Drops – Springbank 21

Não filtrado a frio. Sem corante caramelo. Produzido totalmente na destilaria. Há frases que são quase sensuais para um aficionado por whisky. E talvez a destilaria que concentre o maior número de whiskies capazes de serem assim descritos é a Springbank. A Springbank é o fetiche de quase todo whisky geek. E dentro de seu extenso portfólio – que conta com whiskies bastante turfados, outros apenas levemente, além de whiskies que passam por tripla destilação – o Springbank 21 é um dos mais desejados. Tão desejado que este Cão jamais conseguiu uma garrafa. Foi por intermédio de um amigo – poeta e amante dos maltes – que pôde experimentar este líquido. Aliás, da versão lançada em 2018. Isso é importante, já que, a cada edição, a composição das barricas é alterada. Tamanha procura e raridade tem uma razão. A expressão de vinte e um anos da Springbank não faz parte de seu portfólio permanente. Ela é lançada de tempos em tempos, e depende do estoque maturado da destilaria. Garrafas mais antigas – da década de noventa ou dos anos dois mil – atingem valores bastante altos quando leiloadas. Antes de prosseguir, devo admitir uma coisa. Este Cão possui sentimentos conflitantes […]

Globalização – Buchanan’s 18 anos

“Se você quiser mudar o tango, melhor aprender a lutar boxe, ou alguma arte marcial“. A frase é de Astor Piazzolla, um dos criadores do Tango Nuevo – uma espécie de coquetel de tango com elementos de outros gêneros, como jazz e música clássica.  No começo, o Tango Nuevo – que inclusive desconstruía também a forma de dançar tango – sofreu enorme rejeição pelos argentinos, mas foi muito bem recebido no resto do mundo. Costumo não escolher lados por aqui. Mas dessa vez, tenho que assumir meu partidarismo por Piazzolla. Com a fusão de elementos internacionais ao tango, ele não apenas revolucionou o gênero, como o elevou à fama internacional. O que fez com que mesmo compositores mais tradicionais, como Gardel e Varela, também fossem reconhecidos fora da pátria de nossos hermanos. Poderia dizer, sem muito exagero, que Astor Piazzolla transformou o tango em um gênero musical globalizado. Mas às vezes, globalizado até demais. Como, por exemplo, Años de Soledad. Ou Years of Solitude, como preferir. A música foi gravada em 1974 e contou com a participação do saxofonista americano Gerry Mulligan. Mas não me refiro a essa versão original, mas à rebatizada de Années de Solitude. Que é cantada. […]

World Class – Final Global

Talvez você tenha perdido o anúncio, então vale repetir. Este Cão foi convidado pela Diageo para cobrir – por um Instagram Takeover – o campeonato World Class, que aconteceu em Berlim neste fim de semana, dias 06 e 07 de outubro, e na segunda-feira, dia 08. O Worldclass, pertencente à Diageo, é um dos maiores campeonatos de coquetelaria do mundo. São mais de dez anos de competição, em mais de cinquenta países. Nessa década de existência, mais de sessenta mil profissionais participaram do campeonato. Durante o campeonato, o renomado bartender Alexandre D’Agostino, do Apothek Cocktails, assumiu a identidade – ou melhor, o Instagram – deste canino, para cobrir o evento. Pudemos conferir algumas novidades, como a edição limitada de Bulleit, em parceria com os artistas The Dudes. E a tão aguardada edição especial de Game of Thrones de Johnnie Walker, o White Walker. Uma das mais aguardadas provas da final global do World Class envolveu whisky. O icônico Black Label. Durante a prova, os bartenders – cinquenta e sete ao todo – devem criar um highball que represente seu país. Se você não sabe, um higball é um tipo de coquetel que leva um destilado de base, e algum mixer. […]

Cobertura oficial do Worldclass 2018 pelo Cão Engarrafado

Walter Gropius, famoso arquiteto berlinense e fundador da mundialmente conhecida Bauhaus, uma vez disse que somente o trabalho que é produto de uma compulsão interna pode ter sentido espiritual. Este Cão não faz a menor ideia do que ele está falando. Mas, por alguma misteriosa compulsão, se vê tentado a relacionar a frase a um anúncio. De que nosso Instagram foi escolhido oficialmente pela Diageo para acompanhar o Worldclass, que acontecerá em Berlim, neste final de semana. O Worldclass, pertencente à Diageo, é um dos maiores campeonatos de coquetelaria do mundo. São mais de dez anos de competição, em mais de cinquenta países. Nessa década de existência, mais de sessenta mil profissionais participaram do campeonato. O Instagram deste Cão focará em tudo relacionado a whisky, e será gentilmente dominado pela Diageo e pelo bartender Alexandre Serignolli D’Agostino, que estarão por lá ao vivo, trazendo para nós os melhores momentos. Por aqui, você terá acesso a conteúdo exclusivo da competição, imagens, mini-entrevistas e notícias. E claro, poderá também torcer para o Brasil nesta copa do mundo etílica. Seremos representados pela talentosíssima Adriana Pino , vencedora da etapa brasileira da competição. Se você ainda não conhece o Instagram deste blog canino, acesse clicando aqui, curta […]

Dewar’s 25 – Sobre a Passagem do Tempo

    Tenho pensado bastante sobre o tempo. Não o calor, frio e a chuva, porque  todo mundo sabe que esse tempo é doido, e às vezes faz frio de manhã, calor a tarde e chove a noite, e a gente sai com um guarda roupa de coisa que nem vai usar. Não me refiro a este tempo. Me refiro à passagem de segundos, minutos, horas, dias, meses e anos. Àquele tempo, tema da famosa refutação de Borges. A essência da qual somos feitos, do rio que me arrebata, do tigre que me devora, da quarta dimensão. Esse tempo é algo interessante. Ele destrói. Nada é permanente. A passagem do tempo traz desordem, caos, decadência e degradação. Dê tempo suficiente a algo, que aquilo sempre entrará em colapso e deixará de existir. Mas nem tudo é drama. O tempo, para nós, também possui uma face reparadora. A nostalgia. A nostalgia apara as arestas pontudas da memória, e ressalta aquilo que outrora fora bom. Nossa memória tende a atenuar o sofrimento e reacender a felicidade. Deve ser alguma forma de proteção. E não é somente com nossa lembrança que o tempo possui essa função, diremos, cosmética. Com o whisky também. A […]

Backer Três Lobos Single Malt – Promissão

Quando nasci, meu pai tinha um Puma dourado. E desde minha mais tenra infância, eu adorava o carro. E, provavelmente, meu pai também. Porque ele ficou com o Puma por uns bons cinco anos depois de meu nascimento.  O problema é que o carro tinha apenas dois lugares, e eu – como era uma criança – não podia andar no banco da frente. O que, claro, não impedia meu pai de me colocar sentado naquele tablado duro, atrás do banco do passageiro, para dar umas voltas comigo. Nos anos oitenta, cadeirinha, cinto de segurança e bom senso eram opcionais. E as leis da física provavelmente também, porque à medida que crescia, deixava de caber naquele – tão fascinante quanto desconfortável – espaço. Com cinco anos de idade, minha coluna vertebral descrevia a angustiante curva do vidro traseiro, e minha cabeça acompanhava, em batidinhas surdas contra o teto do carro, o péssimo asfalto da cidade. Para falar a verdade, não era só banco traseiro que faltava no Puma. Ele era um automóvel espartano, ainda que muito bem feito. O que, claro, o tornava ainda mais fascinante. Quando meu pai finalmente o trocou por um Monza – em que eu podia me […]

Drops – Bowmore Feis Ile 2008

Você sabe o que é a Feis Ile? Feis ile é a maior festa anual da ilha de Islay, famosa pela produção dos whiskies turfados. Feis Ile celebra a cultura de Islay. Há aulas de gaélico, peças tradicionais, campeonatos de golfe e boliche e infinitas degustações de whisky. Há também uma miríade de atividades curiosas. Como, por exemplo, observação pública de aves e campeonato de pesca com mosca, além de shows de grupos de folk-rock. Mas nada disso é muito importante. O importante são as garrafas comemorativas. Para a Feis Ile, as destilarias de Islay costumam lançar edições limitadas comemorativas, muitíssimo concorridas por colecionadores – e por certas lojas, que preferem comprar direto da fonte e guardar as garrafas, para que valorizem. Por conta disso, durante a festa, a ilha é invadida por centenas de turistas e entusiastas da melhor bebida do mundo. Alguns chegam a acampar do lado de fora das destilarias para ter a chance de colocar as mãos em uma dessas edições. Outros, porém, tem mais sorte. Graças à generosa insanidade da Single Malt Brasil este Cão teve a oportunidade de provar uma dessas singelas jóias. O Bowmore Feis Ile 2008, servido em uma degustação no Rio de […]

Para onde foi todo o whisky japonês

Quando era criança, possuía um livro sobre animais extintos. Eram mais de vinte páginas, que ilustravam bichos como o cão da tasmânia, o dodo e o rinoceronte do oeste africano. Varridas de nosso mundo pela ação humana, mudança climática ou qualquer outra hecatombe. Animais outrora majestosos ou, no mínimo, curiosos, cujas espécies tornaram-se parte do passado. Ficava verdadeiramente triste em saber que jamais poderia ver um quagga ao vivo, por exemplo. Por outro lado, havia alguns que não exerciam tanto fascínio. Tipo a Aranha Teia de Funil Cascada (Hadronyche pulvinator). Uma das aranhas mais venenosas do mundo, responsável por mais de duas dúzias de mortes registradas. Nativa da Tasmânia, este aracnídeo sórdido – isso é um pleonasmo – foi vítima da urbanização na pequena ilha, e acabou declarada extinta em 1995. Se você me perguntar, vou dizer com sinceridade que não me pego lamentando a inexistência da Aranha Teia de Funil Cascada. E nem me venha com o papo de equilíbrio ecológico, porque a Tasmânia tem uma boa quantidade de bichos desagradáveis para tomar seu lugar. Mas não foram apenas animais – sejam eles vis ou não – que desapareceram. O whisky japonês também. E este fará realmente falta. Mesmo no […]

Tuaq Ice – Realidade Cristalina

Expectativa e realidade. Poucas coisas definem melhor o abismo entre os dois conceitos do que hambúrguer de um certo fast food. Porque na foto, atrás do balcão, ele é aquele negócio suculento, alto, mal passado, com queijo derretido em abundância. Mas, na realidade, ele é um bife pálido e fino, com uma mísera fatia de algum queijo cretino, e uma alface murcha que não cabe bem lá dentro, e faz o pão deslizar. Uma vez perguntei a um amigo fotógrafo como é que ele fazia para aquele hambúrguer todo torto ficar tão bonito na foto. E ele me confidenciou uma coisa. Que aquilo da foto não era um hambúrguer. E nem estou falando do paradoxo gerado pela Traição das Imagens, evidenciado na obra surrealista do cachimbo de Magritte. O que digo é que, nem na realidade daquela foto, aquilo era um hambúrguer. Segundo meu amigo, eles usavam massinha, espuma, ou qualquer coisa que parecesse carne, queijo e pão, só pra foto ficar bonita. Sempre pensei o mesmo sobre gelos cristalinos, naquelas fotos do Instagram. Podia apostar que era uma bola de vidro, ou acrílico. No bar, tudo bem, fazia sentido. Bastava cortar um tijolo gigante de gelo e descartar a […]

Sobrevivência – Chivas Regal 12 anos

Admiro pessoas determinadas a sobreviver. Esses, que atravessam quaisquer revezes, graças à sua inabalável resiliência. E nem estou falando de profissionais, como o Bear Grylls. Porque claro, tudo que você espera do Bear Grylls é mesmo que ele coma uma lesma nojenta, durma dentro de um camelo morto, beba xixi e todas essas coisas asquerosas, afinal essa é a profissão dele. Ninguém assiste o programa dele pra vê-lo tomando um vin de table ao lado da Tour Eiffel, né? Me refiro aos amadores mesmo. Aqueles que de seus débeis e muitas vezes mutilados corpos conseguiram extrair uma força sobre-humana apenas para passar mais alguns anos nesse nosso medíocre mundo. Como, por exemplo, a Juliane Koepcke. A Juliane Koepcke foi a única sobrevivente do vôo 508 da LANSA. O avião dela foi atingido por um raio e se desintegrou no meio do ar. A Juliane, presa em sua cadeira, foi lançada de uma altura de três mil metros sobre a floresta peruana. Incrivelmente, Juliane sobreviveu à queda, mas com uma das clavículas quebradas e gravemente ferida. Praticamente rastejando, e alimentando-se de um saquinho de balinhas – a única comida que tinha – Juliane encontrou um riacho. Seu braço estava infeccionado e […]