Goodbye Mr. Hakushu – Hakushu 12 anos

Eu não sou bom com despedidas. Não que eu chore, fique sensível, comece a ouvir Coldplay e a devorar livros de autoajuda e tudo mais. Mas, de alguma forma, aquele abandono me atinge. Atinge quase como um vício. Uma vontade que não pode ser mais aplacada. Algo que estava ao meu alcance, mas que, por alguma razão, desapareceu. Talvez como aquela quase proverbial coceira no membro arrancado. Sinto isso com pessoas. Mas não só com elas. Para mim, ocorre também com músicas, comidas, bebidas. Um exemplo disso é um prato, que comia toda vez que ia a um restaurante próximo de minha casa. Era um restaurante bem caro e mais ou menos metido a besta, o que me irritava um pouco. Me irritava até aquele prato chegar. Porque depois, restava apenas aquele shiatsu de língua. E o engraçado é que o prato não tinha nada de muito difícil. Era uma espécie de talharim escuro, com shimeji, que levava um molho de parmesão batido. A consistência do molho era próxima de uma espuma, um chantilly, mas com bastante sabor de queijo. Essa era a parte genial dele. O molho. O molho era tão genial, mas tão genial, que eu abria mão […]

O Chef Canídeo – Filé Flambado com Whisky Defumado (e risoto de whisky)

Quem me conhece sabe que não tenho grandes restrições alimentares. Sou capaz de comer quase tudo que pode ser considerado um alimento. Quer dizer, quase tudo. Quase tudo porque eu nunca comi grilo, ou barata. E eu sei que na China se come isso como se fosse camarão sete barbas. Mas sabe, em condições normais, eu não vejo nenhum bom motivo pra comer um grilo. Na verdade, vamos impor alguns limites – não existe nenhum bom motivo para comer qualquer inseto. O que muita gente não entende é que, apesar de eu comer quase absolutamente tudo que seja humanamente comestível, eu tenho preferências. Por exemplo, adoro carne mal passada ou crua. Quer me ver feliz? Faça um steak tartar. Gosto muito também de peixe defumado. Aliás, gosto de qualquer coisa – qualquer coisa mesmo – que seja defumada. Sabe, pensando bem, talvez se me servissem grilo defumado, eu comeria. Mas eu também tenho ódios. Detesto frango. Veja bem, não é que eu não coma frango. Eu como. Com desgosto. Também odeio morangos. Morangos estão entre as frutas mais desprezíveis de todo o universo botânico. Eles existem com o único e exclusivo propósito de estragar alimentos que passariam perfeitamente bem sem […]

O Cão Econômico 3/3 – Famous Grouse Finest

Este é o último post de uma série de três provas sobre whiskies abaixo de R$ 100,00(*). Os outros foram Glen Grant e Teacher’s Highland Cream. Além dele, o Cão já visitou outros três whiskies nessa faixa de preço. Foram White Horse, Johnnie Walker Red Label e Suntory Kakubin. A criatividade do homem é infinita. Ela se manifesta em tudo produzido por nossa mente, seja tangível ou intangível. Das pinturas rupestres a Duchamp, das primeiras tendas aos arranha-céus de Dubai, estamos imersos em um oceano de criatividade. E isso não é novidade para ninguém. Mas há um ramo da inventividade humana que sempre me surpreende. Um ramo em que o homem realmente emprega todo seu potencial. O de nomear produtos. Dê uma olhada nas gôndolas de supermercados. Há uma miríade deles. Cachaças João Andante, torradas Peter Pão, croissants Croasonho, carnes Boi Vivant, tapete higiênico para cachorros Super SeCão. E meu preferido, talvez pelo mau gosto aliado à sutileza de uma britadeira: papeis higiênicos Pacu. Além do nome, há a embalagem. A embalagem é quase um convite para adquirir aquilo que ela carrega. Na época daquela promoção da Coca-Cola, sempre procurava meu nome nas latas. Se encontrasse, não titubearia em levar para casa. Mas […]

Nem uma coisa nem outra – Adnams Spirit of Broadside & Broadside Ale

Você já assistiu O Grande Lebowski? Já falei dele por aqui. O Grande Lebowski é um longa-metragem estrelado por Jeff Bridges e dirigido pelos irmãos Cohen, que, basicamente, conta a história de um cara – O Cara – que tenta substituir o tapete velho de seu apartamento após um mafioso urinar nele. No tapete. Não no Jeff Bridges. Durante sua jornada em busca de uma peça de tapeçaria a altura, o Cara se embriaga. Seu coquetel de preferência é o White Russian – feito com leite, licor de café e vodka. Durante pouco menos de duas horas de filme, ele toma nove White Russians. O Grande Lebowski é um dos meus filmes favoritos. Sempre que o encontro passando na televisão, paro para assisti-lo. Da ultima vez que o revi, fiquei com uma vontade irresistível de tomar um White Russian. Logo que os créditos surgiram na tela, fui à dispensa checar se tinha todos os ingredientes. Licor de café e vodka estavam ao alcance das mãos. Mas faltava o ingrediente mais fácil. Leite. Talvez tivesse sido mais fácil ir ao supermercado, mas a verdade é que o desespero é o pai da criatividade. E neste caso, a solução foi encontrada onde jamais poderia imaginar. Uma […]

O Cão Econômico 2/3 – Teacher’s Highland Cream

Este é o segundo post de uma série de três provas sobre whiskies abaixo de R$ 100,00. O primeiro foi o Glen Grant. Além dele, o Cão já visitou outros três whiskies nessa faixa de preço. Foram White Horse, Johnnie Walker Red Label e Suntory Kakubin. Se você já acompanha o Cão Engarrafado há algum tempo, provavelmente já percebeu que os automóveis estão entre minhas maiores paixões. Sempre gostei de carros. E na aurora deste meu amor, entre quase todas as marcas do mundo, a que provavelmente ocupava a maior área dentro do meu habitáculo mental de obsessões automobilísticas era a Alfa Romeo. Os Alfa Romeos, para mim, eram carros com alma. Carros produzidos por apaixonados por automóveis, para os apaixonados por automóveis. Caros, mas absolutamente geniais. Afinal, quase todos os entusiastas colocavam a montadora em posição de destaque em seu rol de paixões. Antes de fazer dezoito anos e tirar minha carta, dirigir um Alfa era uma das coisas que eu mais queria fazer na vida, e provavelmente o único desse rol de desejos pungentes que não envolveria mais ninguém. Para minha incrível sorte – ou azar – minha avó possuía um Alfa Romeo 164, pouquíssimo rodado e muito […]

O Cão Didático – Um Micro-Manual para Entender o Rótulo de um Whisky

Este texto foi originalmente elaborado para nossos amigos da charutando.com.br, portal dedicado à cultura do charuto no Brasil. Mas por sua relevância, resolvi também que faria constar deste blog. Porque, afinal, não é sempre que whiskies e utilidade pública se reúnem. Pode ser óbvio o que vou falar,  mas adoro combinar puros e whiskies.  Por isso, inclusive, que aceitei com orgulho fazer parte do grupo de colunistas da Charutando. Aliás, tenho uma poltrona na varanda de meu apartamento, estrategicamente posicionada ao lado de uma mesa baixa, exatamente para que possa me dedicar a esta saudável e extenuante atividade. A de fumar um bom habano, acompanhado, quase sempre, de algum single malt e de boa literatura. E ainda que este programa já seja, em si, excelente, sempre sentia que faltava algo. Havia lá um metafórico espaço vazio a ser preenchido, para que aquela sensação quase kitsch de conforto efetivamente decantasse. Não sabia bem o que era. Até que um dia, sendo forçado a escutar a seleção da Valeska Popozuda que meu vizinho insistia em ouvir no volume mais alto, finalmente entendi o que precisava. Música boa. Encomendei, então, um bom fone de ouvido. Aliás, um excelente fone de ouvido, capaz de […]

Sobre Adversidade / O Cão Econômico 1 de 3 – Glen Grant

John Lennon uma vez disse que a vida é o que acontece quando se está ocupado fazendo outros planos. Já William Cowper disse que a variedade é o tempero da vida. É verdade. Se juntarmos os dois, teremos que o verdadeiro tempero da vida é a infinidade de coisas que podem acontecer enquanto fazemos outra coisa. A vida é o que acontece quando você está pronto para dormir, mas pisa nas necessidades que seu cachorro fez no corredor, em sinal de protesto por não o ter levado para passear. Ou quando você está refletindo sobre o que vai beliscar, nu, na frente da geladeira, e ouve sua sogra entrando pela única porta que separa a cozinha do quarto de sua casa. Ou quando você acabou de colocar sua filha no berço, e chuta uma boneca que começa a cantar a música do Frozen. Ou ainda quando você já terminou, mas acabou de descobrir que sua esposa usou todo o papel higiênico e não o repôs. Talvez fosse mais fácil passear com o cachorro, usar uma bermuda, guardar os brinquedos e checar com antecedência o lugar do papel. Mas a verdade é que o imprevisto é a especiaria da vida. Seu […]

Um Não Post / Sobre a Inércia – Glenmorangie Nectar D’Or

  Há dias que realmente não queremos fazer absolutamente nada. Ontem foi um desses. Deitado no sofá, estava eu com uma preguiça petrificante de escrever um post. Eram cinco horas da tarde e eu pensava em tudo aquilo que poderia fazer, caso somente tivesse energia para levantar daquele meu leito. Sem mover sequer um milímetro de qualquer membro de meu corpo, pensava que poderia ir à academia, afinal, não corria há uma semana, e precisava me exercitar. Poderia também cozinhar alguma coisa. Havia comprado ovos, pancetta e uma caixa de spaghettini no supermercado, e com alguma disposição e um pouco de auxílio do mundo digital, poderia improvisar um carbonara para o jantar da Cã e da Cãzinha. Mas não. Porque aquilo exigiria que eu me movesse, e aquele estado de pré-sonolência me embalava de uma forma irresistível. Ao lado do sofá, a poucos centímetros do meu alcance máximo, havia uma garrafa do single malt que deveria ser o tema do post dessa semana. O Glenmorangie Nectar D’Or. Um ótimo whisky. Aliás, um dos três whiskies que fizeram com que eu começasse a me interessar pela bebida. Mas para pegá-lo, seria necessário que eu me esticasse e saísse de minha posição […]

O Cão Sofisticado – Kavalan Solist Vinho Barrique

Hoje vou falar do Kavalan Solist Vinho Barrique, whisky produzido em Taiwan, que ganhou prêmio de melhor whisky do mundo em 2015. Mas antes, vou falar um pouco de cinema. Do cinema. Do senhor cinemà: Jean Luc Godard.  Godard, muito além de uma referência em uma música do Legião Urbana, é, talvez, o melhor cineasta da história. O cinema do mundo inteiro foi influenciado por Godard. É possível ver referências a suas obras em diretores tão diferentes quanto Bernardo Bertollucci e Quentin Tarantino. Mas vou confessar uma coisa: para mim, sentar no sofá e tentar relaxar com um filme do Godard é um exercício de futilidade maior do que tentar encontrar poesia em uma música do Mr. Catra. É que cada plano e cada contraplano de seus filmes tem uma razão de ser. Um objetivo por trás, muito além de simplesmente contar uma história. Cada cena é milimetricamente montada para desconstruir dogmas férreos do audiovisual, ou para deliberadamente tirar o espectador de sua zona de conforto, reafirmando que aquilo é apenas um filme, e que o espectador é o que ele realmente é – um espectador de uma obra de ficção. Isso sem falar da fase Dziga Vertov, em que ele […]

O Cão Didático – Single Malts para Iniciantes

Quando comecei a escrever o Cão, não sabia absolutamente nada sobre escrever um blog. Para falar a verdade, tinha um preconceito quase natural em relação a blogs. Afinal, o que de especial eu teria para falar não pudesse ser encontrado com uma rápida pesquisa no Google? Absolutamente nada. E eu sei que você espera que eu diga que com o tempo essa impressão foi se esvaindo, até se tornar apenas uma remota lembrança de alguém que não tinha a mais rasa ideia do que estava por começar a fazer. Mas não. Olha, desculpem-me pela quebra de expectativa. Na verdade, eu realmente não tenho nada de novo para falar. Mas ainda que eu seja só mais uma pessoa com um modem e um gosto quase doentio por whiskies, esses meses de vida do Cão trouxeram algo que eu jamais poderia sequer prever. Comecei – na verdade, redescobri – o prazer de escrever. E o que antes era preconceito, virou mania. Então, uns meses atrás, resolvi dar uma pausa em minhas pesquisas e estudos sobre whisky para me dedicar a aprender a escrever um blog. Um blog sobre whisky. E durante minhas explorações, descobri uma série de ferramentas incríveis. Você sabia que […]