Cinco cervejas para um apaixonado por whisky

Billy Carter, irmão do ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, disse uma vez que não há algo como uma cerveja ruim. Algumas são apenas melhores do que outras. Já o poeta Henry Lawson escreveu que a cerveja faz você se sentir do jeito que você deveria sentir sem cerveja. Já Homer Simpson, o pensador animado norte-americano, indagou se whisky conta como cerveja.

Bem, devo dizer que as duas primeiras declarações funcionam perfeitamente também para whisky. E em resposta ao questionamento de Homer, devo dizer, com pesar, que sim. Whisky conta como cerveja. E mais, whisky não apenas conta, como é cerveja. Cerveja destilada. Quer dizer, ao menos a maioria deles. Se você não sabia disso, leia aqui.

Isso me leva a uma reflexão. Talvez eu não goste de whisky. Talvez eu goste mesmo é de cerveja. Todos os tipos de cerveja, inclusive aquelas que são destiladas. Provavelmente é por isso que, ainda que o tema deste blog seja whisky há frequentes incursões no mundo do fermentado de grãos.

Pensando nisso, resolvi preparar uma lista com cinco cervejas para aqueles apaixonados por whisky. E não foi uma tarefa fácil.  Para cada uma que incluía, me lembrava de mais uma dezena que mereciam, igualmente, figurar na lista. Ficava imaginando a revolta de meus leitores cervejeiros, ao não encontrarem sua cerveja maturada preferida em meu humilde exercício. Assim, tive que recorrer a um critério bem subjetivo. Meu gosto pessoal. Desculpe-me, internet, pela parcialidade. Mas vamos a elas.

Founder’s KBS

A KBS é quase mitológica. Você provavelmente já ouviu falar dela. Mas se não ouviu, eu explico. É uma Imperial Breakfast Stout (uma cerveja escura, de alta graduação alcoólica e que usa aveia em sua composição), produzida com café e chocolate. Ela é maturada em barricas de carvalho americano que contiveram whiskey americano – reza a lenda, Jack Daniel’s – por um ano inteiro, antes de ser engarrafada.

A KBS recebeu uma pletora de prêmios internacionais, e figura como uma das cervejas mais bem avaliadas pelos usuários do aplicativo Untappd. É uma cerveja licorosa, com sabor que remete à baunilha e o mel do whiskey, mas bastante densa, com – que surpresa – notas de café, chocolate e certo apimentado de aveia. Tudo sobre a KBS é incrível. Até mesmo o nome, que é quase um convite para tomá-la de café da manhã. Nada como um desjejum nutritivo, não é mesmo?

Harviestoun Ola Dubh e Orach Slie

A Ola Dubh é uma Imperial Porter – outra cerveja escura de alta graduação alcoólica – produzida pela cervejaria escocesa Harviestoun, e maturada em barricas de single malt Highland Park. Há uma série de rótulos, sendo que cada um indica ma idade diferente. Essa é a idade do whisky que esteve na barrica antes da cerveja. Quer dizer, uma Ola Dubh 18 não passou dezoito anos em barril, mas foi maturada por um período bem menor que este, em uma barrica que antes foi usada para produzir o Highland Park 18 anos.

Ainda que haja pequenas diferenças sensoriais entre os rótulos, as Ola Dubh costumam ser pouco carbonatadas, secas e pouco adocicadas para uma imperial stout. Os sabores predominantes são de madeira e café. Incrivelmente, apesar do uso de barricas encharcadas de um whisky levemente enfumaçado, o sabor de turfa é quase imperceptível.

Já a Orach Slie é uma cerveja clara, com a mesma proposta da Ola Dubh. Entretanto, o single malt utilizado é Glenfarclas. A Orach Slie é adocicada, e possui uma incrível nota de madeira e anis, proveniente de sua maturação. Ao contrário de sua irmã escura, há apenas um rótulo de Orach Slie, e nenhuma indicação da idade do single malt utilizado em sua confecção.

Orach Slie e Ola Dubh são importadas pela Beermaniacs

Brooklyn Brewery Improved Old Fashioned

A Brooklyn Improved Old Fashioned é a versão cervejeira do Old Fashioned, clássico coquetel de whiskey. É uma cerveja de centeio, que matura em barricas de rye whiskey e leva tintura de especiarias. Ela faz parte de um projeto da Brooklyn Brewery e Garrett Olivier, seu brewmaster, de criar cervejas com perfil de sabor semelhantes àqueles dos melhores coquetéis do mundo. A primeira edição prestigiou o já prestigiadíssimo Manhattan. A segunda, denominada The Concotion, foi uma releitura cervejeira do Penicillin, e teve o auxílio de seu criador, Sam Ross, para ser desenvolvida.

Para recriar o sabor do coquetel, ao invés de recorrer a alguma essência industrialmente produzida, Garrett usou como ponto de partida uma rye ale – ou seja, uma cerveja produzida com centeio – de forma a enfatizar o sabor picante proporcionado por aquele grão. Depois, deixou que a cerveja descansasse em barricas previamente utilizadas para maturar o Whiskey WhistlePig Rye. Esse estágio trouxe à bebida os sabores de fumaça e madeira. Por fim, foi desenvolvida uma tintura especial que emulasse os bitters e botânicos do Old Fashioned. Pode ser comprada na loja física do Empório Alto dos Pinheiros.

Struise Cuvee Delphine

A Cuvée Delphine foi criada pela Struise bieren/Struise beers (Cervejaria Struise) utilizando sua Black Albert Imperial Stout, e maturando-a por doze meses em barricas que antes foram usadas para maturar o bourbon Four Roses. Sensorialmente, lembra bastante a Ola Dubh, mas há um dulçor mais pronunciado e mais carbonatação. Melhor que a cerveja, apenas a história por trás de seu nome.

O rótulo, onde se lé “Truth Can Set You Free” (“A Verdade Poderá Te Libertar”) é uma obra de arte de Delphine Boël, artista plástica belga e – alegadamente – filha não reconhecida do Rei Albert II. Até hoje Delphine luta na justiça para que seja reconhecida como legítima descendente do rei. Caso vocês não tenham notado a sutileza da piada, a Cuvée Delphine é uma Black ALBERT maturada. Ou seja, uma descende da outra.

Dadiva Odonata 2016

A Odonata 2016 é outra Russian Imperial Stout para a lista. Ela leva três ingredientes mágicos: frutas vermelhas, baunilha e café. A mistura maturou em barris de carvalho americano de reuso por aproximadamente cinco meses e descansou por quase um ano em barris de inox, para finalmente ser blendada e engarrafada. A mistura rendeu mil garrafas.

De acordo com Luiza Tolosa, sócia da Dádiva, a criação foi quase uma serendipidade. Um dia, resolveram que misturariam um pouco de cada uma das odonatas da primeira edição (cada uma delas levava um dos aditivos descritos acima) para experimentar. E o resultado foi tão surpreendentemente bom, que decidiram lançar uma série limitada de garrafas com o blend. A cerveja uniu o cítrico e ácido das frutas vermelhas com o dulçor da baunilha e o torrado do café.

3 thoughts on “Cinco cervejas para um apaixonado por whisky

    1. Silvana, de qual cerveja? A Cuvee Delphine vendia no wbeer.com.br. Dadiva, veja na cervejastore.com.br ou na loja física do Empório Alto dos Pinheiros, assim como a Improved Old Fashioned. KBS, no thebeerplanet.com.br ! E as Ola Dubh… bom, essas se voce encontrar, por favor compra pra gente também 😀

  1. Vcs deviam complementar com uma reportagem sobre algumas cervejas que possuem whisky na composição. Eu degustei uma que foi engarrafada com Jack Daniels, experiência maravilhosa!

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