Royal Salute 21 The Blended Grain – Conceitos

Pense em uma viagem luxuosa. Não continue a ler, até efetivamente imaginá-la. Não vou me atrever a adivinhar – cada um de nós tem um conceito diferente da coisa. Para alguns, é uma semana em uma palafita, erigida sobre um recife de coral no mar cristalino. Para outros, é o ritmo frenético de alguma metrópole como Londres ou Paris, com restaurantes, bares, museus e compras. Ou uma road trip em algum carro de luxo pela Toscana ou Costa Amalfitana. Aliás, permita-se o mesmo exercício com automóveis de luxo. Muitos devem ter imaginado um Porsche ou algum outro superesportivo, como uma Ferrari ou Lamborghini. Outros, porém, talvez tenham concebido, na televisão mental, um sedan enorme, cuja experiência ao volante é mais náutica do que automobilística. Uma limo cheia de amenidades – frigobar, televisão, massagem na batata da perna. Dependendo de seus gostos, seu conceito de viagem e carro de luxo são bem distintos. Para nós, apaixonados por whisky, o conceito de luxo também é relativo. Alguns procuram intensidade. Whiskies de alta graduação alcoólica, ou extremamente turfados. Outros inovação. Maturações em barricas improváveis e inéditas. Outros, porém, querem suavidade, delicadeza, equilíbrio. E é aí que está o mercado dos blends de luxo. […]

Vinho Jerez – Um Romance Internacional

Simbioses são relações de longo prazo entre duas ou mais espécies diferentes. Há diferentes tipos. A mais conhecida é a parasitária, onde uma espécie se beneficia da relação, enquanto a outra é prejudicada. Um tipo menos conhecido é o comensalismo. Ele acontece quando uma espécie se beneficia, enquanto a outra não dá a mínima para o que está acontecendo. É o caso da rêmora e do tubarão, por exemplo. A rêmora se alimenta dos restos das presas do tubarão. Para ele, não faz a menor diferença. Mas talvez em troca de companhia nadando, ou uma eventual chupada na barriga, o tubarão se abstém de abocanhar o alongado peixinho. Conheço algumas relações humanas que são assim, também. Mas a forma mais extraordinária de simbiose é o mutualismo. As duas espécies se dão bem, sem esforço, apenas se tolerando mutuamente. É o caso por exemplo dos morcegos-lanudos e plantas carnívoras de Borneo. Essas plantas parecem vasos, e se alimentam de pequenos insetos e vertebrados que caem em seu interior. Os morcegos-lanudos, porém, são grandes demais para serem digeridos por ela. Por isso, usam as plantas de saco-de-dormir. Pode parecer abuso não consensual de vegetais. Mas isso beneficia as plantas: elas se alimentam […]

Sobre o Inovador e o Trivial

Fiquei curioso ao saber da novidade, mas imaginei que levaria mais tempo para vê-la ao vivo. Essas coisas são assim. Você ouve a notícia, mas acha que elas jamais chegarão a você. Tanto é que, quando vi, demorei alguns segundos para registrar. Era sábado, no meio do shopping. Um cara magrinho, com uma máscara que lhe dava ares de cosplay do frango da Sadia. Braços na altura do peito, como se regesse uma orquestra. Era o Apple Vision Pro. Mais surpreendente do que o rapaz, porém, era seu entorno. Algumas pessoas paravam e ficavam olhando, como se estivessem testemunhando uma manifestação do capiroto. Outras, andavam apressadas, olhando pro lado. Provavelmente também imaginando que aquilo fosse uma encarnação do tinhoso. O ser humano mais indiferente, em toda situação, era o próprio usuário. Que agora parecia tocar air guitar. Fiquei pensando se essa não teria sido a reação das pessoas ao ver um carro pela primeira vez – lá, em mil, oitocentos e muitos. Ou uma tela de projeção de cinema. Há um mito, inclusive, que durante uma das primeiras exibições de L’arrivée d’un train en gare de La Ciotat, dos Lumiére, a audiência se abaixou, imaginando que o trem projetado fosse […]

Left Hand Cocktail – Mashup

Perdoem-me pelo título impreciso. Mas o tema desta matéria não é coquetelaria. Mas Mashups. Se você nao conhece o jargão, mashup é um trabalho criativo – que pode ser uma música ou um filme – criado a partir da combinação de dois ou mais outras músicas ou filmes. O termo é também usado por webdevelopers para definir “uma aplicação que que usa conteúdo de mais de uma origem para criar um novo serviço disponibilizado em uma única interface gráfica“. Mas, para evitar sonolência, deixarei de discorrer sobre a derradeira definição. Mashups podem ser feitos, virtualmente, de qualquer material audiovisual. A única regra é que combinem, de alguma forma. E, mesmo assim, às vezes, nem precisam. A grande sacada é que, no começo, o mashup traz a impressão de ser algo já conhecido. Mas, aos poucos, ao revelar sua natureza híbrida, distorce essa impressão. Caso não tenha entendido ainda, veja a música abaixo – um mashup de Soundgarden com Green Day. Recomendo fortemente que ouçam à medida que avançam neste texto. De certa forma, mashups podem ser usados na culinária e na coquetelaria, também. Não quando alguém faz uma pizza de sushi, por exemplo. Ou um acarajéburguer, ainda que este último […]

Blue Label Elusive Umami – The Prestige

“Você está procurando o segredo. Mas você não vai encontrar porque, é claro, você não está realmente procurando. Você realmente não quer resolver isso” . Essas são as derradeiras linhas de “The Prestige” – e também, uma valiosa lição de marketing. Aliás, as duas coisas – marketing e mágica – tem muita coisa em comum. Mágicos utilizam diferentes técnicas para distrair sua platéia. Eles empregam prestidigitação, distração, ilusões ópticas e auditivas, adereços especialmente construídos, bem como técnicas psicológicas verbais e não verbais, como sugestão, hipnose e preparação. É uma dança elaborada entre o que é mostrado e o que é escondido, entre o que parece ser e o que realmente é. É parecido, de certa forma, com o marketing. Um bom storytelling pode nos induzir a sentir algo, ainda que aquilo não seja a realidade. De certa forma, é isso que ocorre com o Johnnie Walker Blue Label Elusive Umami, blended whisky de luxo que acaba de desembarcar no Brasil por, aproximadamente, 2,5 mil reais. O Johnnie Walker Blue Label Elusive Umami, é uma criação do chef Kobayashi, do restaurante Kei, de tripla estrela Michelin, em Paris, e da master blender Emma Walker. Que curiosamente não é da mesma família […]

The Macallan 25 – Bolo Real

Abro, com o cuidado de quem desarma uma bomba, a fatura de meu cartão de crédito. O fim do ano não ajudou. Faço uma apostinha mental: se for menor que certo valor, fico sem beber hoje. Confiro o número com perplexidade. Clonaram meu cartão – sussurro, severamente, para minha esposa. Não é isso não, é que eu passei o cabelo e a maquiagem da festa de fim de ano nele. Pisco de incredulidade. Mas a turma da maquiagem usou fulerenos endoédricos pra fazer o brilho e justificar esse preço? O que sucedeu foi uma discussão conjugal que culminou numa reflexão óbvia, mas necessária. Cada um tem uma percepção diferente de valor das coisas. Pra mim, é um absurdo pagar o equivalente às reservas de capital de Honduras em uma maquiagem. Mas beber este valor é justificável. E tem gente ainda mais louca. Teve um cara que pagou 7.500 (sete mil e quinhentas libras) por um pedaço de bolo de frutas do casamento da Kate com o Príncipe William. Isso foi em 2014, três anos depois do casamento. Aliás, bolos de frutas e whisky tem vários pontos de tangência. O perfil de sabor é um deles. Outra coisa, é que bolos […]

Old Pulteney Huddart – Mitologia

“Não abre essa janela, você está de cabelo molhado, pode entrar um golpe de ar e você ficar resfriado” – todos já ouvimos essa frase de alguém. Provavelmente, no seio de infância, de algum adulto mal-informado. “Cuidado para não engolir o chiclete, porque ele vai ficar grudado pra sempre no seu estômago” é outra. Que é mentira também. O chiclete sai por baixo em alguns dias, totalmente incólume – como o milho. São tantos exemplos que dá pra fazer um texto só deles. Boa parte envolve água, ou a praia. Não pode nadar por uma hora depois de comer qualquer coisa. Depende, se você não comer um boi inteiro e depois bancar o Michael Phelps, não tem muito perigo. Tomar banho quando está chovento forte é arriscado, porque você pode ser eletrocutado por um raio. Não vira o olho esquisito, porque se bater um vento, você fica assim pra sempre – e ainda pega um resfriado, considerando o primeiro mito. A gente acredita em um monte de besteira. São noções passadas de geração a geração, que, em boa parte, servem para não precisar explicar algo complicado. Ou só por estupidez, mesmo. Existem noções assim em todas as áreas de conhecimento, […]

Glenfiddich Grand Cru 23 – Ano Novo

Ah, chegou o ano novo. E com ele, aquelas tradicionais simpatias. Pular sete ondinhas, comer lentilha, assoprar canela, comer romã e guardar as sementinhas junto com a folha de louro na carteira. Colocar dinheiro no sapato e usar branco. Por mais inofensivo que possa parecer, devo, porém, declarar que não vou fazer nada disso. Do jeito que sou azarado, provavelmente espirraria com a canela, tropeçaria e cairia no mar. Arrotaria lentilha de susto, sujaria a roupa e o sapato. O dinheiro na sola ficaria ensopado, assim como minha carteira. Que depois de um tempo começaria a mofar, devido à folha de louro e sementes de romã úmidas, guardadas lá dentro. E meu ano seria péssimo. Por isso, decidi que não vou fazer simpatia nenhuma. Aliás, para não correr riscos, resolvi passar o ano novo bem longe do mar. Num hotel da cidade, vendo algum filme. E sem champagne também, porque a chance de eu acertar meu olho com a rolha é razoável. Ao invés disso, escolhi um single malt maturado em barricas que antes contiveram champagne. Ou quase isso. O Glenfiddich Grand Cru 23 anos. O Glenfiddich Grand Cru 23 chegou ao Brasil sem grandes explosões de rolhas, no final […]

Retrospectiva de Whiskies 2023 – Os Melhores do Ano

Recebi minha retrospectiva do Spotify. E ela é impublicável. É que todo mundo aqui em casa – apesar de ter a própria conta do Spotify – prefere usar a minha. Aí, parece que tenho transtorno borderline em relação a meu gosto musical. Apenas para entender o que quero dizer: minha banda mais ouvida foi BTS, mas o gênero preferido, southern gothic. E a música individual mais escutada foi Ronaldo, do Gato Galático, ouvida trinta e sete vezes num único domingo, seguida por Friendship is Magic, do My Little Pony. Ninguém tem um gosto tão eclético assim sozinho. Mas o que eu queria mesmo ver, era a minha retrospectiva do Ifood – claro, com a contribuição de minha família. Seu restaurante mais pedido foi McDonald’s. O prato individual mais comido foi o Preferido, do Netão. Numa semana, você pediu quatro vezes Brás Pizzaria. Ao todo, juntando todos os hamburgueres e pizzas, você consumiu cinco quilos de pura banha. Seu gênero preferido foi junk food, e a tendência é, certamente, ao infarto do miocárdio. Ou então, da Drogaria SP. Sua retrospectiva chegou! Seu remédio mais pedido este ano foi a dipirona. Mas você é eclético, e tomou bastante esomeprazol, também. Mas a […]

5 Whiskies para (se) dar de presente

Respiro aliviado pela passagem da Black Friday. Ou melhor, pela sua ausência. Porque, no Brasil, a gente não tem isso de verdade. A gente tem pré-black-friday. E tem Semana Black Friday, Esquenta Black Friday, Black Friday de Fevereiro, e Aqui é Black Friday o Ano Todo. O mais curioso é que, em nenhuma dessas situações – e nem mesmo na black friday verdadeira-de-mentira – os preços são, realmente, de Black Friday. E todo mundo sabe disso, mas continua agindo como se a data fizesse algum sentido por aqui. Eu mesmo, resisti bravamente à vontade de comprar uma sanduicheira pela metade do dobro do preço que vi, há uns seis meses, numa loja do shopping. O que foi bom, porque, logo depois, percebi que era hora de começar a comprar os presentes de natal para a família. E isso me trouxe outra lembrança. De que, normalmente, nessa época do ano, faço uma matéria com novidades do mundo do whisky no Brasil, para presentear seus entes queridos – e os nem tanto – nas festividades de final de ano. E aqui está – para manter a tradição, cinco whiskies, do mais barato para o mais caro, para agradar a todos. Depois da […]