Drops – Armorik Whisky Breton

Já experimentou algum whisky Francês? O país da champanhe e do vinho também produz excelentes single malts. Este é o Armorik, produzido na destilaria Warenghem,na região da Bretanha. A Warenghem, além de whisky, produz também hidromel e algum outros destilados, como um licor de menta e uma espécie de triple sec. O carro chefe, entretanto, é mesmo o whisky. E o Armorik Classic – a expressão aqui retratada – é sua versão de entrada, e, naturalmente, a mais vendida. Apesar de possuir mais de cem anos de idade, a destilaria apenas recentemente ganhou destaque internacional. A razão disso, provavelmente, foi a reformulação do portfólio de whiskies por ela produzidos e o refinamento dos métodos de produção. Entre as mudanças, houve o maior emprego de barricas de ex-jerez e a diversificação de versões. O Armorik é um whisky sem idade definida, maturado em barricas de carvalho americano que contiveram bourbon whisky, com uma pequena parte maturada em barricas de ex-jerez. Ele possui aroma e sabor frutado, com mel, baunilha e açúcar mascavo. Praticamente um Crème Brulée em estado líquido!    

Tabula Rasa – Glenfiddich 18 anos

  Algumas pessoas têm manias estranhas. Quando era criança, tinha um coleguinha que gostava de morder gente. Ele tentava morder todo mundo, sem qualquer distinção de idade ou sexo. E de forma completamente gratuita. Como eu sabia de seu hábito, mantinha uma distância segura. Muito tempo depois, descobri que essa é uma compulsão mais ou menos comum, e que pode continuar durante a vida adulta. Chama-se Dacnomania. Nunca pude perguntar a ele como esse curioso hábito começara. Na verdade, nunca me permiti esta oportunidade – ter um bife arrancado do meu braço não estava nos meus planos. Talvez minha curiosidade mórbida frente um dacnomaníaco fosse menor do que meu instinto de autopreservação. Outra mania bem esquisita que vi – dessa vez em um programa de televisão – era de comer tijolos. Era uma moça, lá pelos seus trinta anos de idade. Seu pitoresco costume consistia em arrancar pequenos pedacinhos de parede, roer e depois engolir. Quando questionada, a moça disse que, quando criança, foi induzida por sua avó a tornar-se a primeira sommelier de paredes do mundo. Sua avó lhe contara que seu pai comia papel de parede e argamassa quando infante. Fascinada pela história, a menina resolveu provar por […]

Solo Suite – Laphroaig 10 anos

Hoje vou falar de coisa séria. Falarei de cultura. De música erudita. Falarei do Arvo Pärt (pronuncia-se Pért, caso você esteja se perguntando o que um trema está fazendo em cima de um “a”). Arvo Pärt é um compositor nascido na Estônia, em 1935, e vivo até hoje. Arvo é responsável por composições antológicas, que você certamente já ouviu. Certamente já ouviu, mas nunca soube que eram dele. O exemplo mais claro é Spiegel im Spiegel. Spiegel im Spiegel – que, em alemão, significa espelho no espelho – foi composto por Pärt em 1978, logo antes de abandonar a Estônia. A composição figurou em filmes como Gerry, de Gus van Sant e Dans le Noir Du Temps, um curta-metragem de Jean Luc Godard que trata sobre, bom, é difícil dizer com certeza sobre o que trata o curta de Godard. Mas este Cão suspeita que seja sobre a morte do cinema como arte, em uma era que tudo vira mercadoria. A peça clássica foi originalmente escrita para violino e piano, em um estilo chamado tintinnabuli. O estilo, criado pelo próprio Arvo, e cujo nome é uma onomatopeia que beira o ridículo, é caracterizado por duas vozes.  Ambas tonais. Uma delas, […]

Goodbye Mr. Hakushu – Hakushu 12 anos

Eu não sou bom com despedidas. Não que eu chore, fique sensível, comece a ouvir Coldplay e a devorar livros de autoajuda e tudo mais. Mas, de alguma forma, aquele abandono me atinge. Atinge quase como um vício. Uma vontade que não pode ser mais aplacada. Algo que estava ao meu alcance, mas que, por alguma razão, desapareceu. Talvez como aquela quase proverbial coceira no membro arrancado. Sinto isso com pessoas. Mas não só com elas. Para mim, ocorre também com músicas, comidas, bebidas. Um exemplo disso é um prato, que comia toda vez que ia a um restaurante próximo de minha casa. Era um restaurante bem caro e mais ou menos metido a besta, o que me irritava um pouco. Me irritava até aquele prato chegar. Porque depois, restava apenas aquele shiatsu de língua. E o engraçado é que o prato não tinha nada de muito difícil. Era uma espécie de talharim escuro, com shimeji, que levava um molho de parmesão batido. A consistência do molho era próxima de uma espuma, um chantilly, mas com bastante sabor de queijo. Essa era a parte genial dele. O molho. O molho era tão genial, mas tão genial, que eu abria mão […]

O Chef Canídeo – Filé Flambado com Whisky Defumado (e risoto de whisky)

Quem me conhece sabe que não tenho grandes restrições alimentares. Sou capaz de comer quase tudo que pode ser considerado um alimento. Quer dizer, quase tudo. Quase tudo porque eu nunca comi grilo, ou barata. E eu sei que na China se come isso como se fosse camarão sete barbas. Mas sabe, em condições normais, eu não vejo nenhum bom motivo pra comer um grilo. Na verdade, vamos impor alguns limites – não existe nenhum bom motivo para comer qualquer inseto. O que muita gente não entende é que, apesar de eu comer quase absolutamente tudo que seja humanamente comestível, eu tenho preferências. Por exemplo, adoro carne mal passada ou crua. Quer me ver feliz? Faça um steak tartar. Gosto muito também de peixe defumado. Aliás, gosto de qualquer coisa – qualquer coisa mesmo – que seja defumada. Sabe, pensando bem, talvez se me servissem grilo defumado, eu comeria. Mas eu também tenho ódios. Detesto frango. Veja bem, não é que eu não coma frango. Eu como. Com desgosto. Também odeio morangos. Morangos estão entre as frutas mais desprezíveis de todo o universo botânico. Eles existem com o único e exclusivo propósito de estragar alimentos que passariam perfeitamente bem sem […]

Sobre Adversidade / O Cão Econômico 1 de 3 – Glen Grant

John Lennon uma vez disse que a vida é o que acontece quando se está ocupado fazendo outros planos. Já William Cowper disse que a variedade é o tempero da vida. É verdade. Se juntarmos os dois, teremos que o verdadeiro tempero da vida é a infinidade de coisas que podem acontecer enquanto fazemos outra coisa. A vida é o que acontece quando você está pronto para dormir, mas pisa nas necessidades que seu cachorro fez no corredor, em sinal de protesto por não o ter levado para passear. Ou quando você está refletindo sobre o que vai beliscar, nu, na frente da geladeira, e ouve sua sogra entrando pela única porta que separa a cozinha do quarto de sua casa. Ou quando você acabou de colocar sua filha no berço, e chuta uma boneca que começa a cantar a música do Frozen. Ou ainda quando você já terminou, mas acabou de descobrir que sua esposa usou todo o papel higiênico e não o repôs. Talvez fosse mais fácil passear com o cachorro, usar uma bermuda, guardar os brinquedos e checar com antecedência o lugar do papel. Mas a verdade é que o imprevisto é a especiaria da vida. Seu […]

Um Não Post / Sobre a Inércia – Glenmorangie Nectar D’Or

  Há dias que realmente não queremos fazer absolutamente nada. Ontem foi um desses. Deitado no sofá, estava eu com uma preguiça petrificante de escrever um post. Eram cinco horas da tarde e eu pensava em tudo aquilo que poderia fazer, caso somente tivesse energia para levantar daquele meu leito. Sem mover sequer um milímetro de qualquer membro de meu corpo, pensava que poderia ir à academia, afinal, não corria há uma semana, e precisava me exercitar. Poderia também cozinhar alguma coisa. Havia comprado ovos, pancetta e uma caixa de spaghettini no supermercado, e com alguma disposição e um pouco de auxílio do mundo digital, poderia improvisar um carbonara para o jantar da Cã e da Cãzinha. Mas não. Porque aquilo exigiria que eu me movesse, e aquele estado de pré-sonolência me embalava de uma forma irresistível. Ao lado do sofá, a poucos centímetros do meu alcance máximo, havia uma garrafa do single malt que deveria ser o tema do post dessa semana. O Glenmorangie Nectar D’Or. Um ótimo whisky. Aliás, um dos três whiskies que fizeram com que eu começasse a me interessar pela bebida. Mas para pegá-lo, seria necessário que eu me esticasse e saísse de minha posição […]

O Cão Sofisticado – Kavalan Solist Vinho Barrique

Hoje vou falar do Kavalan Solist Vinho Barrique, whisky produzido em Taiwan, que ganhou prêmio de melhor whisky do mundo em 2015. Mas antes, vou falar um pouco de cinema. Do cinema. Do senhor cinemà: Jean Luc Godard.  Godard, muito além de uma referência em uma música do Legião Urbana, é, talvez, o melhor cineasta da história. O cinema do mundo inteiro foi influenciado por Godard. É possível ver referências a suas obras em diretores tão diferentes quanto Bernardo Bertollucci e Quentin Tarantino. Mas vou confessar uma coisa: para mim, sentar no sofá e tentar relaxar com um filme do Godard é um exercício de futilidade maior do que tentar encontrar poesia em uma música do Mr. Catra. É que cada plano e cada contraplano de seus filmes tem uma razão de ser. Um objetivo por trás, muito além de simplesmente contar uma história. Cada cena é milimetricamente montada para desconstruir dogmas férreos do audiovisual, ou para deliberadamente tirar o espectador de sua zona de conforto, reafirmando que aquilo é apenas um filme, e que o espectador é o que ele realmente é – um espectador de uma obra de ficção. Isso sem falar da fase Dziga Vertov, em que ele […]

Macallan Sienna e um Novo Dia para Beber

A ficção está cheia de ébrios. Bons exemplos são Jack Torrence, de O Iluminado, e “O Cara”, interpretado por Jeff Bridges em O Grande Lebowski. Para você ter uma ideia, O Cara, durante os cento e dezessete minutos do filme, toma nove White Russians. Isso equivale a um coquetel a cada treze minutos de filme. Mas o mais célebre atleta ficcional do álcool é, indiscutivelmente, James Bond. O espião bebe mais do que um Escort XR3. Um estudo envolvendo médicos da Universidade de Nottingham mostrou que Bond, no decurso de suas histórias, tomou o equivalente a mil cento e cinquenta doses de álcool, em apenas oitenta e oito dias. Isso equivale a uma garrafa e meia de vinho, ou cinco martinis de vodka, todo dia. Mas James Bond não apenas bebe como se vivesse apenas duas vezes. Ele é uma biblioteca etílica. Prova disso é o diálogo que trava com M e o Sr. Donald Munger, ao tomar um cálice de Jerez pertencente àquele último, em Diamantes são Eternos. Bond diz “temo pelo seu fígado, meu senhor. Este é um Solera excepcional. Safra de 1951, acredito”. M, então, retruca “não há safra para Jerez, 007”, ao que Bond responde “Me […]

Por um Mundo Sustentável – Highland Park 18 anos e Ola Dubh 18

O que você quer ser quando crescer? Durante minha infância, tive várias respostas diferentes para essa pergunta. Lá pelos três, queria ser caminhoneiro. De carreta, daquelas com doze eixos. Depois pensei melhor, e resolvi que seria piloto de carro. Mas como tenho a mesma coordenação de canhoto bêbado escrevendo com a mão direita, decidi que, para evitar o bullying, daria a resposta genérica: astronauta. Hoje, pensando bem, não sei por que eu queria ser astronauta. Ser astronauta deve ser um saco. Pior ainda se for da Estação Espacial Internacional (ISS). Primeiro porque você tem que morar num lugar apertado, desconfortável e frio. E pior, com gente que você nem sabe direito quem é. Imagina ter que passar seis meses, absolutamente confinado lá dentro, na companhia de, sei lá, o Tony Ramos? Será que hoje tem Friboi?! Mas o pior de tudo, de longe, é que você tem que beber seu xixi. É sério. Se eu soubesse disso, teria desistido na hora de ser astronauta. É que a ISS reutiliza 97% da água descartada por seus “habitantes”, por meio de um sistema de centrífuga e fervura. Na prática, isso significa que o suor secretado pelas glândulas pentelhas (sem duplo sentido aqui) […]