Pegue elementos que funcionam bem sozinhos e os reúna em um único lugar. Você poderá estar diante de um fracasso galopante. Se você discorda, responda sinceramente, sem usar o Google. Você já ouviu falar sobre Honegar? E a Hula Chair? Provavelmente não, certo?
O Honegar é mais ou menos o que o nome diz. É uma mistura, em partes iguais, de mel e vinagre de maçã. Ele foi inventado – ou melhor, relembrado – pelo doutor DeForest Jarvis. O médico teria examinado os fazendeiros de Vermont, e constatado que eram extremamente saudáveis. Ao analisar seus hábitos alimentares, descobriu que consumiam boa quantidade de mel e de vinagre. Daí surgiu a ideia de combiná-los. Ainda que bem intencionada, a invenção não vingou. Talvez porque a mistura soe como uma brincadeira de criança, como sopa de ketchup e guaraná, ou coca-cola com sal.
A Hula Chair, por sua vez, era um dispositivo que combinava uma cadeira com um bambolê. Ela tentava reproduzir o esforço abdominal do uso do bambolê – o que era, claramente, um exercício – com o conforto de estar sentado – o que, geralmente, não é considerado um exercício. O problema é que a ideia era meio instável, porque a maioria das coisas que fazemos sentados torna-se muito mais difícil quando nossos quadris são balançados à nossa revelia.
Outras combinações, porém, são excelentes. Como, por exemplo, a base de um single malt – uma categoria de whisky mais conhecida por seus representantes escoceses – com barris virgens (algo mais usado na indústria do whiskey americano). E foi justamente isso que a Union, conhecida destilaria de single malts brasileiros, fez, com seu novo Union Virgin Oak, da linha Autograph.
O Union Virgin Oak, como o nome diz, foi maturado em barricas virgens de carvalho americano. Foram ao todo três barricas apenas, cada uma, com uma torra diferente – 1, 3 e 4. Essas barricas maturaram por aproximadamente cinco anos, para depois serem combinadas na edição limitada lançada pela Union. O lote inteiro rendeu apenas 833 garrafas.
É bem interessante o uso de carvalho virgem na indústria dos single malts. Na Escócia, eles são bem pouco usados. E, mesmo aqui no Brasil, é a primeira vez que carvalho virgem é empregado na maturação de um single malt. As barricas do Union Virgin Oak foram encomendadas especialmente da World Cooperage – uma tanoaria especializada em produzir barris por encomenda – pela Union.
Outro ponto interessante é o nível variado de queima das barricas. Cada um deles traz um perfil sensorial distinto. Nível um traz floral e frutado, nível 3, caramelo e mel. Já o nível 4 complementa com notas de café e chocolate. E é dessa combinação que o Union Virgin Oak tira suam complexidade sensorial. De acordo com Luciano Borsato, sócio da Union “o barril foi carbonizado direto na origem (…). A carbonização é 1, 3 e 4. A ideia era um teste para ver a evolução em diferentes carbonizações. E vimos que a junção dos três barris trazia esse perfil!“.
O desenvolvimento do Union Virgin Oak – assim como ocorreu com o Extra Turfado – contou também com com o apoio e consultoria de Marcio Becker, além de outras opiniões importantes, buscando um produto diferenciado e agradável”As torras proporcionaram o equilíbrio necessário entre doçura e . da madeira (…) Toma um gole, bochechando, e verifica se depois de engolir (30 segundos), tu consegue captar duas camadas distintas: “cinzas de torra” e “resina de madeira virgem” – disse Becker.
É curioso como, apesar da potência do carvalho americano virgem, há um equilíbrio entre o perfil do destilado e a madeira. Há um sensorial que lembra bourbon whiskey, especialmente no aroma e no sabor residual. Mas, toda experiência comprimida entre estes dois extremos é de single malt. Não há o dulçor característico do milho, tampouco o apimentado herbal, de hortelã, do centeio. A base é surpreendentemente elegante.
Se o Union Virgin Oak fosse um single malt terrível – a junção de duas coisas que jamais funcionariam combinadas -ficaria receoso em recomendá-lo. Mas, para minha sorte, ele é excelente. E a demonstração física de que o Brasil não precisa somente repetir a fórmula consagrada pela Escócia para criar algo agradável. O Union VIrgin Oak é a prova de que a união de elementos que funcionam bem sozinhos pode também ser um sucesso literalmente estonteante.
UNION VIRGIN OAK – AUTOGRAPH SERIES
Tipo: Single Malt
Destilaria: Union Malt
País: Brasil
ABV: 46%
Notas de prova:
Aroma: caramelo, baunilha, chocolate, açúcar demerara.
Sabor: Frutado, adocicado. Peras. Creme brulee (baunilha, caramelo, açúcar). Final longo e floral.
Onde encontrar: Caledonia Whisky & Co., ou Caledonia Store Online.
Fala, Cão! Eu, particularmente, sou muito partidário da invenção de novas fórmulas (ou combinação de fórmulas consagradas em um novo método completamente único). Recentemente descobri que a Glenlivet, se não estou enganado, lançou um whisky finalizado em barricas usadas para envelhecer rum. Fico imaginando se não conseguiríamos fazer algo parecido – ou ainda melhor – usando barricas que já contiveram cachaça. Um whisky cachaça cask finish. Vocês já experimentaram algo parecido? Ou estou viajando? Hahaha
Opa, fala caro Sampaio! Então, até pouco tempo a SWA nao permitia que se fosse produzido whiskies com finalização em cachaça (nem em tequila, aliás). A regra foi flexibilizada no ano passado e agora pode. Ainda nao provei nenhum, mas, é um mar de possibilidades, este.
Ave Cão!! Segui seu review e comprei uma garrafa para experimentar, sou iniciante nos singles malts e tenho tentando diversificar as experiências.
Achei ele um tanto alcoólico, agredindo um pouco o nariz e a boca ao ser tomado puro.
Experimentei, depois, com 15% de água, esperando um alguns minutos para o álcool “assentar” e a experiência melhorou bastante. Próximo passo é experimentar com gelo.
Sinto pouco das notas, tanto olfativas quanto degustativas, porém o final floral é pronunciado, muito bom e extremamente longo.
Próxima degustação de single malt é o Talisker 10.