Whiskies para comprar no Duty Free V

Este é um post sazonal, que já teve quatro edições. Depois, leia a primeira, segunda, terceira e quarta aqui, se quiser. Janeiro é o mês de muita coisa. Da continuidade dos boletos. Das chuvas torrenciais e dos alagamentos. De passar um calor incivilizado, e tentar se refrescar lavando o rosto na pia, somente para descobrir que tá tão quente, mas tão quente que até a água que estava dentro do cano está quente. Janeiro é o mês da cerveja estupidamente gelada, da caipirinha e da praia. Janeiro não é bem um mês pra whisky. Mas Janeiro é também o mês das viagens. De sair do calor da cidade pra ficar fedido, cremoso e queimado em algum outro lugar de sol fustigante, mas, quiçá, com uma vista mais bonita ou uma brisa um pouco mais fresca. Ou de tirar o passaporte do fundo daquela pasta de documentos, pegar o avião e tentar fugir pra algum lugar com uma temperatura menos abrasadora. Mas não sem antes passar na loja do Duty Free. E é aí que eu quero chegar. Janeiro talvez não seja o melhor mês para beber whisky. Mas é um dos melhores pra comprar. A oferta do freeshop é ligeiramente diferente daquela de nossa terra […]

Glenfiddich Fire & Cane – Drops

A primeira dose de 2019 para o Cão Engarrafado. Queria algo que fugisse do óbvio, mas que, ao mesmo tempo, trouxesse alguma familiaridade. Algo que se relacionasse com o espírito do ano novo. Aquela sensação de renovação, mas alicerçada nas mesmas convicções e atitudes. Enfim, algo que soasse novo, experimental, mas que na verdade fosse apenas uma visão, por outro ângulo, de algo conhecido. Não demorou muito para me decidir. Escolhi o Glenfiddich Fire & Cane. O Glenfiddich Fire & Cane é a quarta expressão da Glenfiddich Experimental Series – da qual fazem parte também o Project XX, Winter Storm e IPA Cask, já revisto nestas páginas caninas. Como sua intuição semântica já deve ter indicado, a série se dedica a whiskies com alguma característica considerada, pela Glenfiddich, como experimental. Uma finalização incomum – como no caso do IPA – ou um processo de blending inusual, como o Project XX. No caso do Glenfiddich Fire & Cane, o alegado experimento fica por conta de duas características. A primeira delas é o uso de barricas de rum para finalização – provavelmente Wood’s ou Sailor Jerry, que fazem parte do portfólio da William Grant & Sons. A destilaria não divulga o tempo […]

Morning Glory Fizz – Da Continuidade

A última matéria de 2018. Em menos de dois dias, teremos mais trezentos e sessenta e cinco outros para fazer novamente tudo que fizemos de errado nos anteriores. Mas não sem antes aproveitar as últimas horas do ano de uma forma alegremente inconsequente, e desastrosamente otimista. Algo que certamente lhe trará lembranças no dia seguinte. Lembranças, essas, reavivadas pela boca seca, enxaqueca e fotofobia. Feliz veisalgia nova, meu caro leitor. Assim, talvez a melhor forma de se iniciar um novo ano não seja com falsas promessas. Mas sim reparando a igualmente épica e desastrosa última noite do ano anterior. E é aqui que entra o Morning Glory Fizz. Um café da manhã em forma de coquetel, que leva whisky, absinto (ou pastis), suco de limão, água com gás e, claro, uma clara de ovo, para dar sustento. Se sua consciência não lhe permite beber um coquetel de café da manhã, ainda que você deseje, deixe-me ajudá-lo a dissipar essa hipocrisia. Durante o século XIX, essa era uma prática muito comum. Os coquetéis traziam mais disposição e vigor aos jovens pela manhã. Muitos drinks que hoje conhecemos nasceram deste hábito, como o Between the Sheets, Pick me Up e o Red […]

(um pouco mais que um) Drops – Tobermory 15

Uma vez me perguntaram como eu decido o próximo whisky que vou comprar. Fiz uma serena expressão de conteúdo, e respondi com propriedade. Disse que pesquisava extensamente sobre as últimas inovações no mundo do whisky, e procurava aquilo que me tirasse da zona de conforto e que aguçasse minha curiosidade. Porque, afinal, tinha um blog de whisky. E com ele, vinha a responsabilidade de desbravar este etílico mundo da água da vida. Mas eu menti. Eu menti de uma forma descarada. Porque, pra falar a verdade, minha decisão sobre um whisky passa por dois fatores. O primeiro é eu gostar da destilaria. E o segundo é a garrafa ser bonita. Sério, vocês não tem ideia de quantas vezes relevei um líquido ordinário simplesmente por uma bela ampola. Acontece, porém, que às vezes com estas regras, eu acerto maravilhosamente. É o caso do Tobermory 15 anos, por exemplo. Uma edição limitada da destilaria homônima, localizada na ilha de Mull, que produz duas linhas diferentes de whisky. A primeira, com o mesmo nome da destilaria, é composta de whiskies pouco turfados, com notas cítricas e de especiarias. A outra, Ledaig, é defumada, com sabor de iodo e fumaça. Antes de falar do […]

Ballantine’s 12 anos – Prioridades

Se há um mês do ano que demonstra como nossas prioridades mudam ao longo da vida, este mês é dezembro. Porque quando eu era criança, eu adorava dezembro. Naquela época, tudo em dezembro terminava num presente, em sono ou em má digestão. E minhas maiores preocupações eram o que eu ia pedir de natal pros meus pais, que dia eu entraria em férias da escola e como é que eu conseguiria comer metade de tudo que estaria na mesa da ceia da minha vó, sem passar mal e sem as pessoas me recriminarem. Hoje, porém, as coisas mudaram um pouco. Os presentes não são mais tão frequentes, ainda que eu continue comendo absurdamente e me arrependendo depois. Mas há algo que eu passei a receber com abundância em dezembro. Algo que eu nunca recebera, sequer uma vez quando eu era criança. E essa coisa não é whisky – mesmo que eu também não tenha ganhado nenhuma bebida alcoólica na aurora de minha vida, o que é um ponto positivo bem grande para a vida adulta. São os boletos. Em dezembro, na vida adulta, tudo termina em boleto. Esse ano cheguei até o absurdo de receber o boleto de um clube de […]

White Walker by Johnnie Walker – Whisky Geeking

Sempre fui um pouco nerd. Um pouco não. Acho que bastante. Durante a adolescência, jogava Dungeons & Dragons – e, como vocês sabem, quem joga Dungeons & Dragons não faz muita coisa além de jogar Dungeons & Dragons. Era apaixonado por Senhor dos Anéis e achava um absurdo terem aumentado a participação da Arwen no filme. E também gostava de Lovecraft, a ponto de ter um Ctulhuizinho de miniatura. Mas preciso confessar um negócio. Nunca assisti Game of Thrones. É, eu sei, a série é incrível e está cheia de criaturas assustadoras, como dragões, monstros de gelo e pré adolescentes chatos. Gente bebendo o tempo todo e gente que ainda não sabe nada. E quando você menos espera, eles vão lá e matam todo mundo que tem algum relacionamento com o Sean Bean, inclusive o Sean Bean. Mas vamos parar com isso antes que eu dê algum spoiler. Não é desinteresse. É uma certa inércia. E um costume meio esquisito da minha parte. Prefiro ver séries que já acabaram. Quando a última temporada de Breaking Bad foi anunciada, por exemplo, corri como um louco para ver todas as anteriores. Aliás, talvez, agora, comece minha maratona de Game of Thrones. Mesmo porque […]

Drops – Woodford Reserve Sonoma Cutrer Finish (Pinot Noir)

A prática leva à perfeição. Na verdade, nem sempre. Mas, talvez, na indústria do whiskey, isso seja verdade.  Ancorada em métodos tradicionais de produção, leveduras cuidadosamente armazenadas e cultivadas e barricas virgens de carvalho americano, o bourbon whiskey possui um sabor característico, quase temático. Caramelo, baunilha, mel. Um tema que, sinceramente, não precisa de nada a mais para ser um sucesso. Mas isso não significa que, de vez em quando, alguma inovação ou atipicidade surja. É o caso, por exemplo do Woodford Reserve Sonoma Cutrer Finish, ou – pelo seu nome completo – Woodford Reserve Master’s Collection Sonoma Cutrer Finish Pinot Noir. Como a pomposa e extensa denominação sugere, um bourbon whiskey finalizado em barricas de vinho tinto da uva Pinot Noir. O website oficial da Woodford Reseve já diz quase tudo que precisamos saber sobre essa maravilha. Transcrevo. “A cada ano, o master distiller da Brown-Forman, Chris Morris, lança uma edição especial da Woodford Reserve chamada Master’s Collection. Para cada lançamento, Morris muda algum aspecto do processo produtivo do whiskey (p.e. tipo de barril, finalização, grão, processo de fermentação, local de maturação e estilo). E em novembro veremos o nono lançamento da Master’s Collection” “Para o lançamento de 2014, […]

Ballantine’s Finest – Procrastinação

Se você é um novo leitor do Cão Engarrafado, ou chegou aqui pela primeira vez por meio de alguma ferramenta de busca, talvez não saiba. Então, vou contar novamente. Sou advogado. Trabalhei por uma boa década no mundo corporativo. Minha especialidade era mercado de capitais. Uma área que proporciona oportunidades incríveis para seus profissionais. Como, por exemplo, assistir o  crepúsculo e aurora pela janela de sua sala, enquanto revê duzentas páginas de um prospecto de uma emissão primária de ações de alguma companhia de maçãs. Quase tudo em mercado de capitais demorava bastante, mas deveria ser feito muito rapidamente. O que levava a intermináveis jornadas de trabalho, noites em claro e todo tipo de delivery. Mas duas das atividades mais infernais e intermináveis eram conhecidas como Back-up e Circle-up. Para evitar que você, querido leitor, morra de tédio, explicarei apenas brevemente. Back-up e Circle-up eram normalmente realizados simultaneamente, por um único advogado, e consistiam em circular, manualmente, todas as informações que deveriam mais tarde ser confirmadas, e numerá-las. De um a mil novecentos e alguma coisa, num documento de quase trezentas páginas. Duas vezes, uma pra cada. Quando abandonei o mercado de capitais, voltei a contemplar o prazer de uma noite […]

Quatro whiskies (muito) caros à venda no Brasil

A escritora Ellen Raskin, uma vez escreveu em uma de suas obras que “os pobres são loucos, os ricos são meramente excêntricos“. Não sei se concordo com Ellen. Ainda que a tênue linha entre a excentricidade e a loucura seja puxada um pouquinho mais para o norte à medida que a conta bancária cresce, já presenciei – e ouvi falar – de uma boa porção de ricos que eram, seguramente, absolutamente doidos. Para evitar polêmicas com meus conhecidos, vou recorrer a um exemplo histórico. Cecil Chubb. Em 1915, Chubb – que era um advogado relativamente abastado – comprou o monumento de Stonehenge em um leilão. É isso mesmo, aquelas pedras circulares, que são conhecidas por outra espécie de malucos como sendo mágicas, magnéticas ou só um heliponto de ET, se é que os ETs tem algo parecido com helicópteros. Cecil pagou seis mil libras pelas pedras e pela porção de terra ao seu redor. O que, nos dias de hoje, equivaleria a quinhentas mil libras, ou aproximadamente três milhões de reais. Segundo o milionário, ele teria comprado a propriedade para presentear sua esposa, Mary Bella Alice Finch. Mary – que talvez também estivesse bem além da linha média da sanidade […]

O Cão Didático – Água no whisky

Água. Faço um esforço descomunal para beber três litros de água por dia. Mesmo desidratando na academia e no calor infernal de quase todas as estações em São Paulo, tenho que me policiar para tomar o líquido. É como disse Winston Churchill. “Agua não foi feita para ser bebida. Para que seja palatável, é necessário adicionar whisky. Em esforço consciente, aprendi a gostar dela”. Mas há, aqui, um detalhe que Churchill talvez não tenha contemplado. De que todas as bebidas, da cerveja ao absinto, possuem água em sua composição. Aliás, uma boa parcela de água. E, para o whisky, ela é um dos elementos mais essenciais na produção. Sem ela não há whisky – tanto é que, neste ano de 2018, muitas destilarias tiveram que interromper sua produção por conta de um seca que abalou o Reino Unido. Antes de tudo, devo frisar mais uma vez como a água é extremamente importante para a produção de whisky. Ela é usada no processo de malteação da cevada, na fermentação, durante a diluição para entrar no barril e, posteriormente, para engarrafamento. Além disso, é usada indiretamente, para arrefecer os sistemas de condensação dos alambiques. E claro, ela serve também pra beber, quando alguém […]