são gente como a gente – também apreciem este néctar. Portanto, aí vai uma seleção especial de seis personalidades famosas que eram frequentemente vistas com um copo de bom gosto na mão. VINÍCIUS DE MORAES O distinto cavalheiro que inspirou o nome deste blog era, certamente, um entusiasta do whisky. É incerto, entretanto, qual era sua marca preferida. Há boatos de que era Teacher’s. Ou Buchanan’s. Ou talvez White Horse. A verdade é o título de whisky preferido do poeta é […]

Fumaça Negra – Johnnie Walker Double Black

Este texto foi originalmente escrito pelo Cão para a Single Malt Brasil no começo de 2015. Mas coisas boas sempre devem ser relembradas. Afinal, recordar é viver. Vou ser objetivo com vocês. Eu adoro qualquer coisa consumível que seja defumada. Isso inclui sólidos e líquidos. Quer me ver feliz? Faça um jantar que inclua, em algum momento, calabresa defumada, bacon ou salmão defumado. Ou os três. Com um bacontini. Sim, isso é um Martini com bacon. Inclusive, há uns meses atrás, durante uma visita ao supermercado, achei que tinha feito uma descoberta que mudaria para sempre minha vida. Fumaça líquida. Fumaça líquida é uma espécie de essência, que você pode borrifar em cima de alimentos, para deixá-los com um certo aroma de fumaça. Ou seja, delícia líquida. Comprei logo dois vidros. Na minha imaginação, eu poderia defumar tudo agora. Pense em um hambúrguer defumado, com pão defumado, queijo defumado e alface defumado. Perfeito! Meus primeiros testes com a fumaça líquida foram ótimos. Inclusive, fiz um espaguete com azeite, alho, pancetta, fumaça líquida e mais umas coisinhas que ficou bem decente. Só que aí eu comecei a ficar corajoso. E com a coragem, veio naturalmente a estupidez. Alguém aí já tentou […]

O Cão Didático – Um Micro-Manual para Entender o Rótulo de um Whisky

Este texto foi originalmente elaborado para nossos amigos da charutando.com.br, portal dedicado à cultura do charuto no Brasil. Mas por sua relevância, resolvi também que faria constar deste blog. Porque, afinal, não é sempre que whiskies e utilidade pública se reúnem. Pode ser óbvio o que vou falar,  mas adoro combinar puros e whiskies.  Por isso, inclusive, que aceitei com orgulho fazer parte do grupo de colunistas da Charutando. Aliás, tenho uma poltrona na varanda de meu apartamento, estrategicamente posicionada ao lado de uma mesa baixa, exatamente para que possa me dedicar a esta saudável e extenuante atividade. A de fumar um bom habano, acompanhado, quase sempre, de algum single malt e de boa literatura. E ainda que este programa já seja, em si, excelente, sempre sentia que faltava algo. Havia lá um metafórico espaço vazio a ser preenchido, para que aquela sensação quase kitsch de conforto efetivamente decantasse. Não sabia bem o que era. Até que um dia, sendo forçado a escutar a seleção da Valeska Popozuda que meu vizinho insistia em ouvir no volume mais alto, finalmente entendi o que precisava. Música boa. Encomendei, então, um bom fone de ouvido. Aliás, um excelente fone de ouvido, capaz de […]

Drinque do Cão II – Penicillin

  Lembram-se quando falei sobre o sentido da palavra “serendipidade”? Quando a mencionei pela primeira vez, utilizei um exemplo que deixou muita gente excitada. O Viagra. O Viagra foi, fácil, uma das maiores serendipidades da história. Além dele, outra serendipidade incontestável foi a penicilina. Ela foi descoberta por acaso, pelo cientista escocês Alexander Fleming, em 1928. A penicilina foi provavelmente a segunda maior contribuição da Escócia para o mundo. Depois do whisky, óbvio. É que antes da penicilina, se você cortasse a perna e ela, porventura, infeccionasse, havia uma chance razoável de ter que amputá-la. E se você desse esse azar antes de 1846, sua perna teria que ser lentamente e cuidadosamente arrancada sem o uso de qualquer anestesia, enquanto você urrava de dor. Porque, bom, porque não existia anestesia, também.   E tudo bem que tomar antibiótico é chato, porque você fica com dor de estomago, e não pode beber. Mas sei lá, eu acho que eu prefiro passar uns dias sem beber nada do que perder um membro do corpo. E, se você pensar, foi mais ou menos essa a escolha que a penicilina te trouxe. A penicilina, assim, foi uma revolução para a humanidade. Para mim, uma […]

O Cão Estrela – Johnnie Walker Red Label

Este é o ultimo post da série de whiskies abaixo de cem reais. E o último não podia ser outro senão o whisky escocês mais consumido no Brasil. O Johnnie Walker Red Label. O Red Label é o whisky escocês mais consumido no mundo, da marca de whiskies escoceses mais consumida no mundo. Ele está, literalmente, em toda parte. Desde o restaurante internacional renomado até o boteco da esquina. Do decanter de cristal Baccarat na mesa de seu chefe até a mão do bêbado que fica na porta da sua casa. O Red Label é o Romero Britto do mundo dos whiskies, com a diferença que, quando vejo um Red Label, não tenho vontade de vomitar um arco-íris. Aliás, falando no Romero Britto, ontem eu vi uma mulher totalmente vestida de Romero Brittos. Eu estava no trânsito, e ela passou há uns vinte metros de distância, na faixa de pedestres. Poucas coisas que vi na minha vida eram tão coloridas quanto aquela moça. Centenas de estampas de padrões e cores diferentes sobrepostas, dividindo seu corpo. Praticamente o cruzamento entre um pavão e um diagrama de anatomia humana. E ainda que existam mulheres mais bem vestidas (muitas, aliás), artistas melhores (muitos, […]

Vira Lata Engarrafado – White Horse

Antes de dar continuidade ao projeto de três whiskies abaixo de cem reais, permita-me uma digressão: preço é uma coisa engraçada. Quando algo é caro, necessariamente a tratamos com mais respeito, e procuramos – as vezes, inutilmente – qualidades ocultas naquilo. Carros são bons exemplos disso. Mas os melhores são, provavelmente, restaurantes. Restaurantes são bons exemplos porque há uma conjunção louca de fatores que poderiam justificar um preço simplesmente extorsivo. Além disso, avaliar um restaurante é um processo quase exclusivamente subjetivo. Não há parâmetros matemáticos. No caso de carros, por exemplo, podemos dizer que um vai de zero a cem em dois segundos a menos que outro. E que há mais espaço interno. É como dizem: contra fatos não há argumentos. Mas é difícil medir objetivamente se o bacalhau de um restaurante é duas e setenta e cinco vezes melhor que de outro. Uma vez fui com a Cã a um restaurante autoproclamado conceitual. Meu prato, que custava quase o preço de todas as minhas peças de roupa combinadas, era descrito como crisps de batata sobre suculentos escalopes em uma cama de verdes. Entretanto, ele se mostrou, na verdade, como um contrafilé maltratado, com batata palha e algo que lembrava, […]