Ballantine’s 12 anos – Prioridades

Se há um mês do ano que demonstra como nossas prioridades mudam ao longo da vida, este mês é dezembro. Porque quando eu era criança, eu adorava dezembro. Naquela época, tudo em dezembro terminava num presente, em sono ou em má digestão. E minhas maiores preocupações eram o que eu ia pedir de natal pros meus pais, que dia eu entraria em férias da escola e como é que eu conseguiria comer metade de tudo que estaria na mesa da ceia da minha vó, sem passar mal e sem as pessoas me recriminarem.

Hoje, porém, as coisas mudaram um pouco. Os presentes não são mais tão frequentes, ainda que eu continue comendo absurdamente e me arrependendo depois. Mas há algo que eu passei a receber com abundância em dezembro. Algo que eu nunca recebera, sequer uma vez quando eu era criança. E essa coisa não é whisky – mesmo que eu também não tenha ganhado nenhuma bebida alcoólica na aurora de minha vida, o que é um ponto positivo bem grande para a vida adulta.

São os boletos. Em dezembro, na vida adulta, tudo termina em boleto. Esse ano cheguei até o absurdo de receber o boleto de um clube de assinaturas de cerveja que participo, junto com uma cartinha. Olha só, chegou seu presente de natal, obrigado por estar mais um ano com a gente. Ri, mas ri de desespero. Aí percebi que a cartinha não se referia ao boleto, mas me concedia uns dez por cento de desconto para comprar na loja online. Paguei o boleto da mensalidade e joguei fora a cartinha, porque sabia onde isso terminaria.

Achei mais umas contas pra você pagar aqui…

E tem o blog. No começo do mês, imaginava que poderia comprar algum whisky bem sofisticado para a última prova do ano. Um Johnnie Walker Swing ou um Chivas 25, para me fazer companhia neste calor incivilizado. Mas à medida que chegava na segunda quinzena, percebi que teria que rever minhas prioridades. Minha meta seria encontrar algo com bom custo-benefício, mas que não teria ainda abordado nessas páginas caninas. Felizmente, a solução veio por correio. E não era boleto, mas um Ballantine’s 12 anos – presente de alguns amigos que se compadeceram com minha situação.

O Ballantine’s 12 anos é a segunda expressão do portfólio permanente da Ballantine’s. Além dele, a marca posui o Finest – seu rótulo de entrada, sem idade declarada – e os Ballantine’s 17, 21 e 30 anos. A diferença sensorial entre eles é bem acentuada, ainda que o tema seja sempre o mesmo. A linha Ballantine’s é bem adocicada e frutada. As expressões mais maturadas são mais amadeiradas, e o 17 anos possui um discreto aroma turfado.

A família Ballantine’s (fonte: Glengarry wines)

Aliás, há um claro ganho de complexidade no Ballantine’s 12 anos, se comparado ao Ballantine’s Finest. Ele é mais bem acabado e equilibrado. E na singela opinião deste canídeo, seu custo-benefício é melhor também – ainda que custe mais caro que a versão de entrada. Aliás, este e seu maior trunfo e talvez também seu problema. Em sua faixa de preço, o Ballantine’s 12 anos entrega até mais do que se espera. Porém, por conta de seu irmão mais jovem,  ele não recebe a atenção que merece.

Assim como na versão de entrada, o coração do Ballantine’s 12 é composto por três maltes. Miltonduff, Glentauchers e Glenburgie – essa última, seu lar espiritual. Aliás, se você for um whisky geek com orçamento mais permissivo, saiba que recentemente, a Pernod-Ricard lançou uma linha de single malts, também denominada Ballantine’s, contendo estes whiskies. A ideia da marca é ressaltar e levar os componentes mais proeminantes de seu blend ao conhecimento do público.

Ainda que seja uma marca um pouco negligenciada no Brasil, a Ballantine’s está entre as três maiores em vendas no mundo – as outras são Johnnie Walker e Grant’s. De acordo com a The Spirits Business, a Ballantine’s vendeu mais de sessenta e três milhões de litros de whisky em 2018, considerando todas as expressões de seu portfólio – sendo o maior volume, Ballantine’s Finest  e 12 anos. Mais do que a Chivas Regal, que vendeu aproximadamente trinta e sete milhões. Este é um dado curioso, já que as duas marcas pertencem à gigante Pernod Ricard, e demonstra a força da Ballantine’s.

Assim, se você procura um blended scotch whisky acessível e excelente para sua faixa de preço, talvez o Ballantine’s 12 anos seja sua escolha. É um whisky que servirá tanto como base para seus coquetéis como para ser consumido puro ou com gelo. Enfim, uma bebida versátil, quase criminalmente negligenciada, e que será um excelente companheiro para a segunda atividade mais frequente de dezembro – beber. Porque a primeira, claro, é pagar os boletos.

BALLANTINE’S 12 ANOS (Edição Especial True Music Series)

Tipo: Blended Whisky com idade declarada (12 anos)

Marca: Ballantine’s

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: futado, nozes, mel.

Sabor: compota de frutas, nozes. Um certo adocicado que lembra xarope de bordo.

 Preço: em torno de R$ 110,00 (cento e dez reais)

*a degustação do whisky tema desta prova foi fornecida por terceiros envolvidos em sua produção. Este Cão, porém, manteve total liberdade editorial sobre o conteúdo do post.

31 thoughts on “Ballantine’s 12 anos – Prioridades

  1. Realmente muito negligenciado, aqui em Recife ele estava por 55 reais a garrafa de 750ml. Porém, os carrinhos do supermercado estavam sempre abarrotados de Red Label que custavam 35% a mais. E o nosso Balla 12 quietinho na prateleira, pensei por um momento em levá-lo comigo, mas a minha esposa ficaria uma fera com a terceira garrafa em menos de 30 dias. Mas lembrei do dia que o levei para uma reunião de amigos dentro de uma garrafa de inox para protegê-lo, foi uma prova cega, todos acharam o whisky excelente, adocicado e fácil de beber. Pensaram até se um whisky caro, mas para surpresa de todos, era um Ballantines 12.

    1. Thiago, tive a mesma experiencia numa degustação às cegas que fiz. Mais de 8 rótulos, todos na faixa de preço dele, ou um tantinho mais baratos. E o Ballantine’s 12 ficou em segundo lugar! 🙂

      1. Caríssimo canídeo, boa noite! Sou novo por aqui. Porém, ando muito assíduo! Até tenho comprado alguns rótulos por suas resenhas!
        Agora, sobre esse Ballantine’s ( q acabei de ganhar um de aniversário), vim ler a resenha e tive uma dúvida: qual foi o primeiro colocado dessa degustação as cegas!???
        Grande abraço

        1. Saulo, a degustação foi “biased”, porque havia um whisky que não pertencia à mesma categoria, para fins de “benchmark”, que era o Chivas 18. Ele foi o primeiro de verdade. Depois dele, quase empatados, Ballantine’s e Old Parr. Old Parr ganhou uma posição “2” a mais do que o Ballantine’s, que teve mais “3”.

      2. Quando tomo o 12 anos ou o finest sinto um amargo no final. Que dura ainda alguns segundos na garganta.
        No início é bem doce, mas esse amargo fica de residual…. vc sente o mesmo?
        Pode ser algum dos maltes usados?

        1. Bruno, isso normalmente tem a ver com o whisky de grão, mais jovem, na mistura. Acontece na maioria dos blends de entrada.

    2. Izatuuuu…
      Alô “Dog” e canídeos. …
      Esse ae não falta na minha whiskteca…
      Agora mesmo to na segundona de uma garrafa de 750 ml que iniciei ontem.
      Gosto deste blend.
      Abraçasso a todos.
      Prost!

  2. Uma pequena estória com Bala 12: depois de me submeter a vários exames médicos após suspeita de uma enfermidade, nada foi constatado e meu médico me recomendou comemorar os resultados tomando vitamina B12…como assim doutor perguntei e ele me respondeu: comemore com Balantines 12 anos…

  3. Saudoso Cão, leio este teu belíssimo review saboreando uma boa dose do Ballantine’s 12 anos, um whisky que me encantou desde o primeiro gole, suave e muito saboroso. Confesso que antes de compra-lo, procurei tua opinião sobre o mesmo aqui no blog. Como tu mesmo disse, é um whisky versátil, serve pra tudo, é perfeito para tomar com gelo, principalmente para amenizar esse calor assombroso que vem fazendo aqui no RS. Grande abraço e um feliz ano novo!

    1. Caro Lucas, muito obrigado! Espero que tenha tido uma boa passagem de ano, bem acompanhado por whiskies, ainda que bem, diremos, acalorado!

  4. Dezembro é um mês complexo, mestre. Não sou chegado a Natal e tampouco a Boletos hahaha. Ballantine’s faz parte da cartilha básica, mas é difícil deixar o Chivas. Até mesmo o Black Label eu tenho encontrado num valor razoável e quando for variar um pouco, já tenho o Dewars 12y em minha lista. Recentemente vi esta lista de Single Malts que o senhor citou, inclusive.
    Abraço!

    1. Dezembro é um mes desesperador, mestre!!

      Sim, o Ballantine’s é um pouco mais em conta que essas expressões, na maioria dos pontos de venda. Gosto mais dele hoje do que gostava no passado, mas ainda sou apaixonado pelo Chivas.

  5. Como novo canídeo, estou comparando os whiskies que eu degustava com alguns whiskies diferentes ou com os quais não estou acostumado. Como vc compararia o JW Black Label com esse Ballantines 12a ? Na minha opinião, o B12 parece mais encorpado, oleoso que o BL. Mais doce, enquanto o BL parece um pouco mais defumado (um pouco só). No fim, acho que gostei mais do B12 do que o BL. Mas cada um tem seu gosto pessoal. Eu gostaria de saber de um canídeo especialista rsrs….Parabéns pelos reviews !

    1. Opa! Fala Ernesto, tudo bem?

      Você está corretíssimo em vários pontos. Primeiro – realmente, é uma questão de gosto. Eu gosto dos dois, talvez eu prefira, de leve, o Black Label. Mas é uma briga apertada.

      Sobre o sensorial, você está certo também. Não sei se vejo o Ballantines como mais oleoso, acho que não. Mas acho que ele é mais “rico”. O sabor de caramelo, nozes etc é mais intenso nele no que no Black. O Black é mais delicado, e tem um defumado mesmo, que não se encontra no Balla.

      No final, acho os dois alguns dos melhores custo-benefício da classe. Não dá pra errar.

  6. Caro Cão,

    Assim, como outros, eu sou daqueles que também vem dar uma olhada nas suas impressões e descrições de cada whisky, tanto pela parte técnica quanto pela sua forma de escrever, que é um estilo muito bom de se ler, não ficando nunca cansativo.
    Pois bem, comprei um Balla 12 já com um certo preconceito da sua versão finest, que ao meu ver só fica bom misturado para elevar o alcool do drink.
    Fiquei surpreso com o gosto adocicado e a facilidade de tomá-lo puro e facilmente se tornou uma opção de “whisky que as vezes encontro por menos de 100 reais”. Lendo a sua analise, ficou muito mais fácil valorizá-lo pelo que entrega. Porém, resolvi fazer um teste (às claras mesmo), para saber qual dos três whiskyes, os quais são encontrados na mesma faixa de preço em Duty Frees, agradaria mais : Balla 12, Old Parr 12 e Monkey Shoulder.
    Sim, coloquei um blend malt no meio, mas propositadamente, uma vez que single malts e blend malts são muito mais caros aqui no mercado brasileiro, mas não o são necessariamente no exterior e duty frees.
    Das impressões (bem superficiais porque apenas bebo, não entendo): Monkey Shoulder ganha nos 3 quesitos que eu prestei mais atenção
    – aroma sem aquele cheiro de alcool bem marcado que fica evidenciado nos demais. Aliás, esse estava sendo um critério para as minhas compras, se eu sentisse esse álcool tão forte, já optava por outro, até achar algo que agradasse mais. Estou no começo do universo complexo dos whiskyes, com preferencia pelos single malts de entrada, devido ao cacife e custo benefício. (glenfidich, glemmorangie e glenlivet são eles) ainda nao tenho maturidade etílica para tomar os 15 e 18 anos que possuo, mas que não saberia diferenciar totalmente dos outros.
    – o segundo critério foi o paladar, que me parece ter sido muito mais harmonizado no Monkey Shoulder, tornando mais prazeroso tomar este blend malt. O adocicado do Balla em 2o lugar, por questao de gosto mesmo e o Old Parr com uma certa dificuldade de tomar sem gelo (adotado para os 3).
    – o terceiro critério, por fim, foi a versatilidade. No caso, o Monkey Shoulder só ganhou porque consegui comprar algumas garrafas em duty free por 33 dólares, uns 130 reais na conversao de hoje. Mas este é também um problema, porque restringe muitas pessoas de conhecerem este excelente elixir. O Ballantines 12 muitas vezes é encontrado por menos de 100 reais, tem um gosto muito bom puro, dá pra misturar sem ter dó (algo que eu nao faria com o MS), mas tem um preço também na faixa de 35 USD em duty frees, assim como o old Parr 12, o que os torna mais caros do que no mercado nacional em média…
    Enfim, para o nosso mercado interno, o Ballantines 12 é uma excelente pedida por menos de 100 reais, chegando a ser mais barato do que la fora na cotação atual. Mas tendo a oportunidade, explorar os excelentes blended malts e single malts sai muito mais barato do que comprar aqui, ampliando significativamente o ‘portfolio”.
    Fiz um texto enorme, mas Cão, você é o causador disso, pois acho que aos poucos vamos melhorando o nosso gosto com a excelente contribuição que você nos proporciona ao dividir seus conhecimentos conosco.
    Aliás, vi que você faria um workshop em Bsb-DF, mas ainda nao estou inserido no publico alvo, apesar de estar treinando pra isso.
    abraços

    1. Meu caro Luiz Fernando, esse mundo do whisky é assim mesmo, nos motiva a escrever.

      Concordo com quase tudo que escreveu. Monkey Shoulder é um excelente blended malt, ainda mais por ser acessível. Dizem as (boas) línguas que talvez apareça por essas bandas. E entre o Ballantine’s e o Old Parr, devo dizer que prefiro o Ballantine’s. Fiz uma vez uma degustação às cegas com mais de dez rótulos nessa faixa de preço – ambos incluídos – e os dois vencedores, empatados, foram, justamente, Old Parr e Ballantine’s 12 anos.

      Sobre misturar – olha, a própria Monkey Shoulder tem uma campanha internacional para se usar o whisky na coquetelaria. Então, se a marca disse que pode, não é pecado, rs. Dá uma olhada aqui: https://www.monkeyshoulder.com/cocktails/

      Sobre o sabor de álcool, isso é mais comum em whiskies mais jovens e menos oleosos. Quanto menos oleoso for o whisky e mais jovem, maior será a impressão alcoólica, na teoria. Você já provou Famous Grouse? Me diga o que acha da impressão alcoolica dele. É um blend um pouquinho mais oleoso que os demais.

      Outra coisa é a idade. Não existe esse lance de maturidade etílica! rs! Experimente coisas mais maturadas, tira suas conclusões. A idade não é sinonimo de qualidade. Mas, na maioria dos casos, indica que a pungência alcoólica será aliviada. E, na maioria dos casos, também traz mais complexidade – ainda que essa regra possua várias, mas várias mesmo, exceções.

      O workshop em BSB é do Alex Campos, da Single Malt Brasil, nossos parceiros! Vá na aula, é bem bacana! Alex foi meu professor em tempos imemoriáveis. rs.

    1. Olá Mauro, boa tarde! Apenas um excelente 12 anos! Abra e prove – recomendo comparar com o Balla 12 atual!

  7. Comprei um Balla 12 anos.
    Ele desce fácil, porém achei ele com gosto meio de “remédio” no final. Estou certo disso? Eu acho o Whitezinho mais “Amargo” na entrada mas depois ele tem um final melhor e com menos gosto de remédio. Estou viajando?
    Que linha seria mais aceitável já que gosto mais do white? Chivas 12? Já black? Fizemos um teste à cegas entre Jw black e o White horse e tive dificuldades de identificar, eu consegui, meu cunhado não, são parecidos mesmo ou ainda não temos o paladar apurado?
    Ah, comprei um Jameson IPA, sensacional, gostei mais que o balla, vou postar lá no seu artigo minhas impressões.

    1. Fala Silvano! Black e White horse tem semelhanças. É por causa do whisky enfumaçado, que eles tem de característica. Mas no Ballantine’s nunca peguei medicinal. Será que não é o maltado que está te confundindo?

      E Jameson IPA é uma delicinha mesmo!

  8. Comprei a garrafa de 750 ml, por 99 reais. Infelizmente aqui no litoral catarinense é tudo mais caro. Será o meu segundo whisky. O primeiro foi o White Horse. Vou abrir e tomar uma dose amanhã, no dia dos pais, pra apreciar. Estou entrando nesse mundo agora, tenho 21 anos. Saúde Cão, seu site é ótimo!

  9. Queridíssimo, excelente whisky! Recomento a todos que querem iniciar nos whiskys este rótulo juntamente com o Jack D, ambos são diferentes e são excelente para a divisão dos frudados x enfumaçados, o B12 dá aquela dormência TOP na boca e tem esse final frutado onde pouco se sente do alcool.

  10. Para mim, o Ballantines 12 anos é um dos melhores Whiskys disparados e acessíveis.

    TOTALMENTE negligenciado no Brasil.

    Considero-o, inclusive, BEM SUPERIOR ao Black Label.

  11. O Balantines 12, pra mim, é bem característico. Sei que as notas podem variar bastante de pessoa para pessoa ou até de tempos em tempos. Mas pra mim é algo claro esse whisky, eu sinto exatamente isso:
    Aroma: Banana
    Gosto: Madeira e Nozes
    Finalização: Esfumaçado que passa no final para notas de figo.

    Todas vezes que tive um, é isso. (eu gosto)

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