
Avanti. Não, não a expressão em italiano. Mosler. SSC. Hennessey. Não, não o conhaque. Os carros. Se você não for um completo obcecado por automóveis, há uma bela chance de jamais ter ouvido falar de alguma – ou qualquer uma – dessas marcas. Mas não precisa ficar com vergonha. Elas são obscuras mesmo. Produzem carros de performance para um nicho de entusiastas e não são muito conhecidas do público leigo. O contrário, por exemplo, de Ferrari e Lamborghini.
Ferrari e Lamborghini são tão conhecidas que qualquer pessoa, mesmo que jamais tenha pilotado qualquer um deles – meu caso – quando indagadas, demonstrarão preferência. É uma rivalidade clássica. Uma rivalidade, aliás, que vai muito além de gosto. A contenda entre Lamborghini e Ferrari, que se estende até os dias atuais, é histórica. Vou contar pra vocês.
Na década de 1960, as Ferraris eram o máximo em automóveis esportivos de luxo. Tanto é que um tal de Ferruccio Lamborghini – um rico proprietário de uma mecânica de tratores – possuía uma. Mas Ferruccio não estava satisfeito. Seu vasto conhecimento em mecânica, adquirido durante a segunda guerra mundial e seu negócio de tratores, apontava que havia espaço para melhora naquelas incríveis máquinas. E como todo entusiasta meio sem noção, Ferruccio resolveu que seria uma boa ideia apontar estes erros para o presidente da companhia – Enzo Ferrari.
Acontece que Enzo não ficou muito satisfeito com as críticas de alguém que, em sua concepção, não passava muito de um mecânico de máquinas rurais. E com a delicadeza de um trator, mandou o mecânico ir, proverbialmente, carpir um lote. Ferruccio, inconformado, decidiu desafiar a Ferrari e produzir um automóvel esportivo melhor do que aquele que havia comprado. Assim nascia a Lamborghini – que, até os dias de hoje, é constantemente comparada com a marca de Enzo. Carros com propósitos e público semelhantes. Mas, em seu coração, essencialmente distintos.

Uma batalha parecida com esta poderia ser travada entre dois blended scotch whiskies muito queridos no Brasil. O Chivas 18 anos e o Ballantine’s 17. Assim como Ferrari e Lamborghini – aplicadas as devidas adaptações para o mundo do whisky – são dois blends super premium com perfil sensorial e preço semelhantes, que costumam ser frequentemente comparados entre entusiastas e apreciados da melhor bebida do mundo.
Mas não é apenas o perfil de sabor dos whiskies que é parecido. A batalha é, na verdade, quase um braço de ferro entre irmão – algo que talvez acirre ainda mais a animosidade. É que tanto o Ballantine’s 17 quanto o Chivas 18 pertencem à Pernod-Ricard, multinacional francesa também responsável por single malts como The Glenlivet, Aberlour e Strathisla, a vodka Absolut e o conhecido – e delicioso – gim Beefeater.
O coração do Chivas 18 anos é o single malt Strathisla, que lhe empresta um claro perfume floral e frutado, comparável a jasmim. Além dele, o blend emprega uma boa quantidade de Longmorn, além de uma discreta quantidade de um single malt de Islay, que não é divulgado. Ao todo, o Chivas Regal 18 é uma mistura de algo entre dez e sessenta single malts e grain whiskies (o número real é um segredo muito em guardado), todos eles maturados por, no mínimo, dezoito anos em barricas de carvalho. O blend foi elaborado por Colin Scott, master blender da Chivas Regal.

Já o Ballantine’s 17 anos possui, em sua base, os maltes das destilarias
Scapa, Glenburgie, Miltonduff e Glentauchers. É uma combinação interessante, que une um whisky delicado e mineral – Scapa – a whiskies secos e adocicados da mainland escocesa. Além, claro, de whisky de grão e proporção menor de whiskies de outras destilarias. Atualmente, o master blender responsável por ele é Sandy Hysop, que possui mais de trinta anos de experiência como blender.
Colocados lado a lado, o Chivas 18 é mais floral e delicado. O Ballantine’s 17, por sua vez, traz mais dulçor, e é mais frutado e intenso. Em ambos os casos, o álcool é extremamente bem integrado – graças à longa maturação do grain whisky, que costuma levar mais tempo para ter sua pungência atenuada. O sabor residual do Chivas 18 é mais longo e floral, enquanto que o Ballantine’s 17 começa doce e torna-se progressivamente seco. Ainda que possuam perfil de sabor semelhante, Ballantine’s 17 e Chivas Regal 18, quando colocados lado a lado, se mostram bem distintos.
Escolher um ou outro, como tudo na vida, é uma questão de gosto. E ainda que este Cão tenha uma leve propensão pela criação de Colin Scott (leia mais sobre isso aqui) a verdade é que o Ballantine’s 17 anos e Chivas 18 são dois dos melhores blended whiskies super-premium à venda em nosso país. Independente de sua preferência, e ainda que sua preferência seja por single malts, é quase impossível não gostar deles. São blends que entregam complexidade, personalidade e drinkability como poucos. Porque, afinal, entre Ferrari e Lamborghini, qual a melhor? A que eu tiver a oportunidade de dirigir, é óbvio.
BALLANTINE’S 17 ANOS
Tipo: Blended Whisky com idade definida (17 anos)
Marca: Ballantine’s
Região: N/A
ABV: 40%
Notas de prova:
Aroma: adocicado, mel, especiarias e um pouco de fumaça.
Sabor: Adocicado no início e progressivamente frutado, final médio, com um pouco de fumaça e vinho fortificado.
Com Água: Água torna o whisky mais adocicado e ressalta a fumaça.
CHIVAS REGAL 18 ANOS
Tipo: Blended Whisky com idade definida – 18 anos
Marca: Chivas Regal
Região: N/A
ABV: 40%
Notas de prova:
Aroma: aroma claramente floral, com baunilha. Adocicado, com defumação muito, muito discreta.
Sabor: extremamente suave, com frutas em calda, chocolate, baunilha e um pouco de especiarias. É um whisky menos agressivo do que o Chivas Regal Extra, ainda que igualmente complexo.
Com água: A agua torna o whisky menos adocicado. É um blended whisky que funciona melhor sem gelo.
Entendo pouquíssimo de carros, mestre e consequentemente não conheço as marcas citadas hahaha.
Não sei se já comentei com o senhor, mas eu adoro essas batalhas. Eu mesmo gosto bastante de fazer comparações, ainda que nunca tenha feito com provas simultâneas.
Ainda que minha provável escolha fosse o Chivas 18yo, não deixaria de provar o Ballantine’s 17yo, se este estivesse mais próximo da minha mão.
Grande abraço!
Para mim os melhores na relação custo-benefício para os brasileiros em época de distanciamento social que portanto não podem ou nunca puderam ir a free-shoppings ou duty free dos aeroportos (nunca tive a oportunidade). No meu caso, nos meus 40 anos, aprendi somente agora sozinho a apreciar os bons nectars. Coloco ainda o Green Label da Diageo na lista dos três melhores custos benefícios do mercado brasileiro. Incrível que pareça são mais em conta no Brasil do que na Europa e EUA (comprando em sites conhecidos de bebidas, excluo mercado livre).
Concordo com você Marcos. O Green Label é muito bom!
Eu nunca gostei de whisky, pois só tinha provado um chivas 12 e um Black Label, que eu detestei. Depois de muita pesquisa eu conheci os gloriosos Single Malt e arrisquei um Glenfiddich 12 anos. AMEI!!!!! Depois arrisquei um The Macallan 15 Triple Cask, AMEI!!!
Acabei criando um inexplicável preconceito com Blended. Mas então provei o Green Label (Blended Malt) e meu camarada…. que whisky MA….RA….VI….LHO…..SO!!!!!!!!!!
A minha cabecinha ignorante de que só Single Malt que é bom foi por água abaixo. Tudo bem que o Green é um Blended Malt, não é um Blended comum, mas ele abriu minha cabeça. Aí fui testando outros whiskys sem ser single malt.
Hoje eu tenho a coleção abaixo
Chivas 18 (ainda quero comprar o Royal Salute 21)
Ballantines 17
Glenfiddich 12, 15 e 18 (ainda quero comprar o 26)
The Macallan 12 e 18 (ainda quero comprar o Rare Cask)
The Glenlivet 15 e 18
The Dalmore 15
Jhonnie Walker Green Label (Ainda tenho a curiosidade de provar o Blue, mas pelo preço eu sempre levo outro)
Buffalo Trace
Woodford Reserve
Bulleit Bourbon
Wild Turkey 101
Talisker 10
Laphroig 10
Ardbeg 10
The Balvenie 12 DoubleWood (ainda quero comprar o 17 Doublewood)
Highland Park 12 (ainda quero comprar o 18)
Caro Raphael, perfeito relato e bela coleção!
Eu também tenho o Grenn Label como meu um de meus preferidos atualmente, seu custo x benefício é incomparável.